sábado , 21 dezembro , 2024

13 filmes sobre relacionamentos entre pais e filhos – Parte 4

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Continuando nossa pesquisa do ICGE (‘Instituto Cinéfilo de Geografia e Emoções’) para refletirmos sobre filmes que abordam a temática ‘Pais e Filhos’ das mais diversas formas. Com trajetórias percorridas, profundas ou não, conseguimos extrair um pouco das mensagens de cada um dos variados 13 filmes dessa quarta parte de nossa jornada. Nessa lista, temos filmes de Luxemburgo, Japão, Itália, EUA, Austrália, Brasil, Espanha, China, Austrália, França e Dinamarca. Vamos a ela:

Barreiras (Luxemburgo, 2017)



Como percorrer 10 anos em alguns dias? Buscando responder a essa e a muitas outras perguntas, Barrage, dirigido pela cineasta de Luxemburgo Laura Schroeder (em seu segundo longa-metragem) é um recorte de uma mãe e sua tentativa de recuperar anos perdidos na criação e afeto da filha. O ritmo é lento, sem muitas informações sobre o passado da protagonista, vamos pela dedução de acordo com as migalhas de memórias que nos apresentam o roteiro. Há um paralelo interessante entre o jogo de tênis (assunto que mãe e filha possuem em comum) e a maternidade, sobre a questão existencial da ‘obrigação x pelo amor’. O projeto conta com a participação especial da fabulosa atriz francesa Isabelle Huppert.

Na trama, conhecemos Catherine (Lolita Chammah), uma mulher que possui abalos psicológicos ligados a seu passado e volta após dez anos morando na Suíça a frequentar a mesma cidade de sua filha Alba (Themis Pauwels), que fora criada e mora com sua avó materna Elisabeth (Isabelle Huppert). Buscando essa reaproximação, mãe e filha embarcam em uma jornada de mágoas e ressentimentos sobre tudo que não viveram.

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Co-produzido por Luxemburgo, Bélgica e França, o projeto explora em pouco mais de 100 minutos, uma dupla ótica, que é a grande sacada do roteiro. Com seu primeiro ato tenso e sem muitas informações, percebemos as dificuldades iniciais de Catherine de se entender minimamente com a filha. Há um divisor de águas nessa relação, que começa muito distante, logo nesse arco inicial. Contando histórias de sua família pela sua visão, Catherine embarca com Alba em uma viagem pelas emoções que foram vividas separadamente durante todos esses tempos. Já que as memórias acabam machucando muito, há algumas cenas sem diálogos, onde o olhar diz bastante.

Barrage é mais um filme que explora relacionamentos entre pais e filhos. O final aberto deixa margens para interpretações: será que elas algum dia vão se entender? Será que elas já se entenderam?

Três Solteirões e um Bebê (EUA, 1987)

Há mais de 30 anos atrás, uma comédia atemporal e que transpira carisma chegava a vista dos cinéfilos. Dirigido pelo eterno Spock, Leonard Nimoy (sim, ele mesmo!), Três Solteirões e um Bebê fala de forma leve e engraçada sobre a paternidade na visão de três adeptos do ‘solteirismo’ que precisam readequar suas vidas quando um bebê de poucos meses é deixando na porta de onde moram. Disponível no streaming Disney+ (assim como sua continuação), o longa-metragem de enorme sucesso é protagonizado pelos ótimos Tom Selleck, Steve Guttenberg Ted Danson. A trilha sonora, com a música chiclete Bad Boy, segundo single lançado pela banda americana Miami Sound Machine liderada por Gloria Estefan, é excelente.

Na trama, conhecemos três amigos muito bem sucedidos que moram em uma cobertura em Nova Iorque. Peter (Tom Selleck) é arquiteto, Michael (Steve Guttenberg) é desenhista e Jack (Ted Danson) é ator, todos eles são adeptos da vida boa e cultivam sua solteirice como modalidade de vida. Tudo muda quando um bebê é encontrado na porta da casa deles dizendo ser filha de Jack. Como o papai viajou para a Turquia para rodar um filme, Michael e Peter precisarão passar dias muito intensos, confusos e engraçados tentando cuidar da nova hóspede.

O foco principal é a paternidade em uma visão muito bem elaborada dentro de um roteiro simples onde a própria história ganha seu brilho através das lentes de Nimoy. Os personagens são ótimos, se encaixam com perfeição dentro de um contexto importante para a época mas a história não deixa de ser atemporal mesmo após mais de três décadas. O relacionamento pais e filhos pode ser mostrado de muitas formas, Três solteirões e um Bebê nos apresenta uma forma muito descontraída que o amor de quem cuida é o que vale no final das contas.

Verão Feliz (Japão, 1999)

Quando a tristeza pela decepção encontra as metáforas da vida. Indicado à Palma de Ouro em Cannes em um ano que tinha como concorrentes Almodóvar, Lynch, irmãos Dardenne, Greenaway, Manoel de Oliveira, Jarmusch, Sokurov, Egoyan, Bellocchio entre outros, Verão Feliz mostra a saga de um homem sem trabalho e um garoto criado pela avó que, quase sem direção, e contando com a ajuda além de caronas de desconhecidos, embarcam em uma aventura à procura da mãe do garoto que levarão na memória por toda uma vida. Contendo a força da delicadeza em todas as esferas, Takeshi Kitano, que escreve e dirige esse lindo trabalho, consegue encher de emoções e alguns risos as duas horas de projeção. Poucos são os diretores que com bastante sutileza nos mostram emoções com suas lentes.

Na trama, conhecemos Masao (Yusuke Sekiguchi) um triste menino, de olhar para baixo, que está sem amigos para brincar durante as férias. Ele é criado desde sempre pela sua avó já que sua mãe nunca aparece pois trabalha em uma outra cidade para poder sustentar ele. Certo dia, Masao resolve ir atrás de sua mãe e para isso vai contar com a inusitada ajuda de um amigo de sua avó, Kikujiro (Takeshi Kitano) um homem que vive seus dias sem muitos objetivos ao lado da esposa (Kayoko Kishimoto).  Assim, passando por diversas situações, ambos embarcam em uma saga à procura da mãe do menino.

Exibido no Festival do RJ e na Mostra de SP em um ano antes da chegada dos anos 2000, com planos longos e definindo arcos mostrados na tela, acompanhamos a junção equilibrada de um profundo mundo das emoções e situações de riso fácil, o drama e a comédia. Kitano fora conhecido no início de carreira pelos seus trabalhos como comediante e joga na tela todo seu talento além de mostrar uma grande habilidade em trabalhar os sentimentos principalmente na parte dramática do projeto.

Podemos enxergar esse lindo filme por duas perspectivas, a do menino que se protege da realidade dentro dos sonhos que são compostos por pessoas ou situações que encontra pelo caminho, ou do homem desajustado, trambiqueiro, no início nada simpático, que com uma transformação pura e bonita se torna uma referência para alguém que ele nunca imaginou. Ambos os personagens, nos brindam com uma história que irão contar por toda uma vida.

