O feminismo está aí na porta. Direitos de igualdade são uma realidade e funcionam em muitas áreas, mas queremos mais. No cinema, as mulheres são parte do alicerce – embora tenham sido esquecidas, sendo redescobertas agora através de inúmeros documentários – e ajudaram a fundar Hollywood. O sexo feminino sempre esteve presente, até mesmo na direção, em todos os gêneros. Nos primórdios da sétima arte, produções de terror como Faust et Méphistophélès (1903), de 2 minutos de duração, foi dirigido por Alice Guy; e Suspense (1913), de 10 minutos, teve Lois Weber no roteiro e direção.
Hoje, a saga continua. O número de diretores homens ainda é indiscutivelmente superior. Para termos uma ideia, na longa história dos prêmios da Academia, somente uma mulher até hoje levou para casa o Oscar de melhor diretora – Katheryn Bigelow. E poucas foram indicadas. Pensando nisso, resolvemos listar 10 filmes de terror que foram dirigidos por mulheres, muitos dos quais, temos certeza, você não sabia. Como sempre, não esqueça de comentar.
Quando Chega a Escuridão (1987)
Falando nela… Quando Chega a Escuridão foi o segundo longa na carreira de Kathryn Bigelow, que viveria para se tornar uma das mulheres mais poderosas de Hollywood. A única mulher vencedora do Oscar de direção (Guerra ao Terror, 2010) conta aqui uma história de terror com climão de western, e fala sobre um grupo de vampiros caindo na estrada, transformando um jovem fazendeiro em seu mais novo assecla. Uma curiosidade é que grande parte do elenco estava presente em Aliens – O Resgate (lançado no ano anterior), como Lance Henriksen, Jenette Goldstein e o saudoso Bill Paxton, dirigido pelo então futuro marido da diretora, James Cameron. Rolou uma troca de elenco entre o casal.
Raw (2016)
Um dos filmes mais polêmicos de anos recentes, sucesso em festivais de cinema, como o de Toronto – no qual fez o público desmaiar e passar mal – Raw deu o que falar com sua história sobre uma jovem vegetariana (Garance Marillier) que ao adentrar a faculdade de veterinária e passar por um trote no qual come fígado de animal, começa a despertar um insaciável gosto por carne humana. A diretora aqui é a jovem francesa Julia Ducournau, de 33 anos, estreando na direção de longas. Nem precisamos dizer que já queremos o novo trabalho da moça.
Cemitério Maldito (1989)
O filme que aterrorizou toda uma geração (a minha) foi dirigido por uma mulher. Sim! Mary Lambert é quem comanda esta adaptação de um livro de Stephen King para o cinema, com roteiro do próprio, e a responsável por pesadelos intermináveis na minha infância – nunca mais esqueci a cena da irmã doente no canto do quarto. A trama fala sobre uma família se mudando para uma casa no interior, local próximo a um lendário cemitério de animais, dito ser capaz de ressuscitar os bichos (e quem sabe algo mais) que forem enterrados lá. Lambert começou a carreira na direção de clipes musicais de artistas como Madonna e Janet Jackson nos anos 1980. Ela também dirigiu a sequência Cemitério Maldito II (1992), cujo resultado não teve o mesmo impacto.
Psicopata Americano (2000)
Um de meus filmes favoritos da década passada, esta é também uma adaptação para o cinema de uma obra literária polêmica, escrita por Bret Easton Ellis. O filme chegou a ter por um breve período o galã Leonardo DiCaprio vinculado para viver o protagonista Patrick Bateman (um trocadilho com “Bates”, de Psicose), que terminou optando por ficar de fora com medo da controvérsia – o papel, como sabemos, foi imortalizado por Christian Bale. Psicopata Americano, apesar de bem intenso, chega como sátira aos yuppies, jovens executivos ambiciosos, novamente em voga. O fato faz do filme mais atual do que nunca. Este é também o retrato definitivo do homem (sociedade) moderno: individualista, egoísta e desconectado de valores tradicionais e humanos. Quem comanda este show é Mary Harron, diretora de filmes como Um Tiro para Andy Warhol (1996), Bettie Page (2005) e Relação Mortal (2011) – este último também um filme de terror.
A Hora do Pesadelo 6 – A Morte de Freddy (1991)
Acima falávamos sobre nostalgia, e aqui voltamos ao tema. O sexto A Hora do Pesadelo foi o primeiro filme de terror que este que vos fala assistiu na telona – faz tempo viu. De quebra, ainda era a versão 3D, com aqueles horríveis óculos de papel celofane azul e vermelho. Pois é, a geração leite com pera não sabe o que passamos. A franquia inaugurada pelo mestre Wes Craven em 1984 durou e chegava ao seu sexto exemplar aqui. Além da promessa da morte do vilão Freddy Kruger de uma vez por todas, esta continuação trazia outra novidade: a primeira mulher a assumir a cadeira de diretor na série. Se formos pensar, A Hora do Pesadelo é uma das poucas – ou talvez a única – franquia grande do gênero a realizar tal feito. Rachel Talalay é a responsável pela premissa e direção do longa. Alguns anos depois, Talalay voltaria em uma adaptação de quadrinhos totalmente girl power, Tank Girl – Detonando o Futuro (1995).
