quinta-feira , 21 novembro , 2024

Artigo | Como ‘A Bruxa de Blair’ revolucionou os filmes de terror…

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Em 1999, os diretores e roteiristas Daniel Myrick e Eduardo Sánchez estavam prestes a fazer história ao reunirem forças para comandarem um filme independente que mudaria o curso da sétima arte norte-americana: A Bruxa de Blair.

Apenas o título é forte o suficiente para despertar memórias ou até mesmo a curiosidade do público – afinal, é muito difícil encontrarmos alguém que nunca tenha ao menos ouvido falar do longa-metragem. Para aqueles que não conhecem, a narrativa é centrada em um grupo de cineastas amadores que viaja para uma pequena cidade no estado de Maryland, nos Estados Unidos, para rodarem um documentário sobre a mítica Bruxa de Blair – uma lendária personagem que, alegadamente, foi responsável pela morte de diversas pessoas e ainda assombra aquela região. E, movidos por essa instigante trama, o trio formado por Heather, Mike e Josh (que são os nomes dos atores que os interpretam) se embrenham nas medonhas florestas para encontrarem respostas ou ao menos material com que possam produzir o filme. Todavia, o que deveria ser uma pesquisa de campo se transforma em um pesadelo sem fim quando eventos misteriosos os levam a crer que a bruxa, de fato, existe.



A produção pertence ao conhecido gênero do found footage e, apesar de não ter sido a primeira a utilizar o recurso, foi responsável por popularizá-lo ao redor do mundo e a causar grande comoção por sua estética realista e por técnicas que não eram vistas. É claro, se voltarmos um pouco mais no tempo, podemos citar o clássico italiano Holocausto Canibal como precursor oficial desse estilo – mas foi apenas com A Bruxa de Blair que o suis-generis se tornaria um dos avais do terror nas décadas subsequentes.

Cada engrenagem do longa, da pré-produção às repercussões consecutivas, foi de importância significativa para a imortalização de seu legado. Por se tratar de um título de baixíssimo orçamento (por volta de US$60 mil) e por se configurarem como realizadores estreantes, Myrick e Sánchez investiram pesado em um marketing genial: a princípio, houve a contratação de atores não conhecidos para interpretarem os protagonistas; logo depois, a Haxan Films, que supervisionou o projeto, divulgou cartazes que anunciavam o desaparecimento de três jovens cineastas, começando a atrair atenção. E, quando o trailer foi lançado, ninguém conseguiria acreditar que aquela história era fictícia. Boa parte dos espectadores comprou a ideia de que o filme exibido era factual e que todas as pessoas que apareceram estavam envolvidas em uma controversa tragédia sem solução. Ora, os atores foram até aconselhados a não aparecem em público para aumentar o suspense.

Quando assistimos a A Bruxa de Blair, é automático pensarmos que, no geral, a composição foi fácil de ser feita. Todavia, Myrick e Sánchez estavam comprometidos a criar algo nunca visto e delinearam uma mitologia aprofundada (e fictícia, logicamente); entretanto, as falas e as reações de Heather, Mike e Josh são improvisadas e legítimas, feitas, grosso modo, sem a ciência deles para garantir uma naturalidade quase cruel. Logo, era apenas de se esperar que a repercussão não fosse apenas positiva, mas atraísse a atenção de autoridades para garantir que ninguém estava machucado e que todos da equipe estavam vivos. E, a encargo de comparação, os espectadores se sentiram compelidos a conferi-lo, visto que a arrecadação ultrapassou o orçamento em mais de 2000 vezes, fechando em US$248,6 milhões (algo equivalente a mais de US$450 milhões em 2023, ajustando-se à inflação).

Mesmo assim, é preciso comentar sobre a disparidade gritante entre a recepção da audiência e da crítica internacional: podemos perceber um embate entre os 86% de aprovação dos especialistas e uma melancólica nota C+ dos circunstantes – e essa é uma percepção que se estende até os dias de hoje, mas agora mergulhando em uma compreensão de que, de certa forma, o filme não envelheceu tão bem quanto deveria. Não obstante a discrepância mencionada, seu legado permanece vivo e influenciou uma quantidade inenarrável de projetos subsequentes – que não se limitaram apenas ao terror, mas se estenderam ao drama e ao suspense com facilidade invejável.

É possível ver o influxo do projeto em grandes produções mainstream que seriam lançadas com o passar dos anos. A primeira que nos vem à mente é Atividade Paranormal, que incorporou todos os elementos explorados pelo título de 1999 e os transformou em algo ainda mais aterrorizante; mas, para além do óbvio, temos incursões como ‘Assim na Terra como no Inferno’, que se tornou um queridinho dos aficionados por terror; o aclamado ‘REC’ e a “versão” norte-americana intitulada ‘Quarentena’; e, trazendo ainda mais para o presente, vemos as ramificações ocasionadas, direta ou indiretamente, com Amizade Desfeita, Buscando…’ (e a sequência espiritual ‘Desaparecida’) e ‘Host’ – os três oferecendo perspectiva originais para revitalizar o gênero.

