Quem viveu, não esquece. E os que não haviam nascido ainda, aprendem sobre a década e passam a adorar através dos mais variados produtos recentes do audiovisual. A frase “os anos 1980 são agora” nunca esteve em maior evidência. Seja impulsionada por séries de sucesso como Stranger Things, filmes como It: A Coisa, remakes de obras da época, continuações tardias ou até mesmo séries derivadas de suas produções, os anos 80 chegaram para ficar e jamais abandonaram o mundo do entretenimento e a cultura pop.
A explicação para isso é simples. Foi nesta década que os blockbusters se consolidaram e o mundo conheceu o cinema escapista como jamais antes. Então, se temos os filmes da Marvel hoje, é graças à querida década inesquecível. Sendo assim, todo ano ganhamos uma penca de produções com forte ligação com os 80’s. Prova disso são alguns filmes que receberemos este ano, outros lançados recentemente, e não podíamos deixar de fora a querida série Cobra Kai, que chegou chutando a porta da Netflix para sua terceira temporada no primeiro dia de 2021. Pensando nisso, resolvemos criar uma lista diferente, justamente abordando tais produções, sejam filmes ou séries que continuam ou adaptam obras famosas da época – e algumas mais obscuras. Vamos conhecer abaixo.
Karatê Kid (1984)
Não podíamos abrir a lista de outra forma. O mais legal da série Cobra Kai, que estreou recentemente sua mais recente temporada e já engatilha uma quarta, é dar oportunidade a astros do passado ressurgirem como protagonistas de um programa de sucesso, voltando a ver sua popularidade atingir o pico. Ah sim, e continuar a história de Karatê Kid e dos queridos personagens do clássico oitentista. O seriado é escrito com muito esmero e brinca com a zona cinza entre mocinhos e vilões – assim como a teoria que rodava na internet até o início do programa (de que Daniel era o antagonista da história). A partir da segunda temporada velhos rostos muito conhecidos do passado foram pipocando, saídos não apenas do filme original, mas também das continuações de 1986 e 1989. Não seria legal no entanto se a outra estudante que teve lições com o Sr. Miyagi desse as caras numa eventual próxima temporada? E sim, falo de Julie Pierce, personagem da duas vezes vencedora do Oscar Hilary Swank, no infame Karatê Kid 4: A Nova Aventura (1994). Será que fui longe demais?
Um Príncipe em Nova York (1988)
2021 também marcará nosso reencontro com o monarca mais querido da fictícia nação Africana de Zamunda. Pois é, T’Challa e sua Wakanda não foram o primeiro príncipe da África e seu país inventado a ganharem as telonas numa superprodução hollywoodiana. Trinta anos de Pantera Negra, Eddie Murphy ia até a América em Um Príncipe em Nova York a fim de encontrar uma esposa a quem respeitasse e que gostasse dele não por ser um soberano, mas por quem é de verdade. Trinta e três anos depois, e Akeem volta à Nova York desta vez com a missão de encontrar seu filho, do qual nunca soube da existência. Um Príncipe em Nova York 2 estreia direto na plataforma de streaming Amazon Prime Video no dia 5 de março. E mal podemos esperar.
Os Caça-Fantasmas (1984)
Outro marco dos anos 80, Os Caça-Fantasmas fez tanto sucesso que gerou todo tipo de merchandising, desde brinquedos, até roupas, games e, é claro, desenhos animados. Foi uma verdadeira febre. A continuação demoraria cinco anos para sair do papel, e quando saiu, desagradou mais do que agradou. Assim, um gigantesco hiato foi colocado na franquia, já que os atores, em especial o “garoto problema” Bill Murray, não queriam mais saber dos exterminadores do sobrenatural. O mais próximo de um terceiro filme era um videogame para o qual o elenco emprestou as vozes. Eis que em 2016, a Sony resolveu reiniciar a franquia com um elenco feminino. Adoramos a ideia, o problema foi que o filme, bem, digamos, deixou bastante a desejar. Assim, numa era de revivals tardios, todos voltaram a olhar para aquela distante terceira parte, e torna-la não mais tão distante assim. No dia 11 de junho o terceiro exemplar oficial da franquia finalmente chega às telas, reunindo o elenco original para uma passagem de bastão. E como se já não estivéssemos empolgados o suficiente, quem comanda tudo é o talentoso Jason Reitman, filho de Ivan Reitman, o criador original – que, temos certeza, tratará com muito carinho a obra de seu pai.
