Aqui no CinePOP somos todos fãs do gênero terror. De fato, o site teve início justamente desta paixão – como um veículo para que os fãs pudessem compartilhar suas opiniões sobre estes filmes muito específicos de nicho. Hoje, é claro, falamos sobre todo tipo de cinema, mas nunca esquecemos o amor pelo gênero que deu origem a tudo e que segue forte em nossas veias e corações. Assim, a mim foi dada uma tarefa que, sim, pode ser considerada bastante ingrata: selecionar 10 filmes de terror em toda a história de quase 130 anos de cinema que sejam imprescindíveis para todo e qualquer fã do gênero assistir pelo menos uma vez na vida. A pergunta que fica, obviamente, é: como selecionar apenas 10?
Depois de muito espremer a cabeça e deixar muita coisa boa de fora, o primeiro passo foi selecionar clássicos e para isso foi usado um período de tempo datando dos anos 1960 (época revolucionária para o cinema em geral, devido às mudanças significativas da sociedade) até anos 1980. Essa época específica foi muito frutífera para o gênero, dona de grande criatividade e ousadia em suas histórias. Segundo, utilizando como elemento balizador filmes que acredito ser expoentes dentro de alguns dos mais variados subgêneros que o terror possui. E terceiro é que a lista foi criada sem ordem cronológica do melhor ao pior, ou vice versa. Ou seja, a ordem dos filmes nela posicionados não querem dizer absolutamente nada. Confira abaixo.
A Noite dos Mortos-Vivos (1968)
Agora voltamos dez anos no tempo antes de Halloween para trazer nada menos do que o primeiro filme de zumbis da história. E bem, ele é também ainda o melhor. É meio óbvio como “chover no molhado” dizer que um filme que apresentou ao mundo um subgênero que não existia antes ainda permanece como seu melhor exemplar, afinal se não fosse por ele não teríamos tudo o que veio depois. Imaginar que ele tenha feito sucesso é o básico. E sim, se temos essa grande febre com os zumbis hoje, que se tornaram os monstros mais famosos do cinema e da cultura pop, é graças a este pequeno filme do diretor George A. Romero – igualmente um cineasta importantíssimo para o terror. Mas A Noite dos Mortos-Vivos não é unicamente um filme de terror, ele carrega em sua narrativa uma forte crítica social – assim como as melhores obras do cinema. Ou seja, não basta ser apenas um filme de terror, é preciso ter algo a dizer através de seus personagens e sua trama. E no filme de Romero, o racismo e o preconceito fervem em meio aos conflitos sociais dos anos 60, onde um negro pega o protagonismo da história em meio a personagens brancos. O final ainda soa como um soco no estômago e um tapa na cara da sociedade.
Halloween – A Noite do Terror (1978)
Começamos a lista com esta pequena obra-prima de John Carpenter – um dos grandes nomes quando o assunto é terror. E Halloween segue como um de seus filmes mais apreciados. A escolha de Halloween para essa lista representa os filmes slasher, sendo ele o único de tal categoria contido na matéria. Talvez o filme não seja o primeiro slasher do cinema, mas sem dúvidas foi o longa que popularizou esse subgênero para o início dos anos 80 (época de seu auge). Há os que gostem ou não dos slasher, mas Halloween é o primeirão, e ouso dizer, o melhor deles. Uma história simples e ainda muito eficaz escrita por Carpenter. Um psicopata fica aprisionado anos num hospital psiquiátrico, até que em uma determinada noite consegue fugir e volta para sua antiga e pacata cidadezinha. Os moradores locais nada sabem que seu paraíso está ameaçado por uma figura mascarada nas sombras. Halloween também fala sobre a perda da inocência, da maneira mais horrível e violenta possível.
Não deixe de assistir:
Suspiria (1977)
Voltamos novamente para os anos 70, um ano antes de Halloween. E o motivo pela escolha deste filme é como representante do subgênero conhecido como Giallo, os filmes de terror italianos. Um dos fortes expoentes deste estilo de cinema é o veterano Dario Argento, que coleciona obras no segmento. Suspiria é sua grande obra-prima e o filme que vem à mente quando pensamos no maestro Argento. É dito inclusive que foram os Giallo que deram origem aos slashers americanos, donos de características semelhantes. Nos Giallo também temos um assassino misterioso usando armas cortantes para eliminar suas vítimas, das formas mais violentas e gráficas possíveis. Esse vilão é sempre “invisível” e “indestrutível” nos filmes Giallo, embora a maioria não use elementos sobrenaturais. Assim, os americanos pegaram esses elementos e usaram nos slasher. Mas em Suspiria, que é um Giallo sobrenatural, Argento atinge o auge de sua plasticidade visual, incluindo as cores berrantes, para filmar um pesadelo alucinógeno sobre uma escola de dança na Alemanha que esconde em seus subterrâneos um perigoso covil de bruxas.
