Uma das reflexões mais profundas que podem existir em uma obra audiovisual é sobre a questão da sociologia, essa ciência social que estuda o comportamento humano e as relações sociais. Pensando nisso, buscamos como sugestões pra quem curte o assunto, segue na lista abaixo algumas produções muito interessantes com um olhar reflexivo sobre a sociologia:
Leviatã
Na trama, acompanhamos todo o drama e sofrimento de Kolia (Aleksey Serebryakov), um mecânico que vive humildemente com sua atual mulher Lilya (Elena Lyadova) e seu filho do primeiro casamento. Kolia luta na justiça para que o prefeito da cidade onde mora não derrube sua casa, só que isso fará com que ele sofra consequências, mesmo com a ajuda de seu amigo Dmitri (Vladimir Vdovichenkov), um advogado vindo de Moscou. Além dessa situação incômoda, o protagonista enfrentará um drama familiar difícil de ser curado.
Hector e a Busca pela Felicidade
Na trama, somos apresentados a Hector (Simon Pegg), um psiquiatra que vive uma vida monótona ao lado de sua namorada Clara (Rosemund Pike). Após uma sessão com uma paciente pra lá de esquisita, o protagonista desperta para seus sentimentos e emoções, embarcando em uma jornada de auto descoberta, à procura da felicidade. Imagens lindas vão desfilando pelo filme, nos sentimos muito próximo dos personagens tamanha verdade que sentimentos em cada gesto, cada palavra que vemos sair das atitudes e pensamentos dos personagens.
Margaret
Na trama, conhecemos Lisa Cohen (interpretada muito bem pela ganhadora do Oscar Anna Paquin) uma jovem com graves problemas de diálogos com sua mãe que acaba em um certo dia testemunha de um acidente fatal de ônibus. Após esse dia, a troca pela culpa é a nova caminhada que a jovem percorre, para tal, conhecemos aos poucos novos rostos que ajudam a adolescente a definir o tamanho da parcela de sua culpa nesse acidente.
Fruitvale Station: A Última Parada
O vencedor do importante prêmio Um Certo Olhar, no Festival de Cannes, conta a história de Oscar, um rapaz de 22 anos que busca redenção em sua vida. Demitido do seu honesto emprego, busca forças na sua carinhosa família para não voltar ao mundo das drogas. Mesmo com o passado triste batendo em sua porta muitas vezes, Oscar possui um desejo gigante de ser um melhor pai e um parceiro melhor para sua namorada. No dia 31 de dezembro de 2008, ele e sua família serão protagonistas de uma das cenas mais chocantes, dramáticas e absurdas da história da polícia norte-americana.
Um Pequeno Grande Plano
O destino do planeta está nas mãos das novas gerações. Em seus curtos 66 minutos de projeção, Um Pequeno Grande Plano, longa-metragem francês na seleção do Festival Varilux de Cinema Francês 2022, é um pérola que abre leques de reflexões que vão desde as questões humanitárias, como podemos contribuir para o nosso planeta, chegando na geopolítica e colocando um casamento em conflito. Dirigido por Louis Garrel (que também faz parte do elenco), o filme nos leva a pensar sobre questões que estão diariamente aos nossos olhos.
Flee – Nenhum Lugar para Chamar de Lar
A amizade como ajuda na cura de feridas do passado. Baseado em fatos reais, uma história muito próxima do diretor desse projeto, o cineasta dinamarquês Jonas Poher Rasmussen, consegue ser muito criativo usando a técnica de animação para criar um ambiente respeitoso e criativo para um homem pronto para contar sua história, esse que escrevia em um caderno velho suas verdades até aqui agora às vésperas de casar ele precisa enfrentar seu passado. Por meio de memórias e até algo parecido com um relaxamento, quase em ponto de hipnose, voltamos ao ano de 1984 em Cabul (Afeganistão), onde toda avalanche de situações dramáticas deram início na vida do protagonista. Descoberta de sua sexualidade, guerras civis, países saindo do comunismo, fugas e mais fugas. Somos testemunhas de uma incrível história que passa por muitas questões globais. Flee foi o filme de abertura do Festival É Tudo Verdade de 2021.
O sentido de um filme visto pelas entrelinhas. Câmeras estáticas em lugares em movimento, um observador calado que testemunha as coisas simples e novas tendências do mundo em relação ao trato social, preconceito, política, imigração e outros assuntos. Fruto da mente visionária do cineasta palestino Elia Suleiman (do excelente O Que Resta do Tempo), onde ele mesmo faz o papel de observador protagonista, O Paraíso deve ser Aqui explica sentimentos por imagens e situações cotidianas com pitadas saborosas de comédia em muito dos casos. É uma saga de um calado protagonista e suas percepções do mundo tentando entender e encontrar um lugar para descansar.
O Bom Patrão
O malabarismo do suposto equilíbrio. Vencedor do prêmio Goya de Melhor Filme em 2022 (uma espécie de Oscar da Espanha), El Buen Patrón fala sobre a relação entre patrões e empregados que aqui, quase didaticamente, acaba nos levando na direção da realidade, nessa sempre conflituosa relação. Aqui o ponto de vista é do patrão, um manipulador de ações e situações que acaba caindo em verdades do mundo, sendo muitas vezes o vilão da sua própria trajetória. Há outros vilões implícitos, o capitalismo por exemplo e suas formas de corroer. Dirigido e escrito pelo cineasta Fernando León de Aranoa o projeto é sarcástico na medida certa, o que culmina em momentos hilários mas sem deixar de gerar a reflexão. O filme marca uma das grandes atuações recentes na carreira do excelente ator Javier Bardem.
Com passagens por alguns festivais de cinema pelo Brasil, o interessante documentário Câmara de Espelhos, dirigido pela cineasta recifense Dea Ferraz traz à tona, com um ambiente estilo buraco de fechadura, o pensamento masculino sobre as mulheres. Com um livre arbítrio instaurado, os pensamentos vão e vem nessa que podemos dizer ser uma grande experiência social que nos faz entender melhor como o mundo está pensando. É um choque, um debate, sobre a visão masculina em relação a assuntos tabus em nossa sociedade como o avanço no movimento feminista, o machismo e a maneira como se lutam por determinados direitos.
Na trama, acompanhamos a chegada de Laing (Tom Hiddleston), um homem solitário, de classe média, que se muda para um novo arranha céu que possui muitas peculiaridades. Aos poucos vamos percebendo, junto ao personagem principal, que os andares são divididos em classes sociais, além do edifício ter uma ‘vida própria’, lá funcionam uma espécie de shopping, tem escola, supermercado, o que faz com que seus moradores percam quase que por total a noção do mundo fora dali. Aos poucos, como a maioria das revoluções que o mundo já viu em sua história, em High Rise acontece uma rebelião dos moradores dos andares de baixo com os que moram e ostentam em suas coberturas.