quarta-feira , 20 novembro , 2024

15 Grandes Filmes sobre Família

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Você já deve ter escutado a frase: ‘Família é a base de tudo‘. Mesmo o relacionamento sendo conturbado muitas vezes, nossos parentes são, teoricamente, os nossos alicerces em momentos de dor e incertezas. O mundo do cinema, ano após ano, projeta na telona excelentes filmes que abordam de várias óticas o relacionamento familiar, seja um contexto geral de toda a família, seja um retrato de pais e filhos, seja um casamento com ambos pontos de vista. Pensando nisso, e tentando fugir o máximo do óbvio, buscamos filmes que exemplificam todo esse contexto. Tirando um ou outro, é provável que você não conheça todos esses, mas vale muito a pena procurarem.

Other People (2016) (EUA) – de Chris Kelly



Não precisamos ser perfeitos o tempo todo para que nossas famílias nos amem. Debutante em longas metragens, o cineasta Chris Kelly, dirige e assina o roteiro deste belíssimo filme que explora com muita simpatia assuntos tabus de uma família de classe média norte americana. Other People é um grande aulão sobre os muitos lados das emoções, um filme rico em conteúdo, corajoso que faz questão de expor as polêmicas como forma de refletirmos sobre os temas abordados. O projeto conta com uma atuação espetacular da veterana atriz Molly Shannon que nos emociona do início ao fim com sua impactante personagem.

Na trama, conhecemos o roteirista, sem grande sucesso, David (Jesse Plemons), um jovem que mora em nova Iorque e precisa voltar para a cidade que nasceu, em Sacramento, por conta de uma grave doença de sua mãe Joanne (Molly Shannon). Tendo que voltar a morar na casa onde foi criado, e tendo que enfrentar suas diferenças com seu pai, David passará meses tentando se redescobrir e renovando seu amor por sua família. Ao longo dos 97 minutos de projeção somos testemunhas de uma pequena grande história sobre as formas de demonstrar o amor familiar.

Indicado em quatro categorias do Independent Spirit Awards 2017, Other People é aquela surpresa que todos nós cinéfilos gostamos de encontrar. Atualmente no ótimo catálogo da Netflix, o filme explora com muita sabedoria as principais características de seus personagens que ficam envolvidos em uma situação de muita tristeza com a doença da mãe. Como cada um deles lida com isso (com um foco gigante na visão de David), o filme nos envolve com embates via diálogos primorosos e lições de vida que levamos para nossas próprias vidas. A atuação de Molly Shannon, que faz a mãe, é deslumbrante, uma das mais impactantes.

Other People concorreu ao Grande Prêmio do Júri no importante Festival de Sundance 2016. Se você tiver a chance de assistir a esse belo trabalho, não deixe de conferir. O amor transborda em forma de perdão e esperança.

 

Muzi v nadeji (2011) – (Repúblic Tcheca) – de Jirí Vejdelek

As sutilezas do amor. Escrito e dirigido pelo cineasta tcheco Jirí Vejdelek, Muzi v nadeji (2011) é um filme despretensioso, que se camufla em comédia pastelão mas aos poucos vai cativando nossos corações. Fala muito sobre o amor a quatro paredes, de maneiras um tanto quanto inusitadas, representado por um quarteto de atores inspirados que conquistam o público a cada cena. Uma pequena obra prima européia, perdida, provavelmente nunca vista mas que merece os olhos de todos que amam cinema.

Na trama, conhecemos o ex-contador e agora garçom do restaurante da família Ondrej (Jirí Machácek), um homem de fala mansa que vive graves problemas em seu casamento com Alice (Petra Hrebícková). Certo dia, em uma das inúmeras saidinhas do seu sogro Rudolf (Bolek Polívka), das quais Ondrej sempre acaba virando cúmplice, a dupla vai parar em um snooker bar onde encontram a belíssima Sarlota (Vica Kerekes), conhecida do traidor compulsivo Rudolf. Só que dessa vez, a provável conquista acaba ficando encantada com Ondrej que começa a conhecer melhor Sarlota. Assim, posta a confusão, o quarteto enfrentará situações inusitadas em busca da tão sonhada felicidade.

Alimentado por desejos quase compulsivos as ações acontecem a partir das revelações de Rudolf, que trai a mulher faz anos e com diversas damas diferentes. Ele se sente bem com isso, e acredita que assim consegue manter a chama acesa com sua esposa até os dias de hoje. Ondrej, muito próximo do sogro, afinal são vizinhos, acaba embarcando nessa onda, só que sem a experiência de Rudolf, se mete no inusitado caso extra conjugal com Sarlota, o que de fato faz melhorar seu relacionamento com Alice mas a todo instante ele não sabe como lidar com isso. Muitas cenas hilárias dão luz a essa verdade, os diálogos entre Rudolf e Ondrej são ótimos e repletos de simpatia.

A princípio, pensamos que Muzi v nadeji é uma comédia bobinha, com recheio sexy sem muitas pretensões. Mas o que impressiona no roteiro, escrito também pelo diretor, é a forma que acontecem as viradas na história, uma melhor que a outra, e com todos os personagens envolvidos, deixando o público se abastecer de risadas deliciosas e momentos cativantes que muito mostram as verdades de diversos relacionamentos.

Tempestade (2015) (França) – de Samuel Collardey

Temos o destino que merecemos. O nosso destino está de acordo com os nossos méritos. Vencedor de dois prêmios no aclamado Festival Internacional de Cinema de Veneza em 2015, Tempête, no original, dirigido pelo francês Samuel Collardey, é uma daquelas pérolas sensíveis, raras, que explora a ausência até seu último suspiro. Dúvidas e escolhas são bastante explorados pelos personagens, repletos de indagações e sonhos, quase análogos à incerteza quando estamos passando por uma fase adolescente para a fase adulta. Um recorte maduro sobre a paternidade e a busca por melhores condições para uma família.

Na trama, conhecemos o pescador Dom (Dominique Leborne), um homem perto dos quarenta anos que trabalha em alto mar ficando pouco tempo por mês em terra. Ele recentemente se divorciou e conseguiu a guarda de seus dois filhos, Mailys (Mailys Leborne) e Matteo (Matteo Leborne) que escolheram ficar com ele por terem problemas com a mãe. Mesmo ausente, Dom sempre preenche a casa onde vive com os filhos de amor e carinho, mesmo com algumas irresponsabilidades. Quando a filha fica grávida aos dezesseis anos, Dom precisará encarar escolhas que mudarão para sempre os rumos dessa família.

A ausência é um tema importante, explorado com leveza, também acompanha toda a história, os caminhos da maturidade até a responsabilidade, grande dilema do protagonista. Há um certo descontrole quando se vê cheio de tempestades em sua vida, com a eminência da perda da guarda de seus filhos e a decisão de pensar em um trabalho remunerado que o deixe mais presente, em terra, perto deles. Movido pelo amor que tem pelos filhos, o protagonista embarca em uma transformação em sua vida pessoal e profissional, se apegando em seus sonhos para escrever um horizonte cheio de esperança e estabilidade.

Um pai ausente mas amoroso, irresponsável com detalhes da vida mas que ajuda quando está por perto. Dom, personagem marcante, é um retrato de parte da sociedade que na busca pro melhores condições para a família acaba abdicando de momentos importantes na formação dos filhos. Tempestade é um recorte que exala humanidade, duro, transformador quando estamos em um limite de nossas forças e de como todos os dias podemos aprender mais sobre nosso mundo.

A Garota Ocidental (2016) (Paquistão) – de Stephan Streker

Você é livre para fazer suas escolhas, mas, às vezes, prisioneiro das consequências. Abordando um grande conflito familiar envolvendo uma jovem maior de idade que possui um pensamento diferente de seu pai e mãe sobre com quem deve se casar, A Garota Ocidental apresenta argumentos a esse conflito imposto e um pouco da visão de todos que estão ao redor dessa família paquistanesa. A protagonista, interpretada pela ótima atriz francesa Lina El Arabi, é uma mulher de espírito livre que luta pelo que entende ser o certo em um pedaço de ocidente repleto de imigrantes com pensamentos de seus países de origem.

Na trama, conhecemos a jovem Zahira (Lina El Arabi) uma imigrante paquistanesa que mora na França e está totalmente adaptada ao seu estilo de vida nessa cidade. Quando chega aos 18 anos e seu pai e mãe impõem um casamento arranjado, onde ela deve escolher entre três pretendentes, a jovem com bastante coragem se diz contrária a decisão e acaba provocando um grande abalo na família. O subtítulo do filme no Brasil, entre o coração e a tradição é exatamente o conflito que a protagonista percorre durante intensos 98 minutos de projeção.

O conflito das aparências e costumes contra o lado da razão e emoção. Toda a trama se envolve em escolhas. A trajetória da protagonista é cheia de obstáculos provocados pelas imposições de sua família que deseja que ela se case com algum dos três pretendentes paquistaneses que pré definiram, além de passar por uma gravidez, fruto de um relacionamento com um alguém que ela achava que a amava. O irmão de Zahira, Amir (Sébastien Houbani), é peça chave nesse tabuleiro sentimental, se vê em grande conflito em como ajudar a resolver a situação. Os preenchimentos das lacunas emocionais e suas consequências são feitos de maneira cirúrgica pelas lentes do cineasta belga Stephan Streker (em seu terceiro longa metragem na carreira) que dirige e escreve o roteiro desse profundo drama exibido no Festival Internacional de Toronto, Rotterdam e Istambul deste ano.