Tubarão (1975)
Ainda seguindo pela década de 1970, agora temos o segundo filme para o cinema do rei de Hollywood Steven Spielberg. De fato, os anos 70 têm tudo a ver com a carreira do diretor, já que ele foi um dos pilares da era revolucionária de Hollywood no período, de jovens cineastas que chegavam cheios de ideias e iriam mudar para sempre o cenário da maior meca do cinema mundial. Embora seja conhecido atualmente como o “paizão americano” e um especialista em filmes para toda a família, é preciso lembrar que Spielberg começou sua carreira com alguns dos filmes mais assustadores e nervosos do cinema na década de 70, vide o telefilme Encurralado (1971). Seu passo seguinte no gênero seria maior, mais ambicioso e melhor com Tubarão (1975) – filme responsável por escrever o nome do diretor nos anais do cinema e transformá-lo num dos gigantes da indústria. Tubarão está na lista por dois motivos. Primeiro, é a mescla perfeita entre terror, suspense e um excelente entretenimento de verão – além de ser o primeiro blockbuster da história – mostrando que o terror pode abraçar todo tipo de público fora de seu nicho. E segundo por ser ainda o melhor e mais famoso exemplar do subgênero dos “animais assassinos” no cinema.
O Iluminado (1980)
Por falar em um mestre, aqui temos outro. Por falar em um representante do cinema espetáculo, aqui temos mais um. Steven Spielberg era fã de Stanley Kubrick, o considerava um mestre e um mentor. Quando Spielberg surgiu para o mundo do cinema na década de 1970, Kubrick já havia criado obras magistrais como Spartacus, Lolita, Dr. Fantástico e 2001 – Uma Odisseia no Espaço. Justamente por isso, Spielberg não hesitou em pegar para si a tarefa de terminar um dos projetos abandonados do amigo e ídolo, A.I. – Inteligência Artificial (2001). E se Tubarão (1975) é considerado uma mescla perfeita entre terror e entretenimento, O Iluminado (única incursão de Kubrick pelo terror) não fica por menos em questão de cinema espetáculo. Kubrick era um perfeccionista, e garantiu que cada detalhe estivesse no lugar na hora de levar às telonas o livro de Stephen King, mesmo que para isso precisasse mudar muito de seu material original, o que enfureceu o criador. Kubrick teve uma filmografia diversa, transitando por vários gêneros e criando todos com sua típica excelência. Com O Iluminado não foi diferente – um show de atuação e visão de cena. É o que podemos chamar de um terror rico e classudo.
Psicose (1960)
Para fazer um bom filme, é necessário ter as peças todas no lugar. O que a maioria considera, no entanto, acima dos demais são dois elementos: um bom diretor e bons atores. Já dizia o ditado: “um bom diretor consegue fazer um roteiro ruim se transformar em bom; mas um diretor ruim não consegue salvar o filme nem com um roteiro bom”. E isso se aplica em todos os gêneros do cinema. Afinal é sempre melhor independente do tipo de filme termos intérpretes talentosos fazendo o material crescer com suas atuações, e um exímio maestro comandando tudo. Ou seja, não poderia ser de outra forma, e os melhores filmes de terror de todos os tempos são os comandados por verdadeiras lendas do cinema. E quando falamos nos diretores mais marcantes de todos os tempos, falamos quase sempre em Alfred Hitchcock, considerado o mestre do suspense. Quando fez Psicose, porém, muitos achavam que o cineasta estava deixando os thrillers de lado para criar pela primeira vez um filme de terror propriamente dito, o qual consideraram de mau gosto. Psicose é outro que pode ser considerado o pai dos slasher, mas é claro que o filme do psicopata Norman Bates e sua mãe é bem mais do que isso. É também um riquíssimo estudo de personagens que se tornou o maior sucesso da filmografia de Hitchcock.
O Bebê de Rosemary (1968)
Seguimos pelos grandes mestres do cinema agora com Roman Polanski. Assim como Kubrick, o cineasta europeu percorreu vários gêneros em sua carreira, entregando trabalhos sólidos em todos eles, fossem suspenses, dramas, filmes psicológicos, filmes noir, guerra, romances e por aí vai. Mas quando olhamos para a sua filmografia, um filme que pula sempre aos olhos é O Bebê de Rosemary, baseado num famoso livro de Ira Levin. Na trama, Mia Farrow brilha como Rosemary, uma jovem ingênua se mudando para um grande prédio imponente em Nova York ao lado do marido, que tem planos de fama e sucesso no terreno do entretenimento e cinema. Ela começa a desconfiar de seus idosos e intrujões vizinhos, que estão sempre por perto querendo cuidar dela e controla-la. Logo, através de algumas pistas, ela adere à paranoia, e assim como a Irma (Camila Morgado) da novela Pantanal, começa a desconfiar que seu bebê irá nascer com patas, chifres, rabo e cheiro de enxofre. Neste caso, a desconfiança é prudente.
