quinta-feira, abril 18, 2024

Aniversário Homem-Aranha | O fator Miles Morales

Peter Parker e Homem-Aranha são duas faces distintas de uma mesma pessoa. Completamente diferentes, essas duas metades da mesma laranja foram responsáveis pela popularização dos super-heróis em diferentes décadas, em diferentes mídias. Seja nos quadrinhos, nos desenhos ou nos cinemas, tanto a máscara quanto quem está por debaixo da máscara despertaram genuíno fascínio em diferentes gerações.

O início de uma das maiores LENDAS da mitologia atual foi inesperado e cercado de dúvidas por parte da editora.

A história trágica do adolescente excluído que ganha poderes e pode enfim alcançar a grandeza a qual sempre foi destinado é o clássico caso da Jornada do Herói. No entanto, é justamente por não se prender a isso que tanto o herói mascarado quanto o jovem bobão são tão populares. A Jornada do Herói costuma ter os pontos baixos, a dor, a dificuldade, o aprendizado, o ponto de virada e a vitória. É um formato padrão que costuma agradar. Porém, o caso de Peter Parker vai além. Mesmo vencendo, o herói costuma perder.

Os momentos de felicidade, ainda que raros, acabam sendo mais valorizados por Peter, que costuma ter de lidar com perdas dolorosas mesmo quando ele vence os embates.

É irônico acompanhar como o que provavelmente seria visto como uma benção por muitos, acaba tendo efeito contrário no jovem do Queens. “Esse é o meu dom e minha maldição”, já disse o garoto em algumas HQs e até mesmo no cinema. Parece que quando as coisas enfim vão dar certo para ele, acontece alguma coisa muito ruim que o joga no chão de novo e o faz levantar. A chamada “Sorte do Parker” pode ser vista em diversos clássicos. É quando ele começa a ganhar dinheiro na luta-livre, mas perde o Tio Ben. É quando ele consegue melhorias físicas com o novo traje, mas aí percebe que o traje é um alienígena que o está consumindo, então ele consegue se livrar dele, só que acaba criando o Venom. É quando a vida enfim está tomando um rumo legal, mas aí vem a droga do Duende Verde e joga Gwen Stacy da ponte. É quando ele enfim revela sua identidade secreta, ficando dentro da lei, mas vê sua Tia May levar um tiro por conta disso. É um ciclo de porradas que causou MUITA identificação ao longo dos últimos tempos, e também criou uma aura quase santa ao redor do herói, transformando-o em inspiração para muitas crianças e jovens. Porque não importa o quanto a vida bata, ele sempre levanta e encara o impossível. Quer lição de vida maior que essa?

A morte de Gwen Stacy é um dos momentos mais dolorosos dos quadrinhos e moldou a personalidade do Homem-Aranha como poucos acontecimentos conseguiram.

O problema é que manter um personagem atualizado e representativo por sessenta anos é uma tarefa difícil. Ainda mais tendo o fluxo de saída que o Homem-Aranha tem. No Brasil, o herói já chegou a ter nada menos que três revistas estreladas por ele sendo lançadas mensalmente. Por isso, nada mais justo que o personagem apresentar um leve desgaste. Mais do que isso, parte importante do amadurecimento é literalmente crescer. E foi por esse amadurecimento que um garoto inesperado cruzou os caminhos do Cabeça de Teia para mudar de vez sua história.

Os temas das histórias do Homem-Aranha já não se identificavam tanto com os problemas dos leitores.

O ano era 2011. O Homem-Aranha Ultimate estava sendo publicado desde a virada do século de forma ininterrupta. Chegou a um ponto que Peter era um adulto com problemas de adulto, e qualquer caminho que ele seguisse seria regredir com o amadurecimento do personagem. As vendas já não eram mais as mesmas e o Aranha Ultimate já não era tão popular assim. Paralelamente aos quadrinhos, a vida real via a Comunidade Negra enfim começar a ganhar voz. Um personagem que fosse como eles era mais que importante naquele momento, era essencial. Juntando o útil ao “agradável”, a equipe criativa tomou uma decisão difícil, mas acertada. “Se não podemos avançar com o personagem, vamos aposentá-lo enquanto ele ainda está com crédito”. Assim, a Marvel matou Peter Parker do universo Ultimate. Ele teve um fim honroso e espetacular. A edição de morte do Homem-Aranha foi um verdadeiro evento. Após enfrentar o Sexteto Sinistro, Peter morreria em um embate com o Duende Verde, se despedindo da vida nos braços de Mary Jane Watson, acompanhado pela Tia May e Johnny Storm.

“Eu não consegui salvar o Tio Ben, mas está tudo bem, porque consegui salvar você”. Assim se despede um gigante.

