quarta-feira , 20 novembro , 2024

‘Arthur’ e ‘Dr. Hollywood’ – o amor está no ar com romances das décadas de 80 e 90 na HBO Max

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O amor é o que nos move definitivamente como seres humanos. Estamos a todo instante buscando o amor nas mais variadas formas. O afeto é nossa característica mais marcante, mas o amor verdadeiro pode muitas vezes ser atrapalhado por razões sociais. Muitas vezes nossas vidas parecem presas a um status, às regras autoimpostas por nós mesmos, seja por preconceito ou o famoso medo de desagradar a massa, de fugir do padrão. É claro que hoje com uma grande evolução que tende a derrubar tais tabus nos aproximamos de uma melhor convivência e relacionamentos mais sinceros. Assim esperamos.

Dentro do assunto “amor derrubando tabus”, o cinema possui uma verdadeira filmoteca de títulos a escolhermos. Dentro da plataforma da HBO Max, duas produções que abordam o tema destacam-se, possuindo muito em comum – já que falar de cinema e de amor nunca é demais. Arthur: O Milionário Sedutor completa 40 anos em 2021 e Dr. Hollywood – Uma Receita de Amor também completa aniversário e faz 30 anos de seu lançamento em 2021. Os filmes possuem mais em comum do que apenas seus protagonistas baixinhos.



Arthur: O Milionário Sedutor’ marcou a carreira de Dudley Moore.

Arthur: O Milionário Sedutor estreou nos EUA em julho de 1981, e fez tanto sucesso que além de se tornar uma das comédias mais queridas da década de 80, sua popularidade o fez escalar até o Oscar daquele ano, onde recebeu indicações de melhor ator e roteiro original, e venceu nas categorias de ator coadjuvante e canção original – para a icônica ‘Arthur’s Theme (The Best You Can Do)’; é só procurar a canção para imediatamente perceber que você já a ouviu em algum momento da sua vida.

Protagonizado pelo saudoso ator e humorista britânico Dudley Moore (1.59m de altura), Arthur (1981) pode ser considerado o papel definidor de sua carreira e o que sempre virá na cabeça de todos ao pensarem no artista. Moore havia saído de outro sucesso esmagador, a comédia Mulher Nota 10 (1979), igualmente indicada a dois Oscar. Com sua popularidade a mil, o ator embarcava assim em um voo que seria ainda mais alto. O filme é esperto o suficiente para mostrar os dois lados de uma moeda. Arthur fala sobre o protagonista que dá título ao longa (Moore), um sujeito “podre de rico” e literalmente “podre”. Tendo tudo que o dinheiro pode comprar, Arthur leva uma vida vazia, tipicamente no pior sentido que a palavra playboy possui.

Completamente sem noção, de começo Arthur não é um personagem muito simpático.

Talvez no fundo Arthur ressinta o dinheiro que possui e tudo o que ele lhe trouxe. A verdade é que ele nunca precisou trabalhar e sequer o fez para ocupar seu tempo. Mimado, ele torra sua herança vivendo em larga escala, apenas usufruindo do que o dinheiro e status podem oferecê-lo, assim como muitas estrelas se comportavam antigamente. E no centro do filme, em seu coração, essa é a mensagem que fica: viver a vida e usufruir dela é bom, mas é preciso dar algo em troca, gastar nosso tempo não unicamente para nós mesmos. É desta forma que todos que o cercam pensam. Seja seu pai, que se vê cansado de insistir para que o irresponsável herdeiro assuma seus negócios (coisa que ele parece não ter o mínimo interesse), e seu mordomo Hobson (papel de John Gielgud), uma espécie de pai de criação / babá para o sujeito.

