domingo , 23 fevereiro , 2025

Artigo | 03 de outubro: é dia de relembrar ‘Meninas Malvadas’


Um ano depois do sucesso de Sexta-Feira Muito Louca’, filme que definitivamente colocou o nome de Mark Waters no promissor cenário hollywoodiano, o diretor em questão resolveu manter-se na expansiva e ainda não tão explorada subvertente narrativa que engloba as comédias românticas adolescentes. É claro que, considerando a generosa quantidade de obras lançadas na década de 1990 – que já trouxeram Alicia Silverstone  como uma das queridinhas da América por As Patricinhas de Beverly Hills’ –, Waters já teria um respaldo para trazer a perspectiva da famigerada high school para a contemporaneidade e a geração millenial que só agora chegava aos temores do colégio. E foi da forma mais inesperada e irreverente possível que ele conseguiu arquitetar um dos longas mais memoráveis de todos os tempos: Meninas Malvadas.

Primeiramente, o diretor soube escolher muito bem o seu elenco ao colocar mais uma vez Lindsay Lohan no holofote principal. Na iteração anterior, ela já havia encarnado a roqueira rebelde Anna, e aqui ela transmuta-se em uma jovem adolescente chamada Cady que passou a vida inteira recebendo educação escolar em casa e, quando retorna da África com seus pais, percebe que o mundo vai muito além disso. Ela ingressa na escola local e logo começa a traçar inúmeros paralelos entre a savana africana e os claustrofóbicos corredores do colégio, associando cada um dos alunos a um predador ou presa diferentes. E surpresa: isso se mantém inclusive para a queen bee da escola, a líder de torcida extremamente ácida Regina George (Rachel McAdams como nunca antes vista) e suas minions, Gretchen (Lacey Chabert) e Karen (Amanda Seyfried).



meninas malvadas 3

Se trouxermos tal premissa para os dias de hoje, podemos separar uma lista interminável que tem como pano de fundo as intrigas escolares entre grupos totalmente diferentes entre si – e isso já foi visto, ainda que às avessas, em O Clube dos Cinco’. Porém a forma como a narrativa se desenvolve vai muito além do que esperamos e é marcada por tantas sacadas geniais de roteiro que fica muito difícil não incorporar alguns dos infinitos bordões reproduzidos pelos personagens. Cady, a princípio ingênua, cai na lábia de Regina e tenta se aproximar do grupo apenas para descobrir que funciona como a “novata estranha cuja única função é tornar a ‘rainha do baile’ ainda mais desejada”.

A ideia de amizade nutrida por Regina é bizarra, para não dizer abusiva; apesar de claramente expressar algo que acontece entre adolescentes tão diferentes entre, Waters, em colaboração com o incrível tato e timing cômico de Tina Fey, consegue desviar do excessivo drama para quebras de expectativa que nos fazem gargalhar sem ao menos entender o porquê – ora, o diretor se utiliza até de slow motion para depois descontruir algo que associamos a uma construção cênica etérea e intocável. Em uma das diversas sequências maravilhosamente bem construídas, a personagem de McAdams mostra o seu real veneno ao convidar Cady para uma festa à fantasia apenas para fazê-la passar vergonha e mostrar quem é que manda.


meninas malvadas 3 1

Tomando a ingenuidade e a crença de que todas as pessoas são boas da nossa protagonista, temos a presença de seus guardiões e conselheiros, representados pela incomparável dupla Janis (Lizzy Caplan) e Damian (Daniel Franzese), a gótica e o gay do colégio que são marginalizados por não viverem dentro dos padrões a que são obrigados a encarar todos os dias. Desde o primeiro dia de aula, Cady forma uma relação de amizade que inclusive é base para a arquitetura de um plano de vingança contra a perfeição feérica de Regina; logo, ela se transforma naquilo que sempre criticou e não percebe que cai nos mesmos erros que suas “aminimigas”.

Mesmo com o profundo respaldo – o qual não conseguiríamos acreditar ser possível – o roteiro tem um ritmo incrível e funciona como uma fatia satírica de uma sociedade macrocósmica muito mais hipócrita do que parece. Se Regina é do jeito que é, é devido ao meio em que vive – um núcleo matriarcal comandado pela Sra. George (encarnada pela hilária Amy Poehler) que se esquece de suas responsabilidades como adulta e crê piamente ter a mesma idade da filha. E o mais incrível é como cada um dos personagens coadjuvantes têm a sua representatividade e o seu próprio arco muito bem estruturado, com começo, meio e fim – passando pelas saídas convencionais de redenção, perdão, apatia e afins.

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meninas malvadas 2

E o que ficará de tal obra? Bom, além de uma história que perpassa por vários gêneros, são os clássicos e imortais bordões que mais ficarão na memória do público, ainda mais por serem trazidos à tona em momentos onde os acontecimentos em questão falam por si só. Frases como “às quartas-feiras, nós usamos rosa” e “isso é tão barro!” marcaram e ainda marcam gerações, movendo uma cultura que se apoia no cômico para embasar-se em críticas sociais que são vistas como “drama”. E como se não bastasse, Meninas Malvadas mostra o dom inegável de criar sequências aplaudíveis por sua irreverência adolescente – como a cena de Jingle Bell Rock performada pelas quatro garotas principais.

