Felizmente, a badalação em cima de Danny Boyle, depois do premiado e bem sucedido nas bilheterias “Quem Quer Ser um Milionário”, não o fez perder a lucidez. O diretor utilizou sua moral para viabilizar não um filme megalomaníaco ou pretensioso, mas uma nova obra com cara de independente, coerente com o restante de sua carreira.
“127 Horas” é baseado na história real de Aron Ralston, montanhista que sofreu um acidente no Grand Canyon e ficou as tais 127 horas com o braço preso por uma rocha. Sozinho no desértico lugar, teve que arrumar soluções drásticas para conseguir sair de lá.
No filme, Aron é interpretado por James Franco (Homem-Aranha), que usou bem a força do personagem e entregou a melhor atuação de sua carreira, num filme difícil, no qual ele brilha sozinho quase que na totalidade dos 94 minutos.
O único “porém” é que, mesmo com tanto tempo para o ator se mostrar, a típica sequência modelada para Oscar precisou se fazer presente, na qual o personagem faz um talk show sobre si mesmo. Inclusão safada, com a óbvia pretensão de dar a deixa para o ator ter seu momento ensadecido e garantir uma vaguinha nas premiações da temporada.
Danny Boyle repete a parceria com o roteirista Simon Beaufoy, que constrói cautelosamente uma narrativa tensa e consegue inserir elementos atrativos numa história que, apesar de impressionante, poderia ser resumida em duas linhas. Ele usa a história do montanhista para refletir sobre o aproveitamento da vida, sobre o que poderia ser feito, mas não foi; e sobre o que Aron ainda gostaria de realizar, mas talvez não tivesse mais a chance de realizar, em decorrência de um único erro.
Isso fica claro pela montagem, recheada de pequenos flashbacks e projeções de desejos de Aron. Pensamentos que muitas vezes se misturam e são jogados numa tela dividida em três partes, numa profusão de imagens simultâneas.
Aproveitando de uma locação esplendorosa, a fotografia de Enrique Chediak (Besouro) e Anthony Dod Mantle (Quem Quer Ser Um Milionário) deita, rola e faz parecer fácil filmar entre fendas estreitas debaixo de um sol escaldante. A variedade dos planos e o primor das imagens é um deleite para os admiradores da boa técnica. Até a inserção de um merchandising descarado é feito de uma das maneiras mais pertinentes que o cinema já viu.
Não é esta a obraprima de Danny Boyle (este adjetivo ainda está nas mãos de “Trainspotting”), mas já é bom saber que o diretor mantém a excelência e a sobriedade. Menos mal.
Crítica por: Fred Burle (Fred Burle no Cinema)