Como consequência de seu vazio emocional e existencial, Arthur passa seus dias tomando severos porres de uísque e de outras bebidas alcoólicas (desde mantenham seu padrão). Uma fuga clássica da realidade. O viver entorpecido do protagonista cria um personagem falho e errático, e de começo Arthur é apresentado como um rico esnobe, realmente desprezível. Na cena que abre o filme, ele convence uma prostituta de rua a ir jantar com ele num restaurante de luxo. Aqui não se trata, porém, de um discurso de aceitação, mas sim do valor de choque que promove, tirando sarro para uma diversão pessoal tanto da mulher humilde que não se enquadra no local, quanto das pessoas ao redor ao terem que presenciar um escândalo.

Arthur (Moore) encontra o amor verdadeiro nas formas de Linda (Liza Minnelli). Ao lado, o “pai de criação” Hobson (John Gielgud).

Arthur planeja sua redenção quando o protagonista conhece Linda, personagem vivida por Liza Minnelli – filha na vida real da atriz Judy Garland e do diretor Vincente Minnelli. Ela é uma mulher esperta, carismática, inteligente, engraçada e dona das melhores qualidades que esperamos de um ser humano. A pegadinha está no fato, pelo menos para Arthur, de que ela pertence a uma classe média baixa da sociedade, e entre outras coisas, comete um delito de furtar uma gravata numa loja (para presentear o pai), assim que se conhecem. Arthur nunca conheceu alguém como Linda e do encontro soltam faíscas. O problema é que Arthur tem um casamento arranjado e precisa cumprir sua parte do acordo a fim que duas famílias ricas unam seu patrimônio. Não é loucura pensar que padrões sociais ditem sobre quem devemos ou não nos apaixonar?

Linda se torna a fuga da rica doença de Arthur, e sua entrada numa vida normal, porém, simples. Onde possivelmente precisará abrir mão de sua fortuna em nome do amor. E você, o que faria? Arthur: O Milionário Sedutor (1981) foi o quarto filme de maior bilheteria nos EUA em seu ano de lançamento, recebeu indicação para ator (Moore) e venceu coadjuvante (Gielgud) no Oscar. Fora isso, o sucesso foi tanto que rendeu uma continuação em 1988 (Arthur: O Milionário Arruinado) e uma refilmagem em 2011, protagonizada por Russell Brand e Helen Mirren. O remake também está disponível na HBO Max.

O cartaz fanfarrão de ‘Dr. Hollywood – Uma Receita de Amor’ não faz jus ao seu conteúdo romântico.

Pulando dez anos no futuro, saímos de 1981 para 1991. Pulamos para um ano mais familiarizado com os blockbusters e grandes sucessos de bilheteria. O baixinho Michael J. Fox (1.63m de altura) já havia escrito seu nome no panteão de Hollywood ao protagonizar De Volta para o Futuro (1985), um fenômeno verdadeiramente estrondoso, e suas continuações (em 1989 e 1990). Um dos projetos seguintes que o ator escolhia era uma bela reverência ao amor. Ao contrário de Arthur, uma ideia original, o filme que Fox protagonizaria para a mesma Warner era baseado num livro, chamado ‘What?… Dead Again?, do autor Neil B. Shulman.

O livro transformado em Dr. Hollywood – Uma Receita de Amor estrou no dia 2 de agosto em circuito nos EUA. E também traz um protagonista que ostenta e usufrui de um patamar confortável na escala da sociedade. Ao contrário de Arthur também, que nasceu na “nobreza”, o médico Ben Stone (papel de Fox) é um sujeito que batalhou bastante para chegar aonde chegou, o que inclui servir durante anos em hospitais de emergência – daqueles que vemos em programas televisivos como Plantão Médico ou o nacional Sob Pressão. É justamente onde o filme abre, com o protagonista se despedindo desta vida.

Este outro está mais de acordo. Woody Harrelson ao fundo coadjuva como o caipira machão que não é o que parece.

O personagem de Fox recebe a oportunidade de sua carreira, quando surge a possibilidade de uma vaga numa bem sucedida clínica cirúrgica de estética na Califórnia, terra dos ricos e famosos. E daí já surge o primeiro debate sobre o propósito da profissão da medicina. Seus colegas de trabalho não demoram a ironizar o fato de que ele deixaria de desempenhar a “medicina real” para operar em dondocas em busca do corpo perfeito. Como muitos clássicos de fantasia, daqueles em especial sobre o natal, o destino interfere de forma “mágica” na caminho do sujeito, que estava prestes a iniciar uma vida voltada à artificialidade e superficialidade.