A Garota Ocidental é um recorte sobre o mundo das tradições. Um filme que chega também como uma crítica social, seus limites emocionais a flor da pele e as saídas muitas vezes não encontradas pelos envolvidos. Com grandes atuações e um desfecho arrebatador, esse é um daqueles filmes que você não pode perder.

 

Her Love Boils Bathwater (2016) (Japão) – de Ryôta Nakano

A mãe compreende até o que os filhos não dizem. Chega do Japão um dos filmes mais sensíveis e emocionantes da temporada, uma mescla de comédia delicada com drama intenso que entra em nossos corações como uma flecha recheada de sentimentos bons. Her Love Boils Bathwater, ou no original, Yu wo wakasuhodo no atsui ai, é o indicado ao Oscar do Japão para a próxima cerimônia do Oscar e possui boas chances de conseguir uma vaguinha na lista final. Escrito e dirigido pelo cineasta Ryôta Nakano o filme apresenta a jornada de uma inesquecível personagem em busca do preenchimento de lacunas esquecidas em seu passado depois que descobre uma terrível doença. A sensibilidade que o filme preenche suas emoções é algo raro e transforma esse trabalho em um dos mais bonitos desses últimos meses.

Na trama, conhecemos a super querida Futaba (Rie Miyazawa, em uma atuação absolutamente fantástica) que mora sozinha com sua filha Azumi em uma casa humilde no delicioso Japão. Certo dia, Futaba descobre que tem uma doença terminal e quase paralelamente descobre onde seu ex-marido, que a abandonara, está morando. Vendo que precisa ter o ex-marido por perto, deixa ele voltar para a sua vida, sendo que o mesmo traz junto uma outra criança fruto de um caso que ele teve. Assim, os quatro embarcarão em uma jornada repleta de segredos para ajudar Futuba a realizar seus últimos desejos em vida.

O roteiro possui uma sensibilidade gigante. O primeiro arco, meio morno, na verdade é a construção inicial com inserções de detalhes que serão descobertos apenas com o passar do pouco mais de duas horas de projeção. Após a descoberta da terrível doença, Futaba começa a abrir seus segredos mais escondidos e o filme ganha contornos emocionantes (preparem desde já os lenços). Impressiona a qualidade dessa história que além de emocionar, tem um poder de surpreender o espectador.

O papel da mãe é algo abordado no filme nas óticas dos coadjuvantes em relação a protagonista. Mãe de muitos, mesmo sendo de poucos, Futaba é o reflexo de todo o amor que pode ter uma família quando tem uma figura carinhosa, forte, corajosa, para combater e proteger todos ao seu redor. A relação que a personagem principal tem com todos que a preenchem com amor é algo grandioso, sublime. Transborda na tela as razões de todo seu amor e o público se sente próximo a personagem em todo momento. A inesquecível atuação de Rie Miyazawa ajuda a deixar essa personagem na prateleira do imaginário cinéfilo como sendo um dos mais belos do cinema oriental contemporâneo.

 

Capitão Fantástico (2016) (EUA) – de Matt Ross

Viver é a coisa mais rara do mundo. A maioria das pessoas apenas existe. Escrito e dirigido pelo pouco conhecido ator e também cineasta Matt Ross, Capitão Fantástico é um daqueles filmes que deixam nosso coração na boca, faz nosso raciocínio brilhar e mexe intensamente com nosso modo de ver e viver tudo que aprendemos até hoje em nossas vidas. Exibido no Festival do Rio deste ano e com uma atuação brilhante do grande ator nova iorquino Viggo Mortensen, o longa metragem de objetivos 118 minutos é, sem dúvidas, um dos melhores filmes sobre o tema dos últimos anos.

Na trama, conhecemos Ben (Viggo Mortensen) e sua família para lá de diferente. Ben e sua esposa resolveram criar os seus seis filhos em um lugar muito bonito e longe da sociedade, deixando eles distantes de qualquer contato com as novidades e besteiras do mundo e sua globalização. Quando sua esposa, que precisou ser hospitalizada por conta de uma doença terrível, falece, Ben resolve ir até o encontro dela e leva junto seus filhos. Após o choque natural da criançada com o mundo da maioria das pessoas que os cercam mais que nunca tiveram contato, o capitão fantástico desta turma terá que fazer escolhas difíceis e confrontar pessoas que consideram seu modo de vida prejudicial aos seus filhos.

A educação exige os maiores cuidados, porque influi sobre toda a vida. Pensador desse lema, o protagonista criou seus filhos com rigidez e muita disciplina. Livros complexos são passados como dever de casa para todas as crianças, não importa a idade. As verdades são uma só e vários tabus de outras casas, para Ben, são apenas verdades que precisam ser ditas da única maneira que existe. O ambiente é de total harmonia, músicas (a cena da família cantando ‘Sweet Child o’Mine’ é emocionante e arrepia), brincadeiras mas também alguns excessos como exercícios físicos que não respeitam idade e que podem machucar. O personagem principal é intenso em seus princípios, a ideia de ter uma família vivendo longe dos vícios e futilidades, além dos alimentos que só prejudicam, é vivida intensamente mas falta equilíbrio, no fundo, Ben sabe disso.

No terceiro arco em diante, a mudança começa a acontecer. Ben, personagem complicado, de bom coração, interpretado com maestria por Mortensen se vê cercado de situações que o fazem repensar alguns de seus conceitos. Seus filhos, sua única riqueza nesse mundo, percebem rapidamente e o ajudam nesse momento de transição, transformando uma linda história em uma história inesquecível. Capitão Fantástico é algo assim, único, um presente para quem gosta de se emocionar com filmes que mexem com nosso coração. A grande lição que aprendemos com essa fita é que Capitão Fantástico é qualquer um que acredita que uma boa ideia pode mudar um pouquinho nosso mundo, ou mesmo que um filme inesquecível faz com que reflitamos sobre nossa própria existência. Seja o Capitão da sua vida, viva fantasticamente.

 

Bacalaureat (2016) (Romênia) – de Cristian Mungiu

Ética é a concepção dos princípios que escolhemos, moral é a sua prática. Depois de encantar o mundo cinéfilos com filmes como 4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias, o renomado cineasta romeno Cristian Mungiu volta ao universo cinematográfico, após um hiato de quatro anos, com o profundo longa metragem Bacalaureat, que lhe rendeu nada mais nada menos que o prêmio de melhor diretor no último e badalado Festival de Cannes. Explorando os caminhos tumultuados que um pai precisa tomar para que sua filha tenha uma vida distante dos problemas de onde vivem, Mungiu acaba fazendo uma grande exploração bastante Kantiana traçando um paralelo emblemático entre escolhas e consequências no mundo atual.

Na trama, conhecemos o médico Romeo (Adrian Titieni), um homem de idade mediana que mora com sua mulher Magda (Lia Bugnar) e sua filha Eliza (Maria-Victoria Dragus) em um bairro de classe média de uma cidade da Romênia. Romeo possui uma amante, Sandra (Malina Manovici), por quem possui um carinho enorme. Quando sua filha Eliza sofre uma violência a caminho da escola e isso a impede de completar a tempo questões de uma prova importante para o futuro dela, Romeu precisará caminhar por uma estrada onde uma linha tênue divide as posições da ética e da moral.

Um dos fatores mais interessantes do fantástico roteiro, escrito pelo próprio diretor do filme, é que as ações e consequências que vemos ao longo dos 122 minutos de projeção parecem um grande debate filosófico, pisando em linhas éticas e morais, passando pelo tráfego de influência e manipulação em um sistema de ensino rígido. Todas as peças contribuem para o debate, Romeo é apenas nossos olhos nesse tabuleiro de escolhas, um homem comum, com seus princípios, talvez nada diferente de mim ou de você.

As ações das pessoas influenciam o comportamento do indivíduo. Sem uma mancha no currículo e com uma reputação irreparável, Romeo em poucos dias ultrapassa todos os limites éticos possíveis fazendo com que sua personalidade mude e que as emoções fiquem à flor da pele. As variáveis do protagonista são muito bem exploradas pelas lentes inteligentes de Mungiu, percebemos o constrangimento e a decepção caminharem lado a lado, Romeo fica completamente esgotado. Os embates e diálogos com sua filha são as cerejas no bolo, definindo também uma necessidade de Eliza em trilhar seus próprios pensamentos, se distanciando da proximidade de seu pai e tomando as atitudes que melhor achar.

Discutir sobre a maneira de se comportar regulada pelo uso (moral) e os costumes (ética), é um prato cheio para nós cinéfilos que gostamos de traçar paralelos com nossa realidade. Esse filme tem muito de muitos lugares.

Como Nossos Pais (2017) (Brasil) – de Laís Bodanzky

Minha dor é perceber que apesar de termos feito tudo o que fizemos ainda somos os mesmos. Falando sobre a dura rotina impossibilitada do sonhar de uma mulher perto dos quarenta anos que descobre segredos de família e precisa lidar com um casamento em declínio, Como Nossos Pais, novo trabalho da excelente cineasta Laís Bodanzky (Bicho de Sete Cabeças), é um filme que emociona e gera reflexões, aliada a uma impactante atuação da atriz Maria Ribeiro que consegue prender a atenção do público do início ao fim. A Rosa de Laís Bodanzky é tão ou mais forte que a Clara de Kleber Mendonça Filho. É lindo ver dois dos grandes filmes nacionais dos últimos anos terem protagonistas femininas tão marcantes, inesquecíveis.

