A representatividade negra nunca esteve tão presente na indústria cinematográfica quanto hoje e, ainda que tenha evoluído consideravelmente desde seus primórdios, diversas produções insistem em cair nos mesmos clichês e estereótipos de raça que antigamente. Entretanto, boa parte dos diretores e diretoras africanas e afro-descendentes sabe muito bem como contar uma boa e aclamada história.
Por essa razão, e em celebração ao #BlackLivesMatter, movimento contra o racismo estrutural que permanece enraizado em nossa sociedade, separamos uma lista com 15 filmes de diretores negros que você precisa conhecer – ou rever, caso já tenha conhecido.
NÓS, Jordan Peele
Jordan Peele já havia mergulhado de cabeça no terror ‘Corra!’ em 2017, mas não seria até dois anos mais tarde que atingiria a excelência artística com o instigante ‘Nós’. O thriller de ficção-científica trouxe de volta para as telonas o conceito do duplo ao colocar a sempre impecável Lupita Nyong’o no centro de uma batalha contra seu próprio eu, lutando para sobreviver e salvar sua família – e descobrir os segredos obscuros por trás de sua conturbada infância.
INFILTRADO NA KLAN, Spike Lee
Antes de dirigir o aclamado ‘Destacamento Blood’ para a Netflix, Spike Lee comandou o irretocável drama ‘Infiltrado na Klan’, que levou o Oscar de Melhor Roteiro Original para casa no ano passado. Ambientado em Colorado de 1978, Ron Stallworth, um policial negro, consegue se infiltrar na Ku Klux Klan local. Ele se comunica com os outros membros do grupo por meio de telefonemas e cartas, e quando precisava estar fisicamente presente, ele envia um outro policial branco em seu lugar. Depois de meses de investigação, Ron fica próximo do líder da seita, sendo responsável por sabotar uma série de linchamentos e outros crimes de ódio orquestrados pelos racistas.
MOONLIGHT: SOB A LUZ DO LUAR, Barry Jenkins
O vencedor do Oscar de Melhor Filme e de Melhor Ator Coadjuvante em 2017, ‘Moonlight: Sob a Luz do Luar’ é um dos dramas tour-de-force mais comoventes da década passada e conseguiu unir, em um mesmo lugar, uma análise de inúmeras minorias sociais ao trazer como protagonista um homem negro, gay e periférico. No filme, Black trilha uma jornada de autoconhecimento enquanto tenta escapar do caminho fácil da criminalidade e do mundo das drogas de Miami. Encontrando amor em locais surpreendentes, ele sonha com um futuro maravilhoso.
12 ANOS DE ESCRAVIDÃO, Steve McQueen
Mais um vencedor do Oscar de Melhor Filme (e de Melhor Atriz Coadjuvante) na nossa lista: em ’12 Anos de Escravidão’, Steve McQueen tornou-se o primeiro cineasta negro a levar para casa a estatueta ao arquitetar um dos longas-metragens mais trágicos de todos os tempos. Em 1841, Solomon Northup é um negro livre, que vive em paz ao lado da esposa e filhos. Um dia, após aceitar um trabalho que o leva a outra cidade, ele é sequestrado e acorrentado. Vendido como se fosse um escravo, Solomon precisa superar humilhações físicas e emocionais para sobreviver. Ao longo de doze anos, ele passa por dois senhores, Ford e Edwin Epps, que, cada um à sua maneira, exploram seus serviços.
THE LEARNING TREE, Gordon Parks
Em 1969, o célebre fotógrafo Gordon Parks (que ganhou fama ao dirigir a ação ‘Shaft’) daria vida a ‘The Learning Tree’, um sensível retrato sobre a juventude negra dos Estados Unidos no começo do século passado. Ambientado em 1920, a narrativa gira em torno da jornada de Newt Winger, um adolescente que cresce no preconceituoso estado do Kansas e que caminha para uma vida adulta marcada por trágicos eventos.
LÍNGUAS DESATADAS, Marlon Riggs
‘Línguas Desatadas’ causou choque e consternação por parte do público conservador dos cinemas norte-americanos ao retratar com crueza e visceralidade o amor entre homens negros “machões” através de entrevistas, imagens de performances, cenas chocantes, críticas mordazes à homofobia em filmes negros ou apenas pessoas em close recitando poesia e contando suas vidas. As falhas do Novo Cinema Gay são expostas, gênero que na maioria da vezes é feito por brancos, e também é falado da mal definida autenticidade do cinema negro pós Spike Lee. Uma jornada através de duas subculturas marginalizadas.