Na estrada para chegar ao seu possível novo trabalho, Stone sofre um leve acidente de carro, mas termina por destruir por completo a cerca de um velho juiz de uma cidadezinha do interior dos EUA, a fictícia Grady – o filme foi rodado em Micanopy, Flórida. Como forma de punição, o juiz decreta que o jovem doutor sirva sua “pena” na cidade, trabalhando como o médico residente no hospital por 32 horas. É claro que o tempo é curto para que algo se desenvolva com o personagem, assim o texto o coloca à mercê de mecânicos que precisam consertar seu carro para que ele possa ejetar do local. Esse tempo irá demorar alguns dias, que serão o suficiente para que ele possa conhecer a cidade e interagir com todos os moradores.

Charme e carisma. A bela Julie Warner rouba a cena no papel de Lou. Uma pena que não fez decolar sua carreira.

O prefeito do local insiste para que Stone estabeleça moradia definitiva na cidade, durante toda a projeção esperançoso de que os charmes de Grady seduzam o profissional de mentalidade urbana. Aqui, o principal debate é sobre a vida na cidade grande versus a vida no campo, ou em um ambiente mais natural (ou rural). Algo trazido à tona durante nossos tempos pandêmicos, em que acompanhamos muitas pessoas migrando da cidade a fim de ganharem uma qualidade de vida fora das quatro paredes de nossas prisões domiciliares. Nunca espaços abertos foram tão necessários para nosso bem estar e saúde mental.

Estabelecer residência em Grady significaria automaticamente para Ben Stone abrir mão de um status confortável e de dinheiro, sucesso e ego (talvez até de seu sonho). Assim como Arthur e seu dilema, o que começa a desestabilizar o “Dr. Hollywood” de Michael J. Fox é o amor, e ele entra em cena com a presença de Lou, papel da graciosa Julie Warner (que deveria ter feito sua carreira decolar), a motorista da ambulância do hospital. Saída de uma cidade grande, ela optou pela vida numa cidade pequena para a criação da filha após ser abandonada pelo marido. Ou seja, não é uma interiorana que nunca viu nada além das cercanias e que tem medo de uma vida mais agitada. Para ela foi pura e simplesmente uma questão de escolha.

“Que música?” Uma das cenas mais belas do cinema, que rivaliza com o baile de “De Volta para o Futuro”.

Assim como Linda (de Arthur), Lou é uma ótima personagem feminina num filme de Hollywood. Espontânea e com uma carapaça dura, Lou já teve sua cota de sofrimento, o que como forma de autodefesa cria uma personalidade mais irônica e difícil. Pelo menos em sua superfície. O protagonista, um jovem convencido, precisará passar um dobrado para conquistar essa mulher de fibra. Aos poucos um vai cativando o outro, muito mais pelas ações do que por palavras, status ou dinheiro (no caso dela). Seu encantamento por Stone começa a surgir de acordo que deixa transparecer a bondade com os moradores da cidade, a forma gentil e nada arrogante com que trata os chamados “caipiras” locais. Sabendo que o sujeito tem poucos dias para permanecer no local, Lou reluta mais ainda para ceder a um possível relacionamento. E ele, que esperava apenas um envolvimento rápido e sem grande significado, termina arrebatado pelos encantos da mulher, uma representação física da cidade de Grady.

Assim como Arthur, o protagonista de Dr. Hollywood precisa fazer a escolha mais difícil de sua vida: dinheiro ou amor. Dinheiro traz realmente a felicidade? O que buscamos afinal, sucesso profissional como objetivo, ou uma vida inteira ao lado de alguém? Podemos ter as duas coisas, mas é preciso empenho dobrado. No caso destes filmes, os roteiros colocam em cheque suas escolhas. É um ou outro. E o grande êxito de ambos Dr. Hollywood – Uma Receita de Amor e Arthur: O Milionário Sedutor é não tratar o tema nem de forma muito cínica e tampouco piegas, ao descambar para um lado ou para o outro. Ambos os filmes são apenas reais e por isso extremamente identificáveis.