Na trama, conhecemos Rosa (Maria Ribeiro) uma mulher guerreira que está em crise no casamento com seu marido Dado (Paulo Vilhena), infeliz no emprego que tem e ainda é pega de surpresa com uma notícia atordoante de sua mãe Clarisse (Clarisse Abujamra) que seu pai Homero (Jorge Mautner) na verdade não é seu pai. Essa notícia mexe bastante com a protagonista que passa por uma grande transformação ao longo de todos os 102 minutos de projeção.

Uma super heroína dos nossos tempos, Rosa, precisa conciliar seu tempo com a educação de suas filhas pequenas, tentar ajustes em seu casamento recheado de desconfiança e crise financeira, e uma perturbação inquieta para tentar se encontrar com seu verdadeiro pai que possui um alto cargo do governo. Rosa é o reflexo da força feminina nos dias de hoje. Como para todo ser humano as atitudes, chegam em forma de inconsequência, como a aproximação com o pai de um dos alunos da escola de suas filhas e as explosões em diálogos emocionantes e marcantes com sua mãe. Em uma atuação irrepreensível, Maria Ribeiro dá não só vida a personagem, a torna muito real e, assim, em nossas lembranças mais curtas podemos encontrar uma Rosa em cada esquina.

Na parede da memória, a lembrança é o quadro que dói mais. Epicentro, estopim, da virada na história e quando acontece a virada da personagem, a dúvida de ir ou não atrás do pai biológico chega ao mesmo tempo que memórias com seu pai de criação, o maluco beleza Homero (Jorge Mautner) afloram em seus pensamentos mesmo que entrando em conflito com as atitudes irresponsáveis dele na vida.

Recentemente estreou Mulher-Maravilha nos cinemas. Mas a história muito mais marcante, talvez a verdadeira Mulher-Maravilha, a da vida real, que troca a luta com super poderes por tentativas diárias de conseguir esticar as 24 horas do relógio e ser feliz está nesse ótimo filme e você simplesmente não pode perder.

 

Fortunata (2017) (Itália) – de Sergio Castellitto

Exibido no último Festival de Cannes, na mostra Um Certo Olhar, o drama Fortunata é mais uma grata surpresa europeia que infelizmente ainda não tem data de estreia no cirucito exibidor brasileiro. O projeto, dirigido pelo ator e diretor italiano Sergio Castellitto, ganhador de alguns prêmios internacionais, dá luz ao papel da mãe em um mundo repleto de desafios, tendo que superar obstáculos do passado para seguir em frente, não desistir dos seus sonhos e dar o máximo de amor para sua herdeira. O elenco, grande força desse belo trabalho, é encabeçado pela apaixonante e talentosa Jasmine Trinco (nova musa de Cannes) que realmente eleva a qualidade desse pequeno bom filme.

Na trama, ambientada nos dias atuais no subúrbio de Roma, conhecemos Fortunata, uma bela cabeleireira delivery de meia idade que possui um sonho de ter seu próprio empreendimento, um salão de beleza no centro da cidade onde mora. A protagonista tem uma filha, sua maior paixão do mundo, mas com quem tem um relacionamento complicado, provocado, muito, pelo seu afastamento do ex-marido, figura que sempre a rodeia. Certo dia, Fortunata resolve levar a filha para ver um psicólogo/psiquiatra, por quem a protagonista acaba vivendo um intenso romance.

A personagem principal é uma mulher incrível, uma personagem marcante. Uma mescla de beleza e ingenuidade, camuflada de grande leoa que faz de tudo para dar para sua filha uma vida confortável e repleta de amor e carinho. Suas batalhas diárias com o ex-marido, esse que não aceita a separação de jeito nenhum, a busca do sonho em ter seu próprio salão de beleza, preenchem a tela com cenas emocionantes que dizem muito sobre a personalidade da carismática protagonista. Vale o destaque para a atriz italiana Jasmine Trinco (Um Novo Dueto, Maravilhoso Boccaccio), que cumpre com louvor um papel complexo e cheio de contextos emocionais.

A vida de Fortunata ganha novos contornos com a entrada do psicólogo/psiquiatra em sua vida. Antes, receosa quanto levar sua filha para ser consultado pelo médico, depois acaba se consultando com ele e se apaixonando, o que deixa mais tumultuado sua relação com a filha e com outros personagens que contornam o longa. A surpreendente trilha sonora ganha muito destaque, sempre nos fechamento de arcos e acompanha a poderosa protagonista em busca do seu passaporte para a felicidade nesse projeto que merece ser conferido por todos que amam cinema.

Min så kallade pappa (2014) (Suécia) – de Ulf Malmros

A força da maternidade é maior que as leis da natureza. Lançado na Suécia em setembro de 2014, o longa-metragem Min så kallade pappa (ainda sem tradução para o Brasil) é um daqueles belos filmes que infelizmente quase certo de eu nunca veremos por aqui. O projeto conta com o grande ator sueco Michael Nyqvist e é dirigido pelo experiente diretor Ulf Malmros. Utilizando bem a realidade e os pés nos chão para contar uma história que tinha tudo para ser um filminho de sessão da tarde, Min så kallade pappa é um filme que você precisa conferir.

Na trama, conhecemos a futura mamãe e professora do jardim de infância Malin (Vera Vitali), uma mulher com garra e atitude que está passando por um momento de separação com o futuro pai de seu primeiro filho. Definida a tomar atitudes corajosas sobre seu futuro, resolve ir em busca do pai que nunca conhecemos, Martin (Michael Nyqvist), um veterano ator de teatro que nunca fez questão de procurar notícias de sua única filha. Durante o inusitado encontro, Martin sofre uma espécie de derrame e perde parte da memória. Assim, é a grande oportunidade de Malin se aproximar de seu desconhecido pai.

O fato que mais chama a atenção nesta fita sueca é a forma realista que o diretor apresenta os fatos e segue as linhas dos diálogos neste forte drama. Martin e sua personalidade forte, parece lutar contra seu passado a todo instante, até quando perde a memória. Malin vive todos os atos do filme atormentada por um passado que se mistura com o presente, sentindo que o futuro filho vai sofrer da mesma forma como sofreu quando seu pai a rejeitou quando criança. A linha de raciocínio para entendermos melhor a profundidade das características de cada personagem é feita de maneira brilhante.

Min så kallade pappa é para corações fortes, se aproxima um poucos das duras realidades mostrada por Susanne Bier e um pouco da poesia melancólica dos trabalhos de Isabel Coixet. Ao longo das cerca de duas horas de projeção o público se emociona e torce pela sofrida personagem a todo instante. Min så kallade pappa é um belo filme que mescla uma realidade quase que infinita e uma linda poesia quase que melancólica.

 

Que Mal Fiz a Deus? (2014) (França) – de Philippe de Chauveron

O segredo da felicidade é escolher a comédia e largar o drama. Dirigido pelo desconhecido francês Philippe de Chauveron, chegou aos cinemas brasileiros no dia 06 de agosto de 2014 uma das mais engraçadas comédias francesas dos últimos anos, Que Mal Fiz a Deus? Contando com uma atuação para lá de inspirada do veterano ator Christian Clavier, o filme se sustenta nas irritações hilárias do personagem principal que entra em total desespero quando sabe dos pretendentes das suas quatro filhas.

Na trama, conhecemos o tradicional Claude Verneuil (Christian Clavier), um homem com uma vida boa que vive seu final de vida ao lado da esposa com quem tem quatro filhas. A pacata vida deste orgulhoso cidadão francês é completamente abalada quando é apresentado aos pretendentes de suas filhas, cada um dos noivos tem uma religião diferente e o tradicional Claude entra em total loucura quando sabe desta informação. Sua esperança era a última filha que vai casar mas surpresas o aguardam.

O roteiro é simples, nada que não tenhamos já visto em outros filmes europeus, mas a qualidade na direção e atuações fazem a diferença para tornar esta fita diferente. Faz leves críticas a assuntos muitas vezes tratados com demasiado drama, isso é a forma inteligente do filme mostrar que o bom senso existe. A mensagem é passada e todos saem satisfeitos com o resultado. É o tipo de filme que o público ama mas os críticos as vezes não gostam, principalmente quando pensamos sobre os clichês que acabam sendo cerejas nesse bolo cinematográfico francês.

Que Mal Fiz a Deus? É um dos filmes que você vai rir do início ao fim. O roteiro apresenta suas imperfeições principalmente nos arcos finais mas nada que atrapalhe tamanha simpatia dos atores em cena. É, sem dúvidas, uma das melhores comédias francesas dos últimos anos.

Os Cowboys (2016) (França) – de Thomas Bidegain

Até onde devemos ir por quem amamos mas não querem estar perto com nossa presença? Um dos filmes mais fortes do Festival Varilux de Cinema Francês 2016, sem dúvidas nenhuma, foi o espetacular drama Os Cowboys, protagonizado pelo ótimo ator François Damiens e com uma atuação digna de Oscar do ator britânico Finnegan Oldfield. Ao longo dos tensos 105 minutos de projeção, onde não conseguimos desgrudar os olhos da tela, vamos sendo apresentados a personagem movidos pela angústia e uma série de consequentes ações desesperadas em prol de único objetivo que acaba consumindo e destruindo uma família de classe média francesa. Em seu primeiro longa-metragem como diretor, o cineasta francês Thomas Bidegain brinda o público com uma trama muito bem dirigida e com atuações bem acima da média.