Bænken (Dinamarca, 2000)

Até aonde vai à redenção de alguém que pensara em não ter mais nada a perder? No início dos anos 2000, lançou-se na Dinamarca o longa-metragem Bænken que nunca pousou por aqui. O filme, escrito (Kim Leona também assina o roteiro) e dirigido pelo cineasta Per Fly conta a trajetória dura sobre um homem sem destino que achava que estava sozinho no mundo mas acaba indo buscar algum tipo de redenção quando encontra de maneira inesperada a filha que não via faz 19 anos. Tocando em muitos pontos polêmicos sobre alcoolismo, abandono e assistência social, o projeto se torna aos poucos reflexivo drama sobre escolhas da vida.

Na trama, conhecemos Kaj (Jesper Christensen), um rabugento alcóolatra na fase final de sua vida que vive gastando seu dinheiro de trabalho com cerveja. Sem ter mais ambições na vida e tratando mal a todos ao seu redor, acaba sendo surpreendido pela chegada de Liv (Stine Holm Joensen) e Jonas, mãe e filho que buscam abrigo no condomínio de apartamentos onde Kaj mora, mas especificamente no apartamento de um frustrado e lunático escritor. Um curto tempo depois, Kaj descobre que Liv é sua filha que não via a quase duas décadas e assim embarca em uma tentativa de jornada de redenção, principalmente, protegendo sua filha e neto do ex-companheiro de Liv e pai de Jonas, um homem ciumento e violento.

As lacunas à preencher após a chegada da dor na consciência. Completamente perdido em sua mesmice, o protagonista sofre com o alcoolismo, uma fuga sempre que não consegue enfrentar o mundo que construiu ao seu redor. As mudanças que chegam em sua vida acabam trazendo memórias perdidas/esquecidas que acabam se reativando por conta dos erros do passado cometidos por ele. Não sabendo lidar com a situação imposta pelo destino, busca se redescobrir como ser humano de maneira simples e objetiva, contando inclusive com a ajuda de alguns que pensas ser amigo. Tocando em assuntos delicados como a violência contra a mulher, a falta de assistência dos governos para determinadas situações emergenciais que muitos sofrem por aí, a trajetória do bom projeto se encaixa em sua essência como um profundo drama sobre relacionamentos entre pais e filhos.

 

Pieces of a Woman (EUA, 2020)

Quando os sentimentos viram uma série de portas fechadas. Com um abre alas angustiante, antes do título aparecer na tela, onde não conseguimos tirar os olhos das ações que acontecem Pieces of a Woman é um poderoso drama que mostra desenrolares da vida de um jovem casal e os passos seguintes que precisam caminhar durante o luto. Dirigido pelo cineasta húngaro Kornél Mundruczó e com roteiro assinado por Kata Wéber, o filme, disponível no catálogo da Netflix, é um dos mais badalados projetos desse ano: merecidamente! É tenso, polêmico, excelente para reflexão. Poderosas interpretações, personagem principal interpretada magistralmente pela atriz britânica Vanessa Kirby, um roteiro com bastante profundidade e uma excelente direção. Indicado na categoria Melhor Atriz ao Oscar desse ano (inclusive levou o prêmio de Melhor Atriz no Festival de Veneza do ano passado).

Na trama, conhecemos um jovem casal, Sean (Shia Lebouf) e Martha (Vanessa Kirby) apaixonado e com alta expectativa com a chegada da primeira filha. Eles optaram por um parto domiciliar, feito por uma parteira. No dia onde a chegada do bebê se torna iminente, a parteira que faria o parto não consegue chegar a tempo e uma outra vai no lugar dela. Durante o processo do parto, uma alta tensão acontece, um nervosismo de todos, pai, mãe e parteira. Infelizmente uma tragédia acontece. Nos meses após o corrido, a maneira como o casal lida com a terrível tragédia é o que vai moldando a trajetória desse impactante filme.

Como lidar com a perda? Os personagens são os grandes motores do filme. Levados ao limite após a tragédia que acontece em suas vidas, nada vai ser como antes e eles já sabem disso. Conflitos antes suportáveis, se tornam estopins para discussões ou intromissões injustas nas escolhas que os dois devem tomar juntos. Sean é um homem que trabalha com construções e em especial nas pontes, está a seis anos sóbrio, possui um relacionamento conflitante com a sogra, assim precisa lutar contra seus demônios após a tragédia. Já Martha é introspectiva, de fala mansa, de família com mais dinheiro que a do companheiro, mostra um controle na aparência para os outros mas um descontrolado ninho de sentimentos conflitantes por dentro após o ocorrido, principalmente lutando contra as interferências de sua mãe Elizabeth (Ellen Burstyn, em atuação também digna de aplausos). A habilidade de Mundruczó em mostrar as entrelinhas através da expressão dos personagens é digna de aplausos, emocionante em muitos momentos, nos sentimos próximos das dores dos personagens.

O filme toca em alguns pontos polêmicos. A questão da comunidade médica vs parteiras e os dilemas sobre doação de corpos para estudos médicos. As partes jurídicas de uma dessas questões são colocadas como ferramenta de ‘justiça’ por Elizabeth, insensível e intrometida, em muitos momentos. O projeto chega fácil aos corações dos espectadores, dentre os dilemas e os sofrimentos, vamos tentar entender como é possível (ou não) reunir peças de uma vida despedaçada.

 

Dente de Leite (Austrália, 2019)

O drama comum de alguém que não querem que se vá. Debutando na direção de longas-metragens, a cineasta Shannon Murphy apresenta ao público seu olhar para um tema difícil, doloroso, uma doença terrível em uma adolescente e como tudo muda muito rápido para todos que estão ao redor da corajosa protagonista que busca em suas ações fugir de rótulos dando lindos e emocionante gritos de liberdade. O roteiro, assinado pela também debutante em roteiros para longas-metragens Rita Kalnejais, possui arcos divididos em situações de encontros e desencontros dos personagens, fator muito interessante. Babyteeth, made in Austrália, emociona bastante, principalmente nos últimos 10 minutos com cenas maravilhosas e inesquecíveis.

Na trama, conhecemos a jovem Milla (Eliza Scanlen) que mora em um bairro de classe media com seu pai, o psiquiatra Henry (Ben Mendelsohn) e sua mãe Anna (Essie Davis). Os três, cada um à sua maneira, precisam enfrentar a doença de Milla que tem um câncer agressivo em evolução. Certo dia, Milla conhece Moses (Toby Wallace), uma desregulado alma que acabou a escola, praticamente um nômade que é expulso de casa pela mãe, mas por quem Milla logo se apaixona. Assim, enfrentando a cada dia uma dura batalha pela vida mas também para sair de vez do ninho montado pelos pais, a personagem principal encontra em Moses, um importante companheiro na luta pelas suas fortes tomadas de decisões.

A princípio os personagens parecem excêntricos mas é que a troca da apresentação do filme vai nos confundindo um pouco, muito até para quem nem leu a sinopse. Mas isso faz parte do ótimo roteiro de Babyteeth, produção australiana ganhadora de muitos prêmios, que fala sobre a vida de uma jovem, sua visão do seu entorno e como a doença que tem afeta a todos. Buscando ser quem sempre quis, começa a tomar decisões que fogem da normalidade que os pais se acostumaram, vivendo intensamente como se fosse o último dia de sua vida. Os pais, procuram entender a situação, eles estão em um casamento cheio de amor mas abalado pela situação da filha. A mãe é medicada pelo pai e vive em crise constante. O pai também, muitas vezes perdido no seu pensamento se equivoca mas tenta logo consertar.

