sexta-feira , 22 novembro , 2024

Amizade Desfeita 2: Dark Web | Há cinco anos, sequência do terror screenlife falhava em dar início a uma franquia

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Em 2014, Amizade Desfeita chegou aos cinemas e, apesar dos inúmeros deslizes e convencionalismos narrativos, trouxe uma nova perspectiva para o found footage ao abrir espaço para o subgênero screenlife – em que a narrativa se passa em telas de aparelhos tecnológicos. Além da nova configuração, a investida sobrenatural provou ser contundente com a premissa e a mensagem, ainda mais com atuações dignas de nota. Logo, era só questão de tempo até que uma continuação ganhasse forma, chegando às telonas como Amizade Desfeita 2: Dark Web’ em 2018. Porém, ficou claro que mante o ritmo de espíritos vingativos não daria certo, fazendo-se necessária uma reformulação que, eventualmente, não deu muito certo. 

Stephen Susco assumiu o cargo de direção e roteiro, substituindo o novato Leo Gabriadze, e optou por uma abordagem mais realista, por assim dizer. A escolha é compreensível, mas o tira da zona de conforto, visto que foi responsável pelo roteiro de O Grito’ e o reboot de O Massacre da Serra Elétrica’, fazendo seu nome ainda que não abusando de todo o potencial. Talvez encarar os perigos da internet e das múltiplas mídias sociais em um respaldo tangível fosse uma boa ideia na prática; entretanto, nas telas, as coisas ficaram perdidas e não tiveram o mesmo resultado que o original, utilizando de momentos forçados e ocasionais demais para criarem qualquer tipo de relação com o público. Nem mesmo a estética parece correta, como se houvesse lacunas e finais pouco elaborados, subestimando até mesmo a nossa capacidade de compreensão. 



A história não parte de uma ideia de vingança do além-mundo; aqui, um jovem estudante de T.I./hacker amador chamado Matias (Colin Woodell) encontra um laptop e o leva para casa sem saber os terríveis segredos que o objeto esconde. Mais uma vez, ele se conecta através do Skype com outros cinco amigos e sua namorada surda-muda Amaya (Stephanie Nogueras), com a qual tenta reconciliar as coisas após desentendimentos que não ficam claros em momento algum. Durante o monótono primeiro ato, Matias acaba logando nas contas previamente utilizadas e descobre segredos terríveis que envolvem monitoramento ilegal de inúmeras pessoas do mundo. Logo depois, percebe que o antigo dono do aparelho é uma figura muito sombria que responde pelo apelido de Charon IV, fazendo alusão a Caronte, barqueiro do mundo dos mortos da mitologia grega. Ele, por sua vez, faz parte de um grupo de compartilhamento de sombrios vídeos que vão desde cárcere e sequestro até tortura de jovens garotas. 

O panorama é interessante, mas Susco parece não saber o que fazer com o material. Até meados da segunda parte, Matias conta a seus amigos o que descobriu e todos ficam atônitos com o que é chamado de dark web, uma espécie de deep web compartilhada por milhares de usuários criminosos e que são responsáveis pelo desaparecimento e pela morte de várias pessoas. E é claro que, mergulhando mais fundo nesse assombroso meio, ele acaba ameaçando a vida de cada um de seus colegas online. O problema é que isso acontece tarde demais e se desenrola numa rapidez incômoda que vale por cenas pontuais e por um final interessante, por falta de outro adjetivo que faça jus ao que realmente representa. 

Em determinado momento, os outros Charons tomam conta da conversa e dizem que querem brincar. A princípio, o diretor pensa em retornar para o jogo de verdade e desafio mortal do primeiro filme, mas logo mostra que não sabe exatamente o que deseja: afinal, não há escolhas a serem feitas, exceto por uma sequência pífia em que uma das personagens, Serena (Rebecca Rittenhouse), deve decidir entre sua noiva e sua mãe. Eventualmente, as duas morrem, uma empurrada por um dos membros da seita nos trilhos do metrô, e outra com os aparelhos do hospital desligados com apenas um clique. Entretanto, a ação existe; a reação se perde em meio a um melodrama existencial desnecessário que nos faz desejar que todo o nosso sofrimento acabe com a chegada dos créditos. Não há motivo para nada daquilo acontecer, e a realidade buscada pela obra se perde em tentativas de entregar mais do que consegue. 

Apesar da presunção desmedida, uma construção em especial tira nosso fôlego: como forma de mostrar que eles não estão para brincadeiras, arquitetam uma falsa declaração de terrorismo utilizando uma montagem vocal de AJ (Connor Del Rio), dando a entender que ele explodiria um shopping. Segundos depois da revelação, um grupo especializado de policiais invade a casa e, ouvindo os tiros manipulados pelo próprio clã da dark web, tira a vida dele sem pensar duas vezes. Esse é uma das poucas cenas que merecem ser aplaudidas, tanto pela construção quanto pela montagem em plano sequência, deixando claro as parcas intenções de Susco em criar a atmosfera e se preocupar com a trama. 

Eventualmente essa minúcia é varrida para debaixo do tapete, como se nunca tivesse existido. No geral, o longa se mostra mais preocupado com os jump scares – que, em sua totalidade, quase nunca funcionam – e uma resolução sem nexo e desprovida de qualquer funcionalidade emocional. O romance entre Amaya e Matias sofre de falta de química e praticidade para a continuidade narrativa, diferente do enlace tragiromântico do predecessor, que realmente foi desenvolvida desde o começo. Portanto, é quase lógico que o fim do terceiro ato cause nada além de uma inegável insatisfação. 

