sexta-feira , 15 novembro , 2024

A Profecia | Os 45 anos do CLÁSSICO DO TERROR

Saga do pequeno Damien deu origem a uma franquia do gênero que nem sempre é reconhecida

O ano de 1976 para os filmes de terror, principalmente, pode ser visto pela ótica de transição. Ele veio após o boom das histórias envolvendo entidades diabólicas agindo por meio de seres humanos como visto em O Bebê de Rosemary e O Exorcista nos anos de 1968\1973 respectivamente, cada um deixando legados de aprovação popular e crítica inegáveis. 

Por outro lado, esse ano veio antes dos períodos de 1978\1980 quando Halloween e Sexta Feira 13, respectivamente, popularizaram os filmes slasher como um meio pelo qual os estúdios poderiam arrecadar muito dinheiro produzindo infindáveis sequências de uma determinada propriedade sem a necessidade de investir uma alta soma na produção desses filmes. Foi basicamente a constatação de que produções de baixo orçamento com um personagem culturalmente conhecido poderiam ser lucrativas.



Logo, nesse intermédio a ideia de produzir uma obra de terror sobre o anticristo tem seu embasamento histórico. O já mencionado Bebê de Rosemary chocou o público com uma trama onde uma jovem recém casada era gradualmente manipulada pelas pessoas no entorno para que ela parisse um herdeiro do próprio Diabo. A noção de falar abertamente sobre sexualidade e temas tidos como sacro-santos em filmes foi um dos legados do movimento da Nova Hollywood iniciado no fim dos anos 60.

 

Em 1968 “Bebê de Rosemary” chocou o mundo com sua trama macabra

Num mote geral, a trama de A Profecia é focada na família Thorne, cujo patriarca (interpretado por Gregory Peck) é o embaixador dos Estados Unidos no Reino Unido e junto a ele moram sua esposa e um filho pequeno, este que fora adotado ainda recém nascido por eles. Quando uma série de mortes, junto a comportamentos bizarros por parte do pequeno Damien, começam a ficar mais frequentes, o protagonista precisa entender até onde esses episódios estão atrelados ao passado de seu filho.

Impelido por esse clima muito mais liberal do que jamais havia existido antes na indústria cinematográfica, o produtor Harvey Bernhard abordou o roteirista David Seltzer com a proposta de elaborar um enredo sobre a vinda do anticristo à Terra. Um adendo interessante foi que Seltzer, naquela altura, não havia tido experiências prévias com filmes de terror mas sim com dramas focados em relacionamentos. Isso é um elemento importante, principalmente quando visto que A Profecia tem, no centro da tensão, um drama familiar que vai se expandindo.

Só que ele necessariamente não aceitou o projeto por achá-lo interessante. Segundo o IMDB, o roteirista já teria afirmado que sua única motivação para assumir a função foi porque ele precisava muito do dinheiro. “David Seltzer já afirmou que ele apenas escreveu o roteiro porque ele necessitava do dinheiro. Ele também afirmou que ele ambientou a história em Londres porque desejava fazer uma viagem à Inglaterra”. Ele disse do filme, ‘eu o fiz estritamente pelo dinheiro. Eu estava com dificuldades. Eu acho terrível o tanto de pessoas que acreditam nessa besteira’.

A época em questão foi essencial para Seltzer bolar a trama de Damien

Junto a ele na empreitada, veio o diretor Richard Donner para conduzir o filme. Donner ainda não era um dos nomes mais badalados de Hollywood, como viria a ser durante os anos 80, e da mesma maneira como Seltzer não chegava ao projeto detendo uma vasta filmografia de terror. Ainda assim, o diretor tinha uma preferência declarada pela ambiguidade que ele gostaria de conferir ao filme.

Para Donner era muito mais interessante que coubesse ao público decidir se o que eles estavam presenciando na tela eram realmente acontecimentos sobrenaturais causados pelo pequeno Damien em parceria com uma entidade mais diabólica ou eram nada mais do que tragédias perpetradas unicamente por pessoas. Para o diretor, todas as mortes vistas no decorrer do filme, por mais elaboradas que pudessem ser, tinham que soar plausíveis.

