O feriado prolongado chegou e sabemos que para muitos de vocês (assim como a gente também) o programa preferido será assistir a filmes interminavelmente. A plataforma do momento para tal é nossa amada Netflix, que garante horas de entretenimento para os cinéfilos.
Justamente por isso, pensando em você, nosso querido público, nós do CinePOP trazemos uma nova lista, com 10 produções de variados gêneros, presentes no acervo Netflix, que você não pode perder. Portanto, pegue seu caderninho, anote nossas dicas e depois volte para nos agradecer. Ou não (rsrs). Mas sem dúvidas queremos saber sua opinião. Vamos a eles.
Já Não Me Sinto em Casa Neste Mundo (2017)
(I Don´t Feel at Home in this World Anymore)
Que tal começar a lista com um filme novinho em folha, lançado este ano? Para melhorar, que tal se ele for o vencedor do prestigiado Festival de Sundance 2017? Pois é, amigos, a Netflix, mostrando a força do colosso que é, comprou o filme do festival e o lançou direto em sua plataforma, sem antes ser exibido nos cinemas brasileiros. Mas calma, segure sua ira. Acontece que o filme provavelmente não seria exibido em nossas salas de qualquer forma. Na trama, super atual, necessária e urgente, uma mulher (Melanie Lynskey) é assaltada. Quando a polícia se mostra incapaz de ajudá-la, e somada à exaustão da forma como as pessoas se tratam hoje, cada vez com mais intolerância, ela decide fazer justiça com as próprias mãos – ajudada pelo vizinho (papel de Elijah Wood, o eterno Frodo). Completando o elenco, a gracinha Jane Levy (O Homem nas Trevas).
Sing Street: Música e Sonho (Sing Street, 2016)
Outro filme inédito nos cinemas brasileiros, com o qual a Netflix resolveu nos presentear. Este é sem dúvida um dos três melhores filmes desta lista, uma verdadeira pérola a ser encontrada. Agradável, doce e contagiante, este musical adolescente se passa na década de 1980 e tem como cenário um bairro pobre de Dublin, Irlanda. O jovem Conor (Ferdia Walsh-Peelo) passa por grandes dificuldades em casa devido a separação de seus pais, mas isto não atrapalha seu otimismo na forma como encara a vida. A paixão por Raphina (Lucy Boynton <3), uma menina mais velha, faz com que inicie uma banda de pop rock ao lado dos amigos e a transforme na musa do grupo, participando dos criativos clipes musicais – na época em que explodia a MTV. Sing Street aquece o coração, foi indicado ao Globo de Ouro de melhor comédia ou musical e poderia estar no Oscar deste ano. O filme é mais um acerto do diretor John Carney, depois de Apenas uma Vez (Once, 2007) e Mesmo se Nada der Certo (Begin Again, 2013).
O Que Fazemos nas Sombras
(What We Do in the Shadows, 2014)
Você provavelmente é um dos que enlouqueceu ao ver o trailer de Thor: Ragnarok, certo? Mas afinal, quem não? Bom, se você é um fiel fã da Marvel no cinema, nada mais justo do que buscar as outras produções assinadas por seus cineastas, certo? E isso não será nenhum esforço, já que um dos filmes anteriores do diretor Taika Waititi (Thor: Ragnarok) é esta comédia hilária sobre vampiros. Igualmente fresquinho na Netflix, O Que Fazemos nas Sombras é inédito nos cinemas brasileiros e conta, sob um aspecto narrativo documental, o dia a dia de criaturas da noite sugadoras de sangue, como se reais fossem. Por ser um “mockumentary” (um documentário falso), o estilo é o de found footage. O filme aborda diversos aspectos do que seria a vida de um vampiro, desde a rivalidade com lobisomens até como lidam com humanos simpatizantes escravizados. Além disso, os protagonistas que dividem a mansão mal-assombrada e seus afazeres, são de variadas épocas e espécies de vampiros, como um tirano sósia de Drácula, outro nas formas de um ancião estilo Nosferatu e ainda um jovem e rebelde, mais perto dos vampiros modernos. Simplesmente hilário. É ver para crer.