Quase duas décadas e meia mais tarde, A Bruxa de Blair permanece como uma das produções mais revolucionárias do cinema contemporâneo – mesmo com válidas críticas acerca de seu envelhecimento, como já mencionado. Não é nenhum exagero dizer que, sem o impacto do filme, os projetos citados no parágrafo acima não existiriam – e é por isso que é sempre uma boa ideia revisitar aquele que popularizou o gênero.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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Apenas o título é forte o suficiente para despertar memórias ou até mesmo a curiosidade do público – afinal, é muito difícil encontrarmos alguém que nunca tenha ao menos ouvido falar do longa-metragem. Para aqueles que não conhecem, a narrativa é centrada em um grupo de cineastas amadores que viaja para uma pequena cidade no estado de Maryland, nos Estados Unidos, para rodarem um documentário sobre a mítica Bruxa de Blair – uma lendária personagem que, alegadamente, foi responsável pela morte de diversas pessoas e ainda assombra aquela região. E, movidos por essa instigante trama, o trio formado por Heather, Mike e Josh (que são os nomes dos atores que os interpretam) se embrenham nas medonhas florestas para encontrarem respostas ou ao menos material com que possam produzir o filme. Todavia, o que deveria ser uma pesquisa de campo se transforma em um pesadelo sem fim quando eventos misteriosos os levam a crer que a bruxa, de fato, existe.

A produção pertence ao conhecido gênero do found footage e, apesar de não ter sido a primeira a utilizar o recurso, foi responsável por popularizá-lo ao redor do mundo e a causar grande comoção por sua estética realista e por técnicas que não eram vistas. É claro, se voltarmos um pouco mais no tempo, podemos citar o clássico italiano Holocausto Canibal como precursor oficial desse estilo – mas foi apenas com A Bruxa de Blair que o suis-generis se tornaria um dos avais do terror nas décadas subsequentes.

Cada engrenagem do longa, da pré-produção às repercussões consecutivas, foi de importância significativa para a imortalização de seu legado. Por se tratar de um título de baixíssimo orçamento (por volta de US$60 mil) e por se configurarem como realizadores estreantes, Myrick e Sánchez investiram pesado em um marketing genial: a princípio, houve a contratação de atores não conhecidos para interpretarem os protagonistas; logo depois, a Haxan Films, que supervisionou o projeto, divulgou cartazes que anunciavam o desaparecimento de três jovens cineastas, começando a atrair atenção. E, quando o trailer foi lançado, ninguém conseguiria acreditar que aquela história era fictícia. Boa parte dos espectadores comprou a ideia de que o filme exibido era factual e que todas as pessoas que apareceram estavam envolvidas em uma controversa tragédia sem solução. Ora, os atores foram até aconselhados a não aparecem em público para aumentar o suspense.

Quando assistimos a A Bruxa de Blair, é automático pensarmos que, no geral, a composição foi fácil de ser feita. Todavia, Myrick e Sánchez estavam comprometidos a criar algo nunca visto e delinearam uma mitologia aprofundada (e fictícia, logicamente); entretanto, as falas e as reações de Heather, Mike e Josh são improvisadas e legítimas, feitas, grosso modo, sem a ciência deles para garantir uma naturalidade quase cruel. Logo, era apenas de se esperar que a repercussão não fosse apenas positiva, mas atraísse a atenção de autoridades para garantir que ninguém estava machucado e que todos da equipe estavam vivos. E, a encargo de comparação, os espectadores se sentiram compelidos a conferi-lo, visto que a arrecadação ultrapassou o orçamento em mais de 2000 vezes, fechando em US$248,6 milhões (algo equivalente a mais de US$450 milhões em 2023, ajustando-se à inflação).

Mesmo assim, é preciso comentar sobre a disparidade gritante entre a recepção da audiência e da crítica internacional: podemos perceber um embate entre os 86% de aprovação dos especialistas e uma melancólica nota C+ dos circunstantes – e essa é uma percepção que se estende até os dias de hoje, mas agora mergulhando em uma compreensão de que, de certa forma, o filme não envelheceu tão bem quanto deveria. Não obstante a discrepância mencionada, seu legado permanece vivo e influenciou uma quantidade inenarrável de projetos subsequentes – que não se limitaram apenas ao terror, mas se estenderam ao drama e ao suspense com facilidade invejável.

É possível ver o influxo do projeto em grandes produções mainstream que seriam lançadas com o passar dos anos. A primeira que nos vem à mente é Atividade Paranormal, que incorporou todos os elementos explorados pelo título de 1999 e os transformou em algo ainda mais aterrorizante; mas, para além do óbvio, temos incursões como ‘Assim na Terra como no Inferno’, que se tornou um queridinho dos aficionados por terror; o aclamado ‘REC’ e a “versão” norte-americana intitulada ‘Quarentena’; e, trazendo ainda mais para o presente, vemos as ramificações ocasionadas, direta ou indiretamente, com Amizade Desfeita, Buscando…’ (e a sequência espiritual ‘Desaparecida’) e ‘Host’ – os três oferecendo perspectiva originais para revitalizar o gênero.

Quase duas décadas e meia mais tarde, A Bruxa de Blair permanece como uma das produções mais revolucionárias do cinema contemporâneo – mesmo com válidas críticas acerca de seu envelhecimento, como já mencionado. Não é nenhum exagero dizer que, sem o impacto do filme, os projetos citados no parágrafo acima não existiriam – e é por isso que é sempre uma boa ideia revisitar aquele que popularizou o gênero.

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Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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