Arthur: O Milionário Sedutor (1981) e Dr. Hollywood – Uma Receita de Amor (1991) estão disponíveis na plataforma da HBO Max para você conhecer ou rever.

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Dentro do assunto “amor derrubando tabus”, o cinema possui uma verdadeira filmoteca de títulos a escolhermos. Dentro da plataforma da HBO Max, duas produções que abordam o tema destacam-se, possuindo muito em comum – já que falar de cinema e de amor nunca é demais. Arthur: O Milionário Sedutor completa 40 anos em 2021 e Dr. Hollywood – Uma Receita de Amor também completa aniversário e faz 30 anos de seu lançamento em 2021. Os filmes possuem mais em comum do que apenas seus protagonistas baixinhos.

Arthur: O Milionário Sedutor’ marcou a carreira de Dudley Moore.

Arthur: O Milionário Sedutor estreou nos EUA em julho de 1981, e fez tanto sucesso que além de se tornar uma das comédias mais queridas da década de 80, sua popularidade o fez escalar até o Oscar daquele ano, onde recebeu indicações de melhor ator e roteiro original, e venceu nas categorias de ator coadjuvante e canção original – para a icônica ‘Arthur’s Theme (The Best You Can Do)’; é só procurar a canção para imediatamente perceber que você já a ouviu em algum momento da sua vida.

Protagonizado pelo saudoso ator e humorista britânico Dudley Moore (1.59m de altura), Arthur (1981) pode ser considerado o papel definidor de sua carreira e o que sempre virá na cabeça de todos ao pensarem no artista. Moore havia saído de outro sucesso esmagador, a comédia Mulher Nota 10 (1979), igualmente indicada a dois Oscar. Com sua popularidade a mil, o ator embarcava assim em um voo que seria ainda mais alto. O filme é esperto o suficiente para mostrar os dois lados de uma moeda. Arthur fala sobre o protagonista que dá título ao longa (Moore), um sujeito “podre de rico” e literalmente “podre”. Tendo tudo que o dinheiro pode comprar, Arthur leva uma vida vazia, tipicamente no pior sentido que a palavra playboy possui.

Completamente sem noção, de começo Arthur não é um personagem muito simpático.

Talvez no fundo Arthur ressinta o dinheiro que possui e tudo o que ele lhe trouxe. A verdade é que ele nunca precisou trabalhar e sequer o fez para ocupar seu tempo. Mimado, ele torra sua herança vivendo em larga escala, apenas usufruindo do que o dinheiro e status podem oferecê-lo, assim como muitas estrelas se comportavam antigamente. E no centro do filme, em seu coração, essa é a mensagem que fica: viver a vida e usufruir dela é bom, mas é preciso dar algo em troca, gastar nosso tempo não unicamente para nós mesmos. É desta forma que todos que o cercam pensam. Seja seu pai, que se vê cansado de insistir para que o irresponsável herdeiro assuma seus negócios (coisa que ele parece não ter o mínimo interesse), e seu mordomo Hobson (papel de John Gielgud), uma espécie de pai de criação / babá para o sujeito.

Como consequência de seu vazio emocional e existencial, Arthur passa seus dias tomando severos porres de uísque e de outras bebidas alcoólicas (desde mantenham seu padrão). Uma fuga clássica da realidade. O viver entorpecido do protagonista cria um personagem falho e errático, e de começo Arthur é apresentado como um rico esnobe, realmente desprezível. Na cena que abre o filme, ele convence uma prostituta de rua a ir jantar com ele num restaurante de luxo. Aqui não se trata, porém, de um discurso de aceitação, mas sim do valor de choque que promove, tirando sarro para uma diversão pessoal tanto da mulher humilde que não se enquadra no local, quanto das pessoas ao redor ao terem que presenciar um escândalo.