Com muitos assuntos de bem ampla reflexão, ao longo das duas horas de projeção, há espaço para um ótimo debate sobre o uso de medicamentos controlados para problemas de todos os tipos. Babyteeth ainda nos brinca com dez minutos finais arrasadores, com uma força impressionante, de tocar nossos corações.

 

Minari: Em Busca da Felicidade (EUA, 2020)

Quando rezamos, podemos ver o céu enquanto dormimos? Exibido em muitos festivais e premiado com os dois principais prêmios do Festival de Sundance ano passado, Minari fala sobre os poderes da fé e até onde pode ir um sonho de uma família que enfrenta obstáculos de todos os tipos quando resolvem se mudar para Arkansas após saírem de uma grande cidade norte-americana. Escrito e dirigido pelo cineasta norte-americano Lee Isaac Chung o projeto, super badalado pela crítica internacional, também é um delicado retrato sobre tradições e culturas.

Na trama, conhecemos Jacob (Steven Yeun) e Monica (Yeri Han), um casal descendentes de coreanos com raízes nos Estados Unidos que estão de mudanças em busca de sonhos em uma terra de oportunidades junto com seus dois filhos Anne (Noel Cho) e David (Alan S. Kim), esse último possui um problema no coração. Chegando lá, as primeiras dificuldades aparecem, a questão da água, da terra… Jacob tem um grande sonho, de ter um enorme jardim onde cultivará vegetais coreanos, só que os obstáculos chegam e colocam seu casamento em risco. Mas a chegada da avó Soonja (Youn Yuh-jung), mãe de Monica, pode adicionar mais algum tempero positivo ou não para essa história.

Os diferentes simbolismos sobre a fé percorrem todo o filme. Podemos exemplificar as questões na figura do amigo Paul (Will Patton) ou mesmo na forte influência de Soonja sobre o cotidiano da família. A chegada da avó coloca em contrapontos valores e tradições, além de comparações sobre o modo de viver no seu país de origem e nos Estados Unidos. Durante boa parte do longa, os conflitos entre avó e neto preenchem a tela com muita delicadeza mostrando todas as etapas desse relacionamento repleto de amor e um pouco de desconfiança à princípio.

Os conflitos dos pais sempre chegam aos filhos de alguma forma. Jacob é orgulhoso, parece sempre estar em uma encruzilhada na qual lida muito mal com o revés, por mais que seja um amoroso pai e marido. Os irmãos sempre escutam os temas de discussão dos pais e conversam entre si sobre isso, um processo de amadurecimento precoce em meio a uma instabilidade emocional que a família passa, principalmente quando pensamos no universo da incerteza, terreno que o Jacob mais se encontra.

Lee Isaac Chung consegue transmitir os sentimentos de diversas maneiras, da fé à terra, das escolhas ao ponto de interseção entre todos: o amor.

 

Felicità (França, 2020)

Quantas variáveis existem na relação entre pais e filhos? Um dos filmes que ficou disponíveis na última edição do ótimo festival online e gratuito My French Film FestivalFelicità, é um road movie descontraído que nos conta a saga de uma família de três integrantes, meio nômades, que se mete em diversas confusões antes do início das aulas da jovem filha do casal. Parece simples e sem muitas saídas para reflexões mas o projeto consegue avançar a superfície principalmente quando analisamos o que assistimos pela ótica de Tommy, a jovem filha. Um trabalho interessante escrito e dirigido por Bruno Merle.

Na trama, conhecemos o ex-presidiário Tim (Pio Marmaï) e Chloé (Camille Rutherford), dois jovens sem muitas projeções na vida que vivem do dinheiro que a segunda recebe trabalhando na limpeza de casas para uma empresa. Eles tem uma filha, Tommy (Rita Merle), que acaba embarcando sempre nas loucas aventuras que os pais se metem ao longo dos dias que antecedem o início das aulas.

Os absurdos e as peculiaridades que navegam pela história não deixam de serem ingredientes interessantes para conseguirmos enxergarmos conflitos emocionais profundos. Um bom exemplo é a curiosidade da filha, e tudo o que sente quando percebe que seu pai repete os mesmos erros que o levaram para a prisão. As questões de dúvidas de Chloe quanto ao futuro da família e atabalhoadas tentativas de viverem uma vida repleta de amor mas longe de um ‘normal’. Tim é quem possui mais dificuldade em nos fazer refletir sobre suas construções emocionais, não há exatamente uma desconstrução mas algo é buscado para que tudo saia como melhor que ontem, mesmo que as velhas inconsequências não consigam estarem longe de suas ações.

Felicità é um recorte de uma família que se ama muito mas sempre fica distante de uma estabilidade.  Sempre bom assistir a filmes que possuam um bom desenvolvimento na temática muitas vezes vistas na telona que é a relação entre pais e filhos.

 

Mirador (Brasil, 2021)

A roda gigante entre a responsabilidade e o sonho. Selecionado para a Mostra de Tiradentes 2021, o longa-metragem Mirador conta a estrada percorrida por um lutador, em muitos sentidos, que precisa reajustar seu destino em uma nova jornada de vida pois agora precisa ser o responsável pela filha em tempo integral após a mãe da criança sumir do mapa. Buscando reflexões para a situação, parecida com muitos do lado de cá da telona espalhados pelo Brasil, o projeto dirigido por Bruno Costa é um drama existencial, profundo em muitos momentos. Belo trabalho, do Paraná para o Brasil.

Na trama, conhecemos Michael (Edilson Silva), um rapaz batalhador de trinta e poucos anos, vindo de Pernambuco para o sul do país anos atrás. Entre um bico e outro, envolve seu cotidiano juntamente com os treinamentos para uma eventual competição no Boxe, uma de suas grandes paixões. Ele tem uma filha chamada Malu. Certo dia, quando a mãe da menina some do mapa, Michael precisa aprender muitas coisas para criar sua filha.

Um dia a dia de batalha. O paralelo entre o ringue (boxe) e as duras batalhas da vida é ótimo, gera reflexões de várias maneiras, dentro do foco: a paternidade. O protagonista entra em construção muito bonita, após buscar se desconstruir da figura do pai que só vê a filha as vezes. Com seu cotidiano sendo afetado vemos uma luta constante dele para dar o seu melhor, sem desistir da vida, encontrando forças no amor e carinho pela única filha. A situação abandono de uma criança pela mãe (ou pai) não é fato raro infelizmente, sempre há notícias sobre o assunto nos noticiários.

As dificuldades legais na inscrição da creche da filha, problemas com o conselho tutelar, com quem deixar a criança para ir trabalhar, várias ótimas questões são levantadas pelo roteiro. Mirador merecia ser visto no cinema com debates após as sessões. De lição ganhamos que a verdadeira luta do protagonista, um homem honesto e trabalhador como muitos de nós é vencer a batalha da vida ao lado de sua filha.

