domingo , 22 dezembro , 2024

20 anos de ‘Escola do Rock’, a melhor aventura musical de Jack Black nos cinemas

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Celebrado mundialmente pela Trilogia do Antes e pelo ousado Boyhood: Da Infância à Juventude, Richard Linklater trabalhou em um projeto interessante, que apesar de abordar os desafios da juventude, desceu um pouco a faixa etária e abordou a fase escolar como tema de um musical pra lá de inesperado, cujo sucesso foi tão grande que acabou sendo adaptado para a Broadway e virou até mesmo série de TV. E agora, o clássico Escola de Rock, ícone da molecada que cresceu entre o fim dos anos 90 e início dos anos 2000, completa nada menos que 20 anos.



Para quem nunca viu ou não se lembra bem da história, o filme acompanha o acomodado Dewey (Jack Black), que criou uma banda de rock e achou que essa seria sua carreira até o fim da vida. Porém, os membros da banda decidem continuar sem ele, deixando o rapaz frustrado e encostado, vivendo às custas de um amigo da adolescência que trabalha como professor substituto, Ned. Quem não gosta nada disso é a namorada de Ned, que dá uma esculachada no músico, mandando ele arrumar um emprego e deixar de ser vagabundo.

Em situações normais, essa bronca deveria dar um choque de realidade no cara. No entanto, ele atende um telefonema para Ned com uma oportunidade para trabalhar como professor substituto em um colégio caríssimo. Ao ouvir sobre os valores envolvidos, ele decide se passar pelo amigo e acaba sendo contratado para dar aula para as crianças. Na escola, ele não tem a menor ideia do que fazer até descobrir que os alunos têm talento para música. Então, ele decide secretamente iniciar um banda de rock com a molecada para tentar ganhar a Batalha das Bandas.

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Apesar de abordar um caso de falsidade ideológica, o filme é uma aventura musical divertidíssima, que se difere dos outros filmes da época por tratar as crianças como seres humanos comuns que traziam inseguranças típicas da idade. Numa época em que os filmes infantis mostravam a molecada como pequenos espiões ou potenciais psicopatas em miniatura, foi quase revolucionário mostrar que a galerinha na casa dos 10 anos de idade precisava ter voz e que seus problemas importavam.

Então, ao longo do filme, eles abordam a timidez, a pressão dos pais pelo futuro dos filhos, o “temperamento forte”, a insegurança com a própria imagem e por aí vai. Ao mesmo tempo, sai de cena aquela imagem clássica dos anos 80 e 90 dos professores e diretores como figuras sem profundidade, quase como criaturas sem personalidade própria, cuja única função era perseguir seus alunos. No fim das contas, esse filme é justamente sobre essa rebeldia infantil na busca por sua própria voz.

E o mais incrível disso tudo é que o protagonista consegue ser o herói e o vilão da história simultaneamente. Dewey é um adulto irresponsável que está cometendo um crime perigosíssimo em prol de benefício próprio. Ao mesmo tempo, é ele quem ajuda uma turma de crianças reprimidas a levantarem suas vozes contra a rígida figura opressora de um internato, ajudando elas a se resolverem com suas inseguranças. É um caso muito interessante de anti-herói, que certamente só funcionou em tela porque a figura caricata de Jack Black permite isso. Convenhamos que não seria nada surpreendente se surgisse uma notícia de que o ator fez algo parecido na vida real.

E o mais interessante da presença do ator nesse filme é que além dele ter sido muito participativo em praticamente todas as áreas possíveis, o projeto só existiu por conta dele agindo “naturalmente” em sua casa. Isso porque o roteirista do filme, Mike White, teve a ideia de escrever essa história depois de se mudar e virar vizinho de Jack Black. O ator era constantemente visto correndo pelado pelos corredores e enchia a paciência da galera ouvindo música nas alturas. E era um verdadeiro incômodo para Mike, que não gostava de rock clássico. Com isso, não tinha nem como pensarem em outro ator para o papel de Dewey.

