Após um primeiro filme controverso, a franquia Motoqueiro Fantasma decidiu fazer uma sequência/ reboot sem perder seu protagonista, o insano e caricato Nicolas Cage. O interessante é que essa continuação foi confirmada em 2007, pouco tempo após o lançamento do longa original. Para a sequência, eles trouxeram David S. Goyer, que estava em alta pelos filmes do Batman, para roteirizar a aventura. No entanto, claramente sob influência do grande e controverso sucesso de público da época, O Código Da Vinci, o roteirista investiu numa trama de conspirações religiosas na Europa e um confronto com o diabo em pessoa, o que poderia ser bastante promissor, dado o histórico do personagem, mas acabou sendo tão raso e sem graça que terminou ficando menos inspirada que as correntes de fake news que mandam pelo WhatsApp.
Para piorar a situação, a direção de Mark Neveldine e Brian Taylor, que chamaram atenção pelo filme Adrenalina (2006), foi tão confusa e esteticamente feia, que só terminaram de enterrar esse projeto. Na verdade, chega a ser conflitante esse ponto. Ao mesmo tempo em que o visual do Motoqueiro Fantasma, que ganhou um aspecto mais sujo e assustador, melhorou, esse conceito não ajudou quando aplicado ao cenário. A trama do anti-herói demoníaco precisando proteger a criança, inclusive, poderia render sequências inusitadas em um tipo de road movie, mas nada disso foi explorado, dando a sensação de que o estúdio só aprovou mesmo esse filme para não correr riscos de perder os direitos sobre o personagem para uma Marvel que vinha forte com a venda para a Disney.
Quem acabou sofrendo mais com esse projeto foi o ator Nicolas Cage. O premiado ator já estava naquela fase mais decadente da carreira, em que começou a só estrelar bombas. No entanto, por mais caricata que fosse sua atuação no primeiro filme, a orientação dada a ele foi para surtar de vez e abusar das caras e bocas. O resultado foi constrangedor. As cenas dele se transformando deveriam ser tensas, mas ficaram parecendo mais que o ‘Nic’ foi filmado em uma crise de prisão de ventre. A computação gráfica usada também não ajuda. É uma pena, porque o ator é fanático por histórias em quadrinhos e realmente estava empenhado nessa franquia.
Por fim, para dizer que não foi uma bomba completa, Motoqueiro Fantasma – Espírito de Vingança, traz Idris Elba como um padre que promete ajudar o protagonista a se livrar da maldição, contanto que ele ajude o menino em sua viagem. Elba está muito bem no personagem e acaba tendo mais jeito de protagonista do que o próprio Motoqueiro Fantasma. Infelizmente, ele não tem tanto destaque quanto deveria. Ou seja, mesmo mandando bem, Idris Elba, assim como tudo na franquia, foi desperdiçado. Uma pena.
Nos últimos anos, a Marvel vem comentando sobre seu desejo de trazer o Motoqueiro Fantasma para o MCU. Recentemente, inclusive, houve boatos de que eles estariam cogitando Norman Reedus (The Walking Dead) para o papel de Johnny Blaze. E com as recentes adições de projetos mais voltados para esse núcleo sobrenatural da Casa das Ideias, talvez esteja próxima a nova versão do Motoqueiro Fantasma. Fato é que a Marvel pode tirar grandes lições dessa franquia para não repetir os erros no Universo Cinematográfico. A primeira delas é definir o tom do personagem, nada de variar entre o galãzinho convencido e o tiozão completamente louco. Da mesma forma, é preciso definir se o personagem será levado a sério ou será mais galhofa. Ele funciona bem nas duas pegadas, mas há de ser feito com coerência. Por fim, se inspirar mais nos quadrinhos é fundamental. O universo do Motoqueiro Fantasma é interessantíssimo e pode render aventuras simplesmente épicas, contanto que sejam filmes bem executados.
Caso você queira se arriscar e assistir a essa bomba dez anos depois, Motoqueiro Fantasma – Espírito de Vingança está disponível na Netflix.