O Silêncio do Céu (Era El Cielo, 2016)
Coprodução entre Brasil e Chile, passada no Uruguai e falada em espanhol (com alguns trechos em português), O Silêncio do Céu fez parte da excelente safra de filmes nacionais que estrearam ano passado – e que será difícil superar este ano. Além disto, o filme figurou na lista das dez melhores produções cinematográficas deste humilde crítico que vos fala. Terceiro longa do cineasta Marco Dutra (o primeiro fora do gênero terror – mas com forte carga de thriller), baseado no livro de Sergio Bizzio, a obra ganhou alguns prêmios no festival de Gramado. A trama polêmica fala de estupro, mas aborda o tema de uma forma diferente, levantando novas questões. O filme abre, e Diana (Carolina Dieckmann, em seu melhor desempenho na carreira) é estuprada por dois homens que invadiram sua casa. Ao invés de denunciar, ela se cala e um silêncio aterrador se forma entre ela e o marido, papel do argentino Leonardo Sbaraglia (o motorista apressado de Relatos Selvagens). Por outro ângulo, percebemos que o marido presenciou o crime, mas foi incapaz de impedi-lo, fardo que igualmente o consome. Um filme corajoso e estarrecedor, que ainda conta com a presença de Chino Darín, filho de um dos melhores atores da atualidade, Ricardo Darín.
Ex-Machina: Instinto Artificial
(Ex-Machina, 2014)
O que dizer deste filme que já não tenha sido dito, exceto: se você ainda não viu, pare tudo e veja! Uma das produções independentes mais elogiadas de seu respectivo ano (exibido em um festival em 2014, mas no resto do mundo em 2015), Ex-Machina é ficção científica em sua mais pura forma – questionadora, moderna e com muito a dizer, que se importa muito mais com as ideias que a permeiam do que apenas a estética. Na trama, um jovem funcionário de uma mega empresa no estilo Google (papel de Domhnall Gleeson) ganha um concurso e tem a oportunidade de passar um fim de semana na casa do dono da companhia, o excêntrico e recluso Nathan (Oscar Isaac, em um dos melhores desempenhos de sua carreira). Como um verdadeiro neo Frankenstein, o gênio louco na verdade deseja que o funcionário teste sua nova criação, uma máquina dona de inteligência artificial, vontades próprias e as formas de Alicia Vikander. Ava, a criatura, desenvolve então com o sujeito uma relação especial. Ex-Machina, inédito nos cinemas brasileiros, é um filme único e chocante, tratando com seriedade e grande reflexão ideias propostas em clássicos do entretenimento como O Exterminador do Futuro (1984).
Conspiração e Poder (Truth, 2015)
O que seria de uma boa lista, sem a indicação de um filme com a maravilhosa Cate Blanchett. Quantas atrizes da atualidade são donas de duas estatuetas do Oscar? Poucas. Aqui, em mais uma atuação estrondosa, mas infelizmente negligenciada, ela é Mary Mapes, produtora real do programa jornalístico 60 Minutes. Em O Informante (1999), de Michael Mann, outra equipe do mesmo programa investigada a indústria tabagista, escancarando-a com fortes denúncias. Aqui, a investigação descortina o passado do presidente George W. Bush, um dos governantes mais criticados dos EUA, que supostamente teria forjado seu tempo no serviço militar, de quebra incluindo falsas honrarias por bravura. A matéria que parecia um baita furo, sai pela culatra e puxa Mapes para o olho do furacão, tendo sua vida pessoal e profissional virada do avesso. Ao contrário de Spotlight (vencedor do Oscar), que apenas recria o trabalho jornalístico mecânico de seus profissionais, Conspiração e Poder decide olhar para o drama pessoal de seus envolvidos, dando rosto e humanizando as pessoas por trás das histórias. O veterano Robert Redford também protagoniza na pele do âncora Dan Rather.
Complicações do Amor (The One I Love, 2014)
Mais um filme inédito nos cinemas brasileiros – na maioria dos casos, estes são os melhores – cujo título em português pode enganar o público sobre seu verdadeiro conteúdo. Não se trata de uma comédia romântica boboca e açucarada, mas sim de um exercício bem mais complexo, de tentar entender a psique humana e seu comportamento dentro de uma relação afetiva. O roteiro é tão especial que pouco pode ser dito sem que estraguemos. Um casal em crise (papel de Mark Duplass e Elizabeth Moss) tenta de tudo para reestruturar seu relacionamento. Na terapia de casal, o psicólogo (papel do veterano Ted Danson) recomenda que passem um tempo numa casa de campo. O local se mostra promissor. É quando surge a grande reviravolta da trama e o filme assume tintas de fantasia / ficção científica. Um fato sobrenatural entra em vigor e, à primeira vista, surge como benção para os pombinhos, se mostrando o que muito necessitavam. Porém, o paraíso talvez não seja tão fácil de ser atingido, e os problemas de sempre começam a ressurgir. Filmes como The One I Love (ok, tenho problemas com o título em português) mostram que ainda existem roteiros originais e criativos em Hollywood, mesmo que muitos sejam incompreendidos e que a maioria das pessoas ainda queiram ver mais do mesmo.
