007 – Sem Tempo para Morrer já é um sucesso absoluto. O 25º filme de 007 nos cinemas marca impressionantes 84% de aprovação da imprensa especializada – o que garante ao filme um sucesso de crítica. Com o público, segue pela mesma linha garantindo uma boa bilheteria, isto é, para tempos pandêmicos – sabem como é.
E quando falamos dos perigos, desafios e antagonistas, a galeria de vilões de 007 é tão ampla e “colorida” que parece saída do acervo de um super-herói de quadrinhos como o Batman. De fato, há de se questionar quem possui os antagonistas mais diversificados – ainda faço a minha aposta em James Bond. Afinal, são nada menos do que vinte e cinco filmes até o momento, a cada filme temos o espião enfrentando um novo adversário. Em especial um foi reprisado ao menos quatro vezes, porém, a grande maioria durava somente um filme. Assim é difícil deixar de fora vilões icônicos, em especial os da era de Roger Moore, uma época muito frutífera para os vilões, como o Dr. Kananga (Yaphet Kotto), Francisco Scaramanga (Christopher Lee) e o Dr. Julius No (Joseph Wiseman). Abaixo tentarei argumentar os motivos da escolha dos meus 10. Confira e deixe nos comentários os seus favoritos. Ah sim, o texto abaixo contém spoilers de alguns filmes da franquia.
10 – Gustav Graves (Toby Stephens)
Estou plenamente ciente de que Um Novo Dia para Morrer é considerado um dos piores exemplares da franquia, senão “o” pior, na opinião de grande parte dos fãs. Mas uma coisa que temos que admitir sobre a era de Pierce Brosnan é que seus filmes tentaram trazer certo diferencial em relação aos vilões, principalmente no que diz respeito a reviravoltas em seus arcos dramáticos. É neste quesito que se encontra Gustav Graves, meu escolhido para ocupar a décima vaga. Um magnata playboy inescrupuloso, intitulado Sir pela coroa britânica, usa como fachada causas ecológicas e tecnológicas, como um satélite. No desfecho do filme, descobrimos que Graves na realidade era o Coronel Tan-Sun Moon, do exército norte-coreano, dado como morto numa batalha com Bond, e que agora através de cirurgia plástica e modificação genética, havia se tornado ocidental e assumido nova identidade. Pode não ter descido redondo para todos, mas sem dúvidas é criativo e foi uma surpresa.
09 – Renard (Robert Carlyle)
O terrorista conhecido como Renard talvez seja o único vilão da era Pierce Brosnan que não possui uma reviravolta em seu arco pessoal. Bem, ele e Elliot Carver (Jonathan Pryce). No que diz respeito a Renard, ao menos não diretamente, já que sua história está entrelaçada com a do verdadeiro vilão – ou deveríamos dizer vilã. Isso nos faz levantar a questão se Renard é na verdade o capanga da história, e não o real vilão. Seja como for, o personagem saído de O Mundo Não é o Bastante (1999) é legal porque não consegue sentir dor, o que o transforma quase num Michael Myers ou Jason atrás de James Bond. O vilão possui uma bala alojada na cabeça, o motivo de ser insensível à dor. Seu verdadeiro nome é Victor Zokas, e o terrorista tem no currículo como um dos principais atos o sequestro de Elektra King, herdeira de um império do Petróleo, o que dá início à trama do filme. Depois de libertada de suas garras, depois de anos terem se passado, Elektra e sua família parecem ter se tornado alvo do terrorista novamente. Renard é um vilão diferente, no que descobrimos no desfecho: um motivado pelo amor.
08 – Alec Trevelyan / 006 (Sean Bean)
Como dito, a era de Pierce Brosnan pode não ser considerada a melhor do espião no cinema, mas ousou e se arriscou, em especial em relação aos seus vilões. GoldenEye (1995) foi a primeira investida de Brosnan como Bond, e o nascimento de uma nova fase para o espião. E logo de cara, já tínhamos esse “soco no estômago”. De começo, acreditamos ser apenas mais uma trama envolvendo militares russos, como de costume. Mas algo nos diz que a abertura do filme, na qual James Bond perde seu parceiro 006 em missão, irá voltar em algum momento para atormentá-lo. Dito e feito, Alec Trevelyan, antigo parceiro e amigo de 007, é quem está por trás de todas as maquinações, atrás do satélite que dá título ao filme. Alec atende pela alcunha Janus agora, conseguiu sobreviver a uma explosão e no melhor estilo Duas-Caras retorna como vilão com o rosto deformado para exercer sua vingança sobre o antigo colega.