Top Gun – Ases Indomáveis (1986)
Assim como Um Príncipe em Nova York, Top Gun é um produto único, exclusivo dos anos 1980. Ambos nunca tiveram continuação ou sequer figuraram muito na cultura pop ao longo dos anos (em games, desenhos e afins) como, por exemplo, Os Caça-Fantasmas ou Karatê Kid. Foi somente o poder de seus filmes que os mantiveram vivos no subconsciente coletivo dos cinéfilos ao longo destes mais de 30 anos. Aqui, nosso reencontro é com o audacioso piloto Pete ‘Maverick’ Mitchell, papel do astro Tom Cruise. O Top Gun original transformou o ator em um astro, e garantiu sua imortalidade no coração dos fãs graças a uma trama que mistura com muita eficiência cenas de ação de tirar o fôlego, drama e, claro, um dos romances mais quentes da década – servido pela canção icônica Take My Breath Away, da banda Berlin. Uma pena somente que não veremos Maverick ao lado da companheira Charlie, papel de Kelly McGillis, no novo filme. No lugar da atriz entra Jennifer Connelly, vivendo outra personagem. Mas o que teremos de volta, aparentemente, é o rival Iceman, papel de Val Kilmer. Na trama, o protagonista evita promoções na marinha a fim de continuar pilotando jatos. Ao que tudo indica, Cruise, um piloto experiente na vida real, fez suas próprias acrobacias no cockpit. A estreia é no dia 8 de julho por aqui.
Duna (1984)
Estamos cheios de produções de 1984 na lista. Mas para ser justo, Duna é um produto que precede sua adaptação cinematográfica, já que tem suas raízes no universo criado de forma minuciosa e detalhada na obra literária do autor Frank Hebert – tida como uma destas obras inadaptáveis ao cinema. O chileno Alejandro Jodorowsky bem que tentou durante a década de 1970 levar ao cinema, mas não obteve sucesso. Em 1984 foi a vez do cultuado David Lynch, em sua incursão mais comercial até hoje. O filme viveu para se tornar um fracasso, fazendo o cineasta recusar inclusive qualquer proposta de uma versão do diretor em anos seguintes até hoje. Agora, quem chega para se aventurar no material é outro realizador que grande prestígio na atualidade: Denis Villeneuve. A seu favor o fato de ter caminhado no gênero da ficção científica consecutivamente nos últimos anos e obtido resultados bem favoráveis, com A Chegada (2016) e Blade Runner 2049. Outro aspecto positivo é o elenco, sem dúvidas um dos melhores em anos recentes. A estreia do novo Duna é mais para o final do ano, em outubro.
Bill & Ted – Uma Aventura Fantástica (1989)
Como Os Caça-Fantasmas, esse filme tem forte teor cômico e é voltado a um público jovem – embora não possua a qualidade do longa citado. Sendo assim, despertou o interesse de produtores por criar um desenho animado com os personagens, que haviam caído nas graças do público (crianças e adolescentes). Aqui, precisamos levar em conta que Keanu Reeves não era um astro ainda, inclusive sequer na continuação Dois Loucos no Tempo, lançada dois anos depois. Aproveitando uma era na qual reverenciamos muito o passado, até mesmo Bill & Ted, dois personagens ‘cult’ da cultura pop – que nem de longe todos são familiarizados – saíram do ostracismo para uma sequência tardia, quase 30 anos mais tarde. Agora, pais de família, os desmiolados protagonistas precisam salvar o mundo mais uma vez, através de sua música e de muita viagem no tempo. Bill & Ted: Encare a Música (que, é claro, não podia existir sem a contraparte de Alex Winter como Bill) foi lançado direto para VOD em agosto de 2020 – chegando ao Brasil em novembro.
Spenser: For Hire (1985)
Essa nem todos devem conhecer. Spenser: For Hire não é um filme, mas uma série popular da década de 1980, que durou 3 temporadas até 1988, e trazia as aventuras do detetive particular de Boston, Spenser, vivido por Robert Urich. O protagonista estava sempre envolto em tramas de mistério e suspense, além é claro da ação. Ao lado de seu amigo Hawk (Avery Brooks), a dupla se metia em todo tipo de caso. O programa é na verdade a adaptação da série de livros do autor Robert Parker contendo o personagem. Justamente por não ter se mantido tão popular ao longo dos anos, muitos não perceberam que o recente Troco em Dobro, da Netflix, lançado em março de 2020, se tratava da modernização do personagem para os novos tempos. Desta vez, Spenser é vivido por Mark Wahlberg, em mais uma parceria com o diretor Peter Berg – e Hawk ganha as formas de Winston Duke, de Pantera Negra (2018) e Nós (2019).