SELMA, Ava DuVernay
O subestimado ‘Selma’ foi lançado nos cinemas em 2014, um ano antes da 50ª celebração de um dos momentos mais importantes do Movimento dos Direitos Civis. O filme conta a história da luta de Martin Luther King Jr. para garantir o direito de voto dos afrodescendentes – uma campanha perigosa e aterrorizante que culminou na marcha épica de Selma a Montgomery, Alabama, e que estimulou a opinião pública norte-americana e convenceu o presidente Johnson a implementar a Lei dos Direitos de Voto em 1965.
CHI-RAQ, Spike Lee
A releitura moderna de Lee para a clássica tragédia grega ‘Lisístrata’ é ambientada numa época em que a grandiosa e conturbada cidade de Chicago está tomada pela violência. Em meio às atribulações bélicas, uma criança acaba morrendo devido a uma bala perdida. Assim, as mulheres da cidade decidem tomar uma atitude drástica: iniciar uma greve de sexo até que os homens concordem em abandonar as armas. Mas os maridos e namorados não vão aceitar essas novas regras com facilidade.
RESSURREIÇÃO, Maya Angelou
Maya Angelou é responsável por uma das maiores odes poéticas do século XX – mas isso não é tudo; a escritora também dirigiu o clássico ‘Ressurreição’, drama estrelado por Alfre Woodard e Wesley Snipes. O enredo é centrado em Loretta, uma problemática mãe solteira do subúrbio de Chicago que é enviada para passar o verão na casa de seus ancestrais, no interior do Mississipi. No “Delta”, com a ajuda de seu tio Earl, Loretta finalmente começa a enxergar numa maneira de cuidar de sua filha e reverter o desmoronamento de sua vida. No final de sua jornada, ela descobre a força das raízes de sua família e o poder do amor incondicional.
AMOR EM TEMPOS DE ÓDIO, Amma Asante
LITTLE WOODS, Nia da Costa
Nia da Costa ganhou atenção da mídia ao ser contratada para dirigir o reboot de ‘A Lenda de Candyman’. Entretanto, antes de se aventurar no terror, a cineasta explorou com avinco o drama policial ‘Little Woods’. Estrelado por Tessa Thompson e Lily James, a trama é centrada em Ollie, uma mulher que costumava contrabandear remédios através da fronteira canadense, mas seus dias de ação criminosa ficaram para trás e ela está prestes a conseguir um emprego que lhe dará a oportunidade de deixar a cidadezinha de interior de Little Woods, na Dakota do Norte. Isto é, até que sua mãe morre e ela e sua problemática irmã, Deb, são deixadas com a enorme dívida da hipoteca da casa para pagar.
CLEMENCY, Chinonye Chukwu
O grande vencedor do Festival de Sundance é liderado por uma brilhante performance de Alfre Woodard como a personagem principal de Clemency. Aqui, a atriz dá vida a Bernardine Williams, uma guarda prisional que se prepara para mais uma execução no temível corredor da morte até que cria um inesperado laço afetivo. Desorientada e confusa, Bernadine começa a realizar questionamentos morais a respeito do trabalho que vem exercendo.
THE WATERMELON WOMAN, Cheryl Dunye
Lançado em 1996 por Cheryl Dune, ‘The Watermelon Woman’ conta a história de Cheryl, uma jovem negra e lésbica, tem como obsessão fazer um filme retratando sua busca por uma atriz negra, conhecida como Mulher Melancia. Seguindo as pistas, ela desconfia que a atriz teve um caso com uma diretora de cinema branca – ao mesmo tempo que a própria Cheryl se envolve com uma mulher branca, Diana.
A 13ª EMENDA, Ava DuVernay
Depois do aclamado ‘Selma’, Ava DuVernay continuou trilhando um caminho de grande sucesso ao comandar o documentário ‘A 13ª Emenda’. Centrado no sistema carcerário e étnico no país de origem do longa-metragem, o título é uma referência à décima terceira alteração na Constituição dos Estados Unidos, a qual, segundo a obra, foi uma alternativa de manter trabalhos braçais mesmo após a abolição da escravidão, com o processo de encarceramento em massa. Em 2017, o filme venceu o BAFTA de Melhor Documentário, mas foi esnobado nas outras premiações.