domingo , 22 dezembro , 2024

Anna e o Apocalipse | Relembre um dos musicais mais BIZARROS do século

YouTube video

Musicais costumam seguir algumas regras básicas para que ganhem forma, eventualmente buscando quebrar essas fórmulas tão endossadas para nos entregar algo novo e manter seu fiel público envolvido com histórias cativantes, peças sonoras interessante e dinâmicas e uma estrutura narrativa que, por mais que ouse sair da caixinha, permaneça dentro de uma coesão compreensiva. Desde a popularização e o crescimento da indústria cinematográfica, diversos longas-metragens do gênero se tornaram clássicos, fossem por ter eternizado fábulas ou por ter ido muito além que seus respectivos conterrâneos – temos, por exemplo, uma obrigação moral de citar A Noviça Rebelde’ Chicago’ como duas das produções que marcaram época e são relembrados até hoje por fornecerem uma nova perspectiva à própria arte que evocam.

Logo, é uma grande surpresa quando recebemos o anúncio de que um musical pós-apocalíptico tragicômico trilharia seu caminho em direção às telonas, prometendo se entregar a algumas das tramas mais adoras pelo público em geral – o suis-generis zumbi, que rendeu inúmeros filmes cult e outros bastante trash, e o da “jornada epopeica” em que protagonistas descobrem seu lugar no mundo através do enfrentamento de obstáculos muito maiores do que imaginariam encontrar. E, bom, é justamente a isso que se propõe Anna e o Apocalipse’, uma das iterações mais recentes do diretor John McPhail – uma entrada errônea, mas que deixa sua mensagem bastante clara.



A trama gira em torno da personagem-título, uma típica e angustiada adolescente que acaba entrando em uma briga com seu pai devido a uma viagem que deseja fazer para a Austrália – sofrendo uma represália quase instantânea que a deixa ainda mais irritada do que normalmente é. Anna (Ella Hunt) é a personificação exata da condição adolescente contemporânea, que se coloca em um círculo de monotonia em desinteresse, conseguindo prever basicamente todos os aspectos de sua vida – e, por essa mesma razão, querendo se afastar da bolha que conhece o mais rápido possível. Porém, seus planos mudam de modo drástico quando um vírus desconhecido começa a transformar todas as pessoas em mortos-vivos, propagando-se de forma incessante pelo pequeno vilarejo de Little Haven.

Apesar dos múltiplos deslizes, que poderiam ser previstos caso a construção da obra tivesse sido feita com um pouco mais de cautela, a história já começa de forma a predizer o que nos aguarda. Diferente de outras produções, esta aqui nos antecipa de modo bem claro que algo está para acontecer, quebrando a pseudo-surpresa propositalmente e criando um escopo que preza menos pelo suspense e mais pela irreverência. E é claro, à medida que a trama se desenrola, músicas despontam aqui e ali, refletindo de modo satírico as frustrações dos personagens principais – mesmo que isso não signifique nada em comparação ao que chegará em poucas horas.

Assista também:
YouTube video


O grande problema é que essa arquitetura não-ortodoxa não se mantém além do nível esperado. Os diálogos, por mais inesperados que sejam parecem vazios principalmente quando colocados lado a lado com os pífios e estranhos números musicais – que não merecem nem mesmo comparação com La La Land: Cantando Estações’É certo dizer que a grande ideia era realizar uma grande jornada sem escrúpulos por uma micro-sociedade tomada pelo inconveniente, afinal, os próprios protagonistas agem assim o tempo todo; porém, McPhail, em colaboração à dupla de roteiristas Alan McDonald e Ryan McHenry, força além do que as bases narrativas sustentam, quebrando a bizarra magia que pretende nos entregar o tempo todo.

É claro, alguns pontos são interessantes e merecem ser mencionados. Há uma sequência cantada por Hunt e por Malcolm Cumming, que dá vida ao melhor amigo de Anna, John, em que eles saúdam o novo dia e um novo começo, dançando alegremente pelas ruas enquanto, alheios ao cotidiano que lhes cercam, desviam da horda de zumbis que domina a vizinhança, despercebendo a iminente tragédia por completo. Isso é, até encontrarem um homem vestido de boneco de neve que foi contaminado e que é, eventualmente, dilacerado sem piedade por Anna.

