Estamos em 2020 e a esta altura do ano, a maioria de vocês já deve ter sentido o peso da idade, não é mesmo? Muitos sucessos do cinema, que sem dúvidas foram assunto na escola, faculdade ou trabalho, estão completando 10, 20, 30, 40 anos… e um desses é Homem de Ferro 2. Lançado em abril de 2010, o filme foi um sucesso gigante de bilheteria. Mas para falar sobre ele, precisamos fazer uma pequena viagem no tempo.
Atualmente, quando falamos no Universo Cinematográfico Marvel, pensamos em diversão, lutas incríveis, muita emoção… enfim, entretenimento de qualidade. Mas nem sempre foi assim. Após o sucesso incontestável do primeiro Homem de Ferro (2008) e o início oficial do MCU, a cena pós-créditos dava indícios de que haveria um filme dos Vingadores. Mais tarde no mesmo ano, O Incrível Hulk chegou aos cinemas e mais uma cena pós-créditos indicava a realização do filme da equipe. Diferentemente da aventura de Tony Stark, o longa de Bruce Banner (Edward Norton) passou longe de ser um sucesso tanto de crítica quanto de bilheteria. No entanto, eles tinham algo em comum: as críticas foram super pesadas na falta de emoção dos respectivos clímax dos filmes. Para a crítica especializada – e para muita gente – a Marvel tinha encontrado um jeito de fazer filmes com personalidade, mas escorregava feio na luta final, que era chata.
Em 2009, pela primeira vez na história do MCU, o mundo não teria um filme da Marvel exibido nos cinemas. Então, com esse ano de expectativa e esperando que a Marvel/ Paramount trouxesse novidades sobre o filme dos Vingadores, o público foi ávido aos cinemas para assistir Homem de Ferro 2. Nesse tempo, Tony Stark (Robert Downey Jr.) já era um queridinho do público, então combinou o útil ao agradável e terminou arrecadando mais de US$ 620 milhões. E a presença da Viúva-Negra (Scarlett Johansson), mais a cena pós-créditos do Thor já eram o suficiente para deixar as pessoas ansiosíssimas. Porém, mais uma vez as críticas não foram tão agradáveis assim.
De fato, se formos colocar na balança, a Marvel conseguiu corrigir o “problema” da luta final chata. Com uma batalha super intensa, Homem de Ferro 2 se distanciou dos anteriores nesse ponto. O problema é que novos erros vieram, fazendo com que o meio do filme fosse enfadonho, cansativo e confuso. Depois do Monge de Ferro (Jeff Bridges), o segundo filme da franquia traria quatro vilões: o Chicote Negro (Mickey Rourke), Justin Hammer (Sam Rockwell), o governo americano e o reator Arc. Historicamente, filmes de HQs com três vilões não costumam dar muito certo porque não há tempo o suficiente para desenvolver os três antagonistas e o herói em si, fazendo com que pelo menos um desses elementos fique de escanteio. E aqui, com QUATRO malfeitores, não é diferente.
Chega a um ponto da trama em que o diretor Jon Favreau já não sabe o que fazer com o vilão principal, o Chicote Negro, e o tira de cena por uns 40 minutos. O que é um problema, já que a história de intriga familiar envolvendo Tony e Ivan era interessante e prometia embates não apenas físicos, mas ideológicos também, e acabou sendo posto de lado para resolver o problema de outro vilão: o reator Arc. Essa ameaça também era interessantíssima, já que o aparelho que mantinha Tony Stark vivo o estava envenenando, causando uma morte lenta e dramática.
O ponto é que a Marvel aproveitou para resolver esse problema de uma forma que envolvesse uma introdução dos Vingadores. Por conta disso, cerca de 1/3 do filme é dedicado a tal elemento, trazendo o governo, a Shield, a Viúva-Negra e uma trama confusa sobre o trabalho de Howard Stark (John Slattery) com o Tesseract – que só viria a ser apresentado no ano seguinte, em Capitão América: O Primeiro Vingador – e terminaria sendo a solução para o problema do envenenamento. No meio dessa confusão toda, o vilão Justin Hammer e o governo entraram para criar um novo personagem a ser utilizado no futuro do MCU: o Máquina de Combate (Don Cheadle).
Essa pressa em introduzir o futuro da Marvel nos cinemas em um filme só foi MUITO prejudicial a Homem de Ferro 2, que poderia ter se tornado um clássico do MCU caso tivesse apenas de resolver seus próprios problemas. A trama de Tony Stark poderia ter crescido muito de forma antecipada. O filme em si é cheio de momentos memoráveis, como a entrada do Homem de Ferro na Expo Stark, o debate nos tribunais, o duelo em Mônaco, a briga no aniversário e a luta final. O problema é que em meio a esses momentos há o emaranhado de tramas tentando encontrar uma solução.
Mas há de se destacar uma coisa: os efeitos práticos da época eram fantásticos! A mescla deles com o CGI aproveitava o trabalho feito no primeiro filme e fazia a armadura parecer real. Fora isso, a visão de Jon Favreau em fazer Tony Stark como o rei dos playboys foi algo único no MCU. Por mais que outros diretores tenham tentado replicar isso, só ele soube fazer um Tony sacana/babaca adorável desse jeito. Com o passar do tempo e a integração com o universo, Stark foi amolecendo e ficando cada vez mais PG-13.
Outro ponto maravilhoso é a trilha sonora. A parceria com o AC/DC foi tão marcante no filme original que a trilha sonora da sequência foi um álbum inteirinho da banda, chamado Iron Man 2. É praticamente um AC/DC Greatest Hits.
Enfim, é curioso ver como Homem de Ferro 2 acabou sendo um dos pilares do Universo Cinematográfico Marvel como o conhecemos, mas, ao mesmo tempo, esse acabou sendo um dos maiores problemas para que ele se sustentasse como filme solo. É um daqueles casos em que seu maior mérito foi também sua ruína, quase como uma analogia à trama do reator Arc mostrada no filme. É um filme que foi impedido de brilhar para que Os Vingadores pudesse ser um sucesso dois anos depois.
Homem de Ferro 2 está disponível no Telecine Play.