Andrew Garfield estava destinado a ficar conhecido para sempre como o Homem-Aranha que não deu certo e sequer pôde terminar sua história nas telonas. O mundo realmente não é justo. Ou quem sabe não era, e está caminhando cada vez mais para ser. Quando foi revelado como então o novo intérprete do super-herói no início da década de 2010, o entusiasmo do ator ao herdar o papel foi tão contagiante que até nos fez esquecer um pouco o fato do desnecessário reinício para a franquia apenas dez anos depois do filme original. Garfield aparecia vestido como o personagem em eventos e parecia realmente estar tendo realizado um desejo de menino. Corta para o resultado de suas duas iterações na pele do personagem, digamos no mínimo mornas. Isso fez o estúdio puxar o plugue antes mesmo da chance de ver amarradas todas as pontas deixadas para um eventual terceiro filme.
Garfield, é claro, seguiu fazendo bons trabalhos, e parecia ter gana de demonstrar que seu talento ia além do “Homem-Aranha rejeitado”. Trabalhou com grandes nomes da indústria, como Martin Scorsese, e conquistou inclusive uma indicação ao Oscar. Seu novo auge de popularidade está acontecendo neste exato momento, e começou com um burburinho de que vestiria novamente o uniforme do herói aracnídeo. Boato esse que, como sabemos hoje, se revelou verdadeiro. Assim, Garfield finalmente ganhou sua chance de redenção na pele do personagem. Mas não apenas isso, como vem gerando outros boatos, esses de que receberia nova chance de estrelar um filme solo como o herói, um que continuaria e provavelmente encerraria de forma própria sua trajetória.
Não bastasse isso, Garfield seguiu surfando em sua nova onda de popularidade com uma segunda indicação ao Oscar (pelo musical Tick Tick… Boom), arrancou elogios pelo desempenho em Os Olhos de Tammy Faye (que deu finalmente um Oscar para Jessica Chastain), e acabou de lançar uma minissérie badalada de suspense com o selo da Disney/ Hulu / Star+ (Em Nome do Céu). Hoje, Andrew Garfield completa 39 anos e o que sentimos é que sua carreira está apenas começando. Para homenagear esse talentoso e renovado ator, selecionamos através de uma intensa pesquisa juntos aos críticos e ao grande público, os melhores e os piores trabalhos dele. Confira abaixo.
MELHORES
05 | Rapaz A (2007)
Dificilmente o primeiro filme de um ator termina entre seu top 5 de melhores trabalhos. Isso porque no início de carreira, a maioria acaba aceitando papeis menores em produções não muito badaladas a fim de fazer a “bola girar” para eles. Não foi o caso com Andrew Garfield, que já estreou com o pé direito neste drama britânico. O ator já havia feito participações em séries e em curtas, mas em seu primeiro trabalho em um longa no cinema, foi logo o protagonista. Garfield é americano, mas sua mãe é britânica e aos três anos se mudou com a família para a Inglaterra onde foi criado. Nesse filme, baseado num livro e dirigido pelo mesmo cineasta do indicado ao Oscar Brooklyn (2015), o ator vive um jovem liberado do cárcere após cumprir pena por um crime cometido ainda na infância.
04 | 99 Casas (2014)
Outro que consta no top 5 dos melhores filmes de Andrew Garfield é este drama sobre o mercado imobiliário americano. Nesta época, o ator já havia assumido o manto do Homem-Aranha e lançava seu segundo filme na pele do herói no mesmo ano. 99 Casas é uma destas pérolas escondidas que nascem em festivais de cinema (no caso deste Veneza e Toronto) e que precisam ser descobertas por todos. Em uma de suas melhores e mais subestimadas atuações, Garfield vive um jovem lutando para manter sua casa, que está para ser tirada dele e de sua família. A solução encontrada é ir trabalhar justamente para o sujeito encarregado de despejar pessoas que não conseguem pagar suas hipotecas, papel do grande Michael Shannon. Completando o elenco, Laura Dern vive a mãe de Garfield.
03 | Até o Último Homem (2016)
Dois anos depois de seu elogiado desempenho no drama 99 Casas e também de aposentar o uniforme como o Homem-Aranha, Andrew Garfield conquistava a tão almejada indicação ao Oscar de melhor ator neste drama de guerra sobre uma história real. O filme marcava não apenas a volta por cima de Garfield, mas de certa forma também do ator caído em desgraça Mel Gibson, que provava novamente ser um diretor de mão cheia, nesta história edificante sobre um soldado lutando na Segunda Guerra Mundial que devido à sua ideologia religiosa se recusava a pegar numa arma. Suas missões durante o conflito envolviam basicamente o resgate de outros soldados.
02 | A Rede Social (2010)
Esse foi definitivamente o papel que conseguiu o uniforme do Homem-Aranha para Andrew Garfield, independente do resultado de sua investida na pele do herói. Acontece que se Rapaz A serviu para a indústria e alguns cinéfilos conhecerem o ator, aquele ainda era um drama independente bem pequeno e pouquíssimo conhecido. Com A Rede Social a coisa mudava de figura. Trata-se de um badaladíssimo drama dirigido por um gigante da área, David Fincher – que no currículo possui filmes como Seven, Clube da Luta e O Curioso Caso de Benjamin Button. Este filme definitivamente surgiu como divisor de águas na carreira do ator, que brilhou no papel do brasileiro Eduardo Saverin e, segundo muitos, foi injustiçado por não conseguir uma indicação ao Oscar – ao contrário do filme.
