A involução dos guerreiros espartanos.
Mesmo iniciando a carreira com Madrugada dos Mortos (2004), refilmagem que vem sendo a principal referência contemporânea para a explosão do subgênero zombie movie, foi somente com 300 (2006) que Zack Snyder fez seu nome na grande indústria, ficando conhecido como um visionário, pelo seu estilo estético narrativo deveras inventivo. E, ainda que não seja considerado um grande cineasta, ortodoxamente falando, Snyder conseguiu seu espaço e agora com o recente sucesso, O Homem de Aço (2013), ganhou carta branca da Warner pra realizar trabalhos ainda mais ambiciosos. Logo, não é atoa que o filme do Rei Leônidas foi fundamental dentre seus títulos, pois, além de trazer várias inovações visuais e de ter trabalhado em chroma key como poucos, é uma adaptação impecável da obra original de Frank Miller (The Spirit: O Filme), não deixando de lado seu contexto histórico ou restringindo-se apenas a cenas soltas.
O que exatamente acontece com sua continuação, 300: A Ascensão do Império, que, não só comete esse erro, vendendo-se como obra extremamente escapista, quão é um longa genérico, do ponto de vista estético, não tendo um mínimo êxito catártico nas inúmeras cenas de batalhas que nele são aludidas. O inexperiente diretor israelense, Noam Murro (Vivendo e Aprendendo), entrega um trabalho de direção pedestre, de ritmo lento, que pouco explora seus personagens, e é recheado de slow-motion, seguido de câmeras rápidas, soando assim como uma copia piorada do próprio Snyder – técnica que já foi saturada no pavoroso Sucker Punch: Mundo Surreal (2011), que, não por coincidência, Zack abandonou no título posterior.
Detentor de esplendidos efeitos visuais, por possuir uma produção considerável, as performances das lutas são isoladamente bem realizadas, no que diz respeito aos movimentos e textura. O que não quer dizer que as tomadas surtam efeito para com o espectador, já que estas são repetidas infindáveis vezes, fazendo com que, mais na frente, sua grande cartada torne-se, melhor dizendo, algo aborrecido. A ponto de que se você sair da sala no meio do filme e voltar após alguns minutos para a conclusão, nada perderá, pois fica claro que a trama não anda, por sempre se preocupar com combates vazios.
Baseado também em um quadrinho de Frank Miller, Xerxes, algo me chamou bastante atenção aqui, e não é pelo fato de eu ser brasileiro e meu possível ufanismo me obrigar a fazer tal pergunta: onde está a grande participação do ator Rodrigo Santoro (Heleno) nessa história? Pois, sua presença aqui é tão marcante quanto a que vimos no filme anterior. O arco principal e motivacional gira em torno de seu personagem, que por assim leva o título da obra original, mas é evidente que a principal antagonista do conto é a Artemisia, vilã vivida pela lindíssima Eva Green (007: Cassino Royale), que, sim, realiza um trabalho completamente caricato, mas que parece estar apenas seguindo o perfil idealizado. Mas o maior problema do casting é mesmo seu protagonista, o “lendário” Themistokles, interpretado por Sullivan Stapleton (Caça aos Gângsteres), que seria até uma ofensa compará-lo à Gerard Butler (Invasão a Casa Branca), por ser tão medíocre naquilo que fez. Imponência é uma palavra que não existe em seu dicionário. O ator é terrível em vários sentidos.
Não será necessário se aprofundar na trilha de Junkie XL (Conexão Perigosa), já que dificilmente você irá se lembrar de algum acorde. Assim como a montagem e David Brenner e Wyatt Smith é automatizada e deixa um filme de 100 minutos com uma impressão de gigantismo. Já a fotografia de Simon Duggan (O Grande Gatsby) evidencia com perfeição os efeitos visuais e o clima explorado nos mares. Bem como o roteiro da dupla, Zack Snyder e Kurt Johnstad, parece ter pernas pra que se possa explorar – o que Murro não faz. Levando-nos, novamente, àquela questão: é realmente interessante a indústria americana se preocupar tanto em produções milionárias, no intuito de beneficiar tolas batalhas, e deixar de lado a alma da coisa, contratando profissionais que pouco se importam com resultado artístico desses trabalhos? Títulos como Imortais (2011), Fúria de Titãs (2010), 47 Ronins (2014) e este 300: A Ascensão do Império provam cada vez mais que não.