‘A Bela e a Fera’ é uma das animações mais aclamadas não apenas no panteão Walt Disney, mas da história do cinema – sagrando-se a primeira do gênero a conquistar uma indicação ao Oscar de Melhor Filme. Eternizando uma das princesas mais adoradas da Casa Mouse, bem como uma das histórias de amor mais comoventes das últimas décadas, o longa serviu de inspiração para diversas produções subsequentes. E, em 2017, mais de vinte e cinco anos depois do lançamento da obra original, fomos convidados a retornar para esse mágico mundo com o remake em live-action homônimo, que completa seu oitavo aniversário.
Para aqueles não familiarizados, a trama acompanha Bela (Emma Watson), uma jovem encantadora que sonha em conhecer o mundo para além de seu vilarejo. Vivendo ao lado do pai viúvo, Maurice (Kevin Kline), ela recorre aos livros para fugir da realidade, preferindo os próprios pensamentos à companhia de inúmeras pessoas fúteis que também moram na cidadela – incluindo o detestável Gaston (Luke Evans), um caçador narcisista, arrogante e machista que acha que as mulheres devem ser submissas e não pensar. Porém, o monótono cotidiano de Bela vira de cabeça para baixo quando o pai, perdendo-se no caminho durante uma entrega, vai parar no castelo de uma Fera monstruosa (Dan Stevens) que resolve prendê-lo para o resto da vida.
Não demora muito até que Bela descubra o que aconteceu e parta em uma missão não para resgatar o pai, e sim para tomar o seu lugar e garantir que ele não morra encarcerado. Mesmo a contragosto, a Fera aceita a proposta, enquanto Maurice é mandado de volta para o vilarejo e tenta alertar a todos sobre o que aconteceu. O que Bela não esperava é que, com o passar do tempo, ela e seu suposto algoz iriam se apaixonar – e nossa heroína titular descobriria um mundo encantado em que não apenas a Fera, como todos os criados (que foram transformados em mobília), estão presos em uma maldição lançada por uma poderosa feiticeira, e sem muito tempo até que permaneçam daquele jeito para sempre.
Considerando o histórico duvidoso das adaptações em live-action da Disney, o filme poderia se render a mais uma releitura sem vida – mas, felizmente, não é isso o que acontece. Apesar de não estar livre de problemas, o longa-metragem traz Bill Condon, mesmo nome por trás de produções como ‘Chicago’ e ‘Dreamgirls’, em boa forma para comandar esse clássico conto de fadas sob uma perspectiva modernizada e mais ampla, pegando elementos da obra dos anos 1990 e remodelando-as em uma estética que dialoga com sua própria identidade estilística. Aliando-se aos roteiristas Stephen Chbosky e Evan Spiliotopoulos, Condon consegue expandir o cânone animado em um misto de aventura, ação e fantasia que funciona em quase todos os seus aspectos – por mais que certas incursões não atinjam o ápice que poderiam.
No geral, as incursões técnicas são primorosas; todavia, não podemos desviar o olhar de um design um tanto quanto bizarro para os objetos personificados, que se afastam das construções propositalmente caricatas da animação e trilha um caminho mais verossímil, o que, vez ou outra, quebra nosso envolvimento no filme. Entretanto, as incríveis performances de um elenco de peso são o suficiente para ofuscar os equívocos e para arquitetar uma jornada romântica e musical que nos deixa satisfeito à medida que os créditos de encerramento começam a subir – com destaque a sólidas investidas de Watson (cujo poder vocal pode escorregar em algumas canções, mas nada que seu charme em tela não consiga manejar) e Stevens.
Para além da dupla protagonista, Evans rouba os holofotes ao apresentar uma nova imortalização de um dos antagonistas mais icônicos da Casa Mouse, não apenas carregando os trejeitos de brutamontes de Gaston, mas garantindo que ele seja mais temível e mais perigoso ainda com uma carga dramática de tirar o fôlego; Josh Gad, interpretando LeFou, insurge como um bem-vindo escape cômico cujo arco é mais complexo e menos estereotípico que o longa original; e, como a cereja do bolo, temos diversos veteranos divertindo-se em papéis que praticamente foram escritos para eles, incluindo Ewan McGregor como o maître d’ Lumière, o lendário Ian McKellen como o relógio e mordomo Cogsworth, e a sempre irretocável Emma Thompson como a adorável e protetora Mrs. Potts.

Contando com mensagens de bonança e de amor, que refletem o caráter fabulesco tanto da atemporal história francesa assinada por Gabrielle-Suzanne Barbot de Villeneuve quanto do projeto encabeçado por Gary Trousdale e Kirk Wise quase trinta anos atrás, o remake de ‘A Bela e Fera’ pode não ter chegado aos pés da animação da Disney, mas certamente cumpriu com o prometido. Não é surpresa, pois, que o elogiado longa seja considerado um dos melhores live-actions da Casa Mouse, tendo conquistado com grande mérito seu espaço em meio a um seleto grupo que inclui ‘Mogli – O Menino Lobo’ e ‘Cinderela’.
Lembrando que o filme está disponível no Disney+.

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