01 | Homem-Aranha: Sem Volta para Casa (2021)
A esta altura não é segredo para ninguém e muito menos spoiler dizer que sim, Andrew Garfield está no último filme do Homem-Aranha, desta vez na MCU. O filme foi o grande sucesso da retomada dos cinemas pós-covid, e inclusive já caiu na HBO Max para ser assistido no streaming por aquela porcentagem mínima que ainda não havia visto o filme, ou aquela grande parte que irá ver pela décima vez. É irônico pensar que o melhor filme do Homem-Aranha com Andrew Garfield não foi um filme que o ator protagonizou como o herói, e sim surgiu como coadjuvante de Tom Holland, que agora interpreta o personagem principal na linha do tempo oficial da Marvel. Seja como for, Garfield teve sua chance de redenção neste filme que não por menos é o grande favorito em sua carreira por críticos e o público.
PIORES
05 | O Mundo Imaginário de Dr. Parnassus (2009)
Se todo mundo comentava na época do lançamento de Batman – O Cavaleiro das Trevas (2008) sobre como o saudoso Heath Ledger havia falecido aos 28 anos sem conseguir ver seu desempenho vencedor do Oscar póstumo concluído, esse quinto item dos piores filmes de Andrew Garfield tem forte ligação com isso tudo. Primeiro devemos mencionar que alguns dos filmes contidos na lista dos piores de Garfield não são de fato ruins, são apenas “menos melhores” do que os demais. E esse sem dúvida é um deles. Seja como for, esse é o filme que Heath Ledger lançaria após sua investida como o vilão Coringa no citado filme do Batman. De fato, Ledger já estava filmando Dr. Parnassus quando faleceu, e não conseguiu terminar o longa. Assim, três atores tiveram que substituí-lo no mesmo papel: Johnny Depp, Jude Law e Colin Farrell. Soa estranho, mas não é tanto, pois o filme aposta na fantasia e no surrealismo. E Garfield, você pergunta? Estava lá, coadjuvando em um de seus primeiros trabalhos no cinema.
04 | O Mistério de Silver Lake (2018)
Saído diretamente do prestigiado festival de Cannes, todos estavam de olho nesse suspense dramático, extremamente ambicioso e com fortes doses de surrealismo igualmente. Acontece que esse era o novo trabalho, à época, de David Robert Mitchell, jovem cineasta que havia surpreendido o mundo e em especial a comunidade de amantes do terror com sua obra-prima It Follows (Corrente do Mal). Justamente por isso, todos esperavam o próximo passo do diretor – que terminou optando não por outro terror, mas sim por um thriller super estiloso, mas cujo conteúdo é talvez fora da caixinha demais para agradar cem por cento. Uma coisa podemos dizer, a performance de Garfield é ótima como um jovem desocupado em busca de solucionar um grande mistério, que começa com o desaparecimento de uma vizinha.
03 | O Espetacular Homem-Aranha 2 (2014)
Se dependesse unicamente deste amigo que vos fala, e escreve essa matéria, este filme provavelmente ocuparia um espaço mais “alto” na lista dos piores no top 5 do fundo do poço. Como quem sabe, trocar de lugar com o segundo colocado. Seja como for, isso só demonstra que aqui são respeitadas as opiniões dos críticos e do grande público, por mais que não concordemos com elas. A verdade é que os filmes de Garfield como o Homem-Aranha estão ressurgindo como itens cult, sendo revisionados em especial pela geração que cresceu com eles, que jura de pé juntos que não são tão ruins assim. Bem, o que posso dizer é que ainda falta um bocado para que eu concorde com eles, já que enquanto o primeiro filme é genérico e chato, esse é simplesmente ruim de doer.
02 | Leões e Cordeiros (2007)
Aqui temos outro item que causa discordância entre minha opinião pessoal e a dos críticos em geral e do grande público. Leões e Cordeiros é dirigido pelo monstro sagrado Robert Redford, que também estrela esse drama. E embora não seja um filme muito falado hoje em dia, e que não conseguiu muito provar seu valor no teste do tempo, terminando basicamente esquecido, lembro de tê-lo assistido na época de seu lançamento e o achado interessante. É claro que desde então muita coisa mudou, e inclusive eu mudei muito. Seja como for, se minha lembrança não estiver me enganando, esse nem de perto merecia ser o segundo pior filme da carreira de Garfield. De qualquer forma, o ator aqui vive um papel pequeno, como um estudante ideológico discutindo política com seu professor Robert Redford. O filme conta ainda com Tom Cruise no papel de um senador americano e Meryl Streep como uma repórter o entrevistando.
01 | Mainstream (2020)
Exibido no festival de Veneza em 2020, esse filme permaneceu inédito no Brasil durante todo esse tempo, devido à suas críticas negativas, e chegou ao país diretamente na plataforma de streaming do Telecine Play. Uma coisa todos os detratores parecem concordar: a performance que entrega tudo de si do protagonista Andrew Garfield. Escrito e dirigido por Gia Coppola, neta de Francis Ford Coppola e sobrinha de Sofia Coppola, o filme marca o segundo trabalho da cineasta no comando de um longa. O foco aqui é a crítica na forma de sátira das chamadas personalidades da internet, que se importam mais com as curtidas (likes) do que de fato em fazer alguma diferença no mundo. O elenco conta ainda com Maya Hawke e Alexa Demie (de Euphoria).