Garota Infernal (2009)
O símbolo sexual (será que ainda posso usar este termo?) Megan Fox estava no auge de sua explosão, recém saída do sucesso Transformers (2007). A próxima parada para a beldade – cujo talento para atuação sempre foi posto à prova – era esta comédia de terror. Lembro como se fosse hoje do hype que o filme gerava, afinal além de pertencer a gêneros propícios para uma legião de fãs lotarem as salas de cinema, ainda trazia muito teor erótico, como fotos de bastidores com Fox nua num lago (cena que mal aparece no filme) e um “amasso” muito bem dado em Amanda Seyfried – que também chegava com tudo após o sucesso de Mamma Mia (2008). Mas o que poucos sabem, ou lembram, é que à frente de tudo estavam duas mulheres. Primeiro, a roteirista vencedora do Oscar Diablo Cody (Juno); e segundo a diretora Karyn Kusama, que apareceu no mundo do cinema com o drama de boxe feminino Boa de Briga (2000), com Michelle Rodriguez, e recentemente nos brindou com o geladíssimo O Convite (2015). A trama fala sobre duas amigas inseparáveis, cujo relacionamento começa a ficar abalado quando uma delas é possuída por um demônio devorador de homens. Sugestivo, não?
Garota Sombria Caminha Pela Noite (2014)
Produção americana falada em persa, esta é uma história de vampiros diferente. Todo em preto e branco, o filme nos leva por uma incursão na sombria cidade fantasma fictícia de Bad City, situada no Irã, na qual os moradores começam a ser espreitados por uma figura misteriosa e solitária, conhecida somente como a garota, papel de Sheila Vand. Esta será provavelmente a única vez em que você verá uma vampira de burca. O roteiro e direção são da jovem britânica Ana Lily Amirpour, de 41 anos. A cineasta descreve seu filme como “um western spaguetti iraniano de vampiros”. Depois do sucesso de sua estreia – o filme foi muito aclamado por críticos – Amirpour ganhou um orçamento maior para seu segundo longa, mas não desviou do teor controverso ao lançar Amores Canibais (2016).
O Babadook (2014)
Uns amam, outros odeiam. De fato, O Babadook é mais voltado para o drama dos personagens e o relacionamento problemático de uma mãe viúva, traumatizada pela morte trágica do marido, e seu filho pequeno. Na mistura, os elementos de terror são adicionados, quando a mulher começa a suspeitar que exista algo a mais em relação ao comportamento errático de sua cria, como quem sabe a figura sombria de um de seus livros infantis, o sr. Babadook. O longa escrito e dirigido por Jennifer Kent mergulha no psicológico, criando um suspense intimista, narrado de uma forma bem diferente dos filmes de terror que todos estão acostumados. Será que existe um sr. Babadook? Será que é tudo parte da cabeça do menino? Ou quem sabe de sua mãe? Quem também dá show de atuação é a australiana Essie Davis, que vive a matriarca. Os fãs do filme estiveram esperando por um novo trabalho de Kent desde então, e ele finalmente chegará este ano, com o drama de época Nightingale.
A Condessa (2009)
A francesa Julie Delpy é mais conhecida por seu papel na trilogia Antes do Amanhecer, Pôr do Sol e Meia Noite (1995, 2004 e 2013), de Richard Linkalater. No entanto, Delpy é também uma diretora de mão cheia, que desde sua estreia na função em 2002, já dirigiu 6 longas e se prepara para lançar o sétimo. Com A Condessa, Deply dirigia seu terceiro filme, um drama de época de teor sinistro. A trama fala sobre uma condessa húngara, do século XVII, papel da própria diretora, que embarca numa onda de matança por acreditar que ao se banhar no sangue de virgens, sua beleza será para sempre preservada. Perverso, no mínimo.
Carrie – A Estranha (2013)
É obvio que estou falando da refilmagem de 2013, já que o Carrie – A Estranha (1976) original, como todos sabemos, é assinado pelo mestre Brian De Palma, e seu primeiro grande sucesso. O conto do autor Stephen King (ele de novo na lista, como falar de terror sem citá-lo?) já teve algumas reinterpretações ao longo dos anos, desde sua primeira adaptação na década de 1970. Acompanhe: a primeira a chegar foi esta espécie de continuação intitulada A Maldição de Carrie, de 1999, que trazia de volta a personagem de Amy Irving, e igualmente uma mulher na direção, Katt Shea. Depois foi a vez de Carrie, a Estranha (2002), filme feito para a TV, longuíssimo com 2h12minutos, que, bem, se parece com uma produção para a TV. E finalmente chegamos ao remake hollywoodiano de Carrie, com Chloe Grace Moretz no papel principal e a vencedora do Oscar Julianne Moore como a fanática mãe da protagonista. Quem dirige é Kimberly Peirce, do vencedor do Oscar Meninos Não Choram (1999). Apesar da expectativa em torno desta refilmagem, o resultado ficou soando mais como um filme de super-heróis, com Carrie levantando voo.
BÔNUS:
Buffy: A Caça-Vampiros (1992)
Sabemos que vocês, assim como nós, são fãs da série Buffy e guardam com carinho muito especial o programa, que chegou ao fim em 2003. Diabos, eu assistia aos episódios inéditos ainda no início da década passada. Mas o que talvez nem todos saibam, é que Buffy começou sua carreira no cinema, com ideia do mesmo Joss Whedon (que assina o roteiro) e direção de Fran Rubel Kuzui. Nada de Sarah Michelle Gellar por aqui, quem comandava a ação era Kristy Swanson. Após o fracasso do longa, a cineasta nunca mais dirigiu um filme, infelizmente. Porém, Whedon, percebendo que sua ideia era muito boa para ser desperdiçada, resolveu leva-la para a TV e de quebra arrastou consigo Kuzui, que serviu como produtora para a série e seu derivado, Angel. E o resto já sabemos.