Numa visão mais analítica, além do lucro financeiro, é preciso existir uma razão lógica para fazer um remake ou reboot de uma clássica ou comentada produção cinematográfica. Fora modernizá-lo narrativamente e alocá-lo numa época contemporânea, no intuito que o novo material dialogue com a geração atual, é necessário ter também originalidade e independência em relação a sua fonte de inspiração.
Ao passar dos anos, com novos deles surgindo, percebemos que os destaques são aqueles que ousaram um pouco mais e seus criadores tiveram personalidade suficiente para alterar ou acrescentar alguns pontos, sem excluir a essência do anterior. No entanto, a grande maioria dos realizadores tende a cometer justamente esses erros básicos: quando não copiam e colam o original convencionalmente, preferem investir em efeitos visuais e deixar de lado desenvolvimentos importantes da trama.
Separamos então alguns exemplos, que mais parecem símbolos, de títulos que sua existência não tiveram função ou simplesmente não fazem jus (ou pouco somaram) à obra original. Como sempre, pedimos que citem nos comentários seus indicados mais intragáveis.
10 – Carrie, A Estranha (2013)
Quando Brian De Palma lançou Carrie, a Estranha (1976), não imaginou estar criando um dos trabalhos mais emblemáticos de sua carreira. Além de montar uma nova estrutura narrativa e engendrar planos absolutamente brilhantes, o diretor soube lidar com temas extremamente complexos, como religião, sociedade e rejeição pelo diferente. No entanto a cineasta Kimberly Peirce o refilmou e entregou um filme burlesco, que em nenhum momento transporta o espectador para a atmosfera do conflito. Pelo contrário, ficamos sempre com um sorriso no rosto pelo fato da má construção de cenas e atuações histéricas que beiram o ridículo.
9 – Água Negra (2005)
É sabido que nosso querido Walter Salles é um baita realizador, filmes como Central do Brasil (1998), Diários de Motocicleta (2004) e Linha de Passe (2008) falam por si, mas aqui no remake do terror japonês Dark Water – Água Negra (2002), não vemos nada do seu cinema autoral. Mesmo contando com um ótimo elenco formado por Jennifer Connelly, John C. Reilly e Tim Roth, Salles pisou feio na bola. Fez um trabalho genérico, que possuía um roteiro risível e tinha cenas pavorosamente mal construídas.
8 – Godzilla (1998)
Completamente focada nos novos efeitos visuais, essa nova empreitada norte-americana de Godzilla, comandada pelo megalomaníaco Roland Emmerich, investe em trazer para Nova Iorque quase um daqueles dinossauros visto na franquia Jurassic Park, a diferença é que temos aqui um iguana gigante. São diversas as explosões e o caos é total nas ruas, Emmerich só esqueceu apenas de um detalhe: criar uma história no mínimo plausível.
7 – A Névoa (2005)
Esta refilmagem de A Bruma Assassina (1980) – cult do gênero repleto de planos soberbos engendrados pelo mestre John Carpenter – é tão patética que poderia facilmente nem ser citada por aqui, mas sua ruindade e mediocridade é tamanha que decidi lembra-la. Além de transformar o forte drama de uma pequena cidade litorânea numa bobagem adolescente, as péssimas atuações e toscas investidas de sustos tornam este um dos remakes mais incultos já produzidos.
6 – A Hora do Pesadelo (2010)
O icônico vilão Freddy Krueger sempre foi mais conhecido por suas devassas maluquices surreais, que propriamente por um apelo obscuro ou assassino, diferente de seu irmão de gênero Michael Myers, por exemplo. Mas não é que a Platinum Dunes – também responsável por remakes de O Massacre da Serra-Elétrica, A Morte Pede Carona, Horror em Amityville e Sexta-Feira 13 – resolveu contratar Jackie Earle Haley e investir numa pegada mais séria, apostando numa personalidade psicopata. O resultado foi um fracasso gigantesco, enfadonho e que em pouco tempo foi esquecido. O longa é terrível.
