Tão memorável quanto os anos 1980 para toda uma geração, os anos 1990 trouxeram muita coisa boa em questão de cinema e deixaram saudade. Muitos, inclusive chegam ao ponto de eleger o ano de 1999 como o melhor de todos os tempos para filmes – já que foi nele que ganhamos produções como Clube da Luta, Matrix, O Sexto Sentido, A Bruxa de Blair, Quero Ser John Malkovich, e outras obras atemporais.
Pensando nisso, decidimos revirar o baú da Netflix e procurar exclusivamente por filmes lançados entre 1990 e 1999, e o que encontramos foi muita coisa boa! Alguns, inclusive, se mantendo como clássicos incontestáveis. Portanto, você que é um nostálgico inveterado, é hora de revisitar estas obras inesquecíveis. E para os que são mais novos, não percam tempo e preparem-se para ter as mentes explodidas. Vamos lá.
Ghost – Do Outro Lado da Vida
Ghost fez sua estreia nos cinemas americanos no dia 13 de Julho de 1990, ou seja, completou 30 anos de lançamento agora em 2020. Não poderia ser mais propício para revisitá-lo. O longa sobre um homem assassinado (Patrick Swayze), voltando como fantasma para proteger e se conectar pela última vez com o amor de sua vida (Demi Moore) se tornou um sucesso surpresa em pleno verão norte-americano, casa dos blockbusters. Ghost custou para a Paramount US$22 milhões e rendeu impressionantes US$505 milhões mundiais.
Ghost foi o filme de maior sucesso no mundo em 1990, com a maior bilheteria. Sua trajetória não parou na parte financeira, e o longa extremamente popular chegou até o Oscar – com cinco indicações, entre elas melhor filme, e as vitórias de melhor roteiro original e atriz coadjuvante para Whoopi Goldberg, que rouba a cena na pele de uma vidente trapaceira que realmente encontra seu dom. Ocasião perfeita para assistir a uma das maiores histórias de amor do cinema.
Perfume de Mulher
Impossível falar de Perfume de Mulher hoje sem lembrar do trágico Cada um Tem a Gêmea que Merece (2011). Explico. Na única piada boa do filme de Adam Sandler, o comediante destrói a estatueta do Oscar na casa do veterano Al Pacino. E ao afirmar que o astro deve ter outras para substituir, a punchline vem com: “Não, eu só tinha essa”. O fato que o próprio Pacino resolveu satirizar é sobre sua única vitória no Oscar, apesar de muitas indicações, que ocorreu com este drama lançado em 1992.
No filme, Al Pacino vive um militar aposentado, que ficou cego devido a um acidente, e agora vive amargurado, com pouco que lhe faça seguir. Um rapaz colegial (Chris O’Donnell) é contratado para cuidar dele, mas o sujeito linha dura tem outros planos, e resolve passar um fim de semana em grande estilo em Nova York. O desempenho de Pacino é impressionante, e o prêmio foi mais que merecido. Fora isso, o longa possui um interessante discurso de se manter fiel aos seus princípios, além de ser uma bela trajetória de redenção. Perfume de Mulher é na realidade o remake de um filme italiano de 1974, que ficou muito mais famoso que seu original.
A Lista de Schindler
Este dispensa apresentações. A Lista de Schindler foi o grande título do Oscar de 1994 (o filme estreava no ano anterior), abocanhando os prêmios de melhor filme, diretor, roteiro e mais quatro, além de outras cinco indicações. Fora isso, figura como nada menos do que o 6º filme preferido de todos os tempos na opinião dos milhões de usuários no IMDB. Não deixe o fato deste ser um drama de guerra criado todo em preto e branco te afastar de assistir a esta verdadeira obra-prima da sétima arte. Você não irá se arrepender.
A Lista de Schindler foi um projeto muito pessoal para o diretor Steven Spielberg, que até já tinha feito filmes mais sérios, mas aqui resolve homenagear sua herança e linhagem judia ao falar da tragédia ocorrida durante a Segunda Guerra Mundial conhecida como Holocausto – e como um homem (Oskar Schindler) fez toda a diferença. Uma curiosidade é que Spielberg abandonou a faculdade de cinema em 1968 para seguir na carreira profissional. Em 2002, o cineasta finalmente se formaria e conquistaria seu diploma. O trabalho de conclusão do curso pedido pelos professores era um filme de 12 minutos no mínimo, e Spielberg entregou apenas A Lista de Schindler, que lhe havia rendido o Oscar de melhor filme e diretor. Alguma dúvida sobre ter passado com louvor?
