quarta-feira , 25 dezembro , 2024

A Queda da Casa de Usher | O que esperar da nova série de TERROR de Mike Flanagan?

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Edgar Allan Poe é um dos escritores mais influentes de todos os tempos e é responsável por assinar algumas das histórias mais assustadoras e arrepiantes da história da literatura – estendendo seu legado a qualquer um que ouse se aventurar no gênero do terror gótico.

Nascido em 1809 na cidade de Boston, em Massachusetts, Poe é condecorado como o pai do conto moderno e precursor do movimento da “arte pela arte” no século XIX. Em seu extenso trabalho, que é analisado nas principais universidades do mundo, o autor sempre mostrou ter apreço significativo pela visão da verdade e pela essência da condição humana, todas atreladas a uma concepção sobrenatural e psicológica que dialogaria, mais tarde, com a concretização da psicanálise como ciência. Ele também trabalhava como crítico literário e estabeleceu que a criação literária deveria ser designada sobre dois pontos principais: uma unidade de efeito no leitor, isso é, causar alguma sensação no interlocutor (não importasse qual sentimento fosse); e esse efeito em questão não poderia ocorrer de forma ocasional ou acidental, e sim partindo de minuciosos detalhes justapostos que contribuíram para uma espécie de epifania ou de catarse.



Através de seus escritos, Poe se mostrou bastante interessando pelo caráter psíquico dos personagens que criou – desde o poema O Corvo até a narrativa de ‘O Gato Preto’, ambos considerados como dois de suas produções mais icônicos. A utilização idiossincrática de recursos de linguagem, de ritmo e de pontuação (como a sinfonia frasal das meias-riscas e das reticências) viriam a influenciar autores como Fiodor Dostoiévski, H.P. Lovecraft e Ambrose Bierce, abrindo um espaço gigantesco para a exploração do horror e das alegorias imagéticas como reflexo da humanidade e de suas problemáticas mais intrínsecas.

Não é surpresa, pois, que sua arte tenha caído no interesse de um dos realizadores mais prolíficos da contemporaneidade – Mike Flanagan, que promoveu um retorno ao gótico audiovisual com aclamadas obras como A Maldição da Residência Hill e Missa da Meia-Noite, transgredindo algumas fórmulas do gênero em prol de pincelá-las com críticas à enfadonha hipocrisia das pessoas.

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Em 2022, Flanagan anunciou que estava trabalhando em uma nova série para a Netflix, intitulada A Queda da Casa de Usher, um dos contos mais famosos de Poe. Enquanto detalhes não foram divulgados, acredita-se que, pelo gigantesco elenco (que conta com Carla Gugino, Mark Hamill, Frank Langella e mais), ela se construa sob uma estrutura antológica, seguindo os passos cenográficos das incursões anteriores do cineasta ou talvez apresentando mais um lado de sua apaixonante filmografia.

As gravações da adaptação terminaram em julho do ano passado e, à medida que informações são divulgadas através das redes sociais, é interessante imaginar o que ela pode nos trazer – e quais contos de Poe ganharão essa roupagem televisiva.

É certo que a narrativa que empresta seu nome ao título da obra apareça, principalmente por se configurar como uma investida quintessencial do terror gótico. A história acompanha um narrador sem nome que se aproxima da Casa de Usher em um “dia inteiro de outono, escuro, sombrio, silencioso”, sendo recebido por um amigo de infância chamado Roderick. O protagonista percebe que o casarão está mergulhada em uma atmosfera maligna e doentia, reiterado pela paisagem decaída que cerca o cenário principal, das árvores secas aos lagos escuros. Aqui, Poe cria uma sensação de claustrofobia em que o narrador se vê preso pela atração de Roderick e não pode escapar até que a Casa venha abaixo – dando controle das situações à mansão em si e impedindo que os personagens ajam ou tenham desejos, encarcerados em um vórtice monstruoso que os drena à última gota de sanidade.