Na trama, conhecemos brevemente toda a família de Alain (François Damiens), um trabalhador de classe média que mora com sua mulher e os dois filhos no leste francês. Alain é um amante da cultura country e sempre vai com sua família a um famoso encontro onde confraterniza com outros amigos. Certo dia, num desses encontros, sua filha Kelly desaparece misteriosamente, levando Alain a uma desesperada busca por informações sobre a jovem. Os anos se passam e somente seu filho Kid (Finnegan Oldfield), que praticamente sacrifica sua adolescência, acredita e ajuda seu pai a tentar encontrar Kelly.

O clima é tenso desde o início. A trilha sonora composta por Moritz Reich (Fique Comigo, 2015) encaixa como uma luva e consegue deixar o público em total sinal de atenção as sequências fortes. François Damiens, na pele de Alain está possuído, embarca em um caminho sem rumo desesperado em busca de sua filha. A angústia é constante e impressionante. Isso obviamente destrói seu relacionamento com o restante de sua família. Essa estrada sem fim é acompanhada de perto por seu filho Kid que é o único que também ainda acredita que eles possam encontrá-la. Os Cowboys é um filme sobre família mas também sobre até onde o ser humano pode ir para defender suas convicções.

O longa é recheado de reviravoltas. Uma delas é que Kelly não é sequestrada. O porquê do sumiço dela (que não vou contar aqui) é um dos grandes trunfos do filme que explora muito bem a reação da família ao saber o que aconteceu com ela. Uma segunda surpresa é a surpreendente troca de protagonismo já entre o segundo e o terceiro ato, com o mesmo objetivo só que com um olhar um pouco diferente sob a situação a trama cresce demais nos últimos 30 minutos de projeção.

Apenas entre Nós (2010) (Eslovênia) – de Rajko Grlic

Falando sobre relacionamentos, família e infidelidades à flor da pele, o diretor croata Rajko Grlic, que dirigiu o ótimo Karaula (2006), apresenta ao público uma fábula moderna sobre o amor e o desejo, situada em uma europa fria mas com impulsos ardentes incansáveis. A câmera de Grlic merece destaque pois consegue encontrar os caminhos para traduzir ao público cada detalhe das ações, muitas impensadas, pelos personagens.

Para o personagem principal, interpretado brilhantemente pelo Tony Ramos da Croácia, Miki Manojlovic, só existem duas religiões: O amor e as outras. Assim, os curtos 88 minutos de projeção, vão se moldando a partir de situações e descobertas de um quarteto familiar que não encontra o ponto de equilíbrio na maturidade que regem suas vidas. Cada personagem, cada um mais interessante do que o outro, vão dando um certo ritmo à fita vencedora de alguns prêmios no leste europeu no ano de seu lançamento, 2011.

Há a questão cultural, diferente da que vemos por aqui (ou nem tanto), sobre a maturidade no amor. Uma das coisas mais interessantes neste longa-metragem é exatamente descobrir ou tentar entender melhor como são os conflitos amorosos aos olhos dos filhos da região que comportava a ex-união soviética. Mas o filme é longe de ser somente um retrato de uma comunidade, é amplo em tentar apresentar argumentos para as teorias dos relacionamentos modernos e todo o impulso, não só sexual, que envolve muitas relações.

Com certo atraso, Apenas Entre Nós finalmente chegou aos cinemas brasileiros há dois anos atrás. Esse é um filme que Nelson Rodrigues abriria um sorriso e faria rapidamente analogias certeiras com muitas de suas eternas histórias.

A Família Belier (2014) (França) – de Eric Lartigau

O que é uma família senão o mais admirável dos governos? O novo trabalho do cineasta francês Eric Lartigau (do questionado Os Infiéis) é uma comédia ao melhor estilo sessão da tarde mas com elementos tão sensíveis que elevam a qualidade da trama a cada frame. Só mesmo um cinema como o francês, que exala qualidade em muitos de seus títulos, para falar com tamanha sutileza sobre os problemas que ocorrem dentro de uma casa.

Na trama, conhecemos os fazendeiros simpáticos que fazem parte da Família Bélier. A história gira em torno da jovem Paula (interpretada pela ex-concorrente do The Voice francês Louane Emera), uma estudante que ao entrar por acaso em uma aula de canto do colégio, percebe que tem o dom de cantar. Paula vive com sua família, onde todos são surdos e mudos exceto ela, e se dedica diariamente as afazeres familiares e as inúmeras traduções que precisa fazer para ajudar os membros de sua família a terem uma vida mais tranquila. Tudo isso muda quando Paula resolve tentar a sorte em uma seleção para uma escola de canto em Paris. Essa decisão irá mudar de vez o cotidiano de todos na família.

O filme se destaca quando, em meio aos clichês do gênero, consegue ser original pela força dos seus personagens. O entrosamento entre os ótimos François Damiens e Karin Viard (que somando suas carreiras possuem mais de 100 trabalhos no cinema) é de dar água na boca, pintam e bordam fazendo todos os espectadores gostarem desse inusitado casal. A cereja no bolo é a fofíssima Louane Emera, querida artista na França por ter participado de um reality show de sucesso, que consegue desempenhar muito bem seu papel mesmo debutando no cinema neste filme.

Não percam essa deliciosa comédia que, entre outras coisas, fará você levitar de alegria com as lindas canções que ouvimos ao longo da fita, grudam que nem chiclete ou que nem aquela música da Simone em véspera de natal. Como dizia o pensador russo Tolstoi: “A verdadeira felicidade está na própria casa, entre as alegrias da família.”!

 

Wish I Was Here (2014) (EUA) – de Zach Braff

A adversidade é um trampolim para a maturidade. Em seu terceiro longa-metragem do currículo, o norte-americano Zach Braff, que você já deve ter ouvido falar por conta do seriado Scrubs, volta a falar sobre dramas familiares e personagens complexos no intrigante e cheio de metáforas Wish I Was Here. O filme é um drama comovente sobre a arte do crescer e saber a hora certa de adicionar componentes de maturidade nas suas escolhas de vida.

Na trama, conhecemos um ator desempregado chamado Aidan (Zach Braff), pai de dois filhos, que vive às custas de sua mulher Sarah (Kate Hudson) que é extremamente infeliz no casamento. Para piorar, seu pai Gabe (Mandy Patinkin) está com câncer terminal e sua vida começa a desabar ao seu redor. Assim, o protagonista embarcará em uma jornada em busca de um novo sentido para seu destino.

Wish I Was Here é uma história madura sobre as verdades do mundo lá fora. O protagonista vive em busca de seu sonho mas acaba esquecendo das coisas básicas como por exemplo sustentar sua família. O roteiro de Zach Braff brilha nesse momento. Acomodado pelo sustento de sua mulher e pela ajuda considerável que seu pai lhe dava, o personagem entra em parafuso quando precisa aprender a caminhar sozinho, mesmo que forçadamente. Esse longa-metragem é uma história totalmente possível em nossa realidade, principalmente quando pensamos naquele amigo que sempre foi mimado por sua família, talvez por isso que a história chegue com um certo impacto para cada um de nós cinéfilos.

O termômetro da trama é a esposa do protagonista, Sarah, interpretada de maneira muito competente por Kate Hudson. Há uma sutileza, uma energia enlatada que vai saindo em cada cena. Prestamos atenção atentamente a cada passo de Sarah, principalmente porque quando aparece em cena brilha e nos trás respostas a lacunas não preenchidas, resumindo, acaba sendo o ponto de intercessão de toda a trama.

Como em todo filme de Braff, uma ótima trilha sonora se mistura adequadamente às sequências. Falando no diretor, esse artista completo, é um dos poucos que conseguem dirigir e atuar com muito êxito em seus projeto. Quem não lembra do ótimo Hora de Voltar com Natalie Portman? Se continuar nessa caminhada de sucesso, a cada novo projeto que Braff assina, mais ansiedade vai gerar aos amantes do bom cinema.

*Bônus*

Coração Mudo (Dinamarca) (2014) – de Bille August

Depois de belíssimos trabalhos comandando filmes europeus de qualidade, o diretor Bille August volta às telonas, dessa vez, para dirigir um drama contundente, cheio de reviravoltas e emoção. Coração Mudo é uma espécie de Festa em Família com uma roupagem diferente mas com as mesmas surpresas e personagens intrigantemente fascinantes.

Na trama, conhecemos Esther (Ghita Nørby), uma senhora de idade avançada que em certo momento resolveu dar um fim à sua vida, antes porém, resolve passar um último final de semana com sua família (que está por completa ciente do eminente suicídio). Quando chega o fatídico dia, ações e emoções descontroladas começam a tomar conta da história, com muitos personagens mudando de opinião a todo instante sobre a situação.

Conflitos, dor e sofrimento estão contidos em cada um dos numerosos e árduos diálogos que contém a fita. Entendemos a situação inusitada do suicídio/eutanásia pela ótica de cada um dos personagens. Cada momento dramático é construído de maneira inteligente e nunca o filme se torna maçante. É fácil se envolver por essa história, o epicentro da trama é uma atitude corajosa e bastante polêmica. Coração Mudo é o clássico filme onde as atuações precisam ser muito convincentes para a fórmula do roteiro dar certo. Felizmente, isso acontece do primeiro ao último minuto.

Paprika Steen esbanja competência mais uma vez com sua recatada, descontrolada e emotiva Heidi.

Os detalhados momentos cômicos ficam à cargo do ótimo ator Pilou Asbæk que dá vida ao confuso mais carismático Dennis. Mas quem rouba a cena é a protagonista Esther, interpretada pela maravilhosa Ghita Nørby (a Diane Keaton da Dinamarca). Em simples diálogos ou em momentos de total força emotiva em cena, a experiente artista dá um verdadeiro show. Grande filme, grandes atuações! Bravo!

