quarta-feira , 18 dezembro , 2024

Artigo | Como Kim Petras se tornou a “Rainha do Halloween” com ‘TURN OFF THE LIGHT’

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Em 2019, a cantora germânica Kim Petras tornou-se um dos nomes mais prolíficos da indústria fonográfica ao lançar duas grandes obras: a primeira foi seu primeiro álbum de estúdio, intitulado Clarity, que imediatamente tornou-se um sucesso de crítica e de público; e, logo na abertura do mês mais místico do ano, a artista divulga a estreia de sua sobrenatural e ostensivamente dark mixtape chamada TURN OFF THE LIGHT – que culminou em uma das melhores peças sonoras dos últimos anos ao unir em um mesmo lugar uma nostalgia musical das clássicas trilhas sonoras cinematográficas do gênero de terror em composição com seu reverberante apreço pela estética EDM.

Petras iniciou os trabalhos de seu EP ainda no ano passado: em setembro de 2018, ela passou a divulgar que estava trabalhando em nova obra, cuja primeira metade foi lançada em outubro. Exatamente um ano depois, ela retorna para as plataformas de streaming antecipando o feriado de Halloween com uma mortal jornada pelos perigos do amor, uma narrativa saída dos romances românticos do século XIX e dos longas-metragens slasher que se estende para além de um vanguardismo recorrente dos últimos anos da década de 2010. Em meio a suas propositais loucuras, Kim encontra espaço para releituras incríveis (buscando referências em franquias como A Hora do Pesadelo, Sexta-Feira 13 e Halloween) enquanto cultiva uma identidade única e borbulhando com paixão musical.



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É certo dizer que, para os ouvintes acostumados a sonoridades mais convencionais e comerciais, o EP insurge como uma obrigatória dissonância que se vale muito mais do ecletismo oscilante do industrial pop do que dos acordes eletrônicos aos quais já nos deparamos. Em cada uma das faixar, a cantora imprime um inebriante escopo que se apoia na épica narrativa antes de se render completamente a uma gritante mixórdia de sons que envolve seu público do começo ao fim – isso sem falar que os títulos fazem claras (ou não tão claras assim) alusões a ambientações espirituais, a breves contos de terror e à total falta de esperança por parte de quem canta.

Partindo dessa premissa, é quase redundante se perguntar o porquê do álbum começar com o ábsono prólogo “Purgatory”, o qual mergulha em uma melancólica elegia antes de se voltar para o puro dark-pop, adornado com expansivas batidas que nunca morrem, mas sim servem de base consecutiva para as outras canções. “There Will Be Blood” marca a primeira entrada vocal de Kim, em uma deliciosa rendição mezzosoprano que convenientemente explode nos refrãos, mas ganha brilho por seus oníricos instrumentais.

“Bloody Valentine”, fazendo menção ao clássico slasher ‘Dia dos Namorados Macabro’, retorna para uma sinestésica descrição do que seria caso nos encontrássemos em um mortal relacionamento: a delineação transbordante de sintetizadores e peças de percussão, todas aliadas com a sutileza de um piano em background, é confusa em diversos níveis – porém me refiro a “confusa” no sentido sensorial do termo; o mérito da música é ser corajosa o suficiente para não se ater a rotulações de gênero, cultivando seu próprio território cujos frutos são percebidos nas múltiplas produções. Aliás, essa perspectiva mais obscura é refletida, dentro do álbum, em construções como “Knives” e a extremamente conceitual “TRANSylvania”.

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Se Petras se vale de elementos eletrônicos para fornecer uma breve explicação do que nos apresenta, ela não pensa duas vezes antes de inverter o que propõe em prol de um minimalismo sonoro encantador, distorcido e narcótico. Vê-se isso no cíclico desenrolar de “<demons>”, na orgânica e quase clássica entrega de “Massacre”, e na performance teatral de “Tell Me It’s a Nightmare”, cuja canalização dark transgrede as concepções maniqueístas que temos acerca de sonhos e pesadelos, criando um bizarro e tentador convite para a tragédia que a cantora nos apresenta.

