Mas como cinema é uma experiência onde principalmente a narrativa deve ser levada em consideração, “300” acaba sua exibição devendo e muito para o espectador. A história do exército liderado por Leônidas contra a tentativa de dominação do rei Xerxes é um de uma superficialidade que beira a ingenuidade no momento de se construir um roteiro. Mais preocupado em estabelecer logo as cenas de conflito, as cenas em que são explicadas as motivações da invasão a Esparta e a formação do exército de 300 pessoas é extremamente corrida, como sendo apenas um fiapo para justificar todo o sangue que transborda na tela. Diálogos que desvalorizam o excelente original de Frank Miller e a utilização de uma trilha extremamente melodramática só contribuem para enfraquecer esta que poderia ser uma excelente aventura, um excelente entretenimento.
Com personagens sem profundidade, nunca nos fica claro a real intenção de Leônidas: queria ele salvar seu povo ou apenas se afirmar como um soberano? Da mesma forma, qual a motivação de tantos o seguirem, já que nada fica estabelecido durante a projeção? O único que consegue ter um mínimo de coesão é Xerxes (vivido por Rodrigo Santoro), que demonstra ser “apenas” um ser desalmado que quer o poder pelo poder, tendo como objetivo a dominação dos povos. Ao mesmo tempo, em um mar de personagens masculinos-machões (sem qualquer vestígio de sentimento ou qualquer outra característica que os torna humanos), Xerxes consegue ser um personagem acima, já que transita entre todas as formas não se apresentado como homem, mulher, nem sequer um ser humano. Xerxes é um Deus, que nem sequer deve ser considerado humano como nós.
Recheado de polêmicas e discussões sobre sua profundidade, “300” demonstra ser algo bem menor do burburinho que gerou. Embora tenha acertos, é um filme que realmente poderia ter ido muito além, já que para isso tinha uma boa história, um elenco competente e um bom diretor. Mas às vezes (como neste caso), a vontade de se fazer um filme para a massa faz minar todas as características que fazem de uma obra (quadrinhos, livros) algo realmente considerável e acima da média de outros do gênero, fazendo com que alguns saiam bem feitos como “Sin City”, e outros que ficam pelo meio do caminho, como “300” (apenas para ficar na comparação entre obras de Frank Miller). Como grande vilão do filme Rodrigo Santoro consegue ser o que há de melhor no longa (o que não é difícil, já que é um excelente ator), mas pode contribuir muito mais (e escolher projetos melhores) do que aconteceu com “300”. De positivo fica toda a exposição que nosso “ator para exportação” conseguiu para efetivamente participar de bons projetos pelo mundo afora.
Crítica por: Rodrigo Soares