Com o lançamento de tantas séries originais e um catálogo que também inclui outras já consagradas pelo grande público – como é o caso de Grey’s Anatomy, por exemplo -, a Netflix acaba tendo algumas produções ignoradas em sua plataforma. Mas, em um desses dias em que nada parece agradar e bate a vontade de assistir a algo diferente, deixar as maratonas pendentes de lado e dar uma chance para um pôster que já vem te chamando a atenção há algum tempo pode trazer uma grata surpresa – e, quem sabe, até te fazer conhecer sua nova série favorita.
Essa foi exatamente a minha história com Please Like Me – produção australiana do canal ABC2, que conta com roteiro, direção e produção do protagonista Josh Thomas (batizado por mim como “a versão masculina da Lena Dunham“, que é outra que amo e também fez tudo isso na série Girls da HBO). Na história, o ator interpreta um garoto de 21 anos que se descobre gay logo após sua namorada terminar o relacionamento de longa data – muito por conta da opção sexual que ele parecia não querer aceitar. E no meio dessas descobertas e situações cotidianas ao lado dos seus melhores amigos (incluindo a ex), ele também precisa lidar com a depressão de sua mãe e o relacionamento divertido e complicado com seu pai, que já está em outro casamento.
Lembro até hoje que comecei a assistir em um sábado à noite com a pretensão de ver apenas o piloto e, quando me dei conta, já estava pela madrugada fechando o sexto e último episódio da primeira temporada – inclusive mandando mensagens agradecidas ao meu melhor amigo por ter praticamente me obrigado a começar logo minha maratona. Foi amor antes da primeira season finale, sabe? E eu me tornei aquela pessoa que só faltava falar “Você já ouviu sobre a palavra de Please Like Me hoje?” para todos os meus amigos (desculpe se fui chata, gente!).
Com apenas 4 temporadas – de 6 a 10 episódios de 20 e poucos minutos -, a série chegou ao fim em 2016 sem perder a qualidade. Porém, como muita gente sequer ouviu falar nela e deve passar batida pela foto do menino-loirinho-com-cara-assustada no catálogo da Netflix, vale dar uma pausa nas produções deste ano para apresentar essa história que todo mundo está perdendo tempo em não conhecer. Então, para te convencer a começar já essa maratona, preparei uma lista com 10 motivos que mostram porque Please Like Me é tão incrível! Confira (e, desde já, de nada):
10 – Tem um cachorro fofo no cast (que também pertence ao Josh Thomas na vida real)
Para quem é apaixonado por cachorros, como eu, ver o animal de estimação de Josh Thomas em ação já é um bom motivo para dar o play em Please Like Me. Ele é o terceiro morador oficial do apartamento que o protagonista divide com o melhor amigo Tom (Thomas Ward), e faz a gente sentir vontade de apertar a tela da televisão toda vez que aparece em cena.
Ok, se você não liga muito para animais, já te odeio devo ter te perdido logo no começo do texto. Mas não precisa desistir de mim e da lista, porque prometo que os demais motivos vão ser mais sérios. Eu só não podia deixar de destacar que a série já ganha pontos no quesito “fofura”, sabe como é.
9 – Tem uma abertura criativa e com uma música que certamente vai grudar na sua cabeça (‘Yeah, I’ll be fineeee’!)
Outro ponto positivo de Please Like Me é a abertura. Além de cada episódio ter um nome de um prato de comida – como uma referência ao talento do protagonista para a gastronomia -, a cena que aparece enquanto a música tema toca nunca é a mesma em nenhum deles.
É que, no lugar de um clipe tradicional, a abertura roda já com a história do dia acontecendo, com uma pequena pausa nos diálogos para os personagens que estão em cena cantarolarem a ótima “I’ll Be Fine”, de Clairy Browne e The Bangin’ Rackettes. Ah, e já adianto que você vai passar dias cantando os versinhos dela por aí – ainda mais se fizer uma maratona intensa, como foi o meu caso.
