Antes de ‘M3GAN’, nos anos 80 existia ‘Super Vicky’ – Série clássica completa 40 anos! Você lembra?

Um dos sucessos surpresa do cinema, ‘M3GAN’ (2023) apresentou uma boneca-robô dona de inteligência artificial, que se torna a melhor amiga de uma menina. Este ano, a sequência ‘M3GAN 2.0’ transformou a vilã do filme original em heroína, enfrentando uma nova ameaça. Antes de M3GAN se popularizar na cultura pop atual, outra menina robô fez muito sucesso junto com a geração dos anos 80. Falo de Super Vicky – sitcom que ficou famosa no Brasil graças a exibições na TV Globo, e está completando quatro décadas de sua estreia em 2025.

Em 1985, no meio de uma enxurrada de séries familiares que invadiam os lares americanos como um tsunami de bons costumes e trilhas sonoras com tecladinhos, surgiu algo, digamos… peculiar. ‘Super Vicky’ (Small Wonder, no original) estreou com uma proposta tão bizarra quanto encantadora: e se uma robô em forma de menina passasse a viver como parte de uma família suburbana comum? Pois é. Com essa premissa digna de um episódio rejeitado de ‘Black Mirror, a série caiu no gosto do público, especialmente das crianças e adolescentes da época, e se tornou um daqueles clássicos cult que muitos não admitem, mas adoram.

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A mente por trás dessa maravilha tecnológica era Howard Leeds, um veterano da televisão que já havia trabalhado em sucessos como ‘A Família Do-Re-Mi, ‘Arnold‘ e ‘Vivendo e Aprendendo‘. Leeds aparentemente decidiu que era hora de ir além das famílias convencionais e criar uma sitcom que misturasse comédia pastelão, ficção científica e altas doses de absurdos robóticos. Inspirado por uma ideia anterior que flertava com a criação de um robô doméstico, ele decidiu testar os limites do que o público aceitaria como “entretenimento familiar”.



A série foi produzida pela Metromedia Producers Corporation e distribuída de forma independente (o famoso “syndication”), o que significava que não estava atrelada a uma grande emissora. Mesmo assim, ‘Super Vicky‘ conseguiu encontrar seu público – e que público! A série virou febre em vários países, inclusive no Brasil, onde foi exibida incansavelmente nos anos 80 e 90, ganhando legiões de fãs mirins fascinados com aquela menina de olhos arregalados e fala monocórdica que fazia tarefas domésticas com força sobre-humana.

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No centro da trama está a família Lawson. Ted Lawson (Richard Christie), o patriarca, é engenheiro em robótica e o gênio por trás da criação de V.I.C.I. (Voice Input Child Identicant) – a tal robô em forma de criança, interpretada por Tiffany Brissette. Vicky, como é carinhosamente chamada, é programada para aprender a viver como um ser humano, mas suas limitações de linguagem, suas reações mecânicas e sua força descomunal rendem situações hilárias (ou completamente sem noção, dependendo da sua idade e nível de ceticismo).

Joan Lawson (Marla Pennington), a esposa de Ted, é a típica dona de casa dos anos 80: paciente, amorosa, e absolutamente tranquila ao saber que seu marido levou um robô para dentro de casa sem qualquer teste de segurança. O filho do casal, Jamie (Jerry Supiran), se torna o melhor amigo de Vicky e passa boa parte da série tentando protegê-la dos vizinhos bisbilhoteiros – especialmente da menina intrometida Harriet (Emily Schulman), uma espécie de Punky Brewster.

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O elenco, embora modesto, funcionava bem dentro da proposta da série. Tiffany Brissette, em particular, tornou-se um ícone mirim. Sua performance robótica, com trejeitos rígidos e voz monotônica, era ao mesmo tempo cômica e um pouco assustadora – algo entre Wandinha Addams e um assistente virtual dos anos 80. A atriz conseguiu imprimir carisma a um personagem que, por definição, não deveria ter nenhum.

Super Vicky’ não foi exatamente um queridinho da crítica. Pelo contrário: a maioria dos críticos da época torceu o nariz para a série, apontando seu humor simplório, seus efeitos especiais rudimentares e sua produção barata. Mas, como sabemos, crítica e popularidade nem sempre andam de mãos dadas – e Vicky é a prova disso. A série durou quatro temporadas, entre 1985 e 1989, somando 96 episódios.

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Mesmo com um orçamento modesto, o seriado conquistou um público fiel, sobretudo entre as crianças e adolescentes, que se identificavam com a fantasia de ter uma amiga robô – ou com a ideia de ter superpoderes escondidos no armário. Em diversos países, como Brasil, México e Filipinas, ‘Super Vicky’ foi um sucesso de audiência, muito em função da sua dublagem carismática e da exibição em horários nobres para o público infantojuvenil. No Brasil, a série passou por Globo, SBT, e canais a cabo, sempre com uma aura de “nostalgia instantânea”.

O humor pastelão, as lições de moral no estilo “fim de episódio de He-Man”, e os cenários que pareciam feitos de papelão não impediram que a série marcasse uma geração. Era o tipo de programa que, mesmo sem fazer sentido algum, trazia um conforto estranho – como um cobertor velho ou um miojo bem-feito.

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Super Vicky’ não gerou um universo expandido, nem spin-offs, nem um remake cinematográfico (ainda). Mas seu legado vive no coração dos que cresceram com ela – e nas listas de “séries mais bizarras dos anos 80” na internet. Em 2010, rumores sobre um reboot surgiram, mas, como era de se esperar, a ideia não foi pra frente. A própria Tiffany Brissette deixou a carreira de atriz e se tornou enfermeira – talvez cansada de ser confundida com um eletrodoméstico com cabeça.

Se fosse feita hoje, ‘Super Vicky’ provavelmente teria uma abordagem bem diferente. Em tempos de inteligência artificial real, carros autônomos e robôs de verdade limpando nossas casas, a ideia de um robô com aparência infantil já não é só ficção – e acende discussões éticas pesadas. Mas com a pegada certa, talvez como uma sátira ou até uma animação, o conceito poderia funcionar. Afinal, a premissa continua instigante: como seria crescer ao lado de algo que imita um humano, mas não é?

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O que está datado? Praticamente tudo: os figurinos, o tom inocente, os risos de fundo, a trilha sonora, os efeitos especiais. Mas é justamente isso que confere o charme retrô à série. O que daria certo ainda hoje? O absurdo da premissa, o carisma da protagonista e, claro, a eterna pergunta: será que os vizinhos vão descobrir?

Super Vicky’ pode ter sido pequena no nome original (Small Wonder), mas para muita gente, ela foi uma gigante. De olhos fixos, fala travada e coração (de silício), Vicky ainda é uma maravilha – mesmo que um pouco enferrujada.

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Pablo R. Bazarello
Crítico, cinéfilo dos anos 80, membro da ACCRJ, natural do Rio de Janeiro. Apaixonado por cinema e tudo relacionado aos anos 80 e 90. Cinema é a maior diversão. A arte é o que faz a vida valer a pena. 15 anos na estrada do CinePOP e contando...
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