O mundo não é cem por cento justo e todos temos nossos leões diários para matar. No mundo do cinema não é diferente, ainda mais quando falamos de um mercado competitivo como o de Hollywood. Sim, a fábrica de sonhos pode transformar qualquer um no novo astro do momento e dar a ilustres desconhecidos fama e fortuna. Mas as engrenagens desta indústria também são capazes de devorar os azarados, os presentar apenas com 15 minutos de fama (o que para muitos já vale uma vida) ou os arremessar de novo no anonimato. É assim que funciona, se um ator, por melhor que seja, dá bolas fora consecutivas, participando de um fracasso retumbante atrás do outro, os engravatados dos estúdios logo percebem tal artista como “dedo podre”, um risco para boas bilheterias e seu status no mercado cai rapidamente. Pode não parecer, mas os passes dos astros e estrelas são muito parecidos com os de esportistas, ou as ações do mercado financeiro, podem despencar de uma hora para outra e não serem mais dignos de investimento.
Pensando nisso, aqui trazemos uma matéria diferente. A proposta é olhar para dez anos atrás e perceber o potencial não atingido de certas produções, que poderiam ter rendido franquias lucrativas gerando frutos até hoje, mas que por alguma razão do destino terminaram jogadas para escanteio. Aqui, proporemos uma olhada em 10 filmes de 10 anos atrás que mereciam nova chance em versões no cinema ou na TV. Confira.
John Carter – Entre Dois Mundos
Essa é uma produção que a Disney deve ter muito medo de mexer. O estúdio do Mickey é uma verdadeira máquina de fazer dinheiro, e com a adição da Disney Plus ao seu repertório, o que não falta é universo expandido da Marvel e de Star Wars. No entanto, voltando dez anos no passado, muitos devem lembrar o fiasco monumental que foi a investida em John Carter, tentativa de transformar o romance ‘A Princesa de Marte’, de Edgar Rice Burroughs, na nova franquia sensação repleta de efeitos e aventura. Burroughs é o criador do personagem Tarzan. Com um orçamento absurdo de US$250 milhões, John Carter arrecadou apenas US$284 milhões mundiais. Entendemos que o risco é grande, e talvez seja muito difícil, mas seria legal ver a Disney investindo novamente na ideia, mesmo que em uma animação.
Sombras da Noite
Está para estrear na Netflix a nova série em live-action da Família Addams. Intitulada Wednesday e focada em Wandinha Addams (Jenna Ortega), o programa tem produção e direção de seus 8 episódios de Tim Burton. O fato fez com que os fãs pedissem para que Johnny Depp fosse o intérprete do patriarca Gomez e Eva Green vivesse a matriarca Morticia – papeis que terminaram nas mãos de Luis Guzmán e Catherine Zeta-Jones, respectivamente. A verdade é que Burton já teve a chance de dirigir sua própria “Família Addams” estrelada por Depp e Green, com o filme Sombras da Noite. Tudo bem, o longa é baseado numa série de TV de mesmo nome (Dark Shadows no original), e leva-la aos cinemas era o sonho do astro Johnny Depp. Uma pena que não deu certo. Mas como os Addams vivem tendo sobrevida na cultura pop, porque não a menos conhecida família Collins?
Anjos da Lei
Por falar em Johnny Depp, o astro problemático teve sua primeira grande oportunidade na carreira ao protagonizar o seriado Anjos da Lei (21 Jump Street) e se tornar sensação lá em 1987. A série que acompanhava uma divisão da polícia, na qual os agentes possuem aparência juvenil para se infiltrar em escolas e universidades, era febre na época e teve 5 temporadas. Demorou, mas o programa foi adaptado para o cinema na forma de uma comédia escrachada. A sacada foi muito boa e até mesmo o próprio Depp, e os colegas Peter DeLuise e Holly Robinson Peete, reprisaram seus personagens no longa. O sucesso foi grande e dois anos depois Channing Tatum e Jonah Hill estavam de volta para a sequência. Mas, passados quase dez anos, a pergunta que fica é: “cadê o terceiro Anjos da Lei?”.
Dredd
Existem alguns personagens que parecem intransponíveis dos quadrinhos para as telas. É o caso com o Hulk, que não deu sorte em seus dois longas e logo a Marvel tratou de transformá-lo em coadjuvante de luxo. O Justiceiro também deu bola fora três vezes antes de ganhar uma série de sucesso na Netflix. Agora, falta os produtores do MCU estudarem muito bem o terreno para levarem o Quarteto Fantástico e o Motoqueiro Fantasma de uma forma satisfatória para o MCU. Saindo dos personagens da Marvel, outro que ainda não encontrou seu caminho é o juiz Dredd, criação de John Wagner e Carlos Ezquerra para os quadrinhos britânicos. Juiz, júri e executor, Dredd faz parte da polícia do futuro num governo totalitário. A primeira vez do personagem nas telonas foi em 1995, num filme estrelado por Sylvester Stallone. Anos mais tarde, foi a vez do boa-praça Karl Urban viver o personagem num filme mais fiel, cru e violento. Também não deu muito certo, apesar dos elogios. Há algum tempo fala-se de uma série com o personagem intitulada Mega City One, mas nada de concreto apareceu por enquanto.
Fúria de Titãs 2
É interessante vermos novas versões de obras cult do passado. Este foi o caso com Fúria de Titãs. O original completa 41 anos em 2022 e virou uma produção muito querida para os fãs, embora não tenha explodido como deveria na época. Assim, em 2010 foi a vez de um remake moderno e lotado de efeitos que, entre outras coisas, aproveitava a fama de Sam Worthington (Avatar e O Exterminador do Futuro 4) como o protagonista meio homem, meio Deus do Olimpo, Perseu. Apesar da transposição canhestra em 3D, o filme não fez feio nas bilheterias. Assim, dois anos depois, contemplaria o que o original não havia conseguido: uma sequência. A continuação fez um pouco menos de dinheiro que o anterior, mesmo assim lucrou o suficiente para a franquia ter continuado. Quem sabe a Warner, detentora dos direitos, se anima para uma série na HBO Max.