Outro aspecto a ser levado em consideração é o fato do roteiro não se preocupar em poupar sacrifícios. Várias pessoas que não poderíamos imaginar acabam se tornando vítimas dos mortos-vivos ou então entregam sua vida para proteger aqueles que amam – o que de fato adiciona certa camada melodramática muito bem vida. Entretanto, esses poucos retornos à glória logo se perdem em meio a uma triste inconsistência que desiste de explorar um potencial considerável e transforma absolutamente tudo em uma monotonia sem fim. Nem mesmo a sequência em que o sádico diretor da escola, Sr. Savage (Paul Kaye), transforma-se em um psicótico ditador consegue salvar o filme.

McPhail também perde-se ao encabeçar o projeto e atirar para muito longe em relação às suas investidas anteriores. Tendo como seu principal longa Where Do We Go From Here?’, que inclusive recebeu aclame da crítica especializada e levou para casa alguns prêmios, era de se esperar que o diretor nos entregasse algo no mesmo nível. Entretanto, a ideia de se deixar levar por uma edição frenética e enquadramentos quase imóveis se assimila a decisões amadoras demais para a habilidade que ele já apresentou ao público.

Se você está procurando por uma história bizarra além da conta, Anna e o Apocalipse é a pedida perfeita, porque, ao menos, ela irá te entreter por pouco mais de noventa minutos. Entretanto, não espere encontrar fusões de gênero geniais e um musical às avessas, como as pessoas podem pensar ao assistir ao trailer; afinal, a expectativa é a mãe de todas as decepções – e aqui, é provável que o baque seja maior que o imaginado.

YouTube video

YouTube video

Mais notícias...

Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

Siga-nos!

2,000,000FãsCurtir
372,000SeguidoresSeguir
1,620,000SeguidoresSeguir
195,000SeguidoresSeguir
162,000InscritosInscrever

ÚLTIMAS NOTÍCIAS

MATÉRIAS

CRÍTICAS

Anna e o Apocalipse | Relembre um dos musicais mais BIZARROS do século

Musicais costumam seguir algumas regras básicas para que ganhem forma, eventualmente buscando quebrar essas fórmulas tão endossadas para nos entregar algo novo e manter seu fiel público envolvido com histórias cativantes, peças sonoras interessante e dinâmicas e uma estrutura narrativa que, por mais que ouse sair da caixinha, permaneça dentro de uma coesão compreensiva. Desde a popularização e o crescimento da indústria cinematográfica, diversos longas-metragens do gênero se tornaram clássicos, fossem por ter eternizado fábulas ou por ter ido muito além que seus respectivos conterrâneos – temos, por exemplo, uma obrigação moral de citar A Noviça Rebelde’ Chicago’ como duas das produções que marcaram época e são relembrados até hoje por fornecerem uma nova perspectiva à própria arte que evocam.

Logo, é uma grande surpresa quando recebemos o anúncio de que um musical pós-apocalíptico tragicômico trilharia seu caminho em direção às telonas, prometendo se entregar a algumas das tramas mais adoras pelo público em geral – o suis-generis zumbi, que rendeu inúmeros filmes cult e outros bastante trash, e o da “jornada epopeica” em que protagonistas descobrem seu lugar no mundo através do enfrentamento de obstáculos muito maiores do que imaginariam encontrar. E, bom, é justamente a isso que se propõe Anna e o Apocalipse’, uma das iterações mais recentes do diretor John McPhail – uma entrada errônea, mas que deixa sua mensagem bastante clara.

A trama gira em torno da personagem-título, uma típica e angustiada adolescente que acaba entrando em uma briga com seu pai devido a uma viagem que deseja fazer para a Austrália – sofrendo uma represália quase instantânea que a deixa ainda mais irritada do que normalmente é. Anna (Ella Hunt) é a personificação exata da condição adolescente contemporânea, que se coloca em um círculo de monotonia em desinteresse, conseguindo prever basicamente todos os aspectos de sua vida – e, por essa mesma razão, querendo se afastar da bolha que conhece o mais rápido possível. Porém, seus planos mudam de modo drástico quando um vírus desconhecido começa a transformar todas as pessoas em mortos-vivos, propagando-se de forma incessante pelo pequeno vilarejo de Little Haven.