A Queda da Casa de Usher carrega todos os elementos de uma história de fantasmas: uma casa assombrada, uma ambientação sombria, uma doença misteriosa e personas com personalidades duvidosas e ambíguas que não se posam nem como amigos, nem como inimigos. Mas, assim como este conto, há outros que provavelmente irão aparecer na releitura de Flanagan: temos ‘O Gato Preto’, lançado em 1843, que novamente aposta fichas no narrador anônimo, envolto em uma jornada de insanidade que envolve um felino chamado Pluto, que adora como uma divindade. Porém, após começar a ter acessos de raiva e, eventualmente, tortura e enforca o gato – mas as coisas não param por aí e, angustiado e tomado pelo ódio por visões de seu animal de estimação, ele despenca em um abismo de loucura e se torna o próprio inimigo.

Há narrativas que não são tão conhecidas pelo público mainstream, mas que merecem nossa atenção. Em 1846, Poe lançou ‘O Barril de Amontillado’, que reprisa o narrador em primeira pessoa e nos transporta para a conturbada relação de dois homens, Montresor e Fortunato, que se envolvem uma trama de vingança e de assassinato como forma de destruir os inimigos – basicamente, uma investida do horror como punição sem prova. Há, também, um artifício literário que transforma Montresor, o ardiloso e vil protagonista, em um narrador não confiável, o que tira a veracidade do que ele nos conta e nos leva a pensar se aquilo aconteceu mesmo; cinco anos antes, o autor escreveu ‘Os Assassinatos da Rue Morgue’, uma incursão criminal que introduziu o gênero detetivesco à literatura norte-americana e que se vale da paixão de Poe por jogos da mente, quebra-cabeças e códigos secretos (girando em torno de dois brutais assassinatos ocorridos em Paris e apresentando o detetive C. Auguste Dupin).

Dentre outras histórias que podem dar as caras, podemos citar ‘O Coração Denunciador’, de 1843, que promove um estudo sobre paranoia e deterioração mental e que abusa dos elementos sobrenaturais; ‘Ligeia’, de 1838, que une um conto de amor ao gótico grotesco que idolatra a personagem principal em um contraste de luz e sombra; ‘A Máscara da Morte Vermelha’, uma alegoria que reflete o desejo inalcançável do ser humano em conquistar ou se desvencilhar da morte; e, num âmbito muito mais ousado, uma reinterpretação de O Corvo.

E você? Quais contos acha que irão aparecer na série?

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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Nascido em 1809 na cidade de Boston, em Massachusetts, Poe é condecorado como o pai do conto moderno e precursor do movimento da “arte pela arte” no século XIX. Em seu extenso trabalho, que é analisado nas principais universidades do mundo, o autor sempre mostrou ter apreço significativo pela visão da verdade e pela essência da condição humana, todas atreladas a uma concepção sobrenatural e psicológica que dialogaria, mais tarde, com a concretização da psicanálise como ciência. Ele também trabalhava como crítico literário e estabeleceu que a criação literária deveria ser designada sobre dois pontos principais: uma unidade de efeito no leitor, isso é, causar alguma sensação no interlocutor (não importasse qual sentimento fosse); e esse efeito em questão não poderia ocorrer de forma ocasional ou acidental, e sim partindo de minuciosos detalhes justapostos que contribuíram para uma espécie de epifania ou de catarse.

Através de seus escritos, Poe se mostrou bastante interessando pelo caráter psíquico dos personagens que criou – desde o poema O Corvo até a narrativa de ‘O Gato Preto’, ambos considerados como dois de suas produções mais icônicos. A utilização idiossincrática de recursos de linguagem, de ritmo e de pontuação (como a sinfonia frasal das meias-riscas e das reticências) viriam a influenciar autores como Fiodor Dostoiévski, H.P. Lovecraft e Ambrose Bierce, abrindo um espaço gigantesco para a exploração do horror e das alegorias imagéticas como reflexo da humanidade e de suas problemáticas mais intrínsecas.

Não é surpresa, pois, que sua arte tenha caído no interesse de um dos realizadores mais prolíficos da contemporaneidade – Mike Flanagan, que promoveu um retorno ao gótico audiovisual com aclamadas obras como A Maldição da Residência Hill e Missa da Meia-Noite, transgredindo algumas fórmulas do gênero em prol de pincelá-las com críticas à enfadonha hipocrisia das pessoas.

