Se você não esteve debaixo de uma rocha durante o último mês, provavelmente deve ter ouvido falar de A Maldição da Residência Hill, nova produção original da Netflix, dividida em 10 episódios, que se tornou sucesso instantâneo.
Muitos especialistas e o grande público em geral costumam pegar pesado com as produções da casa devido, digamos, por vezes à sua falta de qualidade. Com A Maldição da Residência Hill o efeito foi unânime, mas seguindo na contramão dos desafetos da casa. O programa atingiu o ponto certo com os críticos e os fãs se derreteram em elogios. Justamente por isso, uma segunda temporada foi confirmada.
Mas além de uma trama bem delineada, clima gélido e experimentos artísticos satisfatórios, existe muito por trás da série que talvez os fãs não saibam.
Pensando nisso, resolvemos criar esta nova matéria salientando muitas curiosidades sobre os bastidores e história do programa. Vamos conhecer.
A Maldição da Residência Hill foi criada para a Netflix, escrita e dirigida por Mike Flanagan – um dos grandes especialistas do gênero terror na atualidade. Se você ainda não conhece o sujeito, basta saber que o diretor foi responsável por obras como O Espelho (2013), Hush: A Morte Ouve (2016), O Sono da Morte (2016), Ouija: Origem do Mal (2016) e Jogo Perigoso (2017). Além disso, o cineasta está desenvolvendo Doutor Sono, a sequência do clássico O Iluminado, de Stephen King.
Para quem assistiu a O Espelho (2013), eficiente terror que marcou a estreia de Mike Flanagan no comando de um longa-metragem, pode notar um curioso easter egg. O Lasser Glass, espelho amaldiçoado do longa de estreia do diretor, pode ser visto em A Maldição da Residência Hill na cena em que Nell ainda na infância (Violet McGraw) aparece dançando.
Não deixe de assistir:
Diversos atores de A Maldição da Residência Hill já haviam trabalhado com o diretor Mike Flanagan em seus projetos anteriores. Elizabeth Reaser (Shirley), Henry Thomas (Hugh) e Lulu Wilson (Shirley jovem) estiveram em Ouija: Origem do Mal. Carla Gugino (Olivia) e Henry Thomas são parte do elenco de Jogo Perigoso. Já Kate Siegel (Theo), esposa do cineasta na vida real, marcou presença em todos os seus filmes, exceto O Sono da Morte.
Em Ouija: Origem do Mal, Elizabeth Reaser e Lulu Wilson interpretam mãe e filha golpistas. Em A Maldição da Residência Hill, as atrizes interpretam a mesma personagem, Shirley, a filha mais velha, em épocas diferentes.
A trama da série se passa em duas linhas temporais distintas, mostrando os cinco irmãos da família Crain adultos, e relembrando o passado junto aos pais, ainda crianças. A escolha por tal narrativa aproxima a obra, mesmo que de forma involuntária, ao estilo do sucesso It: A Coisa (2017), no qual um grupo de crianças precisa lidar com forças sobrenaturais mesmo depois de terem se tornado adultos.
Em Jogo Perigoso, baseado em outro texto do mestre Stephen King (assim como It: A Coisa), Carla Gugino vive a protagonista, e se lembra através de flashbacks de sua infância ao lado da mãe, papel de Kate Siegel. Em A Maldição da Residência Hill, o oposto ocorre, com Siegel na fase adulta, lembrando da mãe Gugino, durante a infância. Henry Thomas, que também está no filme, vive o pai da protagonista em Jogo Perigoso. Na série, o ator é o marido de Gugino e pai de Siegel.
A Maldição da Residência Hill não é uma ideia original. A trama da série é uma adaptação do livro clássico A Assombração da Casa da Colina (The Haunting of Hill House), lançado em 1959, escrito pela autora Shirley Jackson. Na trama, um cientista, o Dr. John Montague, realiza um experimento voltado ao sobrenatural com três voluntários na mansão da colina Hill: Eleanor, uma jovem tímida e retraída, Theodora, uma artista boêmia e espalhafatosa, e Luke, herdeiro da casa e anfitrião.
O livro de Shirley Jackson foi adaptado duas vezes ao cinema. A primeira foi em 1963, no clássico do terror dirigido por Robert Wise (A Noviça Rebelde), intitulado Desafio do Além. Depois, em 1999, Steven Spielberg produziu um remake, dirigido por Jan de Bont (Velocidade Máxima), intitulado A Casa Amaldiçoada – esta versão é estrelada por Liam Neeson, Catherine Zeta-Jones, Owen Wilson e Lili Taylor. Nas duas versões, muito da fidelidade com a obra literária original foi mantida pelos realizadores, embora a nova versão tenha esquecido o medo e os sustos em prol do advento recém inaugurado que era a febre do CGI.