07 – Elliot Carver (Jonathan Pryce)
O segundo vilão da era Brosnan que não possui especificamente uma reviravolta, o magnata da mídia Carver é o nosso escolhido para ocupar a sétima posição. É dito que Elliot foi baseado no real barão da imprensa Rupert Murdoch, dono de diversos famosos veículos e também o conglomerado da Fox News. O interessante deste personagem é a atualização do típico vilão megalomaníaco dos filmes de espiões, que deseja dominar o mundo através da guerra. Em O Amanhã Nunca Morre (1997), a maneira criativa usada pelo vilão é através das fake News, um tema muito atual e debatido hoje – demonstrando que o longa segue pungente. A estratégia utilizada por Carver é a de fabricar suas próprias notícias, manipular para o que deseja realmente que aconteça, e possa noticiar, assim levando conflitos entre países como a China e a Inglaterra até onde ele deseja de fato.
06 – Franz Sanchez (Robert Davi)
Agora temos o vilão máximo da era Timothy Dalton, considerada a fase mais sombria e violenta do espião 007 nas telas. Na estreia de Dalton em Marcado para a Morte não tivemos um vilão assim tão marcante, porém em seu segundo e final longa como James Bond, Dalton foi brindado com um dos melhores vilões da franquia: Franz Sanchez, um barão do narcotráfico mexicano. Os anos 1980 foram a época do combate dos EUA às drogas. E foi a década do reinado de Pablo Escobar. Assim, novamente a franquia usava como base os acontecimentos reais da sociedade mundial para o tema de sua narrativa. Sem dúvida Escobar foi o molde para criar Sanchez, um cruel lorde das drogas, amante de iguanas. Entre quatro paredes o comportamento psicótico do vilão era ainda mais revoltante, como quando espanca a namorada Lupe. Esse foi um vilão que James Bond precisou deixar o serviço secreto para combater.
05 – Auric Goldfinger (Gert Fröbe)
O filme Goldfinger (1964) é um dos preferidos da franquia de muita gente. De certa forma, ele pode ser considerado o auge da era Sean Connery e o resumo de tudo o que um filme de 007 significa. E grande parte disso se reflete em seu vilão. Auric Goldfinger tem uma aparência bonachona de um típico alemão loiro e rotundo. Mas não nos deixemos enganar por sua aparência afável, pois o sujeito é um inescrupuloso magnata do ramo de ouro, tão louco pelo minério reluzente que é capaz de fazer de tudo por eles. Até mesmo matar uma jovem que o traiu e pintar seu corpo inteiramente de ouro. Além disso, protagoniza uma das cenas mais icônicas da franquia, quando ameaça cortar James Bond ao meio com um laser, no momento em que proferem o diálogo: “Você espera que eu fale”, diz Bond, ao que retruca Goldfinger, “Não, sr. Bond, eu espero que morra”.
04 – Elektra King (Sophie Marceau)
Vendida inicialmente como a principal Bondgirl de O Mundo Não é o Bastante, Elektra King é uma rica herdeira de um império de petróleo que perde o pai assassinado. Nas investigações, James Bond descobre que o terrorista Renard foi o responsável pelo assassinato e está novamente na cola de Elektra. Anos antes, Renard a havia sequestrado e por algum motivo está atrás da milionária novamente. Aqui temos mais um filme da era Brosnan e como dito lá vem outra surra de reviravolta. No desfecho descobrimos que Elektra não era a vítima, mas sim a própria algoz. Quando sequestrada por Renard, entrou em cena a famosa síndrome de Estocolmo, aquela que faz a vítima se apaixonar por seu captor. Agora é Elektra quem dá as cartas, num relacionamento doentio com o terrorista. Ela é quem está por trás de tudo, tramando a morte do próprio pai e em rota de vingança contra M e a agência MI6. Elektra ganha um lugar alto em nossa lista por ser a primeira mulher vilã da franquia, ou ao menos a mais famosa. E de quebra possuir uma reviravolta legal e inesperada em sua personagem.
