Para muito além de nossas playlists e nossos gostos pessoais, a música tem uma capacidade incrível de dialoga até com o mais cético de seus ouvintes – e talvez essa mesma habilidade explique o motivo da interação descomunal entre o cinema e o público quando nos referimos a produções musicais.
Desde o surgimento da era falada, o clássico ‘O Cantor de Jazz’, lançado em 1927, já refletia a necessidade dos cineastas em unir em um mesmo lugar duas esferas criativas, arquitetando histórias originais, ao mesmo tempo, se respaldassem em produções teatrais conhecidas pelos amantes da boa arte.
Por essa razão, separamos vinte filmes musicais imperdíveis que todo amante do gênero já deve ter visto – e, caso não tenha, pode agora adicionar essas escolhas para a lista.
Confira nossa seleção abaixo e conte para nós qual se sua produção favorita está entre as predileções ou se ela ficou de fora.
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LA LA LAND: CANTANDO ESTAÇÕES (2016)
Damien Chazelle já era um proeminente diretor ainda em 2014, quando lançou o aclamado ‘Whiplash – Em Busca da Perfeição’. Mas suas investidas no mundo fonográfico não haviam acabado por aí: dois anos depois, Chazelle conquistou o público mais uma vez com o lançamento de um musical totalmente original intitulado ‘La La Land: Cantando Estações’.
Apesar dos problemas enfrentados durante a cerimônia do Oscar, o longa ganhou os corações do público e da crítica por sua originalidade e sua singularidade, arquitetando canções até hoje relembradas e garantindo a Emma Stone diversos prêmios por sua atuação como Mia Dolan.
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MOULIN ROUGE – AMOR EM VERMELHO (2001)
‘Moulin Rouge’ é a expressão máxima da arte poética de Baz Luhrmann e, ainda que o espetáculo insurja em uma adoração de ódio ou amor, é inegável mencionar sua ousadia cinematográfica, ainda mais levando em conta que o diretor uniu em um mesmo lugar três grandes óperas – incluindo a que relata o mito de Orfeu e Eurídice.
A história é ambientada em 1899 e gira em torno do jovem Christian (Ewan McGregor), que se muda para a amoral e apaixonante cena de Paris e se apaixona pela cortesã Satine (Nicole Kidman), que se apresenta no cabaré-titular.
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HAIRSPRAY – EM BUSCA DA FAMA (2007)
Diferente do clássico lançado por John Waters em 1988, ‘Hairspray – Em Busca da Fama’ é um remake que se utiliza muito mais do musical homônimo da Broadway do que do filme em questão. E o resultado, diferente de diversas releituras da indústria hollywoodiana contemporânea, funcionou em praticamente todos os aspectos.
Trazendo como protagonista a novata Nikki Blonsky, o longa gira em torno de Tracy Turnblad, uma jovem cujo sonho é participar de um programa de TV musical. Além de um elenco que conta com Michelle Pfeiffer, Christopher Walken, Queen Latifah e um impagável John Travolta em drag, a narrativa não é apenas deliciosamente bem produzido como abre espaço para críticas sociais muito bem-vindas.
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O PICOLINO (1935)
Fred Astaire e Ginger Rogers são alguns dos nomes mais conhecidos da história do cinema e não é por menos: a dupla estrelou em diversos clássicos da indústria fílmica, incluindo o aclamado ‘O Picolino’, que veio a se tornar a parceria mais bem-sucedida entre os dois.
Baseado na peça teatral homônima de Alexander Faragó e Aladar Laszlo, o musical gira em torno de um dançarino estadunidense que vai a Londres para estrelar um show e conhece a bela Dale Tremont, a qual tenta impressionar. O longa também é lembrado pelo número de dança “Cheek to Cheek”, que rendeu a Rogers o apelido de Feathers.
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SWEENEY TODD: O BARBEIRO DEMONÍACO DA RUA FLEET (2007)
Tim Burton tem um apreço inegável pelo macabro e pelo sombrio, e talvez esse tenha sido o motivo principal por ter se apegado com a adaptação do musical ‘Sweeney Todd’ para os cinemas. Apesar de sua carreira oscilante, Burton construiu um espetáculo digno dos horrores do Grand Guignol e produziu uma obra competente, envolvente e chocante.