Em 2022, Flanagan anunciou que estava trabalhando em uma nova série para a Netflix, intitulada A Queda da Casa de Usher, um dos contos mais famosos de Poe. Enquanto detalhes não foram divulgados, acredita-se que, pelo gigantesco elenco (que conta com Carla Gugino, Mark Hamill, Frank Langella e mais), ela se construa sob uma estrutura antológica, seguindo os passos cenográficos das incursões anteriores do cineasta ou talvez apresentando mais um lado de sua apaixonante filmografia.

As gravações da adaptação terminaram em julho do ano passado e, à medida que informações são divulgadas através das redes sociais, é interessante imaginar o que ela pode nos trazer – e quais contos de Poe ganharão essa roupagem televisiva.

É certo que a narrativa que empresta seu nome ao título da obra apareça, principalmente por se configurar como uma investida quintessencial do terror gótico. A história acompanha um narrador sem nome que se aproxima da Casa de Usher em um “dia inteiro de outono, escuro, sombrio, silencioso”, sendo recebido por um amigo de infância chamado Roderick. O protagonista percebe que o casarão está mergulhada em uma atmosfera maligna e doentia, reiterado pela paisagem decaída que cerca o cenário principal, das árvores secas aos lagos escuros. Aqui, Poe cria uma sensação de claustrofobia em que o narrador se vê preso pela atração de Roderick e não pode escapar até que a Casa venha abaixo – dando controle das situações à mansão em si e impedindo que os personagens ajam ou tenham desejos, encarcerados em um vórtice monstruoso que os drena à última gota de sanidade.

A Queda da Casa de Usher carrega todos os elementos de uma história de fantasmas: uma casa assombrada, uma ambientação sombria, uma doença misteriosa e personas com personalidades duvidosas e ambíguas que não se posam nem como amigos, nem como inimigos. Mas, assim como este conto, há outros que provavelmente irão aparecer na releitura de Flanagan: temos ‘O Gato Preto’, lançado em 1843, que novamente aposta fichas no narrador anônimo, envolto em uma jornada de insanidade que envolve um felino chamado Pluto, que adora como uma divindade. Porém, após começar a ter acessos de raiva e, eventualmente, tortura e enforca o gato – mas as coisas não param por aí e, angustiado e tomado pelo ódio por visões de seu animal de estimação, ele despenca em um abismo de loucura e se torna o próprio inimigo.

Há narrativas que não são tão conhecidas pelo público mainstream, mas que merecem nossa atenção. Em 1846, Poe lançou ‘O Barril de Amontillado’, que reprisa o narrador em primeira pessoa e nos transporta para a conturbada relação de dois homens, Montresor e Fortunato, que se envolvem uma trama de vingança e de assassinato como forma de destruir os inimigos – basicamente, uma investida do horror como punição sem prova. Há, também, um artifício literário que transforma Montresor, o ardiloso e vil protagonista, em um narrador não confiável, o que tira a veracidade do que ele nos conta e nos leva a pensar se aquilo aconteceu mesmo; cinco anos antes, o autor escreveu ‘Os Assassinatos da Rue Morgue’, uma incursão criminal que introduziu o gênero detetivesco à literatura norte-americana e que se vale da paixão de Poe por jogos da mente, quebra-cabeças e códigos secretos (girando em torno de dois brutais assassinatos ocorridos em Paris e apresentando o detetive C. Auguste Dupin).

Dentre outras histórias que podem dar as caras, podemos citar ‘O Coração Denunciador’, de 1843, que promove um estudo sobre paranoia e deterioração mental e que abusa dos elementos sobrenaturais; ‘Ligeia’, de 1838, que une um conto de amor ao gótico grotesco que idolatra a personagem principal em um contraste de luz e sombra; ‘A Máscara da Morte Vermelha’, uma alegoria que reflete o desejo inalcançável do ser humano em conquistar ou se desvencilhar da morte; e, num âmbito muito mais ousado, uma reinterpretação de O Corvo.

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