Não por acaso, a trilha musical do longa veio quase toda do próprio gosto do ator. Sabe as músicas que ele ficava ouvindo feito doido em casa? Quase todas entraram no filme, incluindo Immigrant Song, do Led Zeppelin, que só teve seu uso autorizado depois do próprio Jack Black reunir mais de mil fãs da banda num auditório para gravarem um vídeo junto com ele implorando para que os membros vivos do Led Zeppelin deixassem a produção usar a música no filme. Além disso, ele teve participação direta na escolha dos nomes dos personagens infantis e seus apelidos. O que explica, por exemplo, o menino loiro metido a líder (Kevin Alexander Clark) se chamar Freddy Jones, o mesmo nome do líder da turma do Scooby-Doo.

Outro ponto legal é que uma das exigências de Linklater para assumir a direção era contar com atores capazes de tocar instrumentos e cantar de verdade, para passar veracidade aos personagens. Inclusive, isso refletiu diretamente na abordagem deles no filme. Por exemplo, o menino que toca os teclados (Robert Tsai) era muito inseguro na vida real e chegou a pedir ao diretor que ele o demitisse do papel porque não se achava bom o bastante para isso. Em um gesto simbólico, Linklater explicou a ele que o motivo dele ser perfeito para o papel era justamente essa insegurança. Essa conversa entre eles rendeu um diálogo exatamente sobre isso no filme. Da mesma forma, a estreante Miranda Cosgrove sabia cantar e tinha um pouco da confiança de sua personagem. No entanto, eles precisaram treiná-la para aprender a desafinar, já que a Summer não seria membro da banda, apesar de se achar bastante.

Em meio a essas questões, Escola de Rock bebeu do viés revolucionário do clipe de Another Brick in the Wall, do Pink Floyd, mostrando que um colégio poderia e deveria ser muito mais do que um “moedor de crianças”, ensinando a elas coisas mais interessantes que apenas o material didático, como se expressar por meio da arte. Com o passar dos anos, o filme, que foi aclamado pela crítica, foi se tornando um clássico ainda maior por seguir dialogando com questões comuns às crianças de diferentes gerações de forma bem humorada e recheada de músicas incríveis, fazendo a molecada acreditar que até mesmo um grupo de pirralhos pressionados pelos pais são capazes de fazer coisas incríveis além de tirar notas boas.

Escola de Rock está disponível para aluguel no Amazon Prime Video.

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Pedro Sobreirohttp://cinepop.com.br/
Jornalista apaixonado por entretenimento, com passagens por sites, revistas e emissoras como repórter, crítico e produtor.

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20 anos de ‘Escola do Rock’, a melhor aventura musical de Jack Black nos cinemas

Celebrado mundialmente pela Trilogia do Antes e pelo ousado Boyhood: Da Infância à Juventude, Richard Linklater trabalhou em um projeto interessante, que apesar de abordar os desafios da juventude, desceu um pouco a faixa etária e abordou a fase escolar como tema de um musical pra lá de inesperado, cujo sucesso foi tão grande que acabou sendo adaptado para a Broadway e virou até mesmo série de TV. E agora, o clássico Escola de Rock, ícone da molecada que cresceu entre o fim dos anos 90 e início dos anos 2000, completa nada menos que 20 anos.

Para quem nunca viu ou não se lembra bem da história, o filme acompanha o acomodado Dewey (Jack Black), que criou uma banda de rock e achou que essa seria sua carreira até o fim da vida. Porém, os membros da banda decidem continuar sem ele, deixando o rapaz frustrado e encostado, vivendo às custas de um amigo da adolescência que trabalha como professor substituto, Ned. Quem não gosta nada disso é a namorada de Ned, que dá uma esculachada no músico, mandando ele arrumar um emprego e deixar de ser vagabundo.

Em situações normais, essa bronca deveria dar um choque de realidade no cara. No entanto, ele atende um telefonema para Ned com uma oportunidade para trabalhar como professor substituto em um colégio caríssimo. Ao ouvir sobre os valores envolvidos, ele decide se passar pelo amigo e acaba sendo contratado para dar aula para as crianças. Na escola, ele não tem a menor ideia do que fazer até descobrir que os alunos têm talento para música. Então, ele decide secretamente iniciar um banda de rock com a molecada para tentar ganhar a Batalha das Bandas.

Apesar de abordar um caso de falsidade ideológica, o filme é uma aventura musical divertidíssima, que se difere dos outros filmes da época por tratar as crianças como seres humanos comuns que traziam inseguranças típicas da idade. Numa época em que os filmes infantis mostravam a molecada como pequenos espiões ou potenciais psicopatas em miniatura, foi quase revolucionário mostrar que a galerinha na casa dos 10 anos de idade precisava ter voz e que seus problemas importavam.

