O mundo da música é recheado de produções incríveis e que, boa parte das vezes, conseguem alcançar o status mainstream – ainda que sejam consideradas sleeper hits quando lançadas.
Assim como canções únicas, temos também álbuns que passam longe das playlists ao redor do planeta e que nem ao menos têm a chance de encantar os ouvintes com produções impecáveis e incursões líricas magníficas.
Pensando nisso, preparamos uma breve lista com dez álbuns internacionais pouco conhecidos dos últimos 5 anos que você deveria conhecer.
Veja abaixo as nossas escolhas:
SUNSHINE KITTY, Tove Lo (2019)
“‘Sunshine Kitty’ não é apenas sagaz o suficiente para entrelaçar o novo e o antigo, mas também bombardeia os ouvintes com um incontrito electro-dance que viaja pelas décadas de 1980, 1990 e 2000 sem se importar em reverenciar essas três épocas das formas mais inesperadas possíveis. Nesse território, a artista partilha de seus esforços com Jax Jones na sensual e mística “Jacques”, traça uma colaboração abrasileirada com o funkeiro Mc Zaac em uma interessante soturnidade que nos rouba a atenção do começo ao fim na track “Are U Gonna Tell Her?” (com harmonizações surpreendentes) e cria um estilo movido puramente pelos sintetizadores e por um ambience-pop ao lado da lendária Kylie Minogue em “Really Don’t Like U” – que, sem sombra de dúvidas, configura-se como um dos ápices do álbum.” – Thiago Nolla
FEVER DREAM, Of Monsters and Men (2019)
“Of Monsters and Men sempre teve uma habilidade precisa de aglutinar diversos suis-generis em um único lugar, buscando uma expressividade ímpar que resultou no sucesso que faz hoje – e esperamos que continue fazendo. Porém, ainda que o time criativo atire para vários lugares em uma missão interminável de inferências e referências (Björk, por exemplo, é drenada para dar vida a alguns dos singles mais famosos do grupo), suas escolhas pontuais falam mais alto do que qualquer coisa. Nessa compreensão abrangente, “Wars” ganha uma dimensão muito maior do que promete, seja pelo lirismo teatral de suas sutis declarações, seja pelo abuso envolvente do chamber pop e todos os elementos nostálgicos que nos transportam de volta para os anos 1960 e 1970.” – Thiago Nolla
THE BETTER HALF OF ME, Isabela Merced (2020)
“O maior sucesso que a cantora e compositora encontra aqui é a capacidade de manter-se rejuvenescida em meio a tantos lançamentos e nomes que surgem esporadicamente no mundo afora – deixando claro quais são os gêneros pelos que tem mais gosto de explorar. Em cada peça fonográfica, o ritmo e a melodia combinam-se em uma ambiência sólida o suficiente para criar afinidade com seus interlocutores, mesclando humor e tragédia com toques do legado da geração millenial (como a forte presença dos anos 1980). No final das contas, ‘the better half of me’ entrega muito mais do que esperávamos, merecendo muito mais carinho e reconhecimento do que provavelmente terá.” – Thiago Nolla
SONG FOR OUR DAUGHTER, Laura Marling (2020)
O sétimo álbum de estúdio de Laura Marling é o seu melhor até hoje. Comparando com suas obras anteriores, ‘Song for Our Daughter’ é uma narrativa místico-ficcional que traz arranjos instrumentais mais esparsos e mais fincados no minimalismo sonoro para criar uma atmosfera íntima. Os vocais impecáveis de Marling são acompanhados do violão e de uma ecoante percussão ao fundo, apoiada pela melodia apaixonante do piano e por uma produção competente de Rob Moose.