A nova adaptação, confeccionada por Flanagan, é a que mais destoa de seu material fonte. No entanto, o esmero impresso pelo cineasta, consegue transcender a falta de fidelidade. Muitos definitivamente irão apontar A Maldição da Residência Hill como o melhor uso do material de Shirley Jackson. A principal diferença diz respeito aos personagens – agora todos membros da mesma família: os Crain. Quem conhece a obra original sabe que este é o sobrenome dos antigos donos da mansão, cujo patriarca Hugh Crain comporta-se como maior vilão e principal assombração de todas as outras encarnações do texto. Aqui, Hugh Crain é o pai da grande família, um sujeito de bem, igualmente atormentado pelas entidades da casa – vivido no passado por Henry Thomas e no presente por Timothy Hutton.
Ainda sobre os personagens, temos os gêmeos Nell (ou Eleanor) e Luke, vividos respectivamente pela bela Victoria Pedretti e Oliver Jackson-Cohen na fase adulta, e Violet McGraw e Julian Hilliard na infância. Os filhos mais novos do casal Crain talvez sejam os mais sofredores. Nell luta contra uma bizarra paralisia do sono e depressão, e Luke se tornou viciado em drogas, constantemente travando batalhas para ficar sóbrio. No texto original, Eleanor era a personagem mais atormentada – sofrendo com certa esquizofrenia, ela era a mais adepta e sensível em relação ao sobrenatural. Seu desfecho no texto original é um dos mais trágicos, porém, poéticos, e na série isso é mantido.
Na abertura da série, uma das estátuas emula a forma da estátua vista no quarto de Eleanor na versão de 1963.
Ainda falando em Eleanor, duas cenas clássicas dos filmes foram mantidas. A primeira, envolvendo um dos momentos mais assustadores do clássico da década de 1960, quando a personagem acha que Theo está segurando sua mão, apenas para descobrir que não era exatamente ela. Esse momento icônico é reproduzido na infância das personagens na série. Também na infância, a frase escrita nas paredes da casa, chamando Nell de volta ao lar (ou dando as boas-vindas), igualmente encontra lugar nesta adaptação – o que para os fãs é um reconhecimento de que os realizadores realmente se importam, deixando estes pequenos presentes para os entendidos.
A clínica de reabilitação frequentada por Luke para curar seu vício se chama Clínica Sanderson. No livro, o sobrenome de Luke é Sanderson.
Em uma das cenas de sua infância, Luke é visto com uma lancheira de E.T.- O Extraterrestre (1982), filme clássico de Steven Spielberg, em sua casa de árvore. Além de Spielberg ter produzido a versão de 1999, Henry Thomas, o jovem Hugh, ficou eternizado como o pequeno Elliott, protagonista da fantasia.
Voltando a falar dos personagens, iremos focar agora em Theodora, ou Theo. A personagem mais ousada, no filme original existia certo clima no ar – mesmo que para a época isto ainda fosse um tabu. Mas é um fato sabido e comentado, da existência de um subtexto lésbico entre as duas personagens principais. É como se a extrovertida Theo tirasse a sexualidade adormecida de Nell. Já na versão de 1999, através de um breve diálogo, Zeta-Jones dá sinais de sua bissexualidade – o que na época deixou tarados de plantão babando. Existiram até boatos de que cenas mais intensas haviam sido deixadas na sala de edição. Esta característica da personagem é mantida na série, na versão criada por Kate Siegel. Na infância, Theo é vivida pela engraçadinha e carismática Mckenna Grace. Além de ser lésbica assumida, e não mais bissexual, Theo ganha dons de mediunidade ao tocar outras pessoas no programa, assim precisando usar luvas para reprimir seus poderes paranormais.
Na série, a pequena Theo aparece em uma cena lendo o livro The Lottery, outro texto escrito pela autora Shirley Jackson.
Na série temos um personagem que reflete o Doutor John Montague, chamado de Dr. John Markway (Richard Johnson) no filme de 1963, e de David Marrow (Liam Neeson), em 1999. Justamente portando o nome Dr. Montague, na série o personagem é o terapeuta de Nell, e é interpretado por ninguém menos que Russ Tamblyn, ator que viveu Luke na versão original de 1963.
Por outro lado, os caseiros da mansão estão aqui – assim como em todas as encarnações. Os Dudley são um casal muito solícito, mas simplesmente se recusam a ficar na mansão após o anoitecer. Em 1963, o Sr. Dudley foi vivido por Valentine Day, enquanto sua esposa, a Sra. Dudley teve as formas de Rosalie Crutchley. Na versão de 1999, tivemos o veterano Bruce Dern e Marian Seldes vivendo os personagens. Já na série, são Robert Longstreet e Annabeth Gish quem dão vida ao casal.
Para finalizar, vamos falar dos filhos mais velhos: Steven e Shriley. A filha mais velha, interpretada na série por Elizabeth Reaser, é uma personagem que não existia na história original de Shirley Jackson. Bem, pelo nome já se pode imaginar a homenagem aqui. Isso mesmo, Shirley foi batizada como referência à criadora da história. Steven, papel de Michiel Huisman, segue caminho semelhante. Personagem inédito na história original, o filho mais velho foi batizado como homenagem ao diretor Steven Spielberg – que além de ter produzido a versão de 1999, e ser fã do material fonte, levou através de sua produtora, a Amblin TV, o projeto ao diretor Mike Flanagan.
E você, conhece mais alguma curiosidade? Deixe abaixo nos comentários.