Apesar dos múltiplos deslizes, que poderiam ser previstos caso a construção da obra tivesse sido feita com um pouco mais de cautela, a história já começa de forma a predizer o que nos aguarda. Diferente de outras produções, esta aqui nos antecipa de modo bem claro que algo está para acontecer, quebrando a pseudo-surpresa propositalmente e criando um escopo que preza menos pelo suspense e mais pela irreverência. E é claro, à medida que a trama se desenrola, músicas despontam aqui e ali, refletindo de modo satírico as frustrações dos personagens principais – mesmo que isso não signifique nada em comparação ao que chegará em poucas horas.

O grande problema é que essa arquitetura não-ortodoxa não se mantém além do nível esperado. Os diálogos, por mais inesperados que sejam parecem vazios principalmente quando colocados lado a lado com os pífios e estranhos números musicais – que não merecem nem mesmo comparação com La La Land: Cantando Estações’É certo dizer que a grande ideia era realizar uma grande jornada sem escrúpulos por uma micro-sociedade tomada pelo inconveniente, afinal, os próprios protagonistas agem assim o tempo todo; porém, McPhail, em colaboração à dupla de roteiristas Alan McDonald e Ryan McHenry, força além do que as bases narrativas sustentam, quebrando a bizarra magia que pretende nos entregar o tempo todo.

É claro, alguns pontos são interessantes e merecem ser mencionados. Há uma sequência cantada por Hunt e por Malcolm Cumming, que dá vida ao melhor amigo de Anna, John, em que eles saúdam o novo dia e um novo começo, dançando alegremente pelas ruas enquanto, alheios ao cotidiano que lhes cercam, desviam da horda de zumbis que domina a vizinhança, despercebendo a iminente tragédia por completo. Isso é, até encontrarem um homem vestido de boneco de neve que foi contaminado e que é, eventualmente, dilacerado sem piedade por Anna.

Outro aspecto a ser levado em consideração é o fato do roteiro não se preocupar em poupar sacrifícios. Várias pessoas que não poderíamos imaginar acabam se tornando vítimas dos mortos-vivos ou então entregam sua vida para proteger aqueles que amam – o que de fato adiciona certa camada melodramática muito bem vida. Entretanto, esses poucos retornos à glória logo se perdem em meio a uma triste inconsistência que desiste de explorar um potencial considerável e transforma absolutamente tudo em uma monotonia sem fim. Nem mesmo a sequência em que o sádico diretor da escola, Sr. Savage (Paul Kaye), transforma-se em um psicótico ditador consegue salvar o filme.

McPhail também perde-se ao encabeçar o projeto e atirar para muito longe em relação às suas investidas anteriores. Tendo como seu principal longa Where Do We Go From Here?’, que inclusive recebeu aclame da crítica especializada e levou para casa alguns prêmios, era de se esperar que o diretor nos entregasse algo no mesmo nível. Entretanto, a ideia de se deixar levar por uma edição frenética e enquadramentos quase imóveis se assimila a decisões amadoras demais para a habilidade que ele já apresentou ao público.

Se você está procurando por uma história bizarra além da conta, Anna e o Apocalipse é a pedida perfeita, porque, ao menos, ela irá te entreter por pouco mais de noventa minutos. Entretanto, não espere encontrar fusões de gênero geniais e um musical às avessas, como as pessoas podem pensar ao assistir ao trailer; afinal, a expectativa é a mãe de todas as decepções – e aqui, é provável que o baque seja maior que o imaginado.

YouTube video

YouTube video
Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

Siga-nos!

2,000,000FãsCurtir
372,000SeguidoresSeguir
1,620,000SeguidoresSeguir
195,000SeguidoresSeguir
162,000InscritosInscrever

ÚLTIMAS NOTÍCIAS

MATÉRIAS

CRÍTICAS