 

Little Boxes (EUA, 2016)

O pré-conceito e o preconceito na busca pela compreensão ao olhar do próximo. Disponível no catálogo da NetflixLittle Boxes é um recorte simples e objetivo de uma família inter-racial que se muda de Nova Iorque para uma cidadezinha do interior de outra cidade norte-americana e precisa enfrentar todas as diferenças navegando pelos pré-conceitos e com receio dos preconceitos em uma incógnita parte da sociedade norte-americana. Escrito por Annie J. Howell e dirigido por Rob Meyer o filme teve exibição no Festival de Tribeca anos atrás.

Na trama, conhecemos Gina (Melanie Lynskey) e Mack (Nelsan Ellis), um casal apaixonado que resolve se mudar para o interior dos Estados Unidos ao lado de seu único filho Clark (Armani Jackson). Gina é fotógrafa e conseguiu um emprego muito bom no departamento de artes de uma universidade dessa nova cidade, Mack é escritor e busca inspiração para seus novos textos ligados à culinária. A vida dos três passará por uma profunda mudança e tentativa de adaptação nessa nova cidade.

Um dos pontos interessantes desse filme é a trinca de ótica que consegue definir, entendemos melhor como essa família se sente individualmente (e também em conjunto), seu modo de pensar e os porquês de pensamentos defensivos em determinadas situações que logo surgem nessa nova cidade que se mudam. A mãe é branca e com o novo emprego na universidade vê sua carreira decolar, Mack é negro e está infeliz com o desenvolvimento de sua profissão após um livro de sucesso anteriormente, fica na defensiva sempre quando percebe algum tipo de pré-conceito em relação a ele ou a sua família. O jovem Clark também está passando por uma fase de mudanças, conhece outros jovens de sua idade e de alguma forma tenta conhecer melhor o universo de uma cidade do interior mesmo que isso gere alguns conflitos dentro de si.

Com menos de 90 minutos de projeção, essa fita norte-americana também pode ser considerada um filme sobre relacionamentos entre pais e filhos pois em algumas situações vemos como os pais tentam entender todas as ações (algumas inconsequentes) de seu filho. Little Boxes é bastante inteligente em navegar em cima do cismativo e tentar de alguma forma descontruir isso através de ótimos diálogos.

 

King of Peking (China/Australia/EUA, 2017)

Educar é aprender. Colocando em um liquidificador uma singela homenagem ao mundo mágico do cinema e abordando as curiosas saídas que um pai consegue encontrar para ter a guarda de seu filho, King of Peking, dirigido pelo cineasta australiano Sam Voutas é cômico e reflexivo. Sem ser tão profundo mas deixando à margem uma dezena de pontos para pensarmos sobre, se divide em duas vertentes que é a da relação entre pai e filho e as dificuldades do pai na busca de alguma saída para seus problemas aproveitando o início do que podemos chamar de entretenimento doméstico na década de 90 na China.

Nessa co-produção China, EUA e Austrália, acompanhamos a saga de Wong Pai (Jun Zhao) e Wong Filho (Wang Naixun) em busca de diversão e felicidade através das confusas ideias do primeiro. Wong Pai é projecionista e sem ter muito trabalho em um país repleto de crises, consegue um trabalho como zelador de um enorme cinema e logo em seguida tem a ‘brilhante’ ideia de piratear os filmes que são exibidos nas telonas através de gravações clandestinas espalhadas pela sala de cinema.

Exibido no Festival de Tribeca em 2017, King of Peking é quase uma mistura de alguns filmes dos Trapalhões com a fita norte-americana Rebobine, Por favor, só que consegue buscar sua luz própria no embate educacional causado pela situação do pai e toda a problemática sobre a guarda do filho. De longe, o ponto de vista mais interessante dentro do às vezes confuso roteiro.

Não é um filme para se emocionar e sim de riso fácil. Jogando os paradoxos da inconsequência para o lado cômico, o filme acaba perdendo pausas dramáticas importantes que somente os mais observadores conseguirão chegar ao ponto de reflexão.

 

Mais Outro Filho (Itália, 2020)

As eternas lições do aceitar. Escrito por Mattia Torre e dirigido por Giuseppe BonitoMais Outro FilhoFigli, no original, é um filme italiano que de maneira hilária aborda as dificuldades inesperadas de um casal apaixonado na chegada do segundo filho. Há um equilíbrio entre a comédia e o drama, além de hilárias metáforas em formas de pensamentos muito bem encaixadas que nos fazem entender melhor os personagens e seus conflitos. A paternidade, a maternidade, os medos dos pais, suas angústias e dificuldades na criação dos filhos, um ótimo filme vindo da Itália e disponível na HBO Go.

Na trama, conhecemos o casal Sara (Paola Cortellesi) e Nicola (Valerio Mastandrea) que ‘estão grávidos’ pela segunda vez. Ela uma inspetora sanitária de estabelecimentos, ele um dono de um frequentado armazém, são surpreendidos pelas dificuldades que enfrentam pois achavam que seria mais fácil que na primeira gestação. À flor da pele com as emoções, o casal começa a observar um novo mundo ao redor, inclusive outras formas de se entenderem em busca de soluções para os conflitos que muito se devem aos problemas de comunicação entre ambos.

Buscando soluções em teorias que chegam para eles quando sonham acordados, que vão desde a criação que tiveram oriunda do modo de pensar de outras gerações até conversas em sonhos com uma espécie de Deus e hilários ‘saltos para o lado de fora da janela’ quando querem sumir das discussões que os rodeiam. Exaustos emocionalmente tem ótimas cenas com a pediatra ‘guru’. O filme pode ser considerado uma grande análise sobre o universo que rodeia a mente dos pais com a chegada de uma nova criança a uma família. Várias situações eles enfrentam na tentativa de encontrarem ajuda: seja com os sogros, na busca pela babá perfeita, os conselhos dos amigos, as idas na caríssima pediatra, tudo é composto por um humor agradável que geram risos mesmo nas reflexões mais sérias.

Com ótimas sacadas, como a troca do choro por melodia do Beethoven, Mais Outro Filho é um dos bons filmes lançados em 2020 que falam sobre o universo de pais e filhos.

 

Thi Mai (Espanha, 2017)

Até aonde vai o amor de uma mãe na busca pelas concretizações dos desejos de uma filha que não está mais por perto? Escrito pela roteirista Marta Sánchez e dirigido pela cineasta Patricia Ferreira, o longa-metragem espanhol Thi Mai consegue mesclar com muita objetividade as superfícies de momentos cômicos com uma profundidade elegante para falar sobre luto e desejos não realizados. Camuflado de filme água com açúcar, o projeto é sobre a renovação de algum sentido na vida de uma mulher na terceira idade após uma perda terrível. Disponível no catálogo da Netflix.

Na trama, conhecemos a comerciante Carmen (Carmen Machi) que vive seus dias ao lado do marido Javier (Pedro Casablanc) gerenciando uma loja de materiais de construção e pequenos reparos. Certo dia, recebe a terrível notícia do falecimento da filha, que mora na capital, depois de um acidente de carro. Tentando entender os rumos do destino, acaba descobrindo que o processo de adoção que sua filha iniciou para adotar uma criança no Vietnã foi concluído e assim resolve partir para Hanói ao lado das inseparáveis amigas Rosa (Adriana Ozores) e Elvira (Aitana Sánchez-Gijón).

