Madonna, alcunhada merecidamente como a Rainha do Pop, continua estendendo sua influência no mundo da música até os dias de hoje, quatro décadas depois de sua estreia oficial no cenário fonográfico.
Falar de seu legado é cair na redundância, visto que ela pavimentou o caminho para diversas estrelas da música da contemporaneidade – incluindo Lady Gaga, Britney Spears, Beyoncé, Rihanna e tantas outras. Quebrando tabus acerca de sexo e coletando inúmeros recordes ao longo de sua carreira, que permanece na ativa, conhecer Madonna é conhecer uma parte importante da história do entretenimento.
Entretanto, algumas músicas com potencial comercial incrível foram desperdiçadas como faixas promocionais – e, pensando nisso, preparamos uma lista com dez canções da artista que deveriam ter virado singles.
Confira abaixo as nossas escolhas e conte para nós qual a sua favorita:
LOVE MAKES THE WORLD GO ROUND
Álbum: True Blue (1986)
O ritmo latino de ‘True Blue’ ganha uma nova camada com “Love Makes the World Go Round”, em que Madonna se afasta da atmosfera onírica supracitada e mergulha em uma dançante e memorável canção que funciona em uma totalidade incrível para encerrar o CD. Aqui, os tons próprios da cultura latino-americana se fundem com os sintetizadores e com o teclado eletrônico, iniciando de forma levemente convencional até explodirem num otimista chorus que diz “é fácil esquecer se você não ouve o som”, concluindo-se na repetição do verso-título.
LOVE SONG
Álbum: Like a Prayer (1989)
‘Like a Prayer’ é o exato oposto do álbum predecessor – ainda mais considerando que Madonna havia acabado de se separar de Sean Penn. E foi com um coração quebrado e um talento inigualável que a artista criou uma declaração difamatória e satírica extremamente sutil que, pelo título, já nos causa estranhamento: “Love Song” nos dá a entender que Madonna irá se entregar mais uma vez aos affairs românticos, mas logo depois do primeiro acorde, percebemos, como ela, que “esta não é uma canção de amor” – e até mesmo os diálogos em francês ajudam a reafirmar isso. Já aqui, percebemos a volta dos sintetizadores, que, diferente de antes, não seriam os principais instrumentos a ganharem nossa atenção.
SKIN
Álbum: Ray of Light (1998)
A primeira forte influência do electro-dance em ‘Ray of Light’, um dos maiores álbuns da história da música, vem na propositalmente dissonante “Skin”, uma rendição dark que resgata a utilização dos sintetizadores em construções que premeditariam o EDM dos anos 2000. O anseio da artista em se provar necessária no panorama da época é, de fato, a força-motriz que garante estabilidade e coesão para cada track – e, na verdade, ela não precisaria de muito para entregar mais uma joia fonográfica.
SKY FITS HEAVEN
Álbum: Ray of Light (1998)
É um fato dizer que ‘Ray of Light’ serviria de base a todas as outras investidas futuras da performer, incluindo ‘Music’ e ‘Madame X’. Madonna, como nenhuma outra artista de sua época, baseava-se bastante em sua história para permanecer viva na cultura mainstream e nunca deixava de mencionar a si mesma em cada construção. Versada numa poesia única que reflete a grandiosidade de peças como a upbeat “Sky Fits Heaven”, ela mostra que não se preocupa com o que os outros pensam de sua arte: ela está ali para colocá-la em boa vista, doa a quem doer.
LET IT WILL BE
Álbum: Confessions on a Dance Floor
É um fato dizer que ‘Confessions on a Dance Floor’ se consagrou como a última grande odisseia de Madonna – e emergiu como um dos pontos definitivos de sua carreira. No álbum, a cantora parece não ter percepção dos cataclismas que cria – e é isso que revela a genialidade da obra. Em “Let It Will Be”, Madonna se volta para o épico orquestral ao deixar violinos e violoncelos guiarem um prólogo evocativo e analítico para uma derradeira rendição ao synth-dance que merecia ter mais reconhecimento.
REBEL HEART
Álbum: Rebel Heart (2015)
Por incrível que pareça, a faixa-título do álbum foi acrescentada apenas à sua versão deluxe e descartada como um dos singles principais – um erro incorrigível da rainha do pop. Relacionando-se com a própria história de Madonna, a mensagem altiva da canção é incorporado ao teor acústico de sua produção aplaudível.
I’M ADDICTED
Álbum: MDNA (2012)
‘MDNA’ é um dos álbuns mais problemáticos de Madonna, emergindo como uma profusão de sonoridades que parecem não fazer sentido. Entretanto, há alguns pontos altos espalhados pela produção: na primeira parte, Madonna dá vida a uma interessante faixa, representativa da mais pura definição de EDM, “I’m Addicted”: ela nos convida para uma críptica e colorida aventura que atravessa as fronteiras da música e da arte – dentro do tempo que precisava ter e dos crescendos e reviravoltas que queríamos há algum tempo.
DEVIL PRAY
Álbum: Rebel Heart (2015)
Pegando elementos já explorados em ‘Music’ e em ‘Hard Candy’ (neste, com especificidade marcante em “Miles Away”), Madonna abraçou a melodia inestimável do violão para “Devil Pray”, uma diabólica, blasfema e irretocável rendição que premeditaria as inflexões ainda mais chocantes de ‘Madame X’. A faixa, apesar de pincelada com o piano e os sintetizadores dos anos 2010, promove uma viagem de volta aos anos 1960, remodelando a memorável “House of the Rising Sun” às modernizações experimentais da atualidade.
HEARTBREAKCITY
Álbum: Rebel Heart (2015)
Ao longo da belíssima jornada que se consagra com ‘Rebel Heart’, Madonna mostra-se extremamente sagaz ao criar retratos íntimos de sua própria carreira, seja na forma de construções recuadas e movidas pelo classicismo do piano, como a poética e marchante “HeartBreakCity” (que viria a influenciar Mark Ronson anos mais tarde). Talvez como nunca, a cantora e compositora se mostra disposta a falar do lado mais obscuro do sucesso e da solidão, resumidos pela pungente estrofe “você conseguiu o que quis, um pouco de fama e fortuna, e eu não sou mais útil”.
EXTREME OCCIDENT
Álbum: Madame X (2019)
Quatro anos depois de seu último lançamento de originais, Madonna retorno com o experimental e injustiçado ‘Madame X’. Abrindo portas para versos mais densos e uma afeição à cultura portuguesa, o álbum é regido principalmente pela escondida pérola “Extreme Occident”. A dissonante e teatral faixa é marcada pelo piano e pelo violão, aliados ao uso excessivamente proposital do autotone e de uma reflexão apaixonante.