Lady Gaga é uma das artistas mais únicas não apenas do século XXI, mas de todos os tempos.
Tendo seu glorioso início em 2008 com o lançamento do álbum ‘The Fame’, a cantora e compositora logo se transformou em uma força incomparável que a colocou lado a lado de outras lendas, incluindo Beyoncé e Britney Spears, reinventando-se com uma capacidade invejável e sempre fazendo questão de honrar os artistas que lhe inspiraram. Não é surpresa que, através de uma mentalidade genial, ela tenha resgatado sonoridades clássicas revestidas com uma roupagem contemporânea, promovendo um encontro entre passado e presente que explode em uma ressonante vibração artística.
É claro que, assim como toda carreira, Gaga passou por altos e baixos – com alguns caracterizando álbuns como ‘ARTPOP’ e ‘Joanne’ como fracassos comerciais e críticos, ou então afirmando que a performer não conseguiu fazer sua transição para a era dos streamings como suas conterrâneas. Em 2020, Gaga mergulhou de cabeça em uma ambiciosa era intitulada ‘Chromatica’, que fez um barulho considerável ao trazer páginas emprestadas dos anos 1990 com house e dance e dando origem a um disco pronto para as pistas de dança. Todavia, é notável como a era poderia ter se transformado em um sucesso incomparável não fosse a pandemia de COVID-19 que adiou os planos da artista em concretizá-la como merecia.
Pouco depois, Gaga retornou ao mundo do jazz com um tocante álbum colaborativo com o saudoso e lendário Tony Bennett, garantindo a ele uma despedida digna e uma merecida estatueta do Grammy. E não demorou muito até ela retornar aos cinemas com a sequência ‘Coringa: Delírio a Dois’, trabalhando com Todd Phillips e Joaquin Phoenix, e um álbum adjacente intitulado ‘Harlequin’ – ambos não fazendo o sucesso prometido e atraindo mais comentários infundados sobre o declínio da carreira da artista.
Mas tudo mudaria quase em um “passe de mágica” com o lançamento de uma inesperada colaboração intitulada “Die With a Smile”, com Bruno Mars. A cândida balada romântica logo se transformou em um dos maiores sucessos de todos os tempos, quebrando recordes de streaming e alcançando números surpreendentes que demonstrariam o poder de uma dupla inigualável – e que lhes renderia um merecido gramofone dourado. O que ninguém esperava é que esse seria o início de uma de suas melhores eras – que se consagraria com “Disease”, um potente single pautado no electro-clash, e culminaria em seu antecipado sétimo álbum de estúdio: ‘MAYHEM’.

O compilado de originais foi lançado em março deste ano e, em pouco tempo, tornou-se um dos mais elogiados de 2025 por uma série de razões: para além da escolha certeira de uma impecável faixa intitulada “Abracadabra” – e que se sagrou um sucesso crítico e comercial -, a estrutura aparentemente profusa do projeto era apenas Gaga fazendo questão de rearranjar uma “caótica” mente em uma jornada pela história da música, mesclando gerações diferentes em um cosmos vibrante e extremamente profundo. Dentre os vários gêneros explorados pela artista, tivemos a presença certeira do disco, do funk, do synth e do dance remodelados em uma coesa narrativa sonora e um emblemático testamento para si mesma e para sua legião de fãs.
Mas o aclame por parte dos especialistas seria apenas o início de uma era de sucesso inimaginável: se com “Die With a Smile” ela foi catapultada para o topo das artistas femininas no Spotify e nas principais plataformas de streaming, o retorno de um dos nomes mais importantes do cenário fonográfico atual angariou vendas excepcionais que já ultrapassaram as 5 milhões de cópias vendidas e que já refletem nos shows sold-out que foram anunciados, por enquanto, para a antecipada Mayhem Ball, bem como nas ovações constantes em suas apresentações no Festival Coachella e no México. Entretanto, nada poderia nos preparar para o show gratuito que Gaga trouxe às areias de Copacabana, reunindo expressivos 2,1 milhões de fãs que urravam seus maiores hits em um frenesi artístico de tirar o fôlego.
Todavia, há algo que ultrapassa o impacto comercial e crítico que Gaga vem coletando este ano – algo que, de fato, é muito mais significativo. Afinal, a relação que a performer mantém com sua audiência é única e passível de inveja, considerando que sua mera presença é capaz de descontrolar qualquer um. Dessa forma, as relações parassociais que emergem entre Gaga e seus fãs são dignas de nota e de estudo, visto que ela traz consigo uma visão quase antropológica da maneira em que esses laços inquebráveis são forjados. Ela nos recebe de braços abertos e nos deixa em contato com seu lado mais vulnerável – e não há nada que se assemelhe a isso.
‘MAYHEM’ é apenas mais um irretocável capítulo na prolífica e estonteante carreira de Lady Gaga – e serve, dentre inúmeros outros motivos, como reafirmação do poder incomparável de uma das maiores artistas de todos os tempos. E, enquanto poucos se equiparam a essa magnanimidade no cenário pop contemporâneo, ela permanece deixando sua marca incomparável no entretenimento.