sexta-feira , 13 dezembro , 2024

Retro Dance #20 | ‘Titanic Rising’ e a imaculada cornucópia artística de Weyes Blood

O cenário musical carrega consigo uma infeliz extensão da indústria cinematográfica e televisiva que impede que o que não esteja no foco mainstream do consumo generalizado, normalmente passa despercebido – impedindo, dessa forma, que álbuns incríveis e muito bem produzidos saiam de um medíocre holofote e ganhem nossa completa atenção. E talvez seja isso que acontece com diversos artistas que não estouram nas paradas da Billboard e outros sites afins, incluindo a habilidosa cantora Natalie Laura Mering. Conhecida profissionalmente pelo nome em ascensão de Weyes Blood, a performer norte-americana tem uma ainda jovem carreira que é marcada por clássicos instantâneos e alguns dos melhores álbuns da década (incluindo ‘The Outside Room’ e ‘The Innocents’).

Em 2019, Mering retornaria com mais uma impecável obra fonográfica com Titanic Rising, cujo próprio título já poderia nos direcionar para o caminho que tomaríamos ao embarcar nessa sinestésica jornada. Seu quarto álbum de estúdio, desde a capa até a orgânica composição das faixas, é, sem sombra de dúvida, o melhor que já apresentou e um concorrente esnobado para as premiações musicais (pelas questões discutidas no parágrafo acima). De qualquer forma, deixar que essa icônica artista passasse fora do radar é um crime hediondo – e por isso mesmo resolvemos trazê-la para o CinePOP.



Weyes vinha trabalhando no CD desde 2017, logo após ter assinado contrato com a gravadora Sub Pop e se reunir com Jonathan Rado. Não demorou muito para que ela abrisse espaço para homenagear um dos filmes que mais impactaram em sua vida, ‘Titanic’, dirigido por James Cameron em 1997 – ora, não é à toa que o título seja homenagem ao gigantesco transatlântico e premedite e tragédia que acometeu o navio em pleno oceano Atlântico. É a partir dessas concepções que “A Lot’s Gonna Change” dá o tom dessa perifrástica aventura, invadindo as ideias memorialísticas e saudosistas de um tempo que não mais irá voltar – como também nos abraça numa narcótica necessidade de compreender a misteriosa atmosfera setentista da qual ela se vale.

É quase automático perceber as influências das quais Mering se vale para dar vida ao que apenas compreendemos como seu projeto mais pessoal: os vocais estendem-se para uma melódica comparação a Florence + The Machine e aos cândidos solilóquios do duo The Carpenters, enquanto os retumbantes instrumentos progridem numa proposital dissonância que nos arremessa para os clubes underground do chamber-pop e do soft-rock. Isso fica evidente na desconstruída balada “Andromeda” e na nostálgica “Everyday”, esta acompanhada por um coro declamatório deliciosamente envolvente.

Titanic Rising se nutre de uma humilde ambição que não nos é premeditada e nem almejada com artifícios pedantes: na verdade, a ambição mencionada insurge da talentosa minúcia da artista em erguer algo com tamanha coesão: todas as tracks se amarram em um mesmo refúgio sonoro, movidos pela sensorial guitarra e pela profundidade do piano e da bateria que vai ao encontro das notas proferidas pela lead singer – e, por mais que você esbarre em óbvias similaridades entre uma canção e outra, Weyes cuida para que cada investida traga um elemento diferenciado. Enquanto as primeiras músicas se fixam em um território mais indie, o miolo da produção marca uma brusca ruptura com o que vínhamos ouvindo.

É certo dizer que Mering mantém-se numa linearidade vocal que é direcionada para nos guiar em um arco narrativo de autorreflexão – e isso explica o motivo de ter permanecido fiel ao que queria nos entregar. E, se por um lado ela se recusa a ousar, por outro nos bombardeia com construções belas e oníricas, como é o caso do interlúdio-titular e da sintética guarnição que nos espera em “Movies” (cujo nome é um convidativo aviso). Mais de uma vez, a cantora entrega-se a um orquestral e emocionante augúrio que se expande em solilóquios contraditoriamente otimistas e que até mesmo dialogam com aspectos operísticos escolhidos a dedo.

O CD abre espaço para uma categórica e monumental mistura de instrumentos que, em qualquer outro lugar, seriam excludentes demais para alcançar um resultado coerente; em “Mirror Forever”, a convencional bateria é acompanhada pelos acordes do violino, pela sutileza do baixo e pela sonial potência de um ecoante clarinete; já em “Wild Time”, a longa faixa reúne forças do inesperado violão – inesperado até demais para uma obra como esta, mas que se aproveita para aparecer no classicismo teatral da incrível “Picture Me Better”, uma das melhores ballads de 2019.