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15 Grandes Filmes sobre Família

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Você já deve ter escutado a frase: ‘Família é a base de tudo‘. Mesmo o relacionamento sendo conturbado muitas vezes, nossos parentes são, teoricamente, os nossos alicerces em momentos de dor e incertezas. O mundo do cinema, ano após ano, projeta na telona excelentes filmes que abordam de várias óticas o relacionamento familiar, seja um contexto geral de toda a família, seja um retrato de pais e filhos, seja um casamento com ambos pontos de vista. Pensando nisso, e tentando fugir o máximo do óbvio, buscamos filmes que exemplificam todo esse contexto. Tirando um ou outro, é provável que você não conheça todos esses, mas vale muito a pena procurarem.

Other People (2016) (EUA) – de Chris Kelly

Não precisamos ser perfeitos o tempo todo para que nossas famílias nos amem. Debutante em longas metragens, o cineasta Chris Kelly, dirige e assina o roteiro deste belíssimo filme que explora com muita simpatia assuntos tabus de uma família de classe média norte americana. Other People é um grande aulão sobre os muitos lados das emoções, um filme rico em conteúdo, corajoso que faz questão de expor as polêmicas como forma de refletirmos sobre os temas abordados. O projeto conta com uma atuação espetacular da veterana atriz Molly Shannon que nos emociona do início ao fim com sua impactante personagem.

Na trama, conhecemos o roteirista, sem grande sucesso, David (Jesse Plemons), um jovem que mora em nova Iorque e precisa voltar para a cidade que nasceu, em Sacramento, por conta de uma grave doença de sua mãe Joanne (Molly Shannon). Tendo que voltar a morar na casa onde foi criado, e tendo que enfrentar suas diferenças com seu pai, David passará meses tentando se redescobrir e renovando seu amor por sua família. Ao longo dos 97 minutos de projeção somos testemunhas de uma pequena grande história sobre as formas de demonstrar o amor familiar.

Indicado em quatro categorias do Independent Spirit Awards 2017, Other People é aquela surpresa que todos nós cinéfilos gostamos de encontrar. Atualmente no ótimo catálogo da Netflix, o filme explora com muita sabedoria as principais características de seus personagens que ficam envolvidos em uma situação de muita tristeza com a doença da mãe. Como cada um deles lida com isso (com um foco gigante na visão de David), o filme nos envolve com embates via diálogos primorosos e lições de vida que levamos para nossas próprias vidas. A atuação de Molly Shannon, que faz a mãe, é deslumbrante, uma das mais impactantes.

Other People concorreu ao Grande Prêmio do Júri no importante Festival de Sundance 2016. Se você tiver a chance de assistir a esse belo trabalho, não deixe de conferir. O amor transborda em forma de perdão e esperança.

 

Muzi v nadeji (2011) – (Repúblic Tcheca) – de Jirí Vejdelek

As sutilezas do amor. Escrito e dirigido pelo cineasta tcheco Jirí Vejdelek, Muzi v nadeji (2011) é um filme despretensioso, que se camufla em comédia pastelão mas aos poucos vai cativando nossos corações. Fala muito sobre o amor a quatro paredes, de maneiras um tanto quanto inusitadas, representado por um quarteto de atores inspirados que conquistam o público a cada cena. Uma pequena obra prima européia, perdida, provavelmente nunca vista mas que merece os olhos de todos que amam cinema.

Na trama, conhecemos o ex-contador e agora garçom do restaurante da família Ondrej (Jirí Machácek), um homem de fala mansa que vive graves problemas em seu casamento com Alice (Petra Hrebícková). Certo dia, em uma das inúmeras saidinhas do seu sogro Rudolf (Bolek Polívka), das quais Ondrej sempre acaba virando cúmplice, a dupla vai parar em um snooker bar onde encontram a belíssima Sarlota (Vica Kerekes), conhecida do traidor compulsivo Rudolf. Só que dessa vez, a provável conquista acaba ficando encantada com Ondrej que começa a conhecer melhor Sarlota. Assim, posta a confusão, o quarteto enfrentará situações inusitadas em busca da tão sonhada felicidade.

Alimentado por desejos quase compulsivos as ações acontecem a partir das revelações de Rudolf, que trai a mulher faz anos e com diversas damas diferentes. Ele se sente bem com isso, e acredita que assim consegue manter a chama acesa com sua esposa até os dias de hoje. Ondrej, muito próximo do sogro, afinal são vizinhos, acaba embarcando nessa onda, só que sem a experiência de Rudolf, se mete no inusitado caso extra conjugal com Sarlota, o que de fato faz melhorar seu relacionamento com Alice mas a todo instante ele não sabe como lidar com isso. Muitas cenas hilárias dão luz a essa verdade, os diálogos entre Rudolf e Ondrej são ótimos e repletos de simpatia.

A princípio, pensamos que Muzi v nadeji é uma comédia bobinha, com recheio sexy sem muitas pretensões. Mas o que impressiona no roteiro, escrito também pelo diretor, é a forma que acontecem as viradas na história, uma melhor que a outra, e com todos os personagens envolvidos, deixando o público se abastecer de risadas deliciosas e momentos cativantes que muito mostram as verdades de diversos relacionamentos.

Tempestade (2015) (França) – de Samuel Collardey

Temos o destino que merecemos. O nosso destino está de acordo com os nossos méritos. Vencedor de dois prêmios no aclamado Festival Internacional de Cinema de Veneza em 2015, Tempête, no original, dirigido pelo francês Samuel Collardey, é uma daquelas pérolas sensíveis, raras, que explora a ausência até seu último suspiro. Dúvidas e escolhas são bastante explorados pelos personagens, repletos de indagações e sonhos, quase análogos à incerteza quando estamos passando por uma fase adolescente para a fase adulta. Um recorte maduro sobre a paternidade e a busca por melhores condições para uma família.

Na trama, conhecemos o pescador Dom (Dominique Leborne), um homem perto dos quarenta anos que trabalha em alto mar ficando pouco tempo por mês em terra. Ele recentemente se divorciou e conseguiu a guarda de seus dois filhos, Mailys (Mailys Leborne) e Matteo (Matteo Leborne) que escolheram ficar com ele por terem problemas com a mãe. Mesmo ausente, Dom sempre preenche a casa onde vive com os filhos de amor e carinho, mesmo com algumas irresponsabilidades. Quando a filha fica grávida aos dezesseis anos, Dom precisará encarar escolhas que mudarão para sempre os rumos dessa família.

A ausência é um tema importante, explorado com leveza, também acompanha toda a história, os caminhos da maturidade até a responsabilidade, grande dilema do protagonista. Há um certo descontrole quando se vê cheio de tempestades em sua vida, com a eminência da perda da guarda de seus filhos e a decisão de pensar em um trabalho remunerado que o deixe mais presente, em terra, perto deles. Movido pelo amor que tem pelos filhos, o protagonista embarca em uma transformação em sua vida pessoal e profissional, se apegando em seus sonhos para escrever um horizonte cheio de esperança e estabilidade.

Um pai ausente mas amoroso, irresponsável com detalhes da vida mas que ajuda quando está por perto. Dom, personagem marcante, é um retrato de parte da sociedade que na busca pro melhores condições para a família acaba abdicando de momentos importantes na formação dos filhos. Tempestade é um recorte que exala humanidade, duro, transformador quando estamos em um limite de nossas forças e de como todos os dias podemos aprender mais sobre nosso mundo.

A Garota Ocidental (2016) (Paquistão) – de Stephan Streker

Você é livre para fazer suas escolhas, mas, às vezes, prisioneiro das consequências. Abordando um grande conflito familiar envolvendo uma jovem maior de idade que possui um pensamento diferente de seu pai e mãe sobre com quem deve se casar, A Garota Ocidental apresenta argumentos a esse conflito imposto e um pouco da visão de todos que estão ao redor dessa família paquistanesa. A protagonista, interpretada pela ótima atriz francesa Lina El Arabi, é uma mulher de espírito livre que luta pelo que entende ser o certo em um pedaço de ocidente repleto de imigrantes com pensamentos de seus países de origem.

Na trama, conhecemos a jovem Zahira (Lina El Arabi) uma imigrante paquistanesa que mora na França e está totalmente adaptada ao seu estilo de vida nessa cidade. Quando chega aos 18 anos e seu pai e mãe impõem um casamento arranjado, onde ela deve escolher entre três pretendentes, a jovem com bastante coragem se diz contrária a decisão e acaba provocando um grande abalo na família. O subtítulo do filme no Brasil, entre o coração e a tradição é exatamente o conflito que a protagonista percorre durante intensos 98 minutos de projeção.

O conflito das aparências e costumes contra o lado da razão e emoção. Toda a trama se envolve em escolhas. A trajetória da protagonista é cheia de obstáculos provocados pelas imposições de sua família que deseja que ela se case com algum dos três pretendentes paquistaneses que pré definiram, além de passar por uma gravidez, fruto de um relacionamento com um alguém que ela achava que a amava. O irmão de Zahira, Amir (Sébastien Houbani), é peça chave nesse tabuleiro sentimental, se vê em grande conflito em como ajudar a resolver a situação. Os preenchimentos das lacunas emocionais e suas consequências são feitos de maneira cirúrgica pelas lentes do cineasta belga Stephan Streker (em seu terceiro longa metragem na carreira) que dirige e escreve o roteiro desse profundo drama exibido no Festival Internacional de Toronto, Rotterdam e Istambul deste ano.