A Sombra do Inimigo
A palavra de ordem no momento em Hollywood é universo compartilhado. E até mesmo a autora de suspense número 1 no mundo, Agatha Christie, vem ganhando o seu no cinema pelas mãos do cineasta Kenneth Branagh. Uma fonte repleta de possibilidades, se feita da maneira certa, é a série de livros do autor James Patterson sobre o investigador criminal e psicólogo Alex Cross. No cinema, o personagem começou em grande estilo nas formas de Morgan Freeman no filme Beijos que Matam (1997), correndo atrás de um psicopata predador sexual. Em 2001, chegava a continuação ainda com Freeman em A Teia da Aranha, onde a missão era o sequestro da pequena filha de embaixador. Há dez anos, Cross era rejuvenescido nas formas de Tyler Perry, num filme mais preocupado com a ação do que o suspense. Já está mais do que na hora do investigador receber nova chance, de preferência na TV.
Os Três Patetas
Esse longa sempre irá encabeçar a lista dos melhores projetos que nunca aconteceram. O caso é que inicialmente a primeira adaptação para as telonas do trio de comediantes que são verdadeiras lendas do humor e do entretenimento, teria uma trinca de intérpretes mais que especial. Veja só, os Três Patetas seriam interpretados por ninguém menos que Jim Carrey, Sean Penn e Benicio Del Toro. Já pensou? Com estes talentos envolvidos, certamente veríamos algo bem fora da caixinha, ao contrário do filme que de fato ganhamos pelas mãos dos irmãos Farrelly. Embora não seja um filme ruim, caiu rapidamente no esquecimento, sem que ninguém fale muito nele hoje. Justamente por isso, achamos que estes ícones merecem nova chance, agora que a Fox faz parte da Disney.
A Origem dos Guardiões
Seguindo por produções orientadas para toda a família, quando pensamos nas animações mais populares de dez anos atrás no cinema, nos vem imediatamente à cabeça filmes como Hotel Transilvânia, Detona Ralph, A Era do Gelo 4, Madagascar 3, Valente, sucessos cult como Frankenweenie e ParaNorman, e até mesmo O Lorax. Mas o que quase ninguém lembra ou comenta é de uma produção injustiçada da Dreamworks e da Paramount chamada A Origem dos Guardiões. A ideia era boa e apresentava figuras folclóricas como o Papai Noel, o Coelho da Páscoa, a fada do dente e o gelado Jack Frost formando uma equipe de super-heróis. Fora isso, a animação bacana tinha as vozes de gente como Hugh Jackman e Chris Pine dublando os personagens. O filme não atingiu o alvo, mas dez anos depois poderia ganhar sobrevida como uma série de TV.
Sequestro no Espaço
Agora damos um pequeno desvio para uma produção cult desconhecida do grande público, que no Brasil recebeu lançamento direto em vídeo. Com toda a aura de filme B, este Lockout (no original) bem que poderia ser o roteiro recauchutado para uma terceira parte da franquia Fuga de Nova York, criada por John Carpenter e protagonizada por Kurt Russell. O filme original é de 1981, e mostra a ilha de Manhattan se transformando numa enorme prisão no futuro. O avião do presidente cai no local e ele é feito como refém. Só o renegado Snake Plissken (Russell) pode resgatá-lo. Mais de dez anos depois, em 1997, a dupla retornaria em Fuga de Los Angeles, basicamente um remake do primeiro longa, com a prisão agora relocada para Los Angeles. Por anos Carpenter falou na possibilidade de um terceiro filme, que seria intitulado Fuga do Planeta Terra, com Plissken possivelmente indo para o espaço. E essa é a história de Sequestro no Espaço, com Guy Pearce fazendo o Plissken da vez, ou quase, um sujeito durão programado para resgatar uma jovem de uma prisão espacial. Não é exatamente tão bom quanto um Fuga de Nova York, mas enquanto o terceiro filme não sai, bem que algum produtor poderia levar essa trama novamente às telas.
O Espetacular Homem-Aranha
A aparição dos Homem-Aranha Tobey Maguire e Andrew Garfield no fenômeno Sem Volta para Casa deixou os fãs ouriçados. E além de terem feito o terceiro filme protagonizado por Tom Holland na pele do herói o grande marco da volta aos cinemas pós-Covid, ainda se encheram de esperança para novas produções com os cabeça de teia originais. E os produtores, é claro, estão dando corda. Sejamos sinceros, a Sony (estúdio que é dono do personagem) só teria a lucrar. Assim, não param de surgir especulações sobre um possível Homem-Aranha 4 com Tobey Maguire, a ser dirigido por Sam Raimi. O próprio diretor tem comentado e alimentado tais rumores, deixando os fãs inquietos. Desta forma, o público também vem mencionando muito seu desejo pela volta de Andrew Garfield, para ao menos encerrar sua trilogia, que foi desligada sem uma conclusão, após somente dois filmes como o personagem. E é justamente dessa vontade que falamos aqui. É a chance de Garfield e o diretor Marc Webb se redimirem e trazerem em tela pela primeira vez, por exemplo, a Gata Negra pincelada nas formas de Felicity Jones, e também a Mary Jane de Shailene Woodley (cortada do segunda filme). Será que é pedir muito?