Buscando detalhar por novas perspectivas as origens do crime organizado na cidade maravilhosa e consequentemente uma eterna guerra entre facções, a nova e bombástica série do Globoplay O Jogo que Mudou a História opta por uma narrativa dinâmica, dilacerante, que mostra com muitos pingos de verdade os caminhos que levaram presos políticos, assaltantes de banco, traficantes, a se unirem e as formas que o sistema contribuiu na formação criminosa de muitos destinos. Com criação e produção de José Junior, essa pode vir a ser uma das séries de maior sucesso do audiovisual brasileiro dos últimos anos.
Na trama, ambientada em partes na década de 70, acompanhamos uma série de personagens, suas origens, seus pontos de vistas, quando a maioria deles se reúne no presídio de Ilha Grande, em Angra dos reis, que é um verdadeiro inferno. Entre presos e guardas, vamos conhecendo histórias fortes e dramas cortantes. Ao mesmo tempo conhecemos outros personagens e suas trajetórias em algumas favelas: Padre Nosso, Parada Geral e Morro da Promessa. Todos esses vão ter seus destinos de alguma forma entrelaçados por disputas e muita violência.
Com direção geral de Heitor Dhalia, essa mega produção não é uma história fácil de ser contada e provavelmente terá algumas temporadas. Há muitas variáveis que influenciam os rumos dos protagonistas, que em sua maioria, são baseados em personagens reais. Dando espaço para entendermos os lugares e seus personagens, ligados por diversas motivações, a produção não deixa de entrar em importantes detalhes, tanto nas partes dentro da prisão, quanto nas situações mostradas nas comunidades. Nos dois primeiros episódios que já conferimos tem momentos chocantes, com direito a fervorosos diálogos, início de futuras desavenças, decapitação e fortes punições a estupradores.
Contada pelo ponto de vista de alguns personagens ligados ao crime, somos introduzidos para como o sistema pode contribuir na formação criminosa. Com direito a cenas de forte violência, começamos a descobrir os inícios de histórias num presídio conhecido como ‘o Caldeirão do Inferno’, um lugar que aos poucos se vê como o espaço do duelo entre duas facções formadas, a falange jacaré e a turma do fundão, essa última que viria a ser mais pra frente conhecida como Comando Vermelho. Mestre (Bukassa Kabengele), Chico da Cavanha (Rômulo Braga), e Hoffman (Babu Santana) são alguns dos personagens que se destacam.
Ao mesmo tempo, fora dali, em algumas comunidades vemos os pontapés de atritos que mais pra frente culminam em confrontos. O líder comunitário Amarildo (Pedro Wagner) parece ser uma peça importante para o que nos aguarda nos próximos episódios, além da influência e popularidade de Gilsinho (Jonathan Azevedo), líder do tráfico no Morro da Promessa. Para dar mais veracidade a tudo que é mostrado, as gravações ocorreram em alguns lugares conhecidos do público carioca, como as favelas da Rocinha, Parada de Lucas e Vigário Geral, além do presídio Bangu 1.
Com dois episódios lançados sempre às quintas-feiras, ao longo dos 10 episódios dessa primeira temporada, provavelmente vamos entender melhor esse quebra-cabeça sobre a violência e o crime organizado, repleto de questões políticas e sociais. Fatos que ajudaram a contribuir para a falta de paz e insegurança que existe na cidade maravilhosa e também em muitos cantos de nosso país.