A sugestão, no entanto, foi repetidamente repelida pelo roteirista. Para ele, Damien deveria ser uma personificação indubitável do mal, sem espaço para interpretações. Para o papel de pai de Damien, foi escalado o veterano ator Gregory Peck; um fato curioso de bastidores (e são muitos) é que o astro apenas aceitou o papel pelo sentimento de culpa. Ele se identificou com os sentimentos desesperados do personagem sobre como lidar com toda a situação de seu filho pois em 1975 ele não pôde impedir que seu filho, Jonathan, cometesse suicídio.

A contratação de Gregory Peck foi importante para atrair a atenção para o filme

A escolha do ator para o papel de um bom homem com senso de justiça e proteção da família não foi por acaso. Peck se tornara bem conhecido em Hollywood por interpretar esses tipos de personagens como no clássico O Sol é para Todos. Ele precisou sair da aposentadoria para aceitar o trabalho e dessa forma ele causou um efeito de validação do projeto similar ao que Brando e Hackman fizeram pelo filme do Superman em 1978 (este também dirigido por Richard Donner).

Em termos financeiros o filme foi um sucesso. Tendo um orçamento de US$ 2,8 milhões ele lucrou globalmente US$ 60 milhões, segundo o Box Office Mojo. Dessa forma ele garantiu a existência de pelo menos mais três sequências entre 1978 e 1991, além de um remake em 2006 também escrito por David Seltzer. O filme também venceu o Oscar de melhor trilha sonora original em 1976.

Só que A Profecia tem uma fama muito maior do que qualquer conquista técnica. Assim como o que ocorreu durante as gravações de O Exorcista, alguns acontecimentos se tornaram quase que lendas urbanas. Após algumas gravações em Israel, um voo foi fretado para trazer Gregory Peck de volta para os Estados Unidos; em decisão de última hora ele cancelou a viagem e então um grupo de cinco japoneses fretaram o avião. Esse mesmo avião eventualmente caiu.

Outro fato foi que durante as gravações do filme na Inglaterra, o hotel em que o diretor Richard Donner estava hospedado foi bombardeado pelo IRA (antigo grupo paramilitar que realizou diversos atentados entre 1919 e 2005 visando a independêncida da Irlanda). 

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O ano de 1976 para os filmes de terror, principalmente, pode ser visto pela ótica de transição. Ele veio após o boom das histórias envolvendo entidades diabólicas agindo por meio de seres humanos como visto em O Bebê de Rosemary e O Exorcista nos anos de 1968\1973 respectivamente, cada um deixando legados de aprovação popular e crítica inegáveis. 

Por outro lado, esse ano veio antes dos períodos de 1978\1980 quando Halloween e Sexta Feira 13, respectivamente, popularizaram os filmes slasher como um meio pelo qual os estúdios poderiam arrecadar muito dinheiro produzindo infindáveis sequências de uma determinada propriedade sem a necessidade de investir uma alta soma na produção desses filmes. Foi basicamente a constatação de que produções de baixo orçamento com um personagem culturalmente conhecido poderiam ser lucrativas.

Logo, nesse intermédio a ideia de produzir uma obra de terror sobre o anticristo tem seu embasamento histórico. O já mencionado Bebê de Rosemary chocou o público com uma trama onde uma jovem recém casada era gradualmente manipulada pelas pessoas no entorno para que ela parisse um herdeiro do próprio Diabo. A noção de falar abertamente sobre sexualidade e temas tidos como sacro-santos em filmes foi um dos legados do movimento da Nova Hollywood iniciado no fim dos anos 60.

 

Em 1968 “Bebê de Rosemary” chocou o mundo com sua trama macabra

Num mote geral, a trama de A Profecia é focada na família Thorne, cujo patriarca (interpretado por Gregory Peck) é o embaixador dos Estados Unidos no Reino Unido e junto a ele moram sua esposa e um filho pequeno, este que fora adotado ainda recém nascido por eles. Quando uma série de mortes, junto a comportamentos bizarros por parte do pequeno Damien, começam a ficar mais frequentes, o protagonista precisa entender até onde esses episódios estão atrelados ao passado de seu filho.