Então, ao longo do filme, eles abordam a timidez, a pressão dos pais pelo futuro dos filhos, o “temperamento forte”, a insegurança com a própria imagem e por aí vai. Ao mesmo tempo, sai de cena aquela imagem clássica dos anos 80 e 90 dos professores e diretores como figuras sem profundidade, quase como criaturas sem personalidade própria, cuja única função era perseguir seus alunos. No fim das contas, esse filme é justamente sobre essa rebeldia infantil na busca por sua própria voz.

E o mais incrível disso tudo é que o protagonista consegue ser o herói e o vilão da história simultaneamente. Dewey é um adulto irresponsável que está cometendo um crime perigosíssimo em prol de benefício próprio. Ao mesmo tempo, é ele quem ajuda uma turma de crianças reprimidas a levantarem suas vozes contra a rígida figura opressora de um internato, ajudando elas a se resolverem com suas inseguranças. É um caso muito interessante de anti-herói, que certamente só funcionou em tela porque a figura caricata de Jack Black permite isso. Convenhamos que não seria nada surpreendente se surgisse uma notícia de que o ator fez algo parecido na vida real.

E o mais interessante da presença do ator nesse filme é que além dele ter sido muito participativo em praticamente todas as áreas possíveis, o projeto só existiu por conta dele agindo “naturalmente” em sua casa. Isso porque o roteirista do filme, Mike White, teve a ideia de escrever essa história depois de se mudar e virar vizinho de Jack Black. O ator era constantemente visto correndo pelado pelos corredores e enchia a paciência da galera ouvindo música nas alturas. E era um verdadeiro incômodo para Mike, que não gostava de rock clássico. Com isso, não tinha nem como pensarem em outro ator para o papel de Dewey.

Não por acaso, a trilha musical do longa veio quase toda do próprio gosto do ator. Sabe as músicas que ele ficava ouvindo feito doido em casa? Quase todas entraram no filme, incluindo Immigrant Song, do Led Zeppelin, que só teve seu uso autorizado depois do próprio Jack Black reunir mais de mil fãs da banda num auditório para gravarem um vídeo junto com ele implorando para que os membros vivos do Led Zeppelin deixassem a produção usar a música no filme. Além disso, ele teve participação direta na escolha dos nomes dos personagens infantis e seus apelidos. O que explica, por exemplo, o menino loiro metido a líder (Kevin Alexander Clark) se chamar Freddy Jones, o mesmo nome do líder da turma do Scooby-Doo.

Outro ponto legal é que uma das exigências de Linklater para assumir a direção era contar com atores capazes de tocar instrumentos e cantar de verdade, para passar veracidade aos personagens. Inclusive, isso refletiu diretamente na abordagem deles no filme. Por exemplo, o menino que toca os teclados (Robert Tsai) era muito inseguro na vida real e chegou a pedir ao diretor que ele o demitisse do papel porque não se achava bom o bastante para isso. Em um gesto simbólico, Linklater explicou a ele que o motivo dele ser perfeito para o papel era justamente essa insegurança. Essa conversa entre eles rendeu um diálogo exatamente sobre isso no filme. Da mesma forma, a estreante Miranda Cosgrove sabia cantar e tinha um pouco da confiança de sua personagem. No entanto, eles precisaram treiná-la para aprender a desafinar, já que a Summer não seria membro da banda, apesar de se achar bastante.

Em meio a essas questões, Escola de Rock bebeu do viés revolucionário do clipe de Another Brick in the Wall, do Pink Floyd, mostrando que um colégio poderia e deveria ser muito mais do que um “moedor de crianças”, ensinando a elas coisas mais interessantes que apenas o material didático, como se expressar por meio da arte. Com o passar dos anos, o filme, que foi aclamado pela crítica, foi se tornando um clássico ainda maior por seguir dialogando com questões comuns às crianças de diferentes gerações de forma bem humorada e recheada de músicas incríveis, fazendo a molecada acreditar que até mesmo um grupo de pirralhos pressionados pelos pais são capazes de fazer coisas incríveis além de tirar notas boas.

Escola de Rock está disponível para aluguel no Amazon Prime Video.

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