PICK ME UP OFF THE FLOOR, Norah Jones (2020)
“A lendária e distinta Norah Jones ganhou fama nos anos 2000, quando lançou seu primeiro álbum de estúdio intitulado ‘Come Away with Me’ (cuja música-título até mesmo foi regravada em uma nostálgica rendição por Emma Bunton). Depois de vender quase 30 milhões de cópias e tornar-se um dos maiores nomes do jazz-folk do século XXI, Jones teve sua carreira catapultada para uma prolífica discografia, que lhe rendeu nada menos que nove prêmios do Grammy. Agora, duas décadas depois de seu début, ela retorna à glória com sua melhor obra em dez anos, o nostálgico e que tangencia o cinematográfico ‘Pick Me Off the Floor’, que, ao longo de suas onze estupendas faixas, entra facilmente para a lista das grandes produções de 2020 que abrem com o pé direito um novo ciclo.” – Thiago Nolla
A TOUCH OF THE BEAT, Aly & AJ (2021)
“Composto por doze faixas, o monstruoso e poético título, ‘A Touch of the Beat Gets You Up on Your Feet Gets You Out and Then Into the Sun’, representa uma forte mudança no estilo apresentado aos fãs desde sua estreia nos anos 2000. Carregando apreço pelo costumeiro e mercadológico pop-rock ou pelo classicismo do nu-house, Aly e AJ resolveram apostar fichas em um nicho que começou a ser explorado ainda nas protuberâncias sessentistas do cenário europeu – o rock eletrônico ou synth-rock. É a partir daí que insurge a arquitetura principal da produção, alastrando-se ao longo de quase cinquenta minutos de forma a não cair na repetição e apresentar uma nostálgica e, ao mesmo tempo, original identidade sonora.” – Thiago Nolla
BLUE WEEKEND, Wolf Alice (2021)
“Quatro anos depois de terem lançado seu último álbum, a banda inglesa Wolf Alice retornou sem muito alvoroço com a impecável produção ‘Blue Weekend’. Sem sombra de dúvida uma das obras mais subestimadas de 2021 e uma que merece entrar para a lista dos apaixonados por rock alternativo e indie pop, a construção das onze breves faixas representa o amadurecimento e a completa compreensão do que significa ser um artista na atualidade, contando com singles como “The Last Man on Earth” e “No Hard Feelings”.” – Thiago Nolla
DADDY’S HOME, St. Vincent (2021)
“St. Vincent demonstra que o passado tem lugar marcante em sua vida – sutilmente aludindo aos estilos que o próprio pai lhe apresentou quando criança, como revelou em diversas entrevistas promovendo a obra. “Down And Out Downtown” é uma elegia de empoderamento, um hino de independência e uma viagem tétrica, em que ela “estava voando pelo Empire State, então você me beijou e eu caí de novo”. Em “Laughing Man”, ela mostra uma versatilidade apaixonante e aplaudível que se alastra tanto para o ritmo frasal do blues quanto para um enredo à la John Cassavetes (que é inclusive reconhecido em um dos versos). “Somebody Like Me”, como a própria performer já explicou, é um cândido e íntimo retrato sobre a mútua ilusão do amor, perpassando pelos vários estágios de um relacionamento e pela construção de uma compreensão recíproca e profunda.” – Thiago Nolla
CHLOË AND THE NEXT 20TH CENTURY, Father John Misty (2022)
O quinto álbum de estúdio de Father John Misty, nome artístico de Josh Tillman, configura-se como seu primeiro lançamento de originais desde 2018. ‘Chloë and the Next 20th Century’ foi recebido com aclamação imediata por parte dos críticos e do público, em virtude de versos eximiamente bem escritos e a promoção de um retorno ao passado, em composições que misturam jazz, folk e swing. Mais do que isso, Tillman constrói um cânone à sua própria arte, talhando uma história de intimidade invejável que se relaciona em diversos níveis com quem ouse ouvir um dos melhores discos de sua carreira.
CAPRISONGS, FKA Twigs (2022)
“Não é apenas o conceitualismo que fala mais alto nesta obra – pelo contrário, os movimentos realizados por FKA Twigs e por uma gama gigantesca de produtores e compositores criam picos e vales de significações múltiplas, que variam desde audaciosas progressões até reflexões mercadológicas. Dessa maneira, “honda” nos chama a atenção por manter-se fiel à identidade da performer e por fornecer um lado mais costumeiro, por assim dizer, permitindo que ela brinque com aspectos como o atabaque, o kissange e o corpo gospel. Além disso, a parceria com o rapper Pa Salieu carrega uma química categórica, reafirmada pelo fraseamento divertido e bastante rítmico de cada verso, que foge das obviedades e nos engolfa em uma aventura aprazível e completa” – Thiago Nolla