Muitos cineastas gostam de trazer com suas obras buscas por reflexões sobre paralelos com o que acontece do lado de cá da telona. Seja sobre sentimentos, causas sociais, conflitos que nunca terminam, preconceito, geopolítica, imigração, muitos filmes chegam todo o ano nos fazendo refletir sobre o planeta atual em que vivemos. Pensando nisso, resolvemos criar uma lista bem legal com 10 filmes com reflexões importantes sobre o mundo atual:
Castelo de Terra
Em Castelo de Terra, conhecemos Oriane Descout e Marreco, um casal que se conheceu quando a primeira chegou ao Brasil e logo se apaixonaram não só amorosamente mas também dentro da mesma linha de raciocínio de viverem uma vida autossustentável com ações sociais simples mas que impactam a todos que buscam fugir da loucura capitalista do mundo de fora. As dificuldades são imensas, ao longo dos anos, vamos vendo todas as tentativas que fazem. Na terra dos outros, sem saber se vão conseguir ficar ali à longo prazo, a mudança de pensamento (ou dúvidas) sobre a questão do coletivo, as várias tentativas de implementação desse sonho, o caminho é árduo e cheio de obstáculos.
Visão de uma Borboleta
Exibido na edição desse ano da Mostra Um Certo Olhar em Cannes, um dos filmes mais impactantes da edição 2022 do Festival do Rio de cinema, o longa-metragem ucraniano dirigido por Maksym Nakonechnyi, Visão de uma Borboleta, nos mostra a história de uma mulher que sofreu como prisioneira de guerra durante meses e luta para se readaptar ao convívio do noivo e da família. Um recorte impressionante sobre os horrores de uma guerra, assunto mais do que atual, já que o longa aborda as tensas relações em uma região no extremo leste da Ucrânia e sudoeste da Rússia.
O Paraíso deve ser Aqui
Na trama, somos testemunhas oculares dos passeios observadores de um homem (Elia Suleiman) e sua busca por respostas sobre o quão diferente ou não pode ser o mundo e suas tendências. É um pouco viagem às vezes, é sim! Mas fruto de uma tentativa clara e objetiva a todo instante de ser original e esse mérito são para poucos no cinema mundial contemporâneo. O filme foi o Indicado da Palestina ao Oscar, na categoria melhor filme estrangeiro, além de ter sido indicado à Palma de Ouro em Cannes.
Na trama, conhecemos Vera (Marieta Severo), uma mulher recém divorciada que comanda uma ONG. Ela é mãe de Tânia (Laura Castro), uma mulher na casa dos 40 anos, casada Vanessa (Marta Nobrega) que tem o sonho de ter um filho com a companheira. Vera sofreu traumas enormes durante a ditadura, principalmente no período em que esteve presa. Ela não tem um bom relacionamento com a filha. Essa última passa por uma fase muito difícil, estudando para concurso e tendo que lidar com os conflitos no seu relacionamento, muitos desses provocados pelas tentativas de gravidez. Essas duas estradas acabam entrando em choques as levando para um caminho de questões que precisam serem debatidas.
Exibido no Festival de Sundance e no Festival de Gramado desse ano, Marte Um, ambientado nos últimos meses do último ano eleitoral (2018), conta a história de uma família que mora na periferia de uma grande cidade mineira. Tem o pai, Wellinton (Carlos Francisco), que é porteiro em um luxuoso condomínio e enfrenta com muita firmeza seus tempos de sobriedade após problemas com a bebida. Temos a mãe, Tércia (Rejane Faria) super alegre e dançante que após uma pegadinha traumática começa a ter sua rotina acompanhada por medos e aflições. Temos a filha mais velha, Eunice (Camilla Damião), uma jovem estudiosa que faz direito na Universidade Federal e está começando um relacionamento com outra jovem e tem o desejo de se mudar mas ainda não tem coragem de contar aos pais. Temos o filho mais novo, Deivid (Cícero Lucas) um jovem sonhador que gosta de futebol e adora astronomia passando horas consumindo esse conteúdo pela internet. Assim, vamos acompanhando a história de uma família batalhadora, que encontra suas respostas entre erros e acertos, na esperança e no refletir.
Uma distopia que diz muito sobre nossa sociedade. Baseado na peça Namíbia, Não!, de Aldri Anunciação, o longa-metragem que marca a estreia de Lázaro Ramos na direção, Medida Provisória, é um dos mais impactantes projetos cinematográficos dos últimos anos. Metendo o dedo em feridas de uma sociedade que enxerga o preconceito mas faz pouco para que ocorra mudanças, o projeto debate sobre as questões sociais, econômicas, políticas de um país que vive em constante condições de extrema opressão e desespero. De maneira muito inteligente, vemos dentro de uma distopia muito do que enxergamos pela janela todos os dias.
Na trama, acompanhamos a reunião de uma família para comemorar o dia de ação de graças no novo apartamento duplex do casal Brigid (Beanie Feldstein) e Richard (Steven Yeun) no centro de Manhattan. Novo porque eles estão a pouco tempo lá, porque o local está precisando de vários concertos, com fiações expostas e outros problemas. Assim conhecemos Erik (Richard Jenkins), um esforçado pai de família que recentemente cometeu um grave erro no seu trabalho, Deirdre (Jayne Houdyshell) a mãe que passa por frustrações e tem um relacionamento complicado com sua filha Brigid, Aimee (Amy Schumer) uma mulher buscando recomeços em várias partes de sua vida. Tem também Momo (June Squibb) a vovó que a família cuida. Ao longo de uma noite fria, intensa e cheia de situações que beiram ao inexplicáveis, vamos percorrendo à curta lembrança de todas essas gerações que se chocam refletindo sobre a vida uns dos outros.
Colmeia
Vencedor de três importantes prêmios do prestigiado Festival de Sundance em 2021, A Colmeia nos mostra a trajetória de Fahrije (Yllka Gashi) uma mulher guerreira e batalhadora que está com o marido desaparecido por conta da guerra. Ela, precisando ter dinheiro para sobreviver junto aos filhos e o sogro que mora com ela, resolve empreender com a ajuda de outras mulheres. Fato esse que gera uma enxurrada de preconceitos e até mesmo assédio de vários tipos, principalmente dos homens da região.
Tantas Almas
Na trama, conhecemos José, um homem que sustenta sua família faz anos através da pesca em uma região litorânea na Colômbia. Certo dia, após voltar de uma longa pesca de noite, descobre que integrantes de uma força paramilitar mataram seus dois filhos e os jogaram no rio. Reunindo forças de onde não tem José resolve ir atrás dos corpos dos dois filhos em um perigoso trajeto.
Medo
Quando cansamos de sentir medo nossa existência faz mais sentido. Exibido na Mostra de SP em 2021, o longa-metragem Búlgaro, Medo, (Strah, no original), explora a natureza humana e suas relações girando em torno do tema sempre em pauta na Europa: a imigração. Escrito e dirigido por Ivaylo Hristov, o projeto expõe pontos de vistas, metendo o dedo na ferida sobre um assunto diretamente ligado aos direitos humanos. Há também espaço para reflexões sobre a solidão e um combate constante e intimista sobre o medo.