É estranho ver tamanha falta de sensibilidade e bom gosto vindo de uma diretora que geralmente é sinônimo de qualidade. A dinamarquesa Susanne Bier começou a carreira no início da década de 1990, mas chamou a atenção na seguinte, quando seu “Broders” (a versão original de “Entre Irmãos”) se consagrou no Festival de Cannes.
De lá pra cá Bier esteve no comando do prestigiado “Depois do Casamento” (considerado um de seus melhores filmes, e indicado ao Oscar de filme estrangeiro), pisou em Hollywood com “Coisas que Perdemos pelo Caminho”, seu único filme totalmente falado em inglês.
E com “Em um Mundo Melhor” finalmente levava o prêmio da Academia como o melhor filme estrangeiro de 2011. Depois de sua consagração no Oscar, vinda de uma série de filmes intensos, embora muitos os acusem de serem também óbvios demais, a diretora resolve entregar uma obra mais leve e descompromissada, uma típica comédia-romântica para mostrar que também sabe se divertir e sair de cargas pesadas. E o resultado é que Bier estava melhor em seus incisivos filmes emocionais.
Escrito por Anders Thomas Jensen (colaborador de todos os filmes da diretora), baseado numa história dele e da própria Bier, a trama fala sobre uma mulher interpretada por Trine Dyrholm (colaboradora de Bier em “Em Um Mundo Melhor”) passando por uma crise de meia idade, quando após vencer um câncer descobre a traição do marido em vias de embarcarem para a Itália, para o casamento da filha. Ao chegar no aeroporto colide com o carro de Philip (Pierce Brosnan), o pai do noivo, um milionário rude e viúvo, que só pensa em trabalho.
A proposta aqui é fazer essas duas pessoas tão distintas se apaixonarem, e a mensagem é que o amor pode surgir a qualquer momento dos lugares mais inesperados, e em qualquer época da vida. “Amor É Tudo o que Você Precisa” lembra o musical “Mama Mia!”, só que pior, porque aqui não temos as divertidas músicas do ABBA, Meryl Streep ou as belas locações da Grécia. Nada funciona nessa nova investida da dupla Bier e Jensen, as cenas beiram o ridículo e os diálogos são simplesmente ruins. Temos conflitos dignos de novelas da Globo, ou pior, de novelas mexicanas.
Os personagens são clichês dos piores estereótipos, como o protagonista de Brosnan, a figura do empresário viciado em trabalho e péssimo pai, que no final irá se redimir com o filho. O sujeito turrão se encanta pela mãe da noiva, recém-traída, sem que saibamos muito bem por que. A sempre bela e interessante Trine Dyrholm não tem apelo nenhum como a personagem Ida. A culpa porém, é de como a personagem foi escrita, uma boboca apagada que só sabe rir. A infeliz mulher é digna de pena, e nunca imaginaríamos alguém se encantando por ela de tal forma.
E não por ter passado e vencido de uma grande doença, isso demonstra sua garra (mesmo que faça uso de uma péssima peruca de careca, que simplesmente distrai por soar extremamente falsa), mas por ser uma pessoa desinteressante de forma geral, e a definição da palavra ordinária. Bier cria cenas embaraçosas para o seu elenco, como quando Brosnan e Dyrholm se conhecem após a colisão de seus veículos num estacionamento. É algo sem tato algum.
Em nenhum momento acreditamos no relacionamento e envolvimento do casal protagonista. Brosnan e Dyrholm não possuem química e isso é fatal para qualquer comédia-romântica. Esse era o aspecto que Bier deveria ter trabalhado em seu filme. Os dois parecem mais desconfortáveis em suas cenas do que nós assistindo ao filme. Os diálogos parecem descer quadrados, quando Brosnan fala sobre frutas, não existe algo de especial a ser dito pelos dois, apenas trivialidades do dia-a-dia.
E isso não é o sinal de uma comédia-romântica que conseguirá se distinguir no tempo. É verdadeiramente uma pena que talentosos e experientes cineastas como Bier e seu roteirista Jensen fiquem presos a um filme formulaico como esse, sem conseguir emanar nem uma pequena faísca de seus trabalhos anteriores.
Crítica por: Pablo Bazarello (Blog)