Há uma certa poesia acoplada na ótica da perda, do luto. O contraponto de uma nova vida depois de um trágico acontecimento em uma família acaba se tornando complementar para aliviar as dores que o destino causou. Colocando uma lupa sobre o processo de adoção internacional, onde famílias mundo à fora buscam mais a cada ano, (principalmente na figura do personagem de Eric Nguyen, Dan), entendemos os lados dessa jornada através também dos profissionais que organizam a burocracia e acompanham todo o processo.

Com direito a belas paisagens, situações a lá filmes da sessão da tarde, diálogos inusitados e pra lá de engraçados, ótimo espaço para coadjuvantes brilharem em suas respectivas subtramas, Thi Mai é uma ótima surpresa no catálogo da mais famosa rede de streamings disponível no Brasil.

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Na trama, conhecemos Catherine (Lolita Chammah), uma mulher que possui abalos psicológicos ligados a seu passado e volta após dez anos morando na Suíça a frequentar a mesma cidade de sua filha Alba (Themis Pauwels), que fora criada e mora com sua avó materna Elisabeth (Isabelle Huppert). Buscando essa reaproximação, mãe e filha embarcam em uma jornada de mágoas e ressentimentos sobre tudo que não viveram.

Co-produzido por Luxemburgo, Bélgica e França, o projeto explora em pouco mais de 100 minutos, uma dupla ótica, que é a grande sacada do roteiro. Com seu primeiro ato tenso e sem muitas informações, percebemos as dificuldades iniciais de Catherine de se entender minimamente com a filha. Há um divisor de águas nessa relação, que começa muito distante, logo nesse arco inicial. Contando histórias de sua família pela sua visão, Catherine embarca com Alba em uma viagem pelas emoções que foram vividas separadamente durante todos esses tempos. Já que as memórias acabam machucando muito, há algumas cenas sem diálogos, onde o olhar diz bastante.

Barrage é mais um filme que explora relacionamentos entre pais e filhos. O final aberto deixa margens para interpretações: será que elas algum dia vão se entender? Será que elas já se entenderam?

Três Solteirões e um Bebê (EUA, 1987)

Há mais de 30 anos atrás, uma comédia atemporal e que transpira carisma chegava a vista dos cinéfilos. Dirigido pelo eterno Spock, Leonard Nimoy (sim, ele mesmo!), Três Solteirões e um Bebê fala de forma leve e engraçada sobre a paternidade na visão de três adeptos do ‘solteirismo’ que precisam readequar suas vidas quando um bebê de poucos meses é deixando na porta de onde moram. Disponível no streaming Disney+ (assim como sua continuação), o longa-metragem de enorme sucesso é protagonizado pelos ótimos Tom Selleck, Steve Guttenberg Ted Danson. A trilha sonora, com a música chiclete Bad Boy, segundo single lançado pela banda americana Miami Sound Machine liderada por Gloria Estefan, é excelente.

Na trama, conhecemos três amigos muito bem sucedidos que moram em uma cobertura em Nova Iorque. Peter (Tom Selleck) é arquiteto, Michael (Steve Guttenberg) é desenhista e Jack (Ted Danson) é ator, todos eles são adeptos da vida boa e cultivam sua solteirice como modalidade de vida. Tudo muda quando um bebê é encontrado na porta da casa deles dizendo ser filha de Jack. Como o papai viajou para a Turquia para rodar um filme, Michael e Peter precisarão passar dias muito intensos, confusos e engraçados tentando cuidar da nova hóspede.

O foco principal é a paternidade em uma visão muito bem elaborada dentro de um roteiro simples onde a própria história ganha seu brilho através das lentes de Nimoy. Os personagens são ótimos, se encaixam com perfeição dentro de um contexto importante para a época mas a história não deixa de ser atemporal mesmo após mais de três décadas. O relacionamento pais e filhos pode ser mostrado de muitas formas, Três solteirões e um Bebê nos apresenta uma forma muito descontraída que o amor de quem cuida é o que vale no final das contas.

Verão Feliz (Japão, 1999)

Quando a tristeza pela decepção encontra as metáforas da vida. Indicado à Palma de Ouro em Cannes em um ano que tinha como concorrentes Almodóvar, Lynch, irmãos Dardenne, Greenaway, Manoel de Oliveira, Jarmusch, Sokurov, Egoyan, Bellocchio entre outros, Verão Feliz mostra a saga de um homem sem trabalho e um garoto criado pela avó que, quase sem direção, e contando com a ajuda além de caronas de desconhecidos, embarcam em uma aventura à procura da mãe do garoto que levarão na memória por toda uma vida. Contendo a força da delicadeza em todas as esferas, Takeshi Kitano, que escreve e dirige esse lindo trabalho, consegue encher de emoções e alguns risos as duas horas de projeção. Poucos são os diretores que com bastante sutileza nos mostram emoções com suas lentes.

Na trama, conhecemos Masao (Yusuke Sekiguchi) um triste menino, de olhar para baixo, que está sem amigos para brincar durante as férias. Ele é criado desde sempre pela sua avó já que sua mãe nunca aparece pois trabalha em uma outra cidade para poder sustentar ele. Certo dia, Masao resolve ir atrás de sua mãe e para isso vai contar com a inusitada ajuda de um amigo de sua avó, Kikujiro (Takeshi Kitano) um homem que vive seus dias sem muitos objetivos ao lado da esposa (Kayoko Kishimoto).  Assim, passando por diversas situações, ambos embarcam em uma saga à procura da mãe do menino.

Exibido no Festival do RJ e na Mostra de SP em um ano antes da chegada dos anos 2000, com planos longos e definindo arcos mostrados na tela, acompanhamos a junção equilibrada de um profundo mundo das emoções e situações de riso fácil, o drama e a comédia. Kitano fora conhecido no início de carreira pelos seus trabalhos como comediante e joga na tela todo seu talento além de mostrar uma grande habilidade em trabalhar os sentimentos principalmente na parte dramática do projeto.

Podemos enxergar esse lindo filme por duas perspectivas, a do menino que se protege da realidade dentro dos sonhos que são compostos por pessoas ou situações que encontra pelo caminho, ou do homem desajustado, trambiqueiro, no início nada simpático, que com uma transformação pura e bonita se torna uma referência para alguém que ele nunca imaginou. Ambos os personagens, nos brindam com uma história que irão contar por toda uma vida.

Bænken (Dinamarca, 2000)

Até aonde vai à redenção de alguém que pensara em não ter mais nada a perder? No início dos anos 2000, lançou-se na Dinamarca o longa-metragem Bænken que nunca pousou por aqui. O filme, escrito (Kim Leona também assina o roteiro) e dirigido pelo cineasta Per Fly conta a trajetória dura sobre um homem sem destino que achava que estava sozinho no mundo mas acaba indo buscar algum tipo de redenção quando encontra de maneira inesperada a filha que não via faz 19 anos. Tocando em muitos pontos polêmicos sobre alcoolismo, abandono e assistência social, o projeto se torna aos poucos reflexivo drama sobre escolhas da vida.