Liderado por Johnny Depp como o personagem-título, a história é centrada em um barbeiro exilado que retorna para Londres apenas para descobrir que sua mulher está morta e que sua filha se tornou prisioneira de um corrupto juiz. Por isso, ele se junta à confeiteira Sra. Lovett (Helena Bonham Carter) e constrói um sanguinolento plano de vingança.
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GREASE – NOS TEMPOS DA BRILHANTINA (1978)
Astaire e Rogers são uma dupla infalível, mas Travolta e Olivia Newton-John não ficam muito atrás: os dois até hoje são lembrados pelos fãs de musicais e de filmes de romance por seus papéis no aplaudível ‘Grease – Nos Tempos da Brilhantina’.
Dentre os muitos números memoráveis e recriados por vários artistas contemporâneos, talvez o pop-rock “Summer Nights” seja uma das coreografias mais bem estruturadas do século passado, seja pela edição on-point, seja por premeditar a reunião dos dois protagonistas – que eventualmente culmina em “You’re the One That I Want”.
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FUNNY GIRL – UMA GAROTA GENIAL (1968)
Barbra Streisand é uma das poucas artistas vivas que possui uma versatilidade inegável, fato que lhe rendeu a entrada para o seleto grupo do EGOT (performers que já foram premiados com pelo menos um Emmy, um Grammy, um Oscar e um Tony). E um de seus papéis mais memoráveis, sem sombra de dúvida, é o de Fanny Brice em ‘Funny Girl – Uma Garota Genial’.
Comandado por William Wyler, o longa é baseado na vida de Fanny, uma comediante que começou sua carreira no Lower East Side em Nova York e chegou ao estrelato em uma ascensão quase fabulesca. Seu sucesso rendeu uma continuação quase equiparável intitulada ‘Funny Lady’ e lançada em 1975.
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ALÔ, DOLLY! (1969)
Um ano depois de estrelar em ‘Funny Girl’, Streisand voltou a roubar os holofotes com o lançamento de ‘Alô, Dolly!’ – mas isso não era tudo: aqui, a icônica artista se reuniria com outro memorável nome da indústria, Gene Kelly, que se apossava da direção do longa-metragem.
A personagem-titular é uma conhecida casamenteira contratada por um comerciante mal-humorado para lhe arranjar uma esposa em Nova York. Entretanto, depois de várias confusões, a própria Dolly decide tentar a sorte e conquistar o bom partido.
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A FANTÁSTICA FÁBRICA DE CHOCOLATE (1971)
Mais uma vez, não devemos confundir este filme com o controverso remake dirigido por Burton, e sim a premiada obra comandada por Mel Stuart trinta anos antes. ‘A Fantástica Fábrica de Chocolate’ se transformou em um musical inesperado guiado pela incrível performance de Gene Wilder como o excêntrico chocolateiro Willy Wonka – além de ganhar uma importância estética e histórica inenarrável.
Baseado no romance infantil homônimo de Roald Dahl, o filme conta a história de como o jovem Charlie Bucket encontrou um Bilhete Dourado e conheceu, ao lado de outras quatro crianças, a maior fábrica de chocolates do mundo inteiro.
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MINHA BELA DAMA (1964)
A história de Eliza Doolittle tornou-se bastante conhecida nos últimos anos com a chegada do musical ‘Minha Bela Dama’ no Brasil e em diversos outros países, mas foi em 1964 que causou um barulho considerável quando Audrey Hepburn encarnou a personagem no filme comandado por George Cukor.
Na trama, Eliza é uma mendiga que vende flores pelas ruas de Londres em busca de trocados e, eventualmente, cruza caminho com o culto e insuportável professor de fonética Henry Higgins (Rex Harrison). Henry, ao ouvir a péssima pronúncia de Eliza, decide encará-la como sua missão pessoal e decide transformá-la em uma dama da alta sociedade em apenas seis meses.