Amizade Desfeita 2’ não pode ser chamado de desserviço cinematográfico, mas definitivamente poderia ter aproveitado a nova era do found footage e criado algo novo e envolvente ao invés de se deixar levar pela presunção e pela falta de foco. Era melhor que as coisas tivessem permanecido com Laura Barns. Ao menos tudo teria sido levado para a cova junto com ela. 

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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Stephen Susco assumiu o cargo de direção e roteiro, substituindo o novato Leo Gabriadze, e optou por uma abordagem mais realista, por assim dizer. A escolha é compreensível, mas o tira da zona de conforto, visto que foi responsável pelo roteiro de O Grito’ e o reboot de O Massacre da Serra Elétrica’, fazendo seu nome ainda que não abusando de todo o potencial. Talvez encarar os perigos da internet e das múltiplas mídias sociais em um respaldo tangível fosse uma boa ideia na prática; entretanto, nas telas, as coisas ficaram perdidas e não tiveram o mesmo resultado que o original, utilizando de momentos forçados e ocasionais demais para criarem qualquer tipo de relação com o público. Nem mesmo a estética parece correta, como se houvesse lacunas e finais pouco elaborados, subestimando até mesmo a nossa capacidade de compreensão. 

A história não parte de uma ideia de vingança do além-mundo; aqui, um jovem estudante de T.I./hacker amador chamado Matias (Colin Woodell) encontra um laptop e o leva para casa sem saber os terríveis segredos que o objeto esconde. Mais uma vez, ele se conecta através do Skype com outros cinco amigos e sua namorada surda-muda Amaya (Stephanie Nogueras), com a qual tenta reconciliar as coisas após desentendimentos que não ficam claros em momento algum. Durante o monótono primeiro ato, Matias acaba logando nas contas previamente utilizadas e descobre segredos terríveis que envolvem monitoramento ilegal de inúmeras pessoas do mundo. Logo depois, percebe que o antigo dono do aparelho é uma figura muito sombria que responde pelo apelido de Charon IV, fazendo alusão a Caronte, barqueiro do mundo dos mortos da mitologia grega. Ele, por sua vez, faz parte de um grupo de compartilhamento de sombrios vídeos que vão desde cárcere e sequestro até tortura de jovens garotas. 

O panorama é interessante, mas Susco parece não saber o que fazer com o material. Até meados da segunda parte, Matias conta a seus amigos o que descobriu e todos ficam atônitos com o que é chamado de dark web, uma espécie de deep web compartilhada por milhares de usuários criminosos e que são responsáveis pelo desaparecimento e pela morte de várias pessoas. E é claro que, mergulhando mais fundo nesse assombroso meio, ele acaba ameaçando a vida de cada um de seus colegas online. O problema é que isso acontece tarde demais e se desenrola numa rapidez incômoda que vale por cenas pontuais e por um final interessante, por falta de outro adjetivo que faça jus ao que realmente representa. 

Em determinado momento, os outros Charons tomam conta da conversa e dizem que querem brincar. A princípio, o diretor pensa em retornar para o jogo de verdade e desafio mortal do primeiro filme, mas logo mostra que não sabe exatamente o que deseja: afinal, não há escolhas a serem feitas, exceto por uma sequência pífia em que uma das personagens, Serena (Rebecca Rittenhouse), deve decidir entre sua noiva e sua mãe. Eventualmente, as duas morrem, uma empurrada por um dos membros da seita nos trilhos do metrô, e outra com os aparelhos do hospital desligados com apenas um clique. Entretanto, a ação existe; a reação se perde em meio a um melodrama existencial desnecessário que nos faz desejar que todo o nosso sofrimento acabe com a chegada dos créditos. Não há motivo para nada daquilo acontecer, e a realidade buscada pela obra se perde em tentativas de entregar mais do que consegue. 

Apesar da presunção desmedida, uma construção em especial tira nosso fôlego: como forma de mostrar que eles não estão para brincadeiras, arquitetam uma falsa declaração de terrorismo utilizando uma montagem vocal de AJ (Connor Del Rio), dando a entender que ele explodiria um shopping. Segundos depois da revelação, um grupo especializado de policiais invade a casa e, ouvindo os tiros manipulados pelo próprio clã da dark web, tira a vida dele sem pensar duas vezes. Esse é uma das poucas cenas que merecem ser aplaudidas, tanto pela construção quanto pela montagem em plano sequência, deixando claro as parcas intenções de Susco em criar a atmosfera e se preocupar com a trama. 

Eventualmente essa minúcia é varrida para debaixo do tapete, como se nunca tivesse existido. No geral, o longa se mostra mais preocupado com os jump scares – que, em sua totalidade, quase nunca funcionam – e uma resolução sem nexo e desprovida de qualquer funcionalidade emocional. O romance entre Amaya e Matias sofre de falta de química e praticidade para a continuidade narrativa, diferente do enlace tragiromântico do predecessor, que realmente foi desenvolvida desde o começo. Portanto, é quase lógico que o fim do terceiro ato cause nada além de uma inegável insatisfação. 

Amizade Desfeita 2’ não pode ser chamado de desserviço cinematográfico, mas definitivamente poderia ter aproveitado a nova era do found footage e criado algo novo e envolvente ao invés de se deixar levar pela presunção e pela falta de foco. Era melhor que as coisas tivessem permanecido com Laura Barns. Ao menos tudo teria sido levado para a cova junto com ela. 

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Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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