A Garota Ocidental é um recorte sobre o mundo das tradições. Um filme que chega também como uma crítica social, seus limites emocionais a flor da pele e as saídas muitas vezes não encontradas pelos envolvidos. Com grandes atuações e um desfecho arrebatador, esse é um daqueles filmes que você não pode perder.

 

Her Love Boils Bathwater (2016) (Japão) – de Ryôta Nakano

A mãe compreende até o que os filhos não dizem. Chega do Japão um dos filmes mais sensíveis e emocionantes da temporada, uma mescla de comédia delicada com drama intenso que entra em nossos corações como uma flecha recheada de sentimentos bons. Her Love Boils Bathwater, ou no original, Yu wo wakasuhodo no atsui ai, é o indicado ao Oscar do Japão para a próxima cerimônia do Oscar e possui boas chances de conseguir uma vaguinha na lista final. Escrito e dirigido pelo cineasta Ryôta Nakano o filme apresenta a jornada de uma inesquecível personagem em busca do preenchimento de lacunas esquecidas em seu passado depois que descobre uma terrível doença. A sensibilidade que o filme preenche suas emoções é algo raro e transforma esse trabalho em um dos mais bonitos desses últimos meses.

Na trama, conhecemos a super querida Futaba (Rie Miyazawa, em uma atuação absolutamente fantástica) que mora sozinha com sua filha Azumi em uma casa humilde no delicioso Japão. Certo dia, Futaba descobre que tem uma doença terminal e quase paralelamente descobre onde seu ex-marido, que a abandonara, está morando. Vendo que precisa ter o ex-marido por perto, deixa ele voltar para a sua vida, sendo que o mesmo traz junto uma outra criança fruto de um caso que ele teve. Assim, os quatro embarcarão em uma jornada repleta de segredos para ajudar Futuba a realizar seus últimos desejos em vida.

O roteiro possui uma sensibilidade gigante. O primeiro arco, meio morno, na verdade é a construção inicial com inserções de detalhes que serão descobertos apenas com o passar do pouco mais de duas horas de projeção. Após a descoberta da terrível doença, Futaba começa a abrir seus segredos mais escondidos e o filme ganha contornos emocionantes (preparem desde já os lenços). Impressiona a qualidade dessa história que além de emocionar, tem um poder de surpreender o espectador.

O papel da mãe é algo abordado no filme nas óticas dos coadjuvantes em relação a protagonista. Mãe de muitos, mesmo sendo de poucos, Futaba é o reflexo de todo o amor que pode ter uma família quando tem uma figura carinhosa, forte, corajosa, para combater e proteger todos ao seu redor. A relação que a personagem principal tem com todos que a preenchem com amor é algo grandioso, sublime. Transborda na tela as razões de todo seu amor e o público se sente próximo a personagem em todo momento. A inesquecível atuação de Rie Miyazawa ajuda a deixar essa personagem na prateleira do imaginário cinéfilo como sendo um dos mais belos do cinema oriental contemporâneo.

 

Capitão Fantástico (2016) (EUA) – de Matt Ross

Viver é a coisa mais rara do mundo. A maioria das pessoas apenas existe. Escrito e dirigido pelo pouco conhecido ator e também cineasta Matt Ross, Capitão Fantástico é um daqueles filmes que deixam nosso coração na boca, faz nosso raciocínio brilhar e mexe intensamente com nosso modo de ver e viver tudo que aprendemos até hoje em nossas vidas. Exibido no Festival do Rio deste ano e com uma atuação brilhante do grande ator nova iorquino Viggo Mortensen, o longa metragem de objetivos 118 minutos é, sem dúvidas, um dos melhores filmes sobre o tema dos últimos anos.

Na trama, conhecemos Ben (Viggo Mortensen) e sua família para lá de diferente. Ben e sua esposa resolveram criar os seus seis filhos em um lugar muito bonito e longe da sociedade, deixando eles distantes de qualquer contato com as novidades e besteiras do mundo e sua globalização. Quando sua esposa, que precisou ser hospitalizada por conta de uma doença terrível, falece, Ben resolve ir até o encontro dela e leva junto seus filhos. Após o choque natural da criançada com o mundo da maioria das pessoas que os cercam mais que nunca tiveram contato, o capitão fantástico desta turma terá que fazer escolhas difíceis e confrontar pessoas que consideram seu modo de vida prejudicial aos seus filhos.

A educação exige os maiores cuidados, porque influi sobre toda a vida. Pensador desse lema, o protagonista criou seus filhos com rigidez e muita disciplina. Livros complexos são passados como dever de casa para todas as crianças, não importa a idade. As verdades são uma só e vários tabus de outras casas, para Ben, são apenas verdades que precisam ser ditas da única maneira que existe. O ambiente é de total harmonia, músicas (a cena da família cantando ‘Sweet Child o’Mine’ é emocionante e arrepia), brincadeiras mas também alguns excessos como exercícios físicos que não respeitam idade e que podem machucar. O personagem principal é intenso em seus princípios, a ideia de ter uma família vivendo longe dos vícios e futilidades, além dos alimentos que só prejudicam, é vivida intensamente mas falta equilíbrio, no fundo, Ben sabe disso.

No terceiro arco em diante, a mudança começa a acontecer. Ben, personagem complicado, de bom coração, interpretado com maestria por Mortensen se vê cercado de situações que o fazem repensar alguns de seus conceitos. Seus filhos, sua única riqueza nesse mundo, percebem rapidamente e o ajudam nesse momento de transição, transformando uma linda história em uma história inesquecível. Capitão Fantástico é algo assim, único, um presente para quem gosta de se emocionar com filmes que mexem com nosso coração. A grande lição que aprendemos com essa fita é que Capitão Fantástico é qualquer um que acredita que uma boa ideia pode mudar um pouquinho nosso mundo, ou mesmo que um filme inesquecível faz com que reflitamos sobre nossa própria existência. Seja o Capitão da sua vida, viva fantasticamente.

 

Bacalaureat (2016) (Romênia) – de Cristian Mungiu

Ética é a concepção dos princípios que escolhemos, moral é a sua prática. Depois de encantar o mundo cinéfilos com filmes como 4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias, o renomado cineasta romeno Cristian Mungiu volta ao universo cinematográfico, após um hiato de quatro anos, com o profundo longa metragem Bacalaureat, que lhe rendeu nada mais nada menos que o prêmio de melhor diretor no último e badalado Festival de Cannes. Explorando os caminhos tumultuados que um pai precisa tomar para que sua filha tenha uma vida distante dos problemas de onde vivem, Mungiu acaba fazendo uma grande exploração bastante Kantiana traçando um paralelo emblemático entre escolhas e consequências no mundo atual.

Na trama, conhecemos o médico Romeo (Adrian Titieni), um homem de idade mediana que mora com sua mulher Magda (Lia Bugnar) e sua filha Eliza (Maria-Victoria Dragus) em um bairro de classe média de uma cidade da Romênia. Romeo possui uma amante, Sandra (Malina Manovici), por quem possui um carinho enorme. Quando sua filha Eliza sofre uma violência a caminho da escola e isso a impede de completar a tempo questões de uma prova importante para o futuro dela, Romeu precisará caminhar por uma estrada onde uma linha tênue divide as posições da ética e da moral.

Um dos fatores mais interessantes do fantástico roteiro, escrito pelo próprio diretor do filme, é que as ações e consequências que vemos ao longo dos 122 minutos de projeção parecem um grande debate filosófico, pisando em linhas éticas e morais, passando pelo tráfego de influência e manipulação em um sistema de ensino rígido. Todas as peças contribuem para o debate, Romeo é apenas nossos olhos nesse tabuleiro de escolhas, um homem comum, com seus princípios, talvez nada diferente de mim ou de você.

As ações das pessoas influenciam o comportamento do indivíduo. Sem uma mancha no currículo e com uma reputação irreparável, Romeo em poucos dias ultrapassa todos os limites éticos possíveis fazendo com que sua personalidade mude e que as emoções fiquem à flor da pele. As variáveis do protagonista são muito bem exploradas pelas lentes inteligentes de Mungiu, percebemos o constrangimento e a decepção caminharem lado a lado, Romeo fica completamente esgotado. Os embates e diálogos com sua filha são as cerejas no bolo, definindo também uma necessidade de Eliza em trilhar seus próprios pensamentos, se distanciando da proximidade de seu pai e tomando as atitudes que melhor achar.

Discutir sobre a maneira de se comportar regulada pelo uso (moral) e os costumes (ética), é um prato cheio para nós cinéfilos que gostamos de traçar paralelos com nossa realidade. Esse filme tem muito de muitos lugares.

Como Nossos Pais (2017) (Brasil) – de Laís Bodanzky

Minha dor é perceber que apesar de termos feito tudo o que fizemos ainda somos os mesmos. Falando sobre a dura rotina impossibilitada do sonhar de uma mulher perto dos quarenta anos que descobre segredos de família e precisa lidar com um casamento em declínio, Como Nossos Pais, novo trabalho da excelente cineasta Laís Bodanzky (Bicho de Sete Cabeças), é um filme que emociona e gera reflexões, aliada a uma impactante atuação da atriz Maria Ribeiro que consegue prender a atenção do público do início ao fim. A Rosa de Laís Bodanzky é tão ou mais forte que a Clara de Kleber Mendonça Filho. É lindo ver dois dos grandes filmes nacionais dos últimos anos terem protagonistas femininas tão marcantes, inesquecíveis.