Mark Waters novamente acertou em cheio com uma obra que podia ser o mesmo do mesmo, mas se mostrou com potencial muito maior do que lhe daríamos crédito. Afinal, não é todo dia que um filme entra para sua lista de favoritos de todos os tempos e marca públicos das mais variadas idades ao reformular a perspectiva de um gênero completo.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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Primeiramente, o diretor soube escolher muito bem o seu elenco ao colocar mais uma vez Lindsay Lohan no holofote principal. Na iteração anterior, ela já havia encarnado a roqueira rebelde Anna, e aqui ela transmuta-se em uma jovem adolescente chamada Cady que passou a vida inteira recebendo educação escolar em casa e, quando retorna da África com seus pais, percebe que o mundo vai muito além disso. Ela ingressa na escola local e logo começa a traçar inúmeros paralelos entre a savana africana e os claustrofóbicos corredores do colégio, associando cada um dos alunos a um predador ou presa diferentes. E surpresa: isso se mantém inclusive para a queen bee da escola, a líder de torcida extremamente ácida Regina George (Rachel McAdams como nunca antes vista) e suas minions, Gretchen (Lacey Chabert) e Karen (Amanda Seyfried).

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Se trouxermos tal premissa para os dias de hoje, podemos separar uma lista interminável que tem como pano de fundo as intrigas escolares entre grupos totalmente diferentes entre si – e isso já foi visto, ainda que às avessas, em O Clube dos Cinco’. Porém a forma como a narrativa se desenvolve vai muito além do que esperamos e é marcada por tantas sacadas geniais de roteiro que fica muito difícil não incorporar alguns dos infinitos bordões reproduzidos pelos personagens. Cady, a princípio ingênua, cai na lábia de Regina e tenta se aproximar do grupo apenas para descobrir que funciona como a “novata estranha cuja única função é tornar a ‘rainha do baile’ ainda mais desejada”.

A ideia de amizade nutrida por Regina é bizarra, para não dizer abusiva; apesar de claramente expressar algo que acontece entre adolescentes tão diferentes entre, Waters, em colaboração com o incrível tato e timing cômico de Tina Fey, consegue desviar do excessivo drama para quebras de expectativa que nos fazem gargalhar sem ao menos entender o porquê – ora, o diretor se utiliza até de slow motion para depois descontruir algo que associamos a uma construção cênica etérea e intocável. Em uma das diversas sequências maravilhosamente bem construídas, a personagem de McAdams mostra o seu real veneno ao convidar Cady para uma festa à fantasia apenas para fazê-la passar vergonha e mostrar quem é que manda.

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Tomando a ingenuidade e a crença de que todas as pessoas são boas da nossa protagonista, temos a presença de seus guardiões e conselheiros, representados pela incomparável dupla Janis (Lizzy Caplan) e Damian (Daniel Franzese), a gótica e o gay do colégio que são marginalizados por não viverem dentro dos padrões a que são obrigados a encarar todos os dias. Desde o primeiro dia de aula, Cady forma uma relação de amizade que inclusive é base para a arquitetura de um plano de vingança contra a perfeição feérica de Regina; logo, ela se transforma naquilo que sempre criticou e não percebe que cai nos mesmos erros que suas “aminimigas”.

Mesmo com o profundo respaldo – o qual não conseguiríamos acreditar ser possível – o roteiro tem um ritmo incrível e funciona como uma fatia satírica de uma sociedade macrocósmica muito mais hipócrita do que parece. Se Regina é do jeito que é, é devido ao meio em que vive – um núcleo matriarcal comandado pela Sra. George (encarnada pela hilária Amy Poehler) que se esquece de suas responsabilidades como adulta e crê piamente ter a mesma idade da filha. E o mais incrível é como cada um dos personagens coadjuvantes têm a sua representatividade e o seu próprio arco muito bem estruturado, com começo, meio e fim – passando pelas saídas convencionais de redenção, perdão, apatia e afins.

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E o que ficará de tal obra? Bom, além de uma história que perpassa por vários gêneros, são os clássicos e imortais bordões que mais ficarão na memória do público, ainda mais por serem trazidos à tona em momentos onde os acontecimentos em questão falam por si só. Frases como “às quartas-feiras, nós usamos rosa” e “isso é tão barro!” marcaram e ainda marcam gerações, movendo uma cultura que se apoia no cômico para embasar-se em críticas sociais que são vistas como “drama”. E como se não bastasse, Meninas Malvadas mostra o dom inegável de criar sequências aplaudíveis por sua irreverência adolescente – como a cena de Jingle Bell Rock performada pelas quatro garotas principais.

Mark Waters novamente acertou em cheio com uma obra que podia ser o mesmo do mesmo, mas se mostrou com potencial muito maior do que lhe daríamos crédito. Afinal, não é todo dia que um filme entra para sua lista de favoritos de todos os tempos e marca públicos das mais variadas idades ao reformular a perspectiva de um gênero completo.

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