sexta-feira , 22 novembro , 2024

A Nova Onda do Imperador faz 22 ANOS! Conheça as Turbulências e Curiosidades da Animação…

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Parece que foi ontem, mas a verdade é que a aclamada animaçãoA Nova Onda do Imperador’ completa 22 anos nesse ano de 2022! Loucura, né? Pois é, mas é verdade… O filme foi originalmente lançado como aposta da Disney nas férias de fim de ano no hemisfério norte, trazendo um calorzinho às salas de cinema. No Brasil, o longa estreou no dia 29 de dezembro de 2000, encerrando o primeiro ano do novo milênio. Porém, nem tudo foram flores na produção desse sucesso da Disney. Conheça aqui algumas curiosidades e as turbulências por trás da realização do longa.

1 – De um imperador para outro



No Brasil, o personagem principal, Kuzco – que é o imperador em ‘A Nova Onda do Imperador’ – foi dublado pelo ator Selton Mello. Se você não sabe quem ele é, Selton Mello é o ator que atualmente está fazendo o papel de Dom Pedro II na novela ‘Nos Tempos do Imperador’. Isso mesmo, Selton foi de Imperador Kuzco, em 2000, para Imperador Dom Pedro II em 2022. Haja imperialismo!

2 – Selton Mello e seus bichinhos animados

Como foi dito, Selton Mello dublou o Kuzco – que, além de imperador, também se transforma em uma llama falante. Mas, antes disso, o ator dublou um pato, em ‘Duck Tales’, e depois foi o urso Kenai em ‘Irmão Urso’; em seguida, foi o gato Lino na animaçãoLino’. Pelo visto, a bicharada está solta no currículo do dublador – que também já emprestou a voz a um liquidificador, em ‘Reflexões de um Liquidificador’.

3 – 50ª produção da Disney

A Nova Onda do Imperador’ foi a 50ª produção animada lançada pelos estúdios Disney, marcando uma mudança no perfil da empresa – que só seria vista anos mais tarde. O longa estava em desenvolvimento desde 1994, e, após seis anos de produção, se tornou o primeiro lançamento da Disney no novo milênio, e justamente com uma história que jogava mais luz sobre as culturas latino-americanas, indicando, assim, os novos ventos sinalizados pela empresa do Mickey Mouse.

4 – Campanha de Marketing

Uma vez que a Disney, já naquela época, estava querendo conquistar o crescente público hispanohablante no território estadunidense, a empresa decidiu gastar cerca de 250 mil dólares em marketing para lançar nos EUA cópias de ‘A Nova Onda do Imperador’ dubladas em inglês (como é no original) e também em espanhol, e ambas as versões estrearam nas salas do circuito. Entretanto, para a surpresa deles, as salas que exibiam a animação falada em espanhol não tiveram tanta adesão, faturando bem menos do que eles esperavam. Assim, em menos de três semanas do lançamento essas cópias foram retiradas do circuito exibidor.

5 – Representação ou apropriação cultural?

A Nova Onda do Imperador’ buscava aproximar o crescente público hispanohablante em território estadunidense e também o público latino-americano, ferrenhos consumidores dos produtos Disney desde sempre – e que, nessa virada de milênio, começava a conseguir viajar mais para os parques temáticos e de fato vivenciar a experiência do mundo Disney. Porém, o lançamento do filme, embora aparentemente bem-intencionada, trazia a cultura inca traduzida de forma caricaturesca e risível, colocando o imperador como um adolescente de traços brancos mimado e neoliberal, que quer destruir o vilarejo para construir um parque temático. Além disso, o filme transformava a sabedoria xamânica em uma vilã desprezível que utiliza o conhecimento para o mal; por fim, o filme ainda dá tal casa de praia de Kuzco ao personagem, que, embora em teoria fosse inca, tinha uma cabeça bastante ocidental-capitalista. Apesar de ter se tornado um sucesso nos anos posteriores – especialmente aqui no Brasil, e muito por conta da dublagem primorosa –, quando colocamos o longa assim, em perspectiva, dá para ver que, na real, ele é bastante ofensivo à cultura incaica e às tradições peruanas, que simplesmente foram usadas e digeridas pelos estúdios Disney e reproduzidas de maneira cômica para entreter um público acostumado a pensar como o próprio Kuzco. Felizmente o mesmo não aconteceu com produções posteriores, como ‘Moana’ e ‘Encanto’.