Rambo (1982)
Rambo é o segundo personagem mais popular da carreira do astro Sylvester Stallone, ficando atrás somente do pugilista Rocky Balboa, a quem o ator igualmente já tirou da aposentadoria diversas vezes. O sucesso de Programado para Matar (1982), que é na verdade baseado num livro sério e antimilitarista, fez com que Stallone decidisse seguir com o personagem (que deveria ter morrido logo no primeiro como no livro) para uma continuação três anos depois. E foi aqui que o ex-guerrilheiro atormentado Rambo se viu no topo do mundo. Rambo 2 – A Missão (1985) foi um verdadeiro fenômeno nos 80’s (pense em termos dos filmes da Marvel hoje). Mesmo sendo um filme extremamente violento, fez sucesso com a garotada, gerando um desenho animado, uma linha de bonecos, lancheiras, fantasias, lençóis e até um concurso muito popular no SBT chamado ‘Rambo Brasileiro’. Foi uma verdadeira ‘Rambomania’. Em 1988, a terceira parte ficou abaixo do esperado e colocaria um ponto final para a franquia – que só havia existido nos anos 1980. Mas aí, duas décadas depois, Stallone voltou com Rambo para um quarto filme, e agora sim confeccionava um desfecho digno e satisfatório para o herói. Justamente por isso ninguém entendeu nada quando ele trouxe Rambo de volta em 2019 para mais um round em Rambo – Até o Fim. E ele diz que não será o último.
Ela Quer Tudo (1986)
Nem só de blockbusters é feita a nossa lista. Aqui, temos o início da revitalização da popularidade do cineasta talentoso Spike Lee. Um forte representante do cinema racial (o maior, eu diria) na década de 1980, o diretor ficou cada vez mais sem ter o que falar nas décadas seguintes. Mas foi graças a uma era polarizada e a volta de conceitos bem deturpados, que Spike Lee descobriu sua voz de novo. Infiltrado na Klan e Destacamento Blood podem tê-lo feito ser redescoberto pelas novas gerações, mas antes disso Lee já “fechava” com a Netflix na série Ela Quer Tudo, que durou duas temporadas, de 2017 a 2019, e descobriu a belíssima e talentosa atriz DeWanda Wise (que estará no próximo Jurassic World). O programa, é claro, é a adaptação para as telinhas do primeiro longa do diretor, lançado em 1986. A história fala sobre uma mulher, Nola Darling (no original vivida por Tracy Camilla Johns), e suas atribulações com três relacionamentos simultâneos. O interessante é ver como o tema é tratado nas duas épocas distintas – em meados da década de 1980 e no recente 2017.
Sonhos Rebeldes (1983)
Um dos filmes que fez mais sucesso em streaming logo quando a pandemia se abateu sobre nós foi o musical romântico Valley Girl. Protagonizado pela carismática Jessica Rothe (A Morte te dá Parabéns), o filme cria um clima 80’s de mentirinha, porém, muito chamativo e animado. Cores vibrantes de neon, roupas espalhafatosas, penteados e tudo que serviu esta época inesquecível se faz presente, mesclado com canções atemporais da época. Fora isso, traz rostos muito conhecidos no elenco, como Alicia Silverstone. A trama apresenta o romance entre duas personalidades bem distintas: a patricinha Julie (Rothe) e o rebelde Randy (Josh Whitehouse). O que muitos podem não saber, no entanto, é que o longa se trata na verdade da adaptação do agora clássico Sonhos Rebeldes, trinta a sete anos depois. O título original faz referência ao Vale de San Fernando, local da cidade de Los Angeles habitada pelos que possuem uma condição financeira ainda mais elevada, justamente por ser afastado do centro da cidade, numa área próxima da natureza, onde mansões estão localizadas. Neste contexto, Julie era interpretada por Deborah Foreman, graciosa atriz da década, de filmes como A Noite das Brincadeiras Mortais (1986) e Os Espertinhos (1989). Já o punk Randy foi vivido por nenhum outro senão o lendário Nicolas Cage em pessoa em seu primeiro filme como protagonista.