Proposta Indecente (1993)
O que você faria por um milhão de dólares? Até aonde você iria? O amor pode superar tudo? Essas são algumas questões universais levantadas no livro de Jack Engerlhard, que em 1993 se transformava neste drama romântico com doses eróticas, dirigido pelo especialista no assunto Adrian Lyne (9 ½ Semanas de Amor, Atração Fatal e Infidelidade) – que este ano retorna à direção após um hiato de 18 anos sem filmar (ele finaliza o suspense Deep Water, com Ben Affleck e Ana de Armas).
Aqui, Demi Moore (no auge de sua beleza e começando a explodir de verdade na carreira) e Woody Harrelson protagonizam como um jovem casal passando por dificuldades financeiras após uma crise na economia do país. Endividados, eles tentam de tudo, mas são seduzidos pelo “diabo” em pessoa, o bilionário interpretado por Robert Redford – que se interessa pela bela mulher, e oferece aos pombinhos a “módica” quantia de US$1 milhão para passar uma noite com ela. As coisas irão se desenrolar de uma forma acinzentada, quando novas facetas de cada um deles virem à tona. Proposta Indecente marcou época, e com um orçamento de US$38 milhões, faturou para a Paramount US$266 milhões mundialmente, se tornando assim a sexta maior bilheteria daquele ano.
Pulp Fiction – Tempo de Violência
Bem, se A Lista de Schindler dispensa apresentações, o que dizer deste segundo trabalho de Quentin Tarantino como diretor? Só mesmo tendo estado debaixo de uma rocha pelos últimos 26 anos para não ter ouvido falar deste verdadeiro marco do cinema mundial. Sim, do cinema mundial, já que fez sua estreia no badalado Festival de Cannes na França, em 1994, e sacudiu as coisas por lá, dando início à sua carreira muito bem sucedida. Mas sabemos que talvez nem todos tenham tido a oportunidade de conferir o longa, principalmente os mais jovens. Resta dizer que se você gosta de cinema, de filmes de crime e humor peculiar, Pulp Fiction é o filme pra você – portanto não perca mais tempo.
Pulp Fiction foi tão importante que fez de Tarantino um diretor que criava tendências logo em seu segundo trabalho. O filme segue entre os 10 melhores de todos os tempos no IMDB e foi o responsável por resgatar e dar novo fôlego à carreira de John Travolta, além de mostrar ao mundo o baita ator que é Samuel L. Jackson. Se temos os tão celebrados filmes de Tarantino hoje, tenha certeza que é graças a Pulp Fiction. Produzido pela bagatela de US$8 milhões, o longa rendeu US$222 milhões aos cofres da Miramax. Além disso, foi indicado para 7 Oscar, incluindo melhor filme e diretor, e levou o de roteiro. Se você não viu, pare tudo e vá ver agora!
Cassino
Continuando no terreno dos filmes de crime e mafiosos, temos a chegada de um verdadeiro especialista. O diretor Martin Scorsese é considerado por muitos o melhor cineasta ainda em atividade, em 1990 encantou o mundo de forma eletrizante com seu épico gangster Os Bons Companheiros. Ano passado ocorreu sua tão aguardada volta ao tópico com O Irlandês, da Netflix. Entre os dois encontra-se Cassino, lançado em 1995, e considerado a “sequência espiritual” de Os Bons Companheiros.
No filme, Scorsese reúne Robert De Niro e Joe Pesci para contar a ascensão da máfia em Las Vegas através dos grandiosos cassinos. Além de todos os atrativos, ainda contamos com o que é provavelmente o desempenho mais inspirado da musa Sharon Stone na frente das câmeras, que lhe garantiu a única indicação ao Oscar de sua carreira (e única nomeação do longa de forma geral). Curiosamente, Cassino não foi um sucesso de crítica ou público em seu lançamento, mas vem sendo redescoberto a cada geração, conquistando os avaliadores atuais e ressurgindo como um dos preferidos do grande público.
Seven – Os Sete Crimes Capitais
No mesmo ano de Cassino, chegava aos cinemas este baita suspense da New Line Cinema (subsidiária da Warner). Este foi o segundo filme protagonizado por um então jovem Brad Pitt depois de ter se tornado um nome reconhecível no ano anterior. Fora isso, ele recebe o apoio de ninguém menos que Morgan Freeman como coadjuvante. A dupla interpreta parceiros policiais, mas este não é um buddy cop movie, já que investigam crimes brutais neste filme pra lá de intenso.