6 – Kingdom of the Sun

A história de ‘A Nova Onda do Imperador’ nem sempre foi a que vimos em sua versão final. Tendo começado a ser produzida em 1994, os primeiros quatro anos foram dedicados à realização de um filme que se chamaria ‘Kingdom of the Sun’ (O Império do Sol), uma animação que teria tons mais épicos e aventuresco, trazendo Kuzco como um imperador egoísta que encontra um pastor igual a si mesmo e, diante desse achado, decidia trocar de lugar com o homem para ter mais liberdade em sua vida, seguindo o modelo do clássico ‘O Príncipe e o Mendigo’, do escritor Mark Twain. Entretanto, os executivos da Disney não teriam gostado do excesso cultural da produção, que trazia muito mais elementos da cultura inca em todos os seus detalhes, e, uma vez que ‘Pocahontas’ e ‘O Corcunda de Notre-Dame’ teriam tidos arrecadações abaixo do esperado, os executivos teriam decidido que a história estava séria demais, e pediram que a transformassem em algo mais cômico. Assim chegamos à versão pastelona de ‘A Nova Onda do Imperador’ que estreou nos cinemas. A versão anterior teve o projeto cancelado, após ter gastado cerca de 30 milhões em orçamento e ter 25% da história já animada. Anos depois o filme foi produzido sob o título ‘Kingdom of the Sun’, por Randy Fullmer, produtor original da história.

7 – Sting

O cantor Sting também estava cotado na versão original do filme, tendo escrito e produzido seis canções para a animação. Depois do cancelamento do projeto e da saída de Fullmer da produção, as canções de Sting também foram retiradas – o que enfureceu o cantor. No final das contas, as melodias do cantor britânico acabaram entrando na produção sobre a cultura inca… Bom, ao menos na versão brasileira as músicas foram cantadas pelo Ed Motta.

8 – O final terrível

O final alternativo na nova versão de ‘A Nova Onda do Imperador’, vejam só, fazia com que Kuzco, depois de ter atravessado sua jornada, construísse sua Kuzcotopia em uma outra colina perto de onde Pacha morava. A “moral” é que ele não destruiria a casa do amiguinho, mas, em vez disso, iria destruir uma floresta ao lado e convidaria Pacha e sua família para visitá-lo, bem ao estilo imperialista ocidental mesmo. Horrorizado com esse final, o cantor Sting escreveu uma carta aos executivos dizendo-lhes que se este fosse o final do longa, ele iria se demitir, pois iria contra tudo que ele defende na vida. “Vocês façam isso e eu me demito, porque isso é exatamente o oposto do que eu defendo. Passei 20 anos tentando defender os direitos dos povos indígenas e vocês estão simplesmente marchando por cima deles para construir um parque temático. Eu não serei parte disto” – dizia a carta. No final que chegou aos cinemas, Kuzco desiste da sua Kuzcotopia e constrói uma casa semelhante à de Pacha para passar suas férias.

Como podemos ver, os bastidores da produção de ‘A Nova Onda do Imperador’ foram bastante turbulentas, ainda que a versão brasileira tenha chegado impecável ao público nacional. A história completa e outras curiosidades podem ser vistas no documentário ‘The Sweatbox’ (2002).

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Janda Montenegrohttp://cinepop.com.br
Escritora, autora de 6 livros, roteirista, assistente de direção. Doutora em Literatura Brasileira Indígena UFRJ.

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1 – De um imperador para outro

No Brasil, o personagem principal, Kuzco – que é o imperador em ‘A Nova Onda do Imperador’ – foi dublado pelo ator Selton Mello. Se você não sabe quem ele é, Selton Mello é o ator que atualmente está fazendo o papel de Dom Pedro II na novela ‘Nos Tempos do Imperador’. Isso mesmo, Selton foi de Imperador Kuzco, em 2000, para Imperador Dom Pedro II em 2022. Haja imperialismo!

2 – Selton Mello e seus bichinhos animados

Como foi dito, Selton Mello dublou o Kuzco – que, além de imperador, também se transforma em uma llama falante. Mas, antes disso, o ator dublou um pato, em ‘Duck Tales’, e depois foi o urso Kenai em ‘Irmão Urso’; em seguida, foi o gato Lino na animaçãoLino’. Pelo visto, a bicharada está solta no currículo do dublador – que também já emprestou a voz a um liquidificador, em ‘Reflexões de um Liquidificador’.

3 – 50ª produção da Disney

A Nova Onda do Imperador’ foi a 50ª produção animada lançada pelos estúdios Disney, marcando uma mudança no perfil da empresa – que só seria vista anos mais tarde. O longa estava em desenvolvimento desde 1994, e, após seis anos de produção, se tornou o primeiro lançamento da Disney no novo milênio, e justamente com uma história que jogava mais luz sobre as culturas latino-americanas, indicando, assim, os novos ventos sinalizados pela empresa do Mickey Mouse.

4 – Campanha de Marketing

Uma vez que a Disney, já naquela época, estava querendo conquistar o crescente público hispanohablante no território estadunidense, a empresa decidiu gastar cerca de 250 mil dólares em marketing para lançar nos EUA cópias de ‘A Nova Onda do Imperador’ dubladas em inglês (como é no original) e também em espanhol, e ambas as versões estrearam nas salas do circuito. Entretanto, para a surpresa deles, as salas que exibiam a animação falada em espanhol não tiveram tanta adesão, faturando bem menos do que eles esperavam. Assim, em menos de três semanas do lançamento essas cópias foram retiradas do circuito exibidor.