8 – Conta com Hannah Gadsby no elenco, a atriz do elogiado stand-up ‘Nanette’
Recentemente, a Netflix colocou em seu catálogo um stand-up que deu o que falar nas redes sociais: Nanette, da comediante australiana Hannah Gadsby. Com o objetivo de mudar a lógica da comédia, a estrela – que é assumidamente lésbica e se veste de maneira diferente do convencional – promete abandonar o humor autodepreciativo que a acompanhou durante anos, contando histórias que tocam em assuntos polêmicos e que conseguem levar o público do riso às lágrimas.
Se você já conferiu o stand-up, certamente percebeu o carisma e talento de Hannah – e vai gostar de saber que, antes de se tornar tão falada por essa apresentação, a atriz interpretou uma das personagens mais importantes de Please Like Me. Com o mesmo nome da vida real, ela deu vida à amiga depressiva da mãe de Josh, que protagonizou momentos tocantes e fez parte de alguns dos diálogos mais importantes sobre problemas mentais no programa.
7 – Tem cenas musicais memoráveis
Por ser apaixonada por música, amo quando a trilha sonora também é usada para contar um pouco da história, de maneira que a gente sempre lembre de determinada cena quando escuta a canção no rádio ou em qualquer outro lugar. Esse é outro detalhe que adoro em Please Like Me – pois, apesar de não ser um musical, criou vários momentos incríveis em que os personagens cantam juntos músicas famosas do cenário pop.
Uma das melhores é a do episódio da galinha Adele, em que todos se reúnem no final cantando “Someone Like You” em volta da mesa. É do tipo de cena que dá vontade de abraçar a tela de tão natural e divertida (você vai saber do que estou falando quando assistir e entender a situação). Outro momento tocante é quando Arnold (Keegan Joyce) canta a ótima “Chandelier”, da Sia, ao ensaiar com Josh e seu pai o momento em que irá revelar que é gay para sua família. Cantor na vida real, Joyce cativa com a voz e interpretação – tanto que fiquei voltando a cena várias vezes para rever.
Além dessas, também não posso deixar de falar de um episódio que caminha bem tenso e, ironicamente, termina com todos juntos cantando “Love Yourself” do Justin Bieber na van. E para provar como a trilha sonora tem poder: eu nem ligava muito para essa música antes, e agora ela não sai da minha playlist justamente por me fazer relembrar um dos meus momentos favoritos na série.
6 – É perfeita para maratonar de uma vez só
Se você é do tipo que tem preguiça de começar uma série que já tem mais de uma temporada pela frente, provavelmente, já deu uma desanimada ao saber que Please Like Me tem quatro. Mas nem precisa se preocupar achando que vai ser mais uma maratona pendente entre todas as outras que já estão atrasadas: para quem gosta dessa temática cotidiana, é um desafio começar o primeiro episódio e não sentir vontade de acompanhar logo o desenrolar das histórias.
Talvez, assim como aconteceu comigo, você só queira dar uma segurada quando chegar na quarta temporada por saber que vai ter que dizer adeus a todos os personagens que aprendeu a amar. Mas aí sempre tem a opção de ignorar as séries que estão pendentes e rever os episódios favoritos quando bater a saudade…
5 – As atuações e situações te fazem sentir como se estivesse assistindo a seu próprio grupo de amigos
Se tem algo que me conquista em filmes e séries é a habilidade de me fazerem esquecer que estou assistindo a uma história fictícia. Sabe quando tudo parece tão natural que, por um momento, você acha que está vendo a vida de pessoas reais na sua televisão? Então. É exatamente assim que funciona em Please Like Me, e por isso é tão fácil se sentir parte do mundinho dos personagens desde os primeiros episódios.
Além do mérito do roteiro e direção de Josh, essa qualidade também é fruto do entrosamento dos atores fora das telas. Josh e Tom, melhores amigos na série, também são bffs de longa data na vida real – e o último é atualmente casado com Emily Barclay, que interpreta uma de suas namoradas na história. Assim, quase autobiográfico e “com tudo em casa”, os 20 e poucos minutos de episódio passam e nos sentimos parte de tudo, como se estivéssemos assistindo a um grupo de amigos como os nossos.