O Roubo da Taça (2016)
O ano de 2016 foi tão frutífero para o cinema nacional, que aqui vai mais uma produção na lista. O Roubo da Taça, ao contrário de O Silêncio do Céu, é um filme leve, cômico, mas nem por isso menos satisfatório. A melhor comédia nacional em muitos anos, O Roubo da Taça é quase um drama e trata de assuntos sérios, como crimes de roubos e assassinatos, além de investigação policial. A atmosfera criada poderia servir em um drama criminal, mas a proposta aqui é pelo humor. Muitos reclamam das comédias nacionais e este filme chega para redimi-las. Usando como mote o lendário roubo da taça Jules Rimet em 1983, fato que se tornou uma espécie de lenda urbana no país, o longa se propõe a descortinar o ocorrido – de forma fictícia, é claro, mas com certo embasamento – apresentando uma grande possibilidade. Peralta (mais uma atuação impressionante de Paulo Tiefenthaler, aqui dono de grande timing cômico) é um golpista barato, que para sair de uma dívida de jogo, resolve roubar a réplica da famosa taça, acidentalmente adquirindo a verdadeira. Outro destaque do filme, que é a primeira produção original brasileira da Netflix, chega nas formas de Taís Araújo, simplesmente estonteante a atriz rouba a cena na pele de Dolores, a companheira do sujeito 171.
A 13ª Emenda (13th, 2016)
Apesar de recorrer ao discurso maniqueísta e manipulador, como afirmar que todos os criminosos negros devem ser soltos das cadeias, simplesmente por serem negros, o documentário da prestigiada Ava DuVernay (Selma: Uma Luta pela Igualdade) deve ganhar uma chance e ser visto. O documentário foi indicado ao Oscar deste ano e é uma produção original Netflix. Ao contrário de Selma, seu outro filme indicado ao Oscar, que prestava um serviço maior para as minorias ao reproduzir as lutas e conquistas do humanitário Martin Luther King, jamais incitando ou recorrendo à violência, DuVernay parece seguir o caminho oposto com seu documentário inflamatório, promovendo o conflito e não a união de classes e raças. No entanto, muitos trechos são importantes e não deixam de despertar o interesse, em especial os que abordam o passado e a luta travada pelos direitos civis na década de 1960. Ao olharmos o que o ser humano foi capaz de fazer com o próximo, automaticamente reflete o que ainda é feito. Mais um motivo para buscarmos soluções utilizadas em tal período, já que com elas muito foi conquistado. Extremista e impactante, A 13ª Emenda promete revoltar, indignar e incitar, talvez em medidas iguais.
3096 Dias de Cativeiro (3096 Days, 2013)
Produção alemã falada em inglês, esta obra remete muito e falará diretamente aos fãs do sucesso vencedor do Oscar O Quarto de Jack (2015). Partindo do mesmo princípio estarrecedor, o filme mostra o sequestro de uma menina austríaca chamada Natascha (Antonia Campbell-Hughes), que permanece em cativeiro durante oito anos, sendo abusada fisicamente e psicologicamente por seu abdutor (papel de Thure Lindhart). A situação é tão catastrófica que a jovem começa a desenvolver em variados momentos a conhecida síndrome de Estocolmo, e a simpatizar com o criminoso. Ao contrário de O Quarto de Jack, que ainda acrescenta certa doçura e ingenuidade, tirando certa beleza desta história polêmica, 3096 Dias de Cativeiro concentra-se apenas na sufocante trajetória da vítima e na angústia inconcebível que passou. O longa, assim como seu irmão mais famoso, serve de denúncia para estes fatos horripilantes que continuam a acontecer, realizados por pessoas extremamente doentes e que não deveriam viver em sociedade. O filme é baseado em fatos envolvendo a verdadeira Natascha Kampusch.