Na trama, conhecemos Rosa (Maria Ribeiro) uma mulher guerreira que está em crise no casamento com seu marido Dado (Paulo Vilhena), infeliz no emprego que tem e ainda é pega de surpresa com uma notícia atordoante de sua mãe Clarisse (Clarisse Abujamra) que seu pai Homero (Jorge Mautner) na verdade não é seu pai. Essa notícia mexe bastante com a protagonista que passa por uma grande transformação ao longo de todos os 102 minutos de projeção.

Uma super heroína dos nossos tempos, Rosa, precisa conciliar seu tempo com a educação de suas filhas pequenas, tentar ajustes em seu casamento recheado de desconfiança e crise financeira, e uma perturbação inquieta para tentar se encontrar com seu verdadeiro pai que possui um alto cargo do governo. Rosa é o reflexo da força feminina nos dias de hoje. Como para todo ser humano as atitudes, chegam em forma de inconsequência, como a aproximação com o pai de um dos alunos da escola de suas filhas e as explosões em diálogos emocionantes e marcantes com sua mãe. Em uma atuação irrepreensível, Maria Ribeiro dá não só vida a personagem, a torna muito real e, assim, em nossas lembranças mais curtas podemos encontrar uma Rosa em cada esquina.

Na parede da memória, a lembrança é o quadro que dói mais. Epicentro, estopim, da virada na história e quando acontece a virada da personagem, a dúvida de ir ou não atrás do pai biológico chega ao mesmo tempo que memórias com seu pai de criação, o maluco beleza Homero (Jorge Mautner) afloram em seus pensamentos mesmo que entrando em conflito com as atitudes irresponsáveis dele na vida.

Recentemente estreou Mulher-Maravilha nos cinemas. Mas a história muito mais marcante, talvez a verdadeira Mulher-Maravilha, a da vida real, que troca a luta com super poderes por tentativas diárias de conseguir esticar as 24 horas do relógio e ser feliz está nesse ótimo filme e você simplesmente não pode perder.

 

Fortunata (2017) (Itália) – de Sergio Castellitto

Exibido no último Festival de Cannes, na mostra Um Certo Olhar, o drama Fortunata é mais uma grata surpresa europeia que infelizmente ainda não tem data de estreia no cirucito exibidor brasileiro. O projeto, dirigido pelo ator e diretor italiano Sergio Castellitto, ganhador de alguns prêmios internacionais, dá luz ao papel da mãe em um mundo repleto de desafios, tendo que superar obstáculos do passado para seguir em frente, não desistir dos seus sonhos e dar o máximo de amor para sua herdeira. O elenco, grande força desse belo trabalho, é encabeçado pela apaixonante e talentosa Jasmine Trinco (nova musa de Cannes) que realmente eleva a qualidade desse pequeno bom filme.

Na trama, ambientada nos dias atuais no subúrbio de Roma, conhecemos Fortunata, uma bela cabeleireira delivery de meia idade que possui um sonho de ter seu próprio empreendimento, um salão de beleza no centro da cidade onde mora. A protagonista tem uma filha, sua maior paixão do mundo, mas com quem tem um relacionamento complicado, provocado, muito, pelo seu afastamento do ex-marido, figura que sempre a rodeia. Certo dia, Fortunata resolve levar a filha para ver um psicólogo/psiquiatra, por quem a protagonista acaba vivendo um intenso romance.

A personagem principal é uma mulher incrível, uma personagem marcante. Uma mescla de beleza e ingenuidade, camuflada de grande leoa que faz de tudo para dar para sua filha uma vida confortável e repleta de amor e carinho. Suas batalhas diárias com o ex-marido, esse que não aceita a separação de jeito nenhum, a busca do sonho em ter seu próprio salão de beleza, preenchem a tela com cenas emocionantes que dizem muito sobre a personalidade da carismática protagonista. Vale o destaque para a atriz italiana Jasmine Trinco (Um Novo Dueto, Maravilhoso Boccaccio), que cumpre com louvor um papel complexo e cheio de contextos emocionais.

A vida de Fortunata ganha novos contornos com a entrada do psicólogo/psiquiatra em sua vida. Antes, receosa quanto levar sua filha para ser consultado pelo médico, depois acaba se consultando com ele e se apaixonando, o que deixa mais tumultuado sua relação com a filha e com outros personagens que contornam o longa. A surpreendente trilha sonora ganha muito destaque, sempre nos fechamento de arcos e acompanha a poderosa protagonista em busca do seu passaporte para a felicidade nesse projeto que merece ser conferido por todos que amam cinema.

Min så kallade pappa (2014) (Suécia) – de Ulf Malmros

A força da maternidade é maior que as leis da natureza. Lançado na Suécia em setembro de 2014, o longa-metragem Min så kallade pappa (ainda sem tradução para o Brasil) é um daqueles belos filmes que infelizmente quase certo de eu nunca veremos por aqui. O projeto conta com o grande ator sueco Michael Nyqvist e é dirigido pelo experiente diretor Ulf Malmros. Utilizando bem a realidade e os pés nos chão para contar uma história que tinha tudo para ser um filminho de sessão da tarde, Min så kallade pappa é um filme que você precisa conferir.

Na trama, conhecemos a futura mamãe e professora do jardim de infância Malin (Vera Vitali), uma mulher com garra e atitude que está passando por um momento de separação com o futuro pai de seu primeiro filho. Definida a tomar atitudes corajosas sobre seu futuro, resolve ir em busca do pai que nunca conhecemos, Martin (Michael Nyqvist), um veterano ator de teatro que nunca fez questão de procurar notícias de sua única filha. Durante o inusitado encontro, Martin sofre uma espécie de derrame e perde parte da memória. Assim, é a grande oportunidade de Malin se aproximar de seu desconhecido pai.

O fato que mais chama a atenção nesta fita sueca é a forma realista que o diretor apresenta os fatos e segue as linhas dos diálogos neste forte drama. Martin e sua personalidade forte, parece lutar contra seu passado a todo instante, até quando perde a memória. Malin vive todos os atos do filme atormentada por um passado que se mistura com o presente, sentindo que o futuro filho vai sofrer da mesma forma como sofreu quando seu pai a rejeitou quando criança. A linha de raciocínio para entendermos melhor a profundidade das características de cada personagem é feita de maneira brilhante.

Min så kallade pappa é para corações fortes, se aproxima um poucos das duras realidades mostrada por Susanne Bier e um pouco da poesia melancólica dos trabalhos de Isabel Coixet. Ao longo das cerca de duas horas de projeção o público se emociona e torce pela sofrida personagem a todo instante. Min så kallade pappa é um belo filme que mescla uma realidade quase que infinita e uma linda poesia quase que melancólica.

 

Que Mal Fiz a Deus? (2014) (França) – de Philippe de Chauveron

O segredo da felicidade é escolher a comédia e largar o drama. Dirigido pelo desconhecido francês Philippe de Chauveron, chegou aos cinemas brasileiros no dia 06 de agosto de 2014 uma das mais engraçadas comédias francesas dos últimos anos, Que Mal Fiz a Deus? Contando com uma atuação para lá de inspirada do veterano ator Christian Clavier, o filme se sustenta nas irritações hilárias do personagem principal que entra em total desespero quando sabe dos pretendentes das suas quatro filhas.

Na trama, conhecemos o tradicional Claude Verneuil (Christian Clavier), um homem com uma vida boa que vive seu final de vida ao lado da esposa com quem tem quatro filhas. A pacata vida deste orgulhoso cidadão francês é completamente abalada quando é apresentado aos pretendentes de suas filhas, cada um dos noivos tem uma religião diferente e o tradicional Claude entra em total loucura quando sabe desta informação. Sua esperança era a última filha que vai casar mas surpresas o aguardam.

O roteiro é simples, nada que não tenhamos já visto em outros filmes europeus, mas a qualidade na direção e atuações fazem a diferença para tornar esta fita diferente. Faz leves críticas a assuntos muitas vezes tratados com demasiado drama, isso é a forma inteligente do filme mostrar que o bom senso existe. A mensagem é passada e todos saem satisfeitos com o resultado. É o tipo de filme que o público ama mas os críticos as vezes não gostam, principalmente quando pensamos sobre os clichês que acabam sendo cerejas nesse bolo cinematográfico francês.

Que Mal Fiz a Deus? É um dos filmes que você vai rir do início ao fim. O roteiro apresenta suas imperfeições principalmente nos arcos finais mas nada que atrapalhe tamanha simpatia dos atores em cena. É, sem dúvidas, uma das melhores comédias francesas dos últimos anos.

Os Cowboys (2016) (França) – de Thomas Bidegain

Até onde devemos ir por quem amamos mas não querem estar perto com nossa presença? Um dos filmes mais fortes do Festival Varilux de Cinema Francês 2016, sem dúvidas nenhuma, foi o espetacular drama Os Cowboys, protagonizado pelo ótimo ator François Damiens e com uma atuação digna de Oscar do ator britânico Finnegan Oldfield. Ao longo dos tensos 105 minutos de projeção, onde não conseguimos desgrudar os olhos da tela, vamos sendo apresentados a personagem movidos pela angústia e uma série de consequentes ações desesperadas em prol de único objetivo que acaba consumindo e destruindo uma família de classe média francesa. Em seu primeiro longa-metragem como diretor, o cineasta francês Thomas Bidegain brinda o público com uma trama muito bem dirigida e com atuações bem acima da média.