Na trama, conhecemos Kaj (Jesper Christensen), um rabugento alcóolatra na fase final de sua vida que vive gastando seu dinheiro de trabalho com cerveja. Sem ter mais ambições na vida e tratando mal a todos ao seu redor, acaba sendo surpreendido pela chegada de Liv (Stine Holm Joensen) e Jonas, mãe e filho que buscam abrigo no condomínio de apartamentos onde Kaj mora, mas especificamente no apartamento de um frustrado e lunático escritor. Um curto tempo depois, Kaj descobre que Liv é sua filha que não via a quase duas décadas e assim embarca em uma tentativa de jornada de redenção, principalmente, protegendo sua filha e neto do ex-companheiro de Liv e pai de Jonas, um homem ciumento e violento.

As lacunas à preencher após a chegada da dor na consciência. Completamente perdido em sua mesmice, o protagonista sofre com o alcoolismo, uma fuga sempre que não consegue enfrentar o mundo que construiu ao seu redor. As mudanças que chegam em sua vida acabam trazendo memórias perdidas/esquecidas que acabam se reativando por conta dos erros do passado cometidos por ele. Não sabendo lidar com a situação imposta pelo destino, busca se redescobrir como ser humano de maneira simples e objetiva, contando inclusive com a ajuda de alguns que pensas ser amigo. Tocando em assuntos delicados como a violência contra a mulher, a falta de assistência dos governos para determinadas situações emergenciais que muitos sofrem por aí, a trajetória do bom projeto se encaixa em sua essência como um profundo drama sobre relacionamentos entre pais e filhos.

 

Pieces of a Woman (EUA, 2020)

Quando os sentimentos viram uma série de portas fechadas. Com um abre alas angustiante, antes do título aparecer na tela, onde não conseguimos tirar os olhos das ações que acontecem Pieces of a Woman é um poderoso drama que mostra desenrolares da vida de um jovem casal e os passos seguintes que precisam caminhar durante o luto. Dirigido pelo cineasta húngaro Kornél Mundruczó e com roteiro assinado por Kata Wéber, o filme, disponível no catálogo da Netflix, é um dos mais badalados projetos desse ano: merecidamente! É tenso, polêmico, excelente para reflexão. Poderosas interpretações, personagem principal interpretada magistralmente pela atriz britânica Vanessa Kirby, um roteiro com bastante profundidade e uma excelente direção. Indicado na categoria Melhor Atriz ao Oscar desse ano (inclusive levou o prêmio de Melhor Atriz no Festival de Veneza do ano passado).

Na trama, conhecemos um jovem casal, Sean (Shia Lebouf) e Martha (Vanessa Kirby) apaixonado e com alta expectativa com a chegada da primeira filha. Eles optaram por um parto domiciliar, feito por uma parteira. No dia onde a chegada do bebê se torna iminente, a parteira que faria o parto não consegue chegar a tempo e uma outra vai no lugar dela. Durante o processo do parto, uma alta tensão acontece, um nervosismo de todos, pai, mãe e parteira. Infelizmente uma tragédia acontece. Nos meses após o corrido, a maneira como o casal lida com a terrível tragédia é o que vai moldando a trajetória desse impactante filme.

Como lidar com a perda? Os personagens são os grandes motores do filme. Levados ao limite após a tragédia que acontece em suas vidas, nada vai ser como antes e eles já sabem disso. Conflitos antes suportáveis, se tornam estopins para discussões ou intromissões injustas nas escolhas que os dois devem tomar juntos. Sean é um homem que trabalha com construções e em especial nas pontes, está a seis anos sóbrio, possui um relacionamento conflitante com a sogra, assim precisa lutar contra seus demônios após a tragédia. Já Martha é introspectiva, de fala mansa, de família com mais dinheiro que a do companheiro, mostra um controle na aparência para os outros mas um descontrolado ninho de sentimentos conflitantes por dentro após o ocorrido, principalmente lutando contra as interferências de sua mãe Elizabeth (Ellen Burstyn, em atuação também digna de aplausos). A habilidade de Mundruczó em mostrar as entrelinhas através da expressão dos personagens é digna de aplausos, emocionante em muitos momentos, nos sentimos próximos das dores dos personagens.

O filme toca em alguns pontos polêmicos. A questão da comunidade médica vs parteiras e os dilemas sobre doação de corpos para estudos médicos. As partes jurídicas de uma dessas questões são colocadas como ferramenta de ‘justiça’ por Elizabeth, insensível e intrometida, em muitos momentos. O projeto chega fácil aos corações dos espectadores, dentre os dilemas e os sofrimentos, vamos tentar entender como é possível (ou não) reunir peças de uma vida despedaçada.

 

Dente de Leite (Austrália, 2019)

O drama comum de alguém que não querem que se vá. Debutando na direção de longas-metragens, a cineasta Shannon Murphy apresenta ao público seu olhar para um tema difícil, doloroso, uma doença terrível em uma adolescente e como tudo muda muito rápido para todos que estão ao redor da corajosa protagonista que busca em suas ações fugir de rótulos dando lindos e emocionante gritos de liberdade. O roteiro, assinado pela também debutante em roteiros para longas-metragens Rita Kalnejais, possui arcos divididos em situações de encontros e desencontros dos personagens, fator muito interessante. Babyteeth, made in Austrália, emociona bastante, principalmente nos últimos 10 minutos com cenas maravilhosas e inesquecíveis.

Na trama, conhecemos a jovem Milla (Eliza Scanlen) que mora em um bairro de classe media com seu pai, o psiquiatra Henry (Ben Mendelsohn) e sua mãe Anna (Essie Davis). Os três, cada um à sua maneira, precisam enfrentar a doença de Milla que tem um câncer agressivo em evolução. Certo dia, Milla conhece Moses (Toby Wallace), uma desregulado alma que acabou a escola, praticamente um nômade que é expulso de casa pela mãe, mas por quem Milla logo se apaixona. Assim, enfrentando a cada dia uma dura batalha pela vida mas também para sair de vez do ninho montado pelos pais, a personagem principal encontra em Moses, um importante companheiro na luta pelas suas fortes tomadas de decisões.

A princípio os personagens parecem excêntricos mas é que a troca da apresentação do filme vai nos confundindo um pouco, muito até para quem nem leu a sinopse. Mas isso faz parte do ótimo roteiro de Babyteeth, produção australiana ganhadora de muitos prêmios, que fala sobre a vida de uma jovem, sua visão do seu entorno e como a doença que tem afeta a todos. Buscando ser quem sempre quis, começa a tomar decisões que fogem da normalidade que os pais se acostumaram, vivendo intensamente como se fosse o último dia de sua vida. Os pais, procuram entender a situação, eles estão em um casamento cheio de amor mas abalado pela situação da filha. A mãe é medicada pelo pai e vive em crise constante. O pai também, muitas vezes perdido no seu pensamento se equivoca mas tenta logo consertar.

Com muitos assuntos de bem ampla reflexão, ao longo das duas horas de projeção, há espaço para um ótimo debate sobre o uso de medicamentos controlados para problemas de todos os tipos. Babyteeth ainda nos brinca com dez minutos finais arrasadores, com uma força impressionante, de tocar nossos corações.