03 – Le Chiffre (Mads Mikkelsen)
Um dos grandes atrativos da franquia 007 é escalar atores muito talentosos para interpretar seus vilões. E aqui, Mads Mikkelsen é considerado por muitos um dos melhores intérpretes da atualidade. Seu nome não estava tão consolidado em Hollywood ainda quando fez este filme, porém, Cassino Royale, o primeiro da era Daniel Craig, serviu como porta da frente para sua entrada nos EUA. No início do texto eu disse que um vilão em particular havia aparecido em mais de um filme da franquia 007 no cinema. E com Le Chiffre temos um caso curioso. Assim como James Bond, sua primeira aparição foi na TV, no seriado de antologia Clímax, onde foi vivido por Peter Lorre. Depois disso, no cinema, na forma de uma paródia, o vilão teve as formas do cultuado Orson Welles. Foi somente em 2006 que ele entraria para o cânone oficial da franquia, representado da melhor forma possível. Com uma cicatriz no olho, com direito à lágrima de sangue, Le Chiffre é o elo entre terroristas e suas armas, e um jogador de cartas inveterado. Quem poderia esquecer a cena de tortura com Bond pelado sentado na cadeira?
02 – Raoul Silva (Javier Bardem)
Outro vilão da era Daniel Craig e o melhor deles (que me desculpe Rami Malek e o seu Safin, mas precisam comer muito feijão com arroz ainda). Javier Bardem já havia sido convidado para viver o vilão Renard em O Mundo Não é o Bastante. Mas podemos dizer que sua espera valeu à pena. Silva só não pega a medalha de ouro porque existe um vilão icônico que é sinônimo da franquia. É o Coringa para o Batman de James Bond. E por falar no palhaço do crime, a performance de Bardem como o anárquico Silva foi muito comparada com uma versão do Coringa, em especial o desempenho de Heath Ledger no papel – com direito até a uma cena na prisão. Se foi inspiração ou não, só podemos dizer que o visual chamativo do vilão é um dos atrativos igualmente. De cabelos loiros platinados, Silva tenta inclusive, num momento ousado da franquia, seduzir James Bond numa cena íntima entre os dois. Silva é um ex-agente do MI6, traído e abandonado por M, que retorna em busca de vingança. Seu arco dramático é trágico e até mesmo shakespeariano: o filho abandonado pela mãe, que volta para matá-la.
01 – Ernst Stavro Blofeld (Donald Pleasence)
Quero deixar bem claro que a versão a que me refiro é a de Donald Pleasence, o eterno Dr. Loomis da franquia Halloween. Blofeld, como dito, é o arqui-inimigo de James Bond, afinal todo herói precisa de sua contraparte vilanesca. E a presença de Blofeld é sentida desde o início na franquia, desde quando o Dr. No revela para 007 no primeiro filme ser parte da organização conhecida como SPECTRE. Deste ponto em diante, percebemos que existe uma força maior por trás dos feitos de um cientista aparentemente louco. Ele não estava agindo sozinho. E na continuação, Moscou Contra 007 (1963), já temos um vislumbre do número 1 da organização, Blofeld. Sempre aparecendo nas sombras, com apenas sua mão acariciando um gatinho branco e sua voz, ele faria coadjuvações pontuais enquanto seus subordinados eram revelados. Até que pela primeira vez Blofeld aparecia em cena, em Só Se Vive Duas Vezes (1967), nas formas de Pleasence, com sua grande cicatriz no rosto e jeito de um demente. Pena que ele só participe bem no finalzinho. Nos episódios seguintes, Blofeld ganharia as formas de Telly Savalas, Charles Gray e finalmente Christoph Waltz, mas nenhum deles, nem mesmo o grande Waltz, conseguiu capturar a essência que Pleasence trouxe – e que foi satirizada na criação do Dr. Evil, de Austin Powers.