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ALL THAT JAZZ: O SHOW DEVE CONTINUAR (1979)
‘All That Jazz’ pode ser o verso conhecido de uma outra grande produção musical, mas aqui estamos falando no relato semi-autobiográfico do diretor e coreógrafo Bob Fosse, que resolveu levar sua vida aos cinemas em uma perspectiva interessante e regada a alguns dos melhores números fonográficos de todos os tempos.
Na trama, o artista Joe Gideon (a versão das telonas de Fosse) sofre um enfarte e, à beira da morte, revê momentos do passado e os transforma em números musicais – tudo em sua cabeça.
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NASCE UMA ESTRELA (1954/2018)
Existem poucos filmes que já ganharam tantas releituras quanto ‘Nasce Uma Estrela’ – e felizmente duas versões da icônica história de amor merecem nossa atenção especial por se equipararem em diversos sentidos.
A conhecida trama tour-de-force foi agraciada com uma versão impecável protagonizada por Judy Garland no papel de Esther Blodgett e, mais de sessenta anos depois, trouxe Lady Gaga como Ally Maine em um longa-metragem que, com surpreendente condução de Bradley Cooper, se mantém fiel às origens e se inova com emocionante originalidade.
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AMOR, SUBLIME AMOR (1961)
Os nomes Robert Wise e Jerome Robbins podem não soar familiares, mas a dupla é responsável por dar vida a um dos melhores e mais premiados musicais de todos os tempos: ‘Amor, Sublime Amor’. Não é surpresa que a produção tenha levado para cada dez estatuetas do Oscar, incluindo Melhor Filme em 1962.
Baseado livremente na peça shakespeariana ‘Romeu e Julieta’, a trama é focada em Tony, antigo líder da gangue de brancos anglo-saxônicos intitulados Jets que se apaixonada por Maria, irmã do líder da gangue rival (formada por descendentes porto-riquenhos). Logo de cara, é bem óbvio compreender as múltiplas referências – e entender o porquê de seu imensurável sucesso.
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CABARET (1972)
Ambientada na Alemanha nazista, ‘Cabaret’ trouxe Liza Minelli no papel da dançarina e cantora Sally Bowles, que trabalha num cabaré chamado Kit Kat Club e acaba se envolvendo ao mesmo tempo com um professor inglês e um nobre alemão. Mais uma vez, Fosse mostrou seu amor por musicais e transformou uma simples narrativa em um clássico longa-metragem que levou para casa diversos prêmios.
Além da indicação para Melhor Filme, Minelli levou para casa a estatueta de Melhor Atriz no Oscar do ano seguinte, enquanto Fosse faturou o prêmio de Melhor Diretor e Joel Grey, que criou uma mágica performance ao lado da atriz, recebeu o de Melhor Ator Coadjuvante.
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A NOVIÇA REBELDE (1965)
Assim como ‘Cabaret’, ‘A Noviça Rebelde’ também demonstrou um apreço inenarrável dos diretores de décadas passadas por arquitetar narrativas ambientadas na conturbada época nazifascista europeia. Felizmente, Wise retornou alguns anos depois de ‘Amor, Sublime Amor’ com um conto de fadas comandado por alguns dos nomes mais lendários da indústria do entretenimento.
Aqui, Julie Andrews dá vida a Maria, que antes de se tornar uma Von Trapp vivia sob o sobrenome de Kutscher em um convento austríaco. A narrativa discorre acerca de seus anos como noviça até o momento em que é enviada para morar com a família em questão e, juntos, acabam fugindo do regime alemão.
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CHICAGO (2002)
Recentemente, Rob Marshall comandou a aguardada continuação ‘O Retorno de Mary Poppins’, mais de cinquenta anos depois do lançamento do filme original. Entretanto, antes de revisitar o famoso conto britânico da babá encantada, o diretor foi responsável por comandar um histórico e político musical que até hoje cai na graça dos fãs do gênero: ‘Chicago’.