Arthur (Moore) encontra o amor verdadeiro nas formas de Linda (Liza Minnelli). Ao lado, o “pai de criação” Hobson (John Gielgud).

Arthur planeja sua redenção quando o protagonista conhece Linda, personagem vivida por Liza Minnelli – filha na vida real da atriz Judy Garland e do diretor Vincente Minnelli. Ela é uma mulher esperta, carismática, inteligente, engraçada e dona das melhores qualidades que esperamos de um ser humano. A pegadinha está no fato, pelo menos para Arthur, de que ela pertence a uma classe média baixa da sociedade, e entre outras coisas, comete um delito de furtar uma gravata numa loja (para presentear o pai), assim que se conhecem. Arthur nunca conheceu alguém como Linda e do encontro soltam faíscas. O problema é que Arthur tem um casamento arranjado e precisa cumprir sua parte do acordo a fim que duas famílias ricas unam seu patrimônio. Não é loucura pensar que padrões sociais ditem sobre quem devemos ou não nos apaixonar?

Linda se torna a fuga da rica doença de Arthur, e sua entrada numa vida normal, porém, simples. Onde possivelmente precisará abrir mão de sua fortuna em nome do amor. E você, o que faria? Arthur: O Milionário Sedutor (1981) foi o quarto filme de maior bilheteria nos EUA em seu ano de lançamento, recebeu indicação para ator (Moore) e venceu coadjuvante (Gielgud) no Oscar. Fora isso, o sucesso foi tanto que rendeu uma continuação em 1988 (Arthur: O Milionário Arruinado) e uma refilmagem em 2011, protagonizada por Russell Brand e Helen Mirren. O remake também está disponível na HBO Max.

O cartaz fanfarrão de ‘Dr. Hollywood – Uma Receita de Amor’ não faz jus ao seu conteúdo romântico.

Pulando dez anos no futuro, saímos de 1981 para 1991. Pulamos para um ano mais familiarizado com os blockbusters e grandes sucessos de bilheteria. O baixinho Michael J. Fox (1.63m de altura) já havia escrito seu nome no panteão de Hollywood ao protagonizar De Volta para o Futuro (1985), um fenômeno verdadeiramente estrondoso, e suas continuações (em 1989 e 1990). Um dos projetos seguintes que o ator escolhia era uma bela reverência ao amor. Ao contrário de Arthur, uma ideia original, o filme que Fox protagonizaria para a mesma Warner era baseado num livro, chamado ‘What?… Dead Again?, do autor Neil B. Shulman.

O livro transformado em Dr. Hollywood – Uma Receita de Amor estrou no dia 2 de agosto em circuito nos EUA. E também traz um protagonista que ostenta e usufrui de um patamar confortável na escala da sociedade. Ao contrário de Arthur também, que nasceu na “nobreza”, o médico Ben Stone (papel de Fox) é um sujeito que batalhou bastante para chegar aonde chegou, o que inclui servir durante anos em hospitais de emergência – daqueles que vemos em programas televisivos como Plantão Médico ou o nacional Sob Pressão. É justamente onde o filme abre, com o protagonista se despedindo desta vida.

Este outro está mais de acordo. Woody Harrelson ao fundo coadjuva como o caipira machão que não é o que parece.

O personagem de Fox recebe a oportunidade de sua carreira, quando surge a possibilidade de uma vaga numa bem sucedida clínica cirúrgica de estética na Califórnia, terra dos ricos e famosos. E daí já surge o primeiro debate sobre o propósito da profissão da medicina. Seus colegas de trabalho não demoram a ironizar o fato de que ele deixaria de desempenhar a “medicina real” para operar em dondocas em busca do corpo perfeito. Como muitos clássicos de fantasia, daqueles em especial sobre o natal, o destino interfere de forma “mágica” na caminho do sujeito, que estava prestes a iniciar uma vida voltada à artificialidade e superficialidade.

