sexta-feira, maio 3, 2024

Opinião | Com ‘The Tortured Poets Department’, Taylor Swift mostra que precisa dar um passo para trás

Desde sua estreia oficial no cenário da música com seu álbum homônimo, Taylor Swift mostrou que veio para ficar.

A cantora e compositora, detentora de nada menos que catorze estatuetas do Grammy e uma estatueta do Emmy, sempre teve uma inegável habilidade de construir histórias através de uma lírica certeira e de metáforas muito bem construídas. Fosse explorando as vertentes do country e abrindo portas para uma nova geração de artistas femininas em um gênero dominado pela perspectiva masculina, ou então reinventando-se com o pop para expandir seu império e angariar ainda mais fãs ao redor do planeta. Não é surpresa que, através desses complexos enredos (ao menos em sua maioria), Swift tenha se consagrado como uma zeitgeist de sua geração, causando grande impacto através de seus álbuns e de suas turnês.

Um dos elementos de maior apreço por parte dos fãs é a sua capacidade de repaginação. Seus três primeiros álbuns, ‘Taylor Swift’, ‘Fearless’ e ‘Speak Now’ mergulharam nas construções do country e serviram de base para histórias de romance e de coração partido que condiziam com sua imagem – o último citado, inclusive, foi uma das primeiras respostas às falsas alegações de que Swift não compunha suas músicas, ficando totalmente responsável pela escrita das canções. Em 2012, com ‘Red’, a performer começou a denotar uma mistura entre o country e o pop, explorando território um tanto quanto desconhecido que viria a se firmar com seus três projetos subsequentes – ‘1989’, ‘Reputation’ e ‘Lover’.

Em 2020, prestes a completar trinta anos, Taylor apostaria fichas em um dos pontos mais determinantes de sua carreira com o inesperado anúncio de ‘folklore’. Aqui, ela abandonou a estética do pop e se enclausurou em belíssimas arquiteturas intimistas e angustiantes, dando origem a um universo bastante idiossincrático e diferente de tudo o que já nos havia entregado – apostando fichas em literárias rendições como “august”, “seven” e “cardigan” em uma celebração do folk e do appalachian folk. Algo similar aconteceria com o álbum-irmão ‘evermore’, em que a mística do compilado anterior é remodelada em uma poesia pautada na vulnerabilidade e na potência das declamações espontâneas.

A brevidade entre as datas de estreia desses dois últimos discos, porém, seria apenas o início de uma prosperidade quase mercenária de produções originais e relançamentos de títulos anteriores após Swift reconquistar os direitos das próprias masters. Em questão de quatro anos, Taylor presenteou seus fãs com nada menos que oito álbuns (quatro regravações e quatro obras inéditas).

Após ‘Fearless (Taylor’s Version)’ e ‘Red (Taylor’s Version)’, Swift anunciou o ambicioso e antecipadíssimo ‘Midnights’ – que quebrou diversos recordes de vendas ao redor do mundo e a propulsionou a embarcar na ‘The Eras Tour’ ao redor do planeta, rendendo-lhe a maior arrecadação da história, além de lhe garantir mais duas estatuetas do Grammy Awards. Todavia, o compilado deu ares de um certo cansaço criativo que começava a ser percebido por parte da crítica especializada e até mesmo dos fãs (ora, até mesmo alguns críticos e uma parte dos ouvintes discutiram acerca da decisão controversa da Academia de Artes e Ciências Fonográficas em coroá-lo com o prêmio de Álbum do Ano quando em comparação a outros títulos).

Não se enganem: ‘Midnights’ está longe de ser um projeto ruim – mas não chega aos pés do que ela fizera nos anos anteriores. Enquanto um pouco mais da metade das faixas é acima da média, com destaque a “Vigilante Shit”, “Maroon” e “The Great War”, por exemplo, notando uma proximidade interessante da performer ao conceitualismo do synth-pop. Não obstante os consideráveis ápices da obra, certas escolhas de progressão sonora e de arranjos instrumentais se mostraram repetitivas e coniventes demais para trazer a originalidade que prezávamos nas iterações predecessoras.

Enfim, chegamos a ‘The Tortured Poets Department’: contando com uma versão dupla de 31 faixas, o 11º álbum de estúdio de Swift tinha tudo para fugir dos convencionalismos que deixara transparecer em ‘Midnights’. O resultado, entretanto, foi bem aquém do esperado, ao menos na visão deste que vos fala: enquanto ‘folklore’ e ‘evermore’ beberam da magnanimidade engenhosa e estética de uma das maiores artistas vivas, o recente compilado insurge como a cópia de uma cópia – um amontoado de histórias idênticas umas às outras e que se amarram em uma cansativa linha de pensamento inescapável e infindável. Nem mesmo a conhecida e celebrada lírica de Taylor parece ornar com o espectro que adota nessa mais nova era – esvaindo-se em incontáveis metáforas vencidas e sem sentido, como explicado na nossa crítica oficial.

O que isso significa? Como é característico de qualquer carreira artística, Swift vem enfrentando alguns problemas que, ano após ano, tornam-se mais evidentes. É claro que, conhecendo o poder de marketing da cantora, o álbum se tornará um sucesso de vendas (não é à toa que alcançou números extraordinários no Spotify em apenas um dia desde o lançamento), mas isso não significa que devemos nos contentar com uma óbvia mediocridade – em que ela se apoia em investidas tão exageradas que, no final das contas, não dizem nada além de uma banalidade derradeira.

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A verdade é que ‘The Tortured Poets Department’ apenas veio para reafirmar o que vários pensavam: Taylor Swift precisa respirar e dar um passo para trás se quiser fugir dos problemas que vêm enfrentando. Não há como negar que a exaustão criativa, beirando um burnout de produtividade, transparece faixa a faixa em uma tristonha reciclagem. E, por mais que tente esconder a personalidade workaholic com um “ímpeto da poesia imperativa”, seria mais que necessário que ela reavaliasse as próprias criações para não continuar caindo em uma mesmice fadigosa.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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