Uma viagem pelos átrios do cinema mundial, o Festival Filmes Incríveis chegou ao REAG Belas Artes de São Paulo com uma proposta autêntica e fora do comum, para levar os cinéfilos a um novo e inimaginável universo cinematográfico. Entre dramas atemporais e longas de gênero como ‘Animale‘, o evento é um convite ao inesperado e introduz um catálogo de produções originais pouco conhecidas, que chegam às telonas de forma inédita no Brasil.
Patrocinado pelo programa Desenvolve São Paulo, pela Secretaria do Estado de São Paulo e pelo Ministério da Cultura, o festival reúne obras de países como Irã, Romênia, Arábia Saudita, Geórgia, Índia e França. E foi de Camarga, região sul francesa, que nasceu ‘Animale’, terror fantástico dirigido e roteirizado por Emma Benestan. Explorando a famigerada e tradicional corrida de touros que acontece anualmente na região, o longa aborda temas mais complexos e profundos a partir da dinâmica entre o ser humano e a estrondosa ferocidade de uma besta selvagem.
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Na trama, Nejma é uma jovem de 22 anos que treina pesado para realizar seu sonho de vencer a competição local de touradas. Quando é atacada após uma comemoração, ela começa a perceber mudanças perturbadoras em si. E a notícia de um descontrolado e violento touro à solta agrega ainda mais tensão ao cenário, deixando sua comunidade aterrorizada, à medida em que jovens homens começam a ser assassinados, sem qualquer sinal do periogoso animal.
E em uma entrevista ao CinePOP, a cineasta Emma Benestan refletiu sobre seu mais novo terror e sobre sua original abordagem de temas feministas a partir das tradicionais touradas. Segundo a artista, o objetivo era ir além do óbvio, convidando a audiência para diversas reflexões que englobam o escopo psicoemocional, relacional e até mesmo ecológico.
“Eu quis abordar essas tradições e a cultura de touradas, coisas que são muito fortes em diversas partes do mundo e que dispertam inúmeros sentimentos nas pessoas. Uns amam, outros se incomodam e alguns até mesmo machucam esses animais. E acho que há algo a ser aprendido aqui a partir da ótica do touro. É uma ótima maneira de falarmos sobre preservação ambiental sem tornarmos o filme uma conversa chata e repetitiva sobre ecologia. E usei o touro como esse elemento chave justamente por seu histórico de associação à força masculina. Como meu objetivo era trazer um olhar mais feminista através da trama, essa figura seria um excelente contraste para isso”, ponderou Benestan.
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Brincando com elementos da fantasia, do suspense e do drama, ‘Animale‘ ainda faz reverência aos clássicos filmes de monstro, celebrando também a originalidade da amada série ‘Buffy, a Caça-Vampiros‘. Para Emma, a ideia era explorar questões reais a partir de uma ótica fora do comum, referenciando o cinema de gênero:
“‘Animale‘ foi muito inspirado em clássicos do terror e em filmes de vampiros, mas especialmente em ‘Buffy, a Caça-Vampiros‘. Eu cresci assistindo a essa série e ela teve um papel muito importante na minha vida. E eu queria unir esse gênero a uma temática feminista, através de uma personagem que fosse fora do padrão e não fosse da vida real”.
Enriquecido por um minucioso trabalho de efeitos práticos, ‘Animale‘ ainda conquista o público pelo realismo na transformação de sua personagem. Construir as mudanças em Nejma foi um dos aspectos mais importantes do longa, conforme ponderou a cineasta. Ao longo da entrevista, ela refletiu sobre como o CGI tem destruído o cinema contemporâneo e ainda deu detalhes do seu processo criativo.
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“Eu concordo completamente que o uso excessivo de efeitos visuais tem destruído o cinema como o conhecemos e no caso de ‘Animale‘, era importante que sentíssemos o corpo dessa heroína. Esse era o cerne daquilo que queria dizer, nesse corpo traumatizado e que se transforma. E por isso foi muito importante para mim que sentíssemos o pêlo, a pele, o olho – que também aparece diferente. Isso foi um desafio real, porque as cenas de transformação são muito importantes no corpo da Nejma. Eu trabalhei com alguém que construísse essa besta e com a atriz, para que ela habitasse nessa criatura, para que criássemos algo corporal e sensorial, a fim de que sentíssemos isso ao assistir ao filme, principalmente a violência de sua transformação”, concluiu Benestan.
Os filmes do festival foram escolhidos através da curadoria do Belas Artes Grupo, levando em consideração longas que valem a pena serem vistos no cinema e que nem sempre chegam ao circuito nacional. Além disso, essas 20 produções trazem histórias bem contadas com um apuro estético e formal.
O Festival Filmes Incríveis segue até o dia 14 de agosto no REAG Belas Artes, na Rua. da Consolação, 2423 – Consolação.