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[ANTES DE COMEÇAR A ANÁLISE, FIQUE CIENTE QUE ELA ESTÁ RECHEADA DE SPOILERS]
Se você ainda não assistiu o sexto episódio de Monarch – Legado de Monstros, evite esta matéria, pois ela contém spoilers
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Análise ‘Monarch – Legado de Monstros’ | Quinto episódio aborda o trauma do ‘Dia-G’
Ao longo das últimas semanas, venho sendo até repetitivo em elogiar tanto o núcleo da série que se passa na década de 1950. Mas é que ele é realmente interessante, e não chega a ser absurdo dizer que é a alma da série. Nesse sexto episódio, um drama entre o trio trouxe todo um peso a mais para os acontecimentos dos primeiros capítulos da série. Isso porque é revelado o interesse amoroso entre Lee (Wyatt Russell) e Keiko (Mari Yamamoto), que já dava indícios desde que eles se conheceram, mas só foi se consumar no baile militar. E como visto lá no comecinho da série, o suposto fim da Doutora acontece quando o próprio Lee não consegue segurá-la e a deixa cair sobre um monte de monstros.
Mais do que isso, a química entre os atores faz com que o interesse em acompanhar o surgimento desse casal seja orgânico. É como ver dois amigos que se gostam só precisando de um empurrãozinho. Só que, no meio desse processo, tem uma questão importantíssimo acontecendo, que é a criação da Monarch como agência governamental. E aí entra o conflito de interesses, porque por mais que Keiko tenha sentimentos pelo amigo, ela entende que a prioridade deve ser o estudo dos Titãs. Afinal, a vida dela foi dedicada a isso e ela compreende que o futuro do mundo pode depender disso. Do outro lado, Lee segue como um jovem impulsivo, que ainda sonha com coisas simples, como ter uma família e construir amizades. Por conta desses impulsos, ele abre mão de uma reunião que redefiniria toda a concepção da Monarch, criando esse caos visto nos filmes do MonsterVerse.
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Também tem o outro lado da história, o Billy (Anders Holm), que sabemos que casará com a Dra. Keiko e terá os descendentes que moverão a trama em 2015. Ele parece aceitar bem o inevitável interesse entre os dois amigos, mesmo teoricamente tendo sentimentos por ela. Ele parece entender também a relevância do trabalho e segura qualquer tipo de emoção que não envolva os Titãs. A cada novo episódio, cria-se a expectativa para ver em que ponto eles decidiram dar um passo a frente e entrar nessa relação de desfecho trágico.
E o núcleo é tão interesse que parece melhorar até mesmo os personagens secundários que se envolvem com o trio. O cientista japonês que apresenta a ‘isca de monstros’ tem poucos momentos, mas esbanja carisma. E o General Puckett consegue antagonizar com os ideais deles, mesmo sem – ainda – ser efetivamente um vilão. Suas ações para saber se pode ou não confiar em Lee, no entanto, indicam que ele pode ter muito mais sangue nas mãos do que a gente imagina. Afinal, ele passa o comando da Monarch para a Marinha, que claramente não confia na Dra. Keiko. E pelo que o Lee fala em 2015, isso parece ter influenciado diretamente nas ações da Monarch nas décadas seguintes, culminando nos ataques e brigas do Godzilla.
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Mas falando sobre a estrutura do episódio em si, a mistura de passado e presente está cada vez mais intensa. Há momentos em que as tramas se complementam indiretamente, deixando tudo muito curioso, principalmente no que envolve as aparições do Godzilla. E por falar no Rei dos Monstros, esse capítulo trouxe algumas das revelações mais visualmente interessantes do lagartão até aqui. A cena dele emergindo no Japão, nos anos 50, e seu despertar do arenoso deserto argelino – em que ele parecia ser uma montanha – em 2015, foi sensacional.
Por mais que o monstro não tenha aparecido tanto até aqui, seus momentos na série fazem valer cada segundo. Na coletiva da série, realizada na CCXP 23, o produtor executivo Chris Black, revelou que esse era um dos desafios da série: construir uma trama que fosse interessante sem apelar para o monstro. Segundo ele, “ninguém assistiria a dez episódios do Godzilla chutando prédios”. E percebe-se no episódio como eles valorizam as aparições, sempre dando essa sensação de surpresa.
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E sobre esse momento da revelação do monstro na Argélia, Lee (Kurt Russell) rouba a cena ao aceitar a ajuda da agente rebelde da Monarch, que passa a levar em consideração suas ações e conhecimentos. Segundo ela, a volta de Shaw inspirou que outros agentes da organização se rebelassem, criando uma insurgência interna. Por mais que não saibamos onde isso vai dar, já vimos o que um certo grupo rebelde da entidade foi capaz de fazer em Godzilla II: Rei dos Monstros (2019), mexendo diretamente com bioterrorismo.
E há também uma menção aos satélites da organização originalmente estarem virados para vasculhar a radiação espacial. Para quem não lembra, o Ghidorah, vilão de Godzilla II, era um Titã alienígena. Esses pequenos detalhes criam uma união muito bacana no MonsterVerse. A decepção da vez fica mesmo pelo arco da May (Kiersey Clemons), cuja traição não aparentou ter tanto impacto momentaneamente. Mas ainda temos alguns episódios para ver como vão trabalhar isso.
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Os novos episódios de Monarch – Legado de Monstros estreiam toda sexta no Apple TV+.