 

Minari: Em Busca da Felicidade (EUA, 2020)

Quando rezamos, podemos ver o céu enquanto dormimos? Exibido em muitos festivais e premiado com os dois principais prêmios do Festival de Sundance ano passado, Minari fala sobre os poderes da fé e até onde pode ir um sonho de uma família que enfrenta obstáculos de todos os tipos quando resolvem se mudar para Arkansas após saírem de uma grande cidade norte-americana. Escrito e dirigido pelo cineasta norte-americano Lee Isaac Chung o projeto, super badalado pela crítica internacional, também é um delicado retrato sobre tradições e culturas.

Na trama, conhecemos Jacob (Steven Yeun) e Monica (Yeri Han), um casal descendentes de coreanos com raízes nos Estados Unidos que estão de mudanças em busca de sonhos em uma terra de oportunidades junto com seus dois filhos Anne (Noel Cho) e David (Alan S. Kim), esse último possui um problema no coração. Chegando lá, as primeiras dificuldades aparecem, a questão da água, da terra… Jacob tem um grande sonho, de ter um enorme jardim onde cultivará vegetais coreanos, só que os obstáculos chegam e colocam seu casamento em risco. Mas a chegada da avó Soonja (Youn Yuh-jung), mãe de Monica, pode adicionar mais algum tempero positivo ou não para essa história.

Os diferentes simbolismos sobre a fé percorrem todo o filme. Podemos exemplificar as questões na figura do amigo Paul (Will Patton) ou mesmo na forte influência de Soonja sobre o cotidiano da família. A chegada da avó coloca em contrapontos valores e tradições, além de comparações sobre o modo de viver no seu país de origem e nos Estados Unidos. Durante boa parte do longa, os conflitos entre avó e neto preenchem a tela com muita delicadeza mostrando todas as etapas desse relacionamento repleto de amor e um pouco de desconfiança à princípio.

Os conflitos dos pais sempre chegam aos filhos de alguma forma. Jacob é orgulhoso, parece sempre estar em uma encruzilhada na qual lida muito mal com o revés, por mais que seja um amoroso pai e marido. Os irmãos sempre escutam os temas de discussão dos pais e conversam entre si sobre isso, um processo de amadurecimento precoce em meio a uma instabilidade emocional que a família passa, principalmente quando pensamos no universo da incerteza, terreno que o Jacob mais se encontra.

Lee Isaac Chung consegue transmitir os sentimentos de diversas maneiras, da fé à terra, das escolhas ao ponto de interseção entre todos: o amor.

 

Felicità (França, 2020)

Quantas variáveis existem na relação entre pais e filhos? Um dos filmes que ficou disponíveis na última edição do ótimo festival online e gratuito My French Film FestivalFelicità, é um road movie descontraído que nos conta a saga de uma família de três integrantes, meio nômades, que se mete em diversas confusões antes do início das aulas da jovem filha do casal. Parece simples e sem muitas saídas para reflexões mas o projeto consegue avançar a superfície principalmente quando analisamos o que assistimos pela ótica de Tommy, a jovem filha. Um trabalho interessante escrito e dirigido por Bruno Merle.

Na trama, conhecemos o ex-presidiário Tim (Pio Marmaï) e Chloé (Camille Rutherford), dois jovens sem muitas projeções na vida que vivem do dinheiro que a segunda recebe trabalhando na limpeza de casas para uma empresa. Eles tem uma filha, Tommy (Rita Merle), que acaba embarcando sempre nas loucas aventuras que os pais se metem ao longo dos dias que antecedem o início das aulas.

Os absurdos e as peculiaridades que navegam pela história não deixam de serem ingredientes interessantes para conseguirmos enxergarmos conflitos emocionais profundos. Um bom exemplo é a curiosidade da filha, e tudo o que sente quando percebe que seu pai repete os mesmos erros que o levaram para a prisão. As questões de dúvidas de Chloe quanto ao futuro da família e atabalhoadas tentativas de viverem uma vida repleta de amor mas longe de um ‘normal’. Tim é quem possui mais dificuldade em nos fazer refletir sobre suas construções emocionais, não há exatamente uma desconstrução mas algo é buscado para que tudo saia como melhor que ontem, mesmo que as velhas inconsequências não consigam estarem longe de suas ações.

Felicità é um recorte de uma família que se ama muito mas sempre fica distante de uma estabilidade.  Sempre bom assistir a filmes que possuam um bom desenvolvimento na temática muitas vezes vistas na telona que é a relação entre pais e filhos.

 

Mirador (Brasil, 2021)

A roda gigante entre a responsabilidade e o sonho. Selecionado para a Mostra de Tiradentes 2021, o longa-metragem Mirador conta a estrada percorrida por um lutador, em muitos sentidos, que precisa reajustar seu destino em uma nova jornada de vida pois agora precisa ser o responsável pela filha em tempo integral após a mãe da criança sumir do mapa. Buscando reflexões para a situação, parecida com muitos do lado de cá da telona espalhados pelo Brasil, o projeto dirigido por Bruno Costa é um drama existencial, profundo em muitos momentos. Belo trabalho, do Paraná para o Brasil.

Na trama, conhecemos Michael (Edilson Silva), um rapaz batalhador de trinta e poucos anos, vindo de Pernambuco para o sul do país anos atrás. Entre um bico e outro, envolve seu cotidiano juntamente com os treinamentos para uma eventual competição no Boxe, uma de suas grandes paixões. Ele tem uma filha chamada Malu. Certo dia, quando a mãe da menina some do mapa, Michael precisa aprender muitas coisas para criar sua filha.

Um dia a dia de batalha. O paralelo entre o ringue (boxe) e as duras batalhas da vida é ótimo, gera reflexões de várias maneiras, dentro do foco: a paternidade. O protagonista entra em construção muito bonita, após buscar se desconstruir da figura do pai que só vê a filha as vezes. Com seu cotidiano sendo afetado vemos uma luta constante dele para dar o seu melhor, sem desistir da vida, encontrando forças no amor e carinho pela única filha. A situação abandono de uma criança pela mãe (ou pai) não é fato raro infelizmente, sempre há notícias sobre o assunto nos noticiários.

As dificuldades legais na inscrição da creche da filha, problemas com o conselho tutelar, com quem deixar a criança para ir trabalhar, várias ótimas questões são levantadas pelo roteiro. Mirador merecia ser visto no cinema com debates após as sessões. De lição ganhamos que a verdadeira luta do protagonista, um homem honesto e trabalhador como muitos de nós é vencer a batalha da vida ao lado de sua filha.

 

Little Boxes (EUA, 2016)

O pré-conceito e o preconceito na busca pela compreensão ao olhar do próximo. Disponível no catálogo da NetflixLittle Boxes é um recorte simples e objetivo de uma família inter-racial que se muda de Nova Iorque para uma cidadezinha do interior de outra cidade norte-americana e precisa enfrentar todas as diferenças navegando pelos pré-conceitos e com receio dos preconceitos em uma incógnita parte da sociedade norte-americana. Escrito por Annie J. Howell e dirigido por Rob Meyer o filme teve exibição no Festival de Tribeca anos atrás.

Na trama, conhecemos Gina (Melanie Lynskey) e Mack (Nelsan Ellis), um casal apaixonado que resolve se mudar para o interior dos Estados Unidos ao lado de seu único filho Clark (Armani Jackson). Gina é fotógrafa e conseguiu um emprego muito bom no departamento de artes de uma universidade dessa nova cidade, Mack é escritor e busca inspiração para seus novos textos ligados à culinária. A vida dos três passará por uma profunda mudança e tentativa de adaptação nessa nova cidade.