Impelido por esse clima muito mais liberal do que jamais havia existido antes na indústria cinematográfica, o produtor Harvey Bernhard abordou o roteirista David Seltzer com a proposta de elaborar um enredo sobre a vinda do anticristo à Terra. Um adendo interessante foi que Seltzer, naquela altura, não havia tido experiências prévias com filmes de terror mas sim com dramas focados em relacionamentos. Isso é um elemento importante, principalmente quando visto que A Profecia tem, no centro da tensão, um drama familiar que vai se expandindo.

Só que ele necessariamente não aceitou o projeto por achá-lo interessante. Segundo o IMDB, o roteirista já teria afirmado que sua única motivação para assumir a função foi porque ele precisava muito do dinheiro. “David Seltzer já afirmou que ele apenas escreveu o roteiro porque ele necessitava do dinheiro. Ele também afirmou que ele ambientou a história em Londres porque desejava fazer uma viagem à Inglaterra”. Ele disse do filme, ‘eu o fiz estritamente pelo dinheiro. Eu estava com dificuldades. Eu acho terrível o tanto de pessoas que acreditam nessa besteira’.

A época em questão foi essencial para Seltzer bolar a trama de Damien

Junto a ele na empreitada, veio o diretor Richard Donner para conduzir o filme. Donner ainda não era um dos nomes mais badalados de Hollywood, como viria a ser durante os anos 80, e da mesma maneira como Seltzer não chegava ao projeto detendo uma vasta filmografia de terror. Ainda assim, o diretor tinha uma preferência declarada pela ambiguidade que ele gostaria de conferir ao filme.

Para Donner era muito mais interessante que coubesse ao público decidir se o que eles estavam presenciando na tela eram realmente acontecimentos sobrenaturais causados pelo pequeno Damien em parceria com uma entidade mais diabólica ou eram nada mais do que tragédias perpetradas unicamente por pessoas. Para o diretor, todas as mortes vistas no decorrer do filme, por mais elaboradas que pudessem ser, tinham que soar plausíveis.

A sugestão, no entanto, foi repetidamente repelida pelo roteirista. Para ele, Damien deveria ser uma personificação indubitável do mal, sem espaço para interpretações. Para o papel de pai de Damien, foi escalado o veterano ator Gregory Peck; um fato curioso de bastidores (e são muitos) é que o astro apenas aceitou o papel pelo sentimento de culpa. Ele se identificou com os sentimentos desesperados do personagem sobre como lidar com toda a situação de seu filho pois em 1975 ele não pôde impedir que seu filho, Jonathan, cometesse suicídio.

A contratação de Gregory Peck foi importante para atrair a atenção para o filme

A escolha do ator para o papel de um bom homem com senso de justiça e proteção da família não foi por acaso. Peck se tornara bem conhecido em Hollywood por interpretar esses tipos de personagens como no clássico O Sol é para Todos. Ele precisou sair da aposentadoria para aceitar o trabalho e dessa forma ele causou um efeito de validação do projeto similar ao que Brando e Hackman fizeram pelo filme do Superman em 1978 (este também dirigido por Richard Donner).

Em termos financeiros o filme foi um sucesso. Tendo um orçamento de US$ 2,8 milhões ele lucrou globalmente US$ 60 milhões, segundo o Box Office Mojo. Dessa forma ele garantiu a existência de pelo menos mais três sequências entre 1978 e 1991, além de um remake em 2006 também escrito por David Seltzer. O filme também venceu o Oscar de melhor trilha sonora original em 1976.

Só que A Profecia tem uma fama muito maior do que qualquer conquista técnica. Assim como o que ocorreu durante as gravações de O Exorcista, alguns acontecimentos se tornaram quase que lendas urbanas. Após algumas gravações em Israel, um voo foi fretado para trazer Gregory Peck de volta para os Estados Unidos; em decisão de última hora ele cancelou a viagem e então um grupo de cinco japoneses fretaram o avião. Esse mesmo avião eventualmente caiu.

Outro fato foi que durante as gravações do filme na Inglaterra, o hotel em que o diretor Richard Donner estava hospedado foi bombardeado pelo IRA (antigo grupo paramilitar que realizou diversos atentados entre 1919 e 2005 visando a independêncida da Irlanda). 

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