sexta-feira, março 29, 2024

Crítica | O Grande Hotel Budapeste

Wes Anderson entrega seu filme mais abrangente e Ralph Fiennes brilha na pele de um protagonista raro

Meia Noite em Paris é o maior sucesso financeiro da carreira de Woody Allen, um cineasta que de outra forma se restringe ao seu público cativo. Em entrevista para o documentário sobre o diretor, o protagonista da obra, Owen Wilson, brincou dizendo que de uma hora para outra Allen havia se tornado Michael Bay. Meia Noite em Paris arrecadou mais de US$ 56 milhões de dólares somente nos EUA e mais de US$ 151 milhões ao redor do mundo, o que para os parâmetros de seus filmes (que muitas vezes não ultrapassam os US$ 5 milhões em bilheterias) sem dúvidas é uma explosão.

Isso significa que muito mais pessoas foram assistir ao filme, do que normalmente iriam a uma produção do diretor. O fato tornou a obra a mais abrangente da carreira de Allen. O filme para os que não conhecem, ou particularmente gostam do diretor, iniciarem-se em seu universo. O mesmo ocorre aqui, com O Grande Hotel Budapeste, novo filme do peculiar cineasta independente americano, Wes Anderson. Como o autoral Allen, os filmes de Anderson talvez não sejam para todos os gostos, mas são uma aula de cinema de autor.

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As obras de Anderson são estranhas, apresentam personagens extremamente excêntricos (porém muito identificáveis), uma cenografia teatral (que inclui figurinos chamativos e uma direção de arte propositalmente artificial e encantadora) e principalmente um humor tão seco, que ficamos muitas vezes sem saber se devemos rir ou não. Seus filmes talvez sejam também os menos manipulativos do cinema americano atual, no sentido de que além de não nos dar a deixa de que emoções sentir em determinadas cenas, ainda nos ludibria invertendo as emoções certas para momentos exatos.

O Grande Hotel Budapeste é o filme independente mais rentável de 2014 e o mais rentável da carreira de Anderson. Funciona, assim como Meia Noite em Paris, para os não escolados adentrarem o mundo da mente criativa do diretor. Apesar de utilizar de todos os elementos recorrentes de seus filmes anteriores, sua nova produção é, assim como a de Allen, um filme mágico, que nos transporta para um tempo específico e nostálgico. Talvez o motivo do sucesso de ambas as produções seja um desejo inerte e inerente de uma fatia do público de que as coisas voltassem a ser como antigamente.

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E como precisamos de cineastas como Anderson e Allen, e filmes como Meia Noite em Paris e O Grande Hotel Budapeste. Numa era na qual as produções mais barulhentas ditam regra, é muito bom termos um tipo de cinema mais calmo, onde podemos realmente apreciar uma obra de arte. Anderson também utiliza muitos efeitos visuais, mas em seu caso, todos usados a favor da trama, sem “serem a trama”. O novo exemplar de Anderson nos é contado através de três períodos de tempo distintos. Começa nos anos 1980, com a introdução de Tom Wilkinson, que abre e fecha o filme.

Em sua versão jovem, vivido por Jude Law, ele relata em um livro seu encontro com o então dono do grande hotel localizado na fictícia República de Zubrowka, Zero Moustafa (papel de F. Murray Abraham), durante a década de 1960. Voltando ainda mais no tempo, para os anos 1930, o respeitável Senhor conta para o jornalista sua formação de cavalheiro e na arte da hotelaria, provida pelo honorável M. Gustav, papel de Ralph Fiennes. O protagonista é o devoto concierge do Budapeste Hotel, e leva seu trabalho estritamente a sério.

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Sob sua tutela, o jovem Zero (vivido pelo estreante Tony Revolori), então um lobby boy, aprende muito mais do que o ofício. Gustav é um homem perdido fora de seu tempo, mesmo para a época, e a definição da palavra dignidade. Seu único defeito parece ser o gosto peculiar por velhotas endinheiradas, cujo afeto é recompensado de grande forma financeira. Quando uma de suas amantes, interpretada por Tilda Swinton, falece, uma obra de arte valiosa é deixada para ele. Logo, a suspeita de assassinato é trazida pelo filho da mulher, papel de Adrien Brody, e Gustav é agora um fugitivo da lei.

O Grande Hotel Budapeste é muitos filmes em um só, mas aqui isso é uma coisa boa. O fato apenas dificulta qualquer tipo de sinopse, o que se torna mais um ponto favorável para a produção. Existem diversas subtramas e como de costume muitos personagens, interpretados por rostos muito conhecidos, se amontoam na tela. Anderson abre seu leque sem nunca se afastar do tema central, a importância e valorização dos costumes. A atenção prestada pelo protagonista às pequenas coisas reflete o cineasta, que se importa com cada pequeno detalhe do que compõe suas obras.

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Esse é um texto que poderia ter pelo menos três páginas para expressar minimamente a alegria de assistir ao filme. São muitos tópicos que devem ser endereçados, porém, antes que sua paciência se esvaia, vale citar neste último parágrafo a atuação do protagonista Ralph Fiennes.O talentoso ator (e agora diretor) indicado para dois Oscar nunca esteve tão bem quanto na pele do pomposo e educado M. Gustav. A paixão com que declama o texto criado por Anderson é de vontade tamanha que hipnotiza. Será verdadeiramente um descaso se Fiennes não receber uma indicação ao próximo Oscar. E isso faltando sete menos para o anúncio.

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