Na trama, conhecemos brevemente toda a família de Alain (François Damiens), um trabalhador de classe média que mora com sua mulher e os dois filhos no leste francês. Alain é um amante da cultura country e sempre vai com sua família a um famoso encontro onde confraterniza com outros amigos. Certo dia, num desses encontros, sua filha Kelly desaparece misteriosamente, levando Alain a uma desesperada busca por informações sobre a jovem. Os anos se passam e somente seu filho Kid (Finnegan Oldfield), que praticamente sacrifica sua adolescência, acredita e ajuda seu pai a tentar encontrar Kelly.

O clima é tenso desde o início. A trilha sonora composta por Moritz Reich (Fique Comigo, 2015) encaixa como uma luva e consegue deixar o público em total sinal de atenção as sequências fortes. François Damiens, na pele de Alain está possuído, embarca em um caminho sem rumo desesperado em busca de sua filha. A angústia é constante e impressionante. Isso obviamente destrói seu relacionamento com o restante de sua família. Essa estrada sem fim é acompanhada de perto por seu filho Kid que é o único que também ainda acredita que eles possam encontrá-la. Os Cowboys é um filme sobre família mas também sobre até onde o ser humano pode ir para defender suas convicções.

O longa é recheado de reviravoltas. Uma delas é que Kelly não é sequestrada. O porquê do sumiço dela (que não vou contar aqui) é um dos grandes trunfos do filme que explora muito bem a reação da família ao saber o que aconteceu com ela. Uma segunda surpresa é a surpreendente troca de protagonismo já entre o segundo e o terceiro ato, com o mesmo objetivo só que com um olhar um pouco diferente sob a situação a trama cresce demais nos últimos 30 minutos de projeção.

Apenas entre Nós (2010) (Eslovênia) – de Rajko Grlic

Falando sobre relacionamentos, família e infidelidades à flor da pele, o diretor croata Rajko Grlic, que dirigiu o ótimo Karaula (2006), apresenta ao público uma fábula moderna sobre o amor e o desejo, situada em uma europa fria mas com impulsos ardentes incansáveis. A câmera de Grlic merece destaque pois consegue encontrar os caminhos para traduzir ao público cada detalhe das ações, muitas impensadas, pelos personagens.

Para o personagem principal, interpretado brilhantemente pelo Tony Ramos da Croácia, Miki Manojlovic, só existem duas religiões: O amor e as outras. Assim, os curtos 88 minutos de projeção, vão se moldando a partir de situações e descobertas de um quarteto familiar que não encontra o ponto de equilíbrio na maturidade que regem suas vidas. Cada personagem, cada um mais interessante do que o outro, vão dando um certo ritmo à fita vencedora de alguns prêmios no leste europeu no ano de seu lançamento, 2011.

Há a questão cultural, diferente da que vemos por aqui (ou nem tanto), sobre a maturidade no amor. Uma das coisas mais interessantes neste longa-metragem é exatamente descobrir ou tentar entender melhor como são os conflitos amorosos aos olhos dos filhos da região que comportava a ex-união soviética. Mas o filme é longe de ser somente um retrato de uma comunidade, é amplo em tentar apresentar argumentos para as teorias dos relacionamentos modernos e todo o impulso, não só sexual, que envolve muitas relações.

Com certo atraso, Apenas Entre Nós finalmente chegou aos cinemas brasileiros há dois anos atrás. Esse é um filme que Nelson Rodrigues abriria um sorriso e faria rapidamente analogias certeiras com muitas de suas eternas histórias.

A Família Belier (2014) (França) – de Eric Lartigau

O que é uma família senão o mais admirável dos governos? O novo trabalho do cineasta francês Eric Lartigau (do questionado Os Infiéis) é uma comédia ao melhor estilo sessão da tarde mas com elementos tão sensíveis que elevam a qualidade da trama a cada frame. Só mesmo um cinema como o francês, que exala qualidade em muitos de seus títulos, para falar com tamanha sutileza sobre os problemas que ocorrem dentro de uma casa.

Na trama, conhecemos os fazendeiros simpáticos que fazem parte da Família Bélier. A história gira em torno da jovem Paula (interpretada pela ex-concorrente do The Voice francês Louane Emera), uma estudante que ao entrar por acaso em uma aula de canto do colégio, percebe que tem o dom de cantar. Paula vive com sua família, onde todos são surdos e mudos exceto ela, e se dedica diariamente as afazeres familiares e as inúmeras traduções que precisa fazer para ajudar os membros de sua família a terem uma vida mais tranquila. Tudo isso muda quando Paula resolve tentar a sorte em uma seleção para uma escola de canto em Paris. Essa decisão irá mudar de vez o cotidiano de todos na família.

O filme se destaca quando, em meio aos clichês do gênero, consegue ser original pela força dos seus personagens. O entrosamento entre os ótimos François Damiens e Karin Viard (que somando suas carreiras possuem mais de 100 trabalhos no cinema) é de dar água na boca, pintam e bordam fazendo todos os espectadores gostarem desse inusitado casal. A cereja no bolo é a fofíssima Louane Emera, querida artista na França por ter participado de um reality show de sucesso, que consegue desempenhar muito bem seu papel mesmo debutando no cinema neste filme.

Não percam essa deliciosa comédia que, entre outras coisas, fará você levitar de alegria com as lindas canções que ouvimos ao longo da fita, grudam que nem chiclete ou que nem aquela música da Simone em véspera de natal. Como dizia o pensador russo Tolstoi: “A verdadeira felicidade está na própria casa, entre as alegrias da família.”!

 

Wish I Was Here (2014) (EUA) – de Zach Braff

A adversidade é um trampolim para a maturidade. Em seu terceiro longa-metragem do currículo, o norte-americano Zach Braff, que você já deve ter ouvido falar por conta do seriado Scrubs, volta a falar sobre dramas familiares e personagens complexos no intrigante e cheio de metáforas Wish I Was Here. O filme é um drama comovente sobre a arte do crescer e saber a hora certa de adicionar componentes de maturidade nas suas escolhas de vida.

Na trama, conhecemos um ator desempregado chamado Aidan (Zach Braff), pai de dois filhos, que vive às custas de sua mulher Sarah (Kate Hudson) que é extremamente infeliz no casamento. Para piorar, seu pai Gabe (Mandy Patinkin) está com câncer terminal e sua vida começa a desabar ao seu redor. Assim, o protagonista embarcará em uma jornada em busca de um novo sentido para seu destino.

Wish I Was Here é uma história madura sobre as verdades do mundo lá fora. O protagonista vive em busca de seu sonho mas acaba esquecendo das coisas básicas como por exemplo sustentar sua família. O roteiro de Zach Braff brilha nesse momento. Acomodado pelo sustento de sua mulher e pela ajuda considerável que seu pai lhe dava, o personagem entra em parafuso quando precisa aprender a caminhar sozinho, mesmo que forçadamente. Esse longa-metragem é uma história totalmente possível em nossa realidade, principalmente quando pensamos naquele amigo que sempre foi mimado por sua família, talvez por isso que a história chegue com um certo impacto para cada um de nós cinéfilos.

O termômetro da trama é a esposa do protagonista, Sarah, interpretada de maneira muito competente por Kate Hudson. Há uma sutileza, uma energia enlatada que vai saindo em cada cena. Prestamos atenção atentamente a cada passo de Sarah, principalmente porque quando aparece em cena brilha e nos trás respostas a lacunas não preenchidas, resumindo, acaba sendo o ponto de intercessão de toda a trama.

Como em todo filme de Braff, uma ótima trilha sonora se mistura adequadamente às sequências. Falando no diretor, esse artista completo, é um dos poucos que conseguem dirigir e atuar com muito êxito em seus projeto. Quem não lembra do ótimo Hora de Voltar com Natalie Portman? Se continuar nessa caminhada de sucesso, a cada novo projeto que Braff assina, mais ansiedade vai gerar aos amantes do bom cinema.

*Bônus*

Coração Mudo (Dinamarca) (2014) – de Bille August

Depois de belíssimos trabalhos comandando filmes europeus de qualidade, o diretor Bille August volta às telonas, dessa vez, para dirigir um drama contundente, cheio de reviravoltas e emoção. Coração Mudo é uma espécie de Festa em Família com uma roupagem diferente mas com as mesmas surpresas e personagens intrigantemente fascinantes.

Na trama, conhecemos Esther (Ghita Nørby), uma senhora de idade avançada que em certo momento resolveu dar um fim à sua vida, antes porém, resolve passar um último final de semana com sua família (que está por completa ciente do eminente suicídio). Quando chega o fatídico dia, ações e emoções descontroladas começam a tomar conta da história, com muitos personagens mudando de opinião a todo instante sobre a situação.

Conflitos, dor e sofrimento estão contidos em cada um dos numerosos e árduos diálogos que contém a fita. Entendemos a situação inusitada do suicídio/eutanásia pela ótica de cada um dos personagens. Cada momento dramático é construído de maneira inteligente e nunca o filme se torna maçante. É fácil se envolver por essa história, o epicentro da trama é uma atitude corajosa e bastante polêmica. Coração Mudo é o clássico filme onde as atuações precisam ser muito convincentes para a fórmula do roteiro dar certo. Felizmente, isso acontece do primeiro ao último minuto.

Paprika Steen esbanja competência mais uma vez com sua recatada, descontrolada e emotiva Heidi.

Os detalhados momentos cômicos ficam à cargo do ótimo ator Pilou Asbæk que dá vida ao confuso mais carismático Dennis. Mas quem rouba a cena é a protagonista Esther, interpretada pela maravilhosa Ghita Nørby (a Diane Keaton da Dinamarca). Em simples diálogos ou em momentos de total força emotiva em cena, a experiente artista dá um verdadeiro show. Grande filme, grandes atuações! Bravo!

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