Na estrada para chegar ao seu possível novo trabalho, Stone sofre um leve acidente de carro, mas termina por destruir por completo a cerca de um velho juiz de uma cidadezinha do interior dos EUA, a fictícia Grady – o filme foi rodado em Micanopy, Flórida. Como forma de punição, o juiz decreta que o jovem doutor sirva sua “pena” na cidade, trabalhando como o médico residente no hospital por 32 horas. É claro que o tempo é curto para que algo se desenvolva com o personagem, assim o texto o coloca à mercê de mecânicos que precisam consertar seu carro para que ele possa ejetar do local. Esse tempo irá demorar alguns dias, que serão o suficiente para que ele possa conhecer a cidade e interagir com todos os moradores.

Charme e carisma. A bela Julie Warner rouba a cena no papel de Lou. Uma pena que não fez decolar sua carreira.

O prefeito do local insiste para que Stone estabeleça moradia definitiva na cidade, durante toda a projeção esperançoso de que os charmes de Grady seduzam o profissional de mentalidade urbana. Aqui, o principal debate é sobre a vida na cidade grande versus a vida no campo, ou em um ambiente mais natural (ou rural). Algo trazido à tona durante nossos tempos pandêmicos, em que acompanhamos muitas pessoas migrando da cidade a fim de ganharem uma qualidade de vida fora das quatro paredes de nossas prisões domiciliares. Nunca espaços abertos foram tão necessários para nosso bem estar e saúde mental.

Estabelecer residência em Grady significaria automaticamente para Ben Stone abrir mão de um status confortável e de dinheiro, sucesso e ego (talvez até de seu sonho). Assim como Arthur e seu dilema, o que começa a desestabilizar o “Dr. Hollywood” de Michael J. Fox é o amor, e ele entra em cena com a presença de Lou, papel da graciosa Julie Warner (que deveria ter feito sua carreira decolar), a motorista da ambulância do hospital. Saída de uma cidade grande, ela optou pela vida numa cidade pequena para a criação da filha após ser abandonada pelo marido. Ou seja, não é uma interiorana que nunca viu nada além das cercanias e que tem medo de uma vida mais agitada. Para ela foi pura e simplesmente uma questão de escolha.

“Que música?” Uma das cenas mais belas do cinema, que rivaliza com o baile de “De Volta para o Futuro”.

Assim como Linda (de Arthur), Lou é uma ótima personagem feminina num filme de Hollywood. Espontânea e com uma carapaça dura, Lou já teve sua cota de sofrimento, o que como forma de autodefesa cria uma personalidade mais irônica e difícil. Pelo menos em sua superfície. O protagonista, um jovem convencido, precisará passar um dobrado para conquistar essa mulher de fibra. Aos poucos um vai cativando o outro, muito mais pelas ações do que por palavras, status ou dinheiro (no caso dela). Seu encantamento por Stone começa a surgir de acordo que deixa transparecer a bondade com os moradores da cidade, a forma gentil e nada arrogante com que trata os chamados “caipiras” locais. Sabendo que o sujeito tem poucos dias para permanecer no local, Lou reluta mais ainda para ceder a um possível relacionamento. E ele, que esperava apenas um envolvimento rápido e sem grande significado, termina arrebatado pelos encantos da mulher, uma representação física da cidade de Grady.

Assim como Arthur, o protagonista de Dr. Hollywood precisa fazer a escolha mais difícil de sua vida: dinheiro ou amor. Dinheiro traz realmente a felicidade? O que buscamos afinal, sucesso profissional como objetivo, ou uma vida inteira ao lado de alguém? Podemos ter as duas coisas, mas é preciso empenho dobrado. No caso destes filmes, os roteiros colocam em cheque suas escolhas. É um ou outro. E o grande êxito de ambos Dr. Hollywood – Uma Receita de Amor e Arthur: O Milionário Sedutor é não tratar o tema nem de forma muito cínica e tampouco piegas, ao descambar para um lado ou para o outro. Ambos os filmes são apenas reais e por isso extremamente identificáveis.

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