Em uma soberba revitalização da montagem cinematográfica, Marshall se uniu ao coreógrafo Bill Condon para contar a história de uma dupla de mulheres que lutava para serem libertadas com vida de uma prisão feminina. Além da estética vaudeville que rege a estética do longa, a produção ganhou inúmeros prêmios – incluindo o Oscar de Melhor Filme e de Melhor Atriz Coadjuvante para Catherine Zeta-Jones.
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HEDWIG: ROCK, AMOR E TRAIÇÃO (2001)
Em 2001, John Cameron Mitchell ficou responsável por adaptar a peça homônima off-Broadway ‘Hedwig: Rock, Amor e Traição’ para os cinemas, carregando consigo o fardo de honrar a incrível história da personagem-titular – e o resultado não decepcionou em nenhum aspecto.
A tragicomédia gira em torno de Hansel, uma estrela do rock desconhecida que sonha em se tornar um astro nos Estados Unidos. Seu caminho acaba se cruzando com o de um belo americano, que lhe promete amor, liberdade e a realização de todos os seus desejos. Entretanto, para que isso se torne realidade, ele precisará fazer uma operação de mudança de sexo, admitindo-se como a icônica Hedwig.
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MARY POPPINS (1964)
Julie Andrews é uma lenda viva, isso é um fato. E, antes de encarnar a respeitada Rainha da Genóvia em ‘O Diário da Princesa’, ela já encantava a crítica e o público da Era de Ouro do cinema hollywoodiano por diversos papéis – incluindo a da encantada babá conhecida pelo nome de Mary Poppins.
O filme homônimo, apesar de ter desagradado a autora dos romances originais, tornou-se um dos maiores sucessos do panteão Walt Disney. Desde sua incrível estética híbrida até soberbas coreografias, a produção arrancou o melhor do que a indústria poderia oferecer – e até mesmo rendeu a Andrews seu primeiro e único Oscar de Melhor Atriz.
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O MÁGICO DE OZ (1939)
Em 1939, Victor Fleming abraçava a fantasiosa história criada por L. Frank Baum e canalizava seus esforços para a criação de ‘O Mágico de Oz’. O longa, protagonizado por Garland em o que podemos entender como uma de suas melhores performances, não se configura apenas como uma boa adaptação, mas sim uma revolucionária produção que carrega importância histórica e cultural até os dias de hoje.
A narrativa é centrada em Dorothy Gale, uma moça que é apanhada por um tornado junto com seu cachorro Totó e vai parar na mágica terra de Oz. Para voltar para casa, ela deve encontrar o poderoso e temido Mágico, que vive na Cidade das Esmeraldas, encontrando pelo caminho diversos aliados – e uma perigosa inimiga conhecida como a Bruxa Má do Oeste.
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CANTANDO NA CHUVA (1952)
‘Cantando na Chuva’ é indiscutivelmente o melhor filme musical já produzido. Tal constatação pode ser maniqueísta demais, mas não deixa margens para muitas refutações: apesar de fazer um modesto barulho à época de seu lançamento, conquistou um lendário posto ao recontar, de modo dinâmico, didático e perfeito, a história do cinema – mais precisamente da transição da era muda para a falada.
Gene Kelly e Stanley Donen ficaram responsáveis pela direção do longa-metragem, que conta a história de Don Lockwood, uma estrela de cinema popular que não tolera Lina Lamont, sua “noiva”, mas deve continuar atuando ao lado dela para aumentar sua popularidade. As coisas saem do controle quando o estúdio rival alcança sucesso com o lançamento do primeiro longa-metragem falado, levando a produtora a investir nessa inovação tecnológica, mas o resultado é trágico e hilário ao mesmo tempo.
Além da divertida releitura de uma conturbada época para o entretenimento audiovisual, o filme também nos entregou algumas peças sonoras que servem de inspiração para diversas produções atuais, desde a sequência-titular até a inspiradora “Good Morning” ou a romântica balada “You Are My Lucky Star” – tudo encarnado por um elenco de ponta que trouxe Kelly, Debbie Reynolds e Donald O’Connor.