Seven se tornou um sucesso em seu lançamento apesar de seu teor pra lá de intenso. O filme pode ser considerado a estreia “oficial” de David Fincher, que pensou em desistir da carreira após dirigir o desastroso Alien³ (1992). Mas o cineasta respirou, contou até dez e deu mais uma chance, garantindo a nossa felicidade como cinéfilos – e do mundo, que não foi privado de um dos diretores mais talentosos dos últimos anos. Seven foi indicado ao Oscar de edição e está entre os 20 filmes favoritos do grande público de todos os tempos.
Apollo 13 – Do Desastre ao Triunfo
Antes de derrotar o corona vírus, ser sequestrado em alto-mar por piratas somalianos e até mesmo de conseguir fugir de uma ilha deserta, Tom Hanks saiu da Terra, ficou perdido no espaço e voltou para contar a história. Me digam se este homem não consegue fazer de tudo. Muitos ficaram boquiabertos com a reconstrução precisa de Damien Chazelle para O Primeiro Homem (2018). Mas antes do passeio na lua do astronauta Neil Armstrong, a mesma Universal contava a história da missão que não foi.
Após a bem sucedida missão espacial mostrada no citado filme acima, alguns astronautas se viram à deriva quando algo deu muito errado logo no ano seguinte. Apollo 13, do diretor Ron Howard, é baseado nos relatos do Capitão Jim Lovell, de seu próprio livro, interpretado aqui por Hanks. O filme foi lançado em 1995, e conta com um grande elenco, vide Ed Harris, Kevin Bacon, Gary Sinise e Bill Paxton. Fora isso, foi indicado para 9 Oscar, incluindo melhor filme, e levou os de melhor edição e som.
O Show de Truman
Facilmente podemos afirmar que O Show de Truman possui um dos melhores e mais relevantes roteiros dos últimos 25 anos – ou quem sabe de todos os tempos. Muito à frente de seu tempo, a ideia já falava sobre reality shows, onde acompanharíamos incessantemente o dia a dia de ilustres anônimos. É a maldição da “caixa de idiotas”, apelido “carinhoso” que a TV logo em sua estreia recebeu. Ah sim, o texto saiu da mente de Andrew Niccol, e foi dirigido pelo talentoso Peter Weir.
Revolucionário e subestimado em seu lançamento em 1998, O Show de Truman mostra uma megacorporação adotando um bebê e fazendo dele o astro de seu próprio Reality, sem que ele, por toda a sua vida, saiba do fato. Sua pequena cidade é criada em estúdio, e como ele nunca conheceu o mundo real, não consegue perceber a diferença. É claro, o protagonista é vivido por Jim Carrey em estado de graça, mostrando pela primeira vez depois da fama que podia ser um ator sério – e um eterno injustiçado pelos prêmios da sétima arte. O filme foi indicado para 3 Oscar, entre eles diretor e roteiro, e hoje é considerado um dos melhores de todos os tempos pelo grande público.
Elizabeth
No mesmo ano de O Show de Truman, porém, com mais prestígio em premiações (os votantes adoram um filme de época), era lançado este Elizabeth – que serviu para lançar a carreira da então desconhecida australiana Cate Blanchett – no auge de seus 29 aninhos. E a musa já chegou chutando a porta, protagonizando e segurando na unha o difícil papel da Rainha britânica Elizabeth I, debaixo de indicação ao Oscar e a vitória no Globo de Ouro. O longa recebeu um total de 7 indicações, incluindo melhor filme, e levou a estatueta de maquiagem.
E sim, aqui voltamos ao fatídico Oscar de 1999, onde não apenas Blanchett foi derrotada, mas também nossa Fernandona Montenegro em Central do Brasil, pela, digamos, superestimada performance de Gwyneth Paltrow em Shakespeare Apaixonado. E quem gosta de lembrar? Nove anos depois, e Blanchett repetia o papel na sequência (não são só os blockbusters que as recebem) do mesmo diretor, Elizabeth: A Era de Ouro. E adivinhem, recebeu nova nomeação ao Oscar. Os dois podem ser assistidos numa sessão dupla, na Netflix. Aproveitem.