4 – Leva da gargalhada às lágrimas sem apelar
Por se tratar de uma dramédia, a série transita entre momentos divertidos e tensos ao longo das temporadas. Em alguns episódios, inclusive, pode te fazer sair de uma intensa crise de risos e te deixar precisando de um lencinho para enxugar as lágrimas – e tudo de uma maneira bem natural, como os altos e baixos que toda vida tem. É aquela velha história do “shit happens” que todos temos que lidar, quando um dia que parecia ter tudo para dar certo acaba com um problema que a gente nem sequer imaginou que um dia enfrentaria.
O roteiro realista e os personagens humanos são os responsáveis por tornar essa “montanha-russa” que é a vida tão verossímel na telinha, e o sentimento de catarse acompanha, praticamente, toda a série.
3 – Faz de Josh o retrato de uma geração – e o protagonista perfeito para amar e odiar
O nome “Please Like Me” não é por acaso: Josh, o protagonista, é um personagem complicado e bem difícil de ser amado. Por mais que seja extremamente divertido e carismático, ele é cheio de defeitos que vão te fazer olhar para a tela e pensar “não acredito que ele está fazendo isso” – enquanto controla a vontade de desligar tudo para não se irritar ainda mais com o desenrolar dos acontecimentos.
Mas, ainda que seja difícil acompanhar certas decisões de Josh, ter um protagonista tão humano e falho é um dos maiores atrativos da série; afinal, não somos todos bons e maus o tempo todo? Seguir a história de alguém perfeito demais já não convence e torna tudo muito artificial, sejamos sinceros. Além disso, com suas indecisões, dúvidas sobre a escolha da profissão, inseguranças, relações familiares e amizades – e até um pouco do egoísmo irritante – , não dá para deixar de apontar que ele pode ser visto como o retrato perfeito de grande parte da Geração Y, os Millennials.
2 – Traz discussões sobre relacionamentos atuais e representatividade LGBT
Como a maioria das séries com personagens jovens, Please Like Me também fala bastante sobre relacionamentos amorosos. Com a descoberta sobre sua sexualidade sendo o plot principal, os namoros complicados de Josh são o foco – embora a busca de Tom pela namorada perfeita também ganhe bastante destaque. Da autosabotagem e confusão sobre o que realmente quer à tentativa de amor livre (sim, já imaginou uma série Millennial sem abordar essa temática?), acompanhamos seus altos e baixos ao longo das quatro temporadas enquanto refletimos sobre situações de nossas próprias vidas.
E vale destacar que, no meio disso tudo, a história também ganha muitos pontos pela representatividade LGBT – já que discute tabus, aceitação e a dinâmica de um relacionamento gay bem longe de estereótipos e ideias pré-concebidas de uma sociedade que, infelizmente, ainda é carregada de preconceitos.
1 – Trata sobre transtornos mentais de maneira responsável
Apesar da sinopse e da maior parte dos episódios ter um clima leve e descontraído, não se engane: Please Like Me toca em assuntos bem pesados ao longo das quatro temporadas, como o transtorno mental de alguns personagens. O foco principal nessa questão é a mãe de Josh (vivida pela ótima atriz Debra Lawrence), que é internada após tentar suicídio por conta de sua depressão e bipolaridade; mas, além dela, o problema também é tratado através da personagem Hannah (Hannah Gadsby) e de Arnold, o namorado de Josh que sofre com intensas crises de ansiedade.
Depois de toda a polêmica envolvendo a série 13 Reasons Why, um dos maiores questionamentos é sobre até onde o entretenimento pode ir para abordar um assunto que pode funcionar como um gatilho para pessoas que sofrem com problemas desse tipo. Mas, bem longe de ter a pretensão de causar choque nos telespectadores – e, talvez, por também ter convivido com a depressão de sua mãe na vida real – , Josh Thomas merece aplausos por falar sobre suicídio e os males da mente com um roteiro delicado e responsável. Explicações sobre os estereótipos e dificuldades da doença se destacam nos diálogos, além do olhar sensível da direção no episódio mais triste da série (que, inclusive, foi o que mais me fez chorar até hoje entre todas as maratonas que já fiz na vida).
Por tudo isso, mesmo com tantas qualidades, o motivo número 1 da lista não poderia ser outro: um dos maiores méritos de Please Like Me é conseguir provar que dá para falar de uma temática tão séria sem apelar, sim (e qualquer alfinetada que essa frase pode parecer direcionar à 13 Reasons Why é mera coincidência).