Possível continuação se tornou quase que uma lenda urbana na indústria
Se tem algo que alimenta, há décadas, o marketing da desenvolvedora Rockstar são as polêmicas. Não as de qualquer tipo, diga-se por alto, mas aquelas nascidas calculadamente de suas obras. A empresa alcançou a fama com a saga GTA, que concede a liberdade do jogador ser uma figura extremamente perigosa na sociedade, porém isso foi só o início.
Na mesma proporção que a desenvolvedora arriscava contar histórias melhor trabalhadas ela também aumentava, facilitada sobretudo pelos pontuais avanços tecnológicos, a dose de violência em seus jogos. Logo, o que começou como atos de violência suavizados pela falta de detalhes no primeiro GTA (1997) foi evoluindo para os assassinatos mais sanguinários de Manhunt (2003), por exemplo.
Evidente que a empresa não passaria despercebida a eventuais ações legais, principalmente aquelas movidas por pais que viessem a se sentir horrorizados com o que seus filhos estavam jogando. Uma situação foi quando alguns jogadores descobriram um mecânica secreta no GTA: San Andreas (o famoso Hot Coffee) que simulava momentos de relação sexual entre o protagonista e suas namoradas.
Tamanha foi a repercussão do episódio que a produção do game foi encerrada temporariamente para que esse modo fosse excluído de versões futuras. Todavia, dois anos depois a Rockstar entraria em um “vespeiro” ainda mais complexo com o lançamento de Bully.
A premissa técnica da obra é um tanto simples: aproveitar parcialmente elementos da franquia mais famosa da empresa adaptando-os a um elenco de personagens adolescentes em um ambiente escolar. O jogo só se torna um diferencial quando se observa, justamente, sua ambientação; seguindo o adolescente problemático Jimmy Hopkins, o jogador será apresentado à Bullworth Academy, um internato de elite para alunos tumultuosos.
Bully pegou emprestado muitos dos elementos que tornaram a franquia GTA um sucesso (tais como o mapa de mundo aberto) e os adaptou para o novo cenário, não se esquecendo do sistema de gangues introduzido em San Andreas e aqui reaproveitado como a pirâmide social da escola, que separa um grupo estereotipado do outro.
Porém, nem por isso deve se entender que a história se limitou a ser mais uma trama adolescente escolar. Muito pelo contrário, entre uma missão e outra Bully encontra tempo para tratar sobre pedofilia; discriminação de classe; abuso de poder e, claro, o bullying nas escolas. Aliás, a prática de humilhação entre alunos é uma mecânica que muito complicou a vida do game.
Evidente que, por mais que pareça a primeira vista, toda a trama apresentada gira ao redor das tentativas de Jimmy em unir todas as facções da escola e não o oposto. O bullying é uma realidade, bem como uma possibilidade se assim for a vontade do jogador, porém não é o objetivo final.
Após o lançamento não houveram tentativas de tirar o produto das lojas, principalmente aquelas movidas pelo ativista Jack Thompson (famoso por ter movido processos contra GTA também) no qual, por meio de uma ação judicial contra a venda do game para menores, ele se referiu ao jogo como um “simulador de Columbine” (em referência ao massacre no colégio de Columbine).
Entre 2008 e 2016, Bully esteve banido do Brasil por meio de decisão judicial. Durante o período de vigência, todos que fossem pegos vendendo o jogo pagariam uma multa diária de R$ 1.000,00. A ação movida teve como base o pressuposto psicológico no qual o game oferecia perigo tanto para jovens quanto para adultos.
Tais medidas não conseguiram impedir que a jornada de Jimmy Hopkins se tornasse um dos títulos mais amados da Rockstar e, por tabela, um alvo contínuo de teorias sobre uma sequência futura. As teorias sempre variam de um novo cenário focando na faculdade até uma protagonista feminina (algo nunca feito pela desenvolvedora) sem, no entanto, haver quaisquer indicações oficiais.
Foi só recentemente que o assunto voltou a ganhar força graças ao jornalista Jason Schreier, responsável por grandes furos de reportagem no passado, que alegou ser improvável que uma sequência de Bully esteja nos planos da Rockstar. Já o portal Rockstar Mag aponta que, ainda assim, a desenvolvedora tem planos para a marca.
Essas ambições seriam um processo de remaster do jogo, não diferente do que a empresa fez recentemente com os três primeiros jogos de GTA, na era 3D, GTA: The Trilogy – The Definitive Edition. A postura atual da empresa em evitar polêmicas pode ser um indicador da hesitação de continuar Bully, visto que seu game mais recente, Red Dead Redemption 2, se concentrou muito mais em oferecer uma história complexa do que momentos de polemica.
Uma pauta que não foi seguida por GTA V, que sofre com críticas ao enredo porém apresentou um momento no qual o jogador precisa decidir que ferramentas um personagem usará para torturar outro; elemento esse que gerou alguns debates, em 2013, sobre a representação de tortura nos jogos. Sendo assim, por toda polêmica inerente à Bully, é provável que uma sequência possa demorar um pouco mais.