5 – Representação ou apropriação cultural?

A Nova Onda do Imperador’ buscava aproximar o crescente público hispanohablante em território estadunidense e também o público latino-americano, ferrenhos consumidores dos produtos Disney desde sempre – e que, nessa virada de milênio, começava a conseguir viajar mais para os parques temáticos e de fato vivenciar a experiência do mundo Disney. Porém, o lançamento do filme, embora aparentemente bem-intencionada, trazia a cultura inca traduzida de forma caricaturesca e risível, colocando o imperador como um adolescente de traços brancos mimado e neoliberal, que quer destruir o vilarejo para construir um parque temático. Além disso, o filme transformava a sabedoria xamânica em uma vilã desprezível que utiliza o conhecimento para o mal; por fim, o filme ainda dá tal casa de praia de Kuzco ao personagem, que, embora em teoria fosse inca, tinha uma cabeça bastante ocidental-capitalista. Apesar de ter se tornado um sucesso nos anos posteriores – especialmente aqui no Brasil, e muito por conta da dublagem primorosa –, quando colocamos o longa assim, em perspectiva, dá para ver que, na real, ele é bastante ofensivo à cultura incaica e às tradições peruanas, que simplesmente foram usadas e digeridas pelos estúdios Disney e reproduzidas de maneira cômica para entreter um público acostumado a pensar como o próprio Kuzco. Felizmente o mesmo não aconteceu com produções posteriores, como ‘Moana’ e ‘Encanto’.

6 – Kingdom of the Sun

A história de ‘A Nova Onda do Imperador’ nem sempre foi a que vimos em sua versão final. Tendo começado a ser produzida em 1994, os primeiros quatro anos foram dedicados à realização de um filme que se chamaria ‘Kingdom of the Sun’ (O Império do Sol), uma animação que teria tons mais épicos e aventuresco, trazendo Kuzco como um imperador egoísta que encontra um pastor igual a si mesmo e, diante desse achado, decidia trocar de lugar com o homem para ter mais liberdade em sua vida, seguindo o modelo do clássico ‘O Príncipe e o Mendigo’, do escritor Mark Twain. Entretanto, os executivos da Disney não teriam gostado do excesso cultural da produção, que trazia muito mais elementos da cultura inca em todos os seus detalhes, e, uma vez que ‘Pocahontas’ e ‘O Corcunda de Notre-Dame’ teriam tidos arrecadações abaixo do esperado, os executivos teriam decidido que a história estava séria demais, e pediram que a transformassem em algo mais cômico. Assim chegamos à versão pastelona de ‘A Nova Onda do Imperador’ que estreou nos cinemas. A versão anterior teve o projeto cancelado, após ter gastado cerca de 30 milhões em orçamento e ter 25% da história já animada. Anos depois o filme foi produzido sob o título ‘Kingdom of the Sun’, por Randy Fullmer, produtor original da história.

7 – Sting

O cantor Sting também estava cotado na versão original do filme, tendo escrito e produzido seis canções para a animação. Depois do cancelamento do projeto e da saída de Fullmer da produção, as canções de Sting também foram retiradas – o que enfureceu o cantor. No final das contas, as melodias do cantor britânico acabaram entrando na produção sobre a cultura inca… Bom, ao menos na versão brasileira as músicas foram cantadas pelo Ed Motta.

8 – O final terrível

O final alternativo na nova versão de ‘A Nova Onda do Imperador’, vejam só, fazia com que Kuzco, depois de ter atravessado sua jornada, construísse sua Kuzcotopia em uma outra colina perto de onde Pacha morava. A “moral” é que ele não destruiria a casa do amiguinho, mas, em vez disso, iria destruir uma floresta ao lado e convidaria Pacha e sua família para visitá-lo, bem ao estilo imperialista ocidental mesmo. Horrorizado com esse final, o cantor Sting escreveu uma carta aos executivos dizendo-lhes que se este fosse o final do longa, ele iria se demitir, pois iria contra tudo que ele defende na vida. “Vocês façam isso e eu me demito, porque isso é exatamente o oposto do que eu defendo. Passei 20 anos tentando defender os direitos dos povos indígenas e vocês estão simplesmente marchando por cima deles para construir um parque temático. Eu não serei parte disto” – dizia a carta. No final que chegou aos cinemas, Kuzco desiste da sua Kuzcotopia e constrói uma casa semelhante à de Pacha para passar suas férias.

Como podemos ver, os bastidores da produção de ‘A Nova Onda do Imperador’ foram bastante turbulentas, ainda que a versão brasileira tenha chegado impecável ao público nacional. A história completa e outras curiosidades podem ser vistas no documentário ‘The Sweatbox’ (2002).

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Janda Montenegrohttp://cinepop.com.br
Escritora, autora de 6 livros, roteirista, assistente de direção. Doutora em Literatura Brasileira Indígena UFRJ.

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