Chegando finalmente à sua poderosa conclusão com “Nearer to Thee” (que é tanto emancipatória quanto trágica, ainda mais levando em conta a história que o álbum nos conta), Weyes Blood se superou mais uma vez com uma das melhores criações artísticas não apenas da década passada, mas sim do século. Titanic Rising é uma produção para os anos, para as décadas, e que, certamente, servirá de inspiração para diversos performers que se aventurarem nessa complexa esfera que é a indústria musical.

Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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Em 2019, Mering retornaria com mais uma impecável obra fonográfica com Titanic Rising, cujo próprio título já poderia nos direcionar para o caminho que tomaríamos ao embarcar nessa sinestésica jornada. Seu quarto álbum de estúdio, desde a capa até a orgânica composição das faixas, é, sem sombra de dúvida, o melhor que já apresentou e um concorrente esnobado para as premiações musicais (pelas questões discutidas no parágrafo acima). De qualquer forma, deixar que essa icônica artista passasse fora do radar é um crime hediondo – e por isso mesmo resolvemos trazê-la para o CinePOP.

Weyes vinha trabalhando no CD desde 2017, logo após ter assinado contrato com a gravadora Sub Pop e se reunir com Jonathan Rado. Não demorou muito para que ela abrisse espaço para homenagear um dos filmes que mais impactaram em sua vida, ‘Titanic’, dirigido por James Cameron em 1997 – ora, não é à toa que o título seja homenagem ao gigantesco transatlântico e premedite e tragédia que acometeu o navio em pleno oceano Atlântico. É a partir dessas concepções que “A Lot’s Gonna Change” dá o tom dessa perifrástica aventura, invadindo as ideias memorialísticas e saudosistas de um tempo que não mais irá voltar – como também nos abraça numa narcótica necessidade de compreender a misteriosa atmosfera setentista da qual ela se vale.

É quase automático perceber as influências das quais Mering se vale para dar vida ao que apenas compreendemos como seu projeto mais pessoal: os vocais estendem-se para uma melódica comparação a Florence + The Machine e aos cândidos solilóquios do duo The Carpenters, enquanto os retumbantes instrumentos progridem numa proposital dissonância que nos arremessa para os clubes underground do chamber-pop e do soft-rock. Isso fica evidente na desconstruída balada “Andromeda” e na nostálgica “Everyday”, esta acompanhada por um coro declamatório deliciosamente envolvente.

Titanic Rising se nutre de uma humilde ambição que não nos é premeditada e nem almejada com artifícios pedantes: na verdade, a ambição mencionada insurge da talentosa minúcia da artista em erguer algo com tamanha coesão: todas as tracks se amarram em um mesmo refúgio sonoro, movidos pela sensorial guitarra e pela profundidade do piano e da bateria que vai ao encontro das notas proferidas pela lead singer – e, por mais que você esbarre em óbvias similaridades entre uma canção e outra, Weyes cuida para que cada investida traga um elemento diferenciado. Enquanto as primeiras músicas se fixam em um território mais indie, o miolo da produção marca uma brusca ruptura com o que vínhamos ouvindo.

É certo dizer que Mering mantém-se numa linearidade vocal que é direcionada para nos guiar em um arco narrativo de autorreflexão – e isso explica o motivo de ter permanecido fiel ao que queria nos entregar. E, se por um lado ela se recusa a ousar, por outro nos bombardeia com construções belas e oníricas, como é o caso do interlúdio-titular e da sintética guarnição que nos espera em “Movies” (cujo nome é um convidativo aviso). Mais de uma vez, a cantora entrega-se a um orquestral e emocionante augúrio que se expande em solilóquios contraditoriamente otimistas e que até mesmo dialogam com aspectos operísticos escolhidos a dedo.

O CD abre espaço para uma categórica e monumental mistura de instrumentos que, em qualquer outro lugar, seriam excludentes demais para alcançar um resultado coerente; em “Mirror Forever”, a convencional bateria é acompanhada pelos acordes do violino, pela sutileza do baixo e pela sonial potência de um ecoante clarinete; já em “Wild Time”, a longa faixa reúne forças do inesperado violão – inesperado até demais para uma obra como esta, mas que se aproveita para aparecer no classicismo teatral da incrível “Picture Me Better”, uma das melhores ballads de 2019.

Chegando finalmente à sua poderosa conclusão com “Nearer to Thee” (que é tanto emancipatória quanto trágica, ainda mais levando em conta a história que o álbum nos conta), Weyes Blood se superou mais uma vez com uma das melhores criações artísticas não apenas da década passada, mas sim do século. Titanic Rising é uma produção para os anos, para as décadas, e que, certamente, servirá de inspiração para diversos performers que se aventurarem nessa complexa esfera que é a indústria musical.

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