5 – Conan, o Bárbaro (2011)
Eis mais um grande fiasco em crítica e bilheteria, o 3D ainda se difundia e era (é) a atração caça-níquel do momento, mesmo assim o resultado foi desastroso. Também não é pra menos, o já experiente em remakes, Marcus Nispel, realizou um trabalho tão insosso que muitos saiam da sessão antes mesmo do fim. O troço está longe de ser um épico e não trazia nem mesmo um astro que pudesse chamar atenção. Então, diferente daquele estrelado pela lenda Arnold Schwarzenegger, esta produção é absolutamente esquecível.
4 – O Sacrifício (2006)
O Homem de Palha (1993), de Robin Hardy, uma brilhante junção entre terror e crítica social, pode até hoje ser visto e apreciado, isso porque não envelheceu e os pontos debatidos continuam mais pungentes do que nunca. Por outro lado este O Sacifício, de Neil LaBute, estrelado por Nicolas Cage, é um dos maiores erros quando se fala em remakes. É completamente sem tato, detêm de umas das atuações mais canastras de Cage e fez com que a ideia original de Hardy virasse uma paródia colossal. É quase um crime.
3 – Oldboy – Dias de Vingança (2013)
Após a confirmação de remake do jovem clássico Oldboy (2003), de Park Chan-wook, e também que Spike Lee comandaria o projeto, muito se especulou a respeito, a dúvida era geral entre público e crítica. E, no fim das contas, o longa não tinha mesmo a nada ver com o estilo que consagrou Lee. Além da abordagem sem alma e seguindo um convencionalismo narrativo e estático, o casting é um desastre total. Uma afronta à obra original, que acabou felizmente sendo ignorada e jogada ao ostracismo.
2 – Planeta dos Macacos (2001)
Podemos destacar como ponto positivo apenas a sofisticada maquiagem deste reboot Planeta dos Macacos, dirigido por Tim Burton – ok, talvez Tim Roth mereça também um crédito. Mas é evidente que seu final forçado e preocupado em causar, a ideia de criar um romance entre humano e símio, o roteiro pedestre e seu pavoroso elenco, tornam este um dos exemplos mais negativos entre refilmagens. Isso porque O Planeta dos Macacos (1968), de Franklin J. Schaffner, era o filme perfeito para ganhar uma nova roupagem, já que, apesar do grande texto e representatividade no gênero sci-fi, sua maquiagem (um marco na época) e linguagem mostram-se suplantadas, necessitando assim de uma revisita – o que os recentes Planeta dos Macacos – A Origem (2011) e Planeta dos Macacos: O Confronto (2014) fizeram muito bem.
1 – Psicose (1998)
O primeiro colocado, na verdade, talvez seja “melhor” que alguns dos citados nessa lista, pelo menos em conceitos estéticos e textuais. A questão aqui é bem mais inusitada. No final da década de 1990, o bom cineasta Gus Van Sant foi contratado para fazer simplesmente o remake de um dos maiores suspenses da história do cinema, Psicose (1960). O que para ele foi um prêmio, já que era fã assumido de Alfred Hitchcock. Surpreendentemente, Van Sant decidiu que não mudaria nada do filme original, e assim o fez (exceto uma peculiar cena de masturbação envolvendo Norman Bates): repetiu quadro a quadro tudo o que fez Hitchcock, usou a trilha clássica de Bernard Herrmann e instruiu os atores Vince Vaughn e Anne Heche a seguirem os trejeitos de Anthony Perkins e Janet Leigh. No entanto, o tiro saiu pela culatra, o troço foi considerado uma cópia barata pela crítica e público, sem nenhuma liberdade artística e de atuações vexatórias. Sendo uma catástrofe também para o próprio estúdio, justamente o oposto que fez o mestre do suspense. Que mancada, Gus!