E dentre toda a tristeza daquela tragédia, um menino afro-latino surgiu. Miles Morales, um menino pobre e excluído do Brooklyn, que ganhou uma bolsa de estudos e resolveu contar para o tio, Aaron Davis, também conhecido como o vilão Gatuno, sobre a oportunidade que ele teria de subir na vida por meio dos estudos. Só que o tio havia acabado de voltar de um assalto à Oscorp e acabou trazendo – por acidente – uma aranha geneticamente alterada, que entrou como clandestina em sua mochila. Enquanto Miles estava no sofá contando da bolsa de estudos, a aranha saiu da mochila de Aaron e picou o menino. O veneno alterou sua estrutura genética, dando a ele super-força, a habilidade de escalar paredes, um “toque” venenoso e a capacidade de se camuflar.

O nascimento de outro gigante veio de um jeito irônico e surpreendente, tal qual o de Peter.

Miles conta para o seu melhor amigo sobre os novos poderes. Eles acham muito parecido com o que o Homem-Aranha é capaz de fazer. Mas Miles Morales, um jovem cheio de problemas e dificuldades, vê suas novas habilidades e decide fingir que nada aconteceu, já que Nova York tem um guardião há mais de uma década, o espetacular Homem-Aranha. Porém, no fatídico dia da morte de Peter Parker em praça pública, um dos espectadores é ninguém menos que o pequeno Miles. Com o assassinato do Homem-Aranha acontecendo em frente aos seus olhos, Miles passa a carregar uma culpa absurda. “Eu poderia ter feito alguma coisa”. Envergonhado de suas atitudes, Miles Morales enfim descobre que “Com grandes poderes vêm grandes responsabilidades”. Então, como forma de impedir que outras tragédias assim aconteçam, o garoto assume o manto aracnídeo.

Peter acaba exercendo o “papel” do Tio Ben para Miles, que entende suas responsabilidades de herói.

As críticas foram imediatas. Vocês conhecem muito bem como são os fãs fervorosos de quadrinhos. E um dos pontos geniais da HQ foi justamente trazer essa polêmica para o mundo da ficção. Afinal, o maior herói daquele universo acabara de morrer, como alguém já assume o manto logo de cara? Então, nas primeiras edições, chovem personagens falando para Miles que o uniforme é de mau gosto, que ele precisava de criatividade e coisas do tipo. Então, de uma forma espetacular, os roteiristas trazem o ponto-chave do personagem: para o povo que é protegido, não importa quem está embaixo da máscara. O importante é saber que o Homem-Aranha está lá por eles. Qualquer um que coloque as prioridades alheias antes das próprias questões apenas por saber que é o certo a ser feito pode ser o Homem-Aranha. Se você cede seu lugar para um idoso no ônibus após um dia cansativo de trabalho, você está sendo o Homem-Aranha. Porque fazer o bem está nos pequenos detalhes. Não demorou muito para o novo Homem-Aranha cair nas graças do povo de Nova York.

Todos somos o Homem-Aranha quando colocamos a necessidade dos outros antes das nossas. Deixar isso claro foi um dos grandes méritos de “Homem-Aranha no Aranhaverso”.

Na vida real, quem está embaixo do uniforme importa tanto quanto o herói em si. E mais uma vez a chegada de Miles foi certeira. Os problemas adultos de Peter deram espaço ao frescor dos dilemas dos jovens do século XXI. Miles trouxe todos os problemas que um adolescente americano negro e de baixa renda sofria nos EUA do início dos anos 2010. Foi uma forma fantástica de dar voz aos jovens, aos negros e criar um novíssimo herói tão revolucionário quanto foi Peter Parker em 1962. Miles Morales foi o maior acerto da Marvel Comics no século XXI justamente por resgatar a essência do Aranha dos anos 1960 e ainda adicionar o frescor dos dias atuais.

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O sucesso do personagem se deu na reaproximação das crianças dos gibis do Homem-Aranha. Miles se tornou tão gigante nos quadrinhos que “apenas” o Universo Ultimate não era mais o suficiente para ele. Então, com os reboots, Miles Morales fez sua estreia no Universo regular dos quadrinhos da Marvel, abrindo as portas para uma nova Era de Heróis diversificados, como o Capitão América de Sam Wilson, a Thor de Jane Foster e a Miss Marvel de Kamala Khan. E o melhor é que a saída dos figurões de cena permitiu que os roteiristas trouxessem não apenas o frescor dos heróis que herdaram os respectivos mantos, mas também novas visões para os medalhões, como um Steve Rogers idoso e a espetacular jornada do Thor Indigno. Mais tarde, como é de costume nos quadrinhos, Peter e Miles passam a existir no mesmo plano e tudo fica ainda mais legal.

Miles foi o marco zero de uma nova e criativa Era dos Heróis da Marvel.

Miles Morales é um dos maiores legados de Peter Parker, que, assim como o garoto dos anos 1960 do Queens, teve personalidade para se manter e virar um ícone por ser quem ele é. E assim como Peter, Miles constrói um legado gigantesco a cada edição que aparece.

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Pedro Sobreirohttp://cinepop.com.br/
Jornalista apaixonado por entretenimento, com passagens por sites, revistas e emissoras como repórter, crítico e produtor.

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