Um dos pontos interessantes desse filme é a trinca de ótica que consegue definir, entendemos melhor como essa família se sente individualmente (e também em conjunto), seu modo de pensar e os porquês de pensamentos defensivos em determinadas situações que logo surgem nessa nova cidade que se mudam. A mãe é branca e com o novo emprego na universidade vê sua carreira decolar, Mack é negro e está infeliz com o desenvolvimento de sua profissão após um livro de sucesso anteriormente, fica na defensiva sempre quando percebe algum tipo de pré-conceito em relação a ele ou a sua família. O jovem Clark também está passando por uma fase de mudanças, conhece outros jovens de sua idade e de alguma forma tenta conhecer melhor o universo de uma cidade do interior mesmo que isso gere alguns conflitos dentro de si.

Com menos de 90 minutos de projeção, essa fita norte-americana também pode ser considerada um filme sobre relacionamentos entre pais e filhos pois em algumas situações vemos como os pais tentam entender todas as ações (algumas inconsequentes) de seu filho. Little Boxes é bastante inteligente em navegar em cima do cismativo e tentar de alguma forma descontruir isso através de ótimos diálogos.

 

King of Peking (China/Australia/EUA, 2017)

Educar é aprender. Colocando em um liquidificador uma singela homenagem ao mundo mágico do cinema e abordando as curiosas saídas que um pai consegue encontrar para ter a guarda de seu filho, King of Peking, dirigido pelo cineasta australiano Sam Voutas é cômico e reflexivo. Sem ser tão profundo mas deixando à margem uma dezena de pontos para pensarmos sobre, se divide em duas vertentes que é a da relação entre pai e filho e as dificuldades do pai na busca de alguma saída para seus problemas aproveitando o início do que podemos chamar de entretenimento doméstico na década de 90 na China.

Nessa co-produção China, EUA e Austrália, acompanhamos a saga de Wong Pai (Jun Zhao) e Wong Filho (Wang Naixun) em busca de diversão e felicidade através das confusas ideias do primeiro. Wong Pai é projecionista e sem ter muito trabalho em um país repleto de crises, consegue um trabalho como zelador de um enorme cinema e logo em seguida tem a ‘brilhante’ ideia de piratear os filmes que são exibidos nas telonas através de gravações clandestinas espalhadas pela sala de cinema.

Exibido no Festival de Tribeca em 2017, King of Peking é quase uma mistura de alguns filmes dos Trapalhões com a fita norte-americana Rebobine, Por favor, só que consegue buscar sua luz própria no embate educacional causado pela situação do pai e toda a problemática sobre a guarda do filho. De longe, o ponto de vista mais interessante dentro do às vezes confuso roteiro.

Não é um filme para se emocionar e sim de riso fácil. Jogando os paradoxos da inconsequência para o lado cômico, o filme acaba perdendo pausas dramáticas importantes que somente os mais observadores conseguirão chegar ao ponto de reflexão.

 

Mais Outro Filho (Itália, 2020)

As eternas lições do aceitar. Escrito por Mattia Torre e dirigido por Giuseppe BonitoMais Outro FilhoFigli, no original, é um filme italiano que de maneira hilária aborda as dificuldades inesperadas de um casal apaixonado na chegada do segundo filho. Há um equilíbrio entre a comédia e o drama, além de hilárias metáforas em formas de pensamentos muito bem encaixadas que nos fazem entender melhor os personagens e seus conflitos. A paternidade, a maternidade, os medos dos pais, suas angústias e dificuldades na criação dos filhos, um ótimo filme vindo da Itália e disponível na HBO Go.

Na trama, conhecemos o casal Sara (Paola Cortellesi) e Nicola (Valerio Mastandrea) que ‘estão grávidos’ pela segunda vez. Ela uma inspetora sanitária de estabelecimentos, ele um dono de um frequentado armazém, são surpreendidos pelas dificuldades que enfrentam pois achavam que seria mais fácil que na primeira gestação. À flor da pele com as emoções, o casal começa a observar um novo mundo ao redor, inclusive outras formas de se entenderem em busca de soluções para os conflitos que muito se devem aos problemas de comunicação entre ambos.

Buscando soluções em teorias que chegam para eles quando sonham acordados, que vão desde a criação que tiveram oriunda do modo de pensar de outras gerações até conversas em sonhos com uma espécie de Deus e hilários ‘saltos para o lado de fora da janela’ quando querem sumir das discussões que os rodeiam. Exaustos emocionalmente tem ótimas cenas com a pediatra ‘guru’. O filme pode ser considerado uma grande análise sobre o universo que rodeia a mente dos pais com a chegada de uma nova criança a uma família. Várias situações eles enfrentam na tentativa de encontrarem ajuda: seja com os sogros, na busca pela babá perfeita, os conselhos dos amigos, as idas na caríssima pediatra, tudo é composto por um humor agradável que geram risos mesmo nas reflexões mais sérias.

Com ótimas sacadas, como a troca do choro por melodia do Beethoven, Mais Outro Filho é um dos bons filmes lançados em 2020 que falam sobre o universo de pais e filhos.

 

Thi Mai (Espanha, 2017)

Até aonde vai o amor de uma mãe na busca pelas concretizações dos desejos de uma filha que não está mais por perto? Escrito pela roteirista Marta Sánchez e dirigido pela cineasta Patricia Ferreira, o longa-metragem espanhol Thi Mai consegue mesclar com muita objetividade as superfícies de momentos cômicos com uma profundidade elegante para falar sobre luto e desejos não realizados. Camuflado de filme água com açúcar, o projeto é sobre a renovação de algum sentido na vida de uma mulher na terceira idade após uma perda terrível. Disponível no catálogo da Netflix.

Na trama, conhecemos a comerciante Carmen (Carmen Machi) que vive seus dias ao lado do marido Javier (Pedro Casablanc) gerenciando uma loja de materiais de construção e pequenos reparos. Certo dia, recebe a terrível notícia do falecimento da filha, que mora na capital, depois de um acidente de carro. Tentando entender os rumos do destino, acaba descobrindo que o processo de adoção que sua filha iniciou para adotar uma criança no Vietnã foi concluído e assim resolve partir para Hanói ao lado das inseparáveis amigas Rosa (Adriana Ozores) e Elvira (Aitana Sánchez-Gijón).

Há uma certa poesia acoplada na ótica da perda, do luto. O contraponto de uma nova vida depois de um trágico acontecimento em uma família acaba se tornando complementar para aliviar as dores que o destino causou. Colocando uma lupa sobre o processo de adoção internacional, onde famílias mundo à fora buscam mais a cada ano, (principalmente na figura do personagem de Eric Nguyen, Dan), entendemos os lados dessa jornada através também dos profissionais que organizam a burocracia e acompanham todo o processo.

Com direito a belas paisagens, situações a lá filmes da sessão da tarde, diálogos inusitados e pra lá de engraçados, ótimo espaço para coadjuvantes brilharem em suas respectivas subtramas, Thi Mai é uma ótima surpresa no catálogo da mais famosa rede de streamings disponível no Brasil.

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