O Exorcista (1973)
Depois de O Bebê de Rosemary, outro filme de terror foi incrivelmente bem-sucedido ao abordar um tema então muito em voga: o diabo e seus filhos nas mais variadas formas. Foi assim que filmes como A Profecia (1976) prosperaram igualmente. Porém, três anos antes chegaria um filme que mudaria as coisas como divisor de águas para o gênero e para o cinema também. Antes de Tubarão (1975), O Exorcista por pouco não se tornava o primeiro blockbuster do cinema. Nas salas que exibiam o filme, filas se formavam e pessoas realizavam quebra-quebra para conseguir assistir ao longa que todos falavam. Muitos passavam mal e desmaiavam com o conteúdo do que assistiam em tela. A história se tornou febre e em pouco tempo, O Exorcista (do diretor William Friedkin) era anunciado como o filme de terror mais assustador de todos os tempos – título que ainda guarda todos esses anos depois para muitos fãs, cinéfilos e críticos, incluindo este que vos fala. O Exorcista é a mescla perfeita entre terror sugestivo e psicológico (só de pensarmos em subir as escadas da casa até o quarto onde uma menina está possuída e onde coisas horríveis acontecem é um exercício de pura coragem) e um horror explícito, com cenas fortes e extremamente marcantes, como o vômito e a cena do crucifixo. Fora isso, na lista apenas este e Tubarão possuem a honraria de terem sido indicados ao Oscar de melhor filme.
Alien – O 8º Passageiro (1979)
Na lista dos filmes imperdíveis para os fãs de terror até aqui já tivemos representantes dos mais variados subgêneros e os dois últimos itens mesclam de forma exímia a ficção científica e o horror – com muitos fãs inclusive os classificando como uma coisa ou outra, quando na verdade são formados exatamente da mistura certeira de ambos os gêneros. Começamos pelo mais famoso e prestigiado deles: Alien – O 8º Passageiro. Esse foi o segundo filme e o primeiro grande sucesso de Ridley Scott, que como trabalho seguinte lançaria Blade Runner e marcaria seu nome como um dos diretores mais influentes do cinema quando falamos de ficção científica. De fato, esses dois filmes seguem fazendo escola até hoje. Alien foi um fenômeno, ainda mais se levarmos em conta a época em que foi lançado, nos anos 70 – um período onde se experimentava muito com drogas de todos os tipos, em especial alucinógenas, afinal eram os anos dos hippies. Um filme como Alien certamente serviu para ampliar a mente numa viagem espacial. Mas uma que termina de forma muito assustadora. Muitos se referem a Alien também como um filme de casa assombrada (no espaço). Uma nave cargueiro gigantesca é o local perfeito para uma criatura alienígena extremamente agressiva se esconder e atacar seus únicos sete passageiros. O mais interessante de Alien é o mistério que envolve cada cena, cada tomada, deixando mais perguntas do que respostas na mente do espectador. Elemento este que o próprio criador jogou pela janela ao resolver explicar tudo em seus recentes Prometheus e Covenant, contidos no mesmo universo.
O Enigma de Outro Mundo (1982)
Assim como Alien, aqui temos um representante do terror alienígena, que se comporta também como ficção científica. As grandes diferenças aqui são o fato desta história se passar na Terra e não no espaço como Alien, e que O Enigma de Outro Mundo utiliza também muito do chamado body horror (especialidade de David Cronenberg), com cenas perturbadoras de efeitos práticos ainda impressionantes, onde corpos se rasgam, se contorcem, se esticam e derretem de forma grotesca. John Carpenter é o único diretor a aparecer duas vezes nesta lista, mostrando a importância do cineasta para o gênero. E o melhor, com dois filmes totalmente diferentes um do outro, que abordam subgêneros e estilos distintos. The Thing (no original) é bem mais ambicioso e complexo, mas Carpenter não termina atropelado por sua pretensão, muito pelo contrário, o filme permanece até hoje como ícone, ganhando cada vez mais apreço com o passar dos anos. O Enigma de Outro Mundo é na verdade o remake de O Monstro do Ártico, dos anos 1950, e assim como A Mosca (1986), do citado Cronenberg, é um dos raros casos de refilmagem feitas da forma correta, pegando uma ideia central e a ampliando através de muita criatividade, e como resultando conseguindo superar seu material fonte.