É inegável que após a decisão de incluir dez filmes (ao invés dos costumeiros cinco) na categoria principal, os prêmios da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas – popularmente conhecido como Oscar – ficaram, bem, mais pop. Filmes como Avatar, A Origem, Toy Story 3 e, mais recentemente, Pantera Negra, estiveram presentes pleiteando a vaga de produção do ano. Dizem que o causador de tudo foi justamente outro filme pop, O Cavaleiro das Trevas (2008), que por pouco não figurou entre os indicados, numa época em que apenas a metade podia concorrer.
De lá pra cá, muita água rolou e os mais variados gêneros são abraçados por uma nova ala de votantes, membros recentes mais jovens e antenados com as tendências e modernidade. Um exemplo disso foi a vitória do nada tradicional A Forma da Água como melhor filme em 2018 – uma produção sobre um monstro marinho humanoide.
Estamos em meados de setembro, e os pretendentes a indicações para a época de prêmios começam a formar fila. Um dos grandes termômetros é o Festival de Toronto, que está a todo vapor – de onde saem muitos dos filmes que irão figurar no Oscar ano que vem. Um fato peculiar vem chamando atenção em festivais pelo mundo, no entanto. Artistas que haviam caído no ostracismo – alguns há anos – ao que tudo indica estão dando a volta por cima, ensaiando um retorno que poderá ecoar na maior das premiações do mundo do cinema.
Ainda é muito cedo para afirmar, mas levando em conta o buzz gerado pela imprensa especializada e a recepção do público para tais filmes, é quase certa a entrada de pelo menos alguns deles nos mais variados prêmios vindouros da sétima arte. O mais óbvio talvez seja Coringa, filme protagonizado por Joaquin Phoenix e produzido por Martin Scorsese, sobre o mais icônico vilão das histórias em quadrinhos. E é justamente este elemento que causa estranheza, já que os nomes de Phoenix e Scorsese são sinônimos de prestígio. Coringa levou o prêmio máximo no recente Festival de Veneza e sua nota está altíssima no agregador Rotten Tomatoes. Sua indicação ainda seria uma incógnita caso a Academia não tivesse aberto as portas ano passado para Pantera Negra ser indicado na categoria principal, se tornando o primeiro filme de super-herói a realizar tal façanha. Até podemos creditar o fato à representatividade intrínseca que o longa carrega, mas seja como for, aumentou muito as chances para produções como Coringa.
Todos os atores possuem seus altos e baixos. Mas gente como Adam Sandler, Eddie Murphy, Kristen Stewart, Robert Parttinson e Jennifer Lopez já viram sua cota de “fundo do poço”. Provando que o mundo dá voltas e os humilhados serão exaltados, todos eles estão no radar – neste momento – de prêmios para a próxima temporada. A Academia tem – ou tinha – preconceito contra humoristas. Adam Sandler e Eddie Murphy podem afirmar isso. Sandler já provou ser bom ator quando bem guiado e mesmo em atuações que geraram certo burburinho, vide Embriagado de Amor (2002) e Os Meyerowitz (2017), a Academia não lhe deu crédito suficiente. Agora, o comediante tem nova chance com um trabalho sério e dramático. Em Uncut Gems, Sandler vive um joalheiro desesperado para pagar uma dívida. O nome dos diretores por trás do projeto eleva o jogo: os irmãos Benny e Josh Safdie, responsáveis pelo mesmo hype em torno da atuação de Robert Pattinson em Bom Comportamento (2017).
Eddie Murphy, por sua vez, já foi indicado ao Oscar. Muitos não lembram, mas o comediante teve sua nomeação ao maior prêmio da sétima arte em 2007 com Dreamgirls, performance esta que lhe rendeu o Globo de Ouro no mesmo ano. Agora, Murphy está de novo no radar com Meu Nome é Dolamite, que vem sendo anunciado como o Artista do Desastre do cinema blaxplotation.
Outra que não dá as caras em prêmios importantes desde 1998, quando foi indicada por sua performance em Selena no Globo de Ouro, é Jennifer Lopez. A atriz e cantora começou a carreira em projetos impactantes como Sangue e Vinho (1996) e Reviravolta (1997), mas depois recaiu em território de diva, apostando somente em filmes fáceis e comédias românticas (a maioria não muito boa). Talvez a maior surpresa da lista, ninguém dava nada por As Golpistas – que parecia ser somente um filme divertido sobre strippers roubando de forma elaborada investidores de Wall Street. Mas foi só a obra ter sua primeira exibição mundial no TIFF para os elogios o colocarem lá em cima, com alta nota no Rotten e falatório (talvez prematuro, talvez equivocado) de prêmios!
E para terminar a insanidade, o casal de Crepúsculo poderá finalmente rir por último. Apesar dos milhões de fãs pelo mundo, a saga vampiresca teen não tem o melhor dos conceitos junto aos cinéfilos. Kristen Stewart mudou o rumo de sua carreira, começou a se envolver em projetos independentes, alternativos e intimistas, além de trabalhar com diretores franceses, por exemplo. Da parceria com Olivier Assayas saíram dois dos melhores trabalhos recentes da moça: Acima das Nuvens (2014) e Personal Shopper (2016). Pelo primeiro, Stewart recebeu a honraria do prêmio César, o Oscar francês – como a única americana a sequer ser indicada. Isso que é moral. Este ano ela está no páreo com Seberg (não, não é As Panteras), biografia da famosa atriz francesa Jean Seberg. O filme não foi tão bem avaliado, mas o desempenho de Stewart é um chamariz.
Caminho similar fez seu ex-companheiro de tela e vida real, Robert Pattinson. Ao escolher trabalhar com diretores de alto calibre, vide David Cronenberg, David Michôd, James Gray, Claire Denis e os irmãos Safdie, entre outros, o jovem ator foi adicionando camadas ao seu alcance performático. A atração do ano para Pattinson é o terror intimista O Farol, de Robert Eggers (A Bruxa), que tem produção do brasileiro Rodrigo Teixeira. Apesar da atuação muito elogiada do sujeito pelos festivais onde passou, existe aqui jogando contra o fato da Academia ainda não ter abraçado por completo os recentes filmes de terror – como é o caso com os prestigiadíssimos A Bruxa e Hereditário.