Eventualmente, o diretor e compositor John Carpenter é quem mais presta inspiração para que a artista costure sua epopeica e complexa jornada: o serial killer Michael Myers volta mais uma vez a vida com a chegada da sugestiva “o m e n”, track na qual Kim usa e abusa das tonais repetições de um teclado eletrônico antes de se deixar levar pelo coro extenuante e aterrorizante que se posta ao fundo. Para além das homenagens, Kim convida a imortal Elvira para acompanhá-la num dança com a escuridão na faixa-titular – valendo-se mais uma vez de uma irreversível comercialidade para nos chamar a atenção.

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É perceptível também a afeição de Petras pela utilização excessiva de autotune e distorções vocais em praticamente todas as canções que compõe a mixtape. Entretanto, diferente de suas conterrâneas, ela faz dessa estética relativamente condenável um mote para permitir que suas arrepiantes estórias se materializem em descomunal força – e é isso que acontece na sexy e dramática rendição de “Close Your Eyes”. Infelizmente, a força da obra se perde nas últimas faixas, tangenciando uma repetição reciclada com a espécie de interlúdio concentrada em “Boo! Bitch!” e a conclusão meia-boca na canônica e destacável “Everybody Dies” (que vale a pena mais pela voz da artista e por sua divertida controvérsia lírica).

TURN OFF THE LIGHT é um incrível álbum cujas duas partes finalmente se uniram em o que podemos apenas chamar de um instantâneo clássico do terror (sonoro, é claro). Assim como tantos filmes que representam o gênero em questão, essa peça fonográfica é envolvente do começo ao fim – e talvez seja o melhor jeito de começar a celebrar o Halloween.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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Em 2019, a cantora germânica Kim Petras tornou-se um dos nomes mais prolíficos da indústria fonográfica ao lançar duas grandes obras: a primeira foi seu primeiro álbum de estúdio, intitulado Clarity, que imediatamente tornou-se um sucesso de crítica e de público; e, logo na abertura do mês mais místico do ano, a artista divulga a estreia de sua sobrenatural e ostensivamente dark mixtape chamada TURN OFF THE LIGHT – que culminou em uma das melhores peças sonoras dos últimos anos ao unir em um mesmo lugar uma nostalgia musical das clássicas trilhas sonoras cinematográficas do gênero de terror em composição com seu reverberante apreço pela estética EDM.

Petras iniciou os trabalhos de seu EP ainda no ano passado: em setembro de 2018, ela passou a divulgar que estava trabalhando em nova obra, cuja primeira metade foi lançada em outubro. Exatamente um ano depois, ela retorna para as plataformas de streaming antecipando o feriado de Halloween com uma mortal jornada pelos perigos do amor, uma narrativa saída dos romances românticos do século XIX e dos longas-metragens slasher que se estende para além de um vanguardismo recorrente dos últimos anos da década de 2010. Em meio a suas propositais loucuras, Kim encontra espaço para releituras incríveis (buscando referências em franquias como A Hora do Pesadelo, Sexta-Feira 13 e Halloween) enquanto cultiva uma identidade única e borbulhando com paixão musical.

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É certo dizer que, para os ouvintes acostumados a sonoridades mais convencionais e comerciais, o EP insurge como uma obrigatória dissonância que se vale muito mais do ecletismo oscilante do industrial pop do que dos acordes eletrônicos aos quais já nos deparamos. Em cada uma das faixar, a cantora imprime um inebriante escopo que se apoia na épica narrativa antes de se render completamente a uma gritante mixórdia de sons que envolve seu público do começo ao fim – isso sem falar que os títulos fazem claras (ou não tão claras assim) alusões a ambientações espirituais, a breves contos de terror e à total falta de esperança por parte de quem canta.

Partindo dessa premissa, é quase redundante se perguntar o porquê do álbum começar com o ábsono prólogo “Purgatory”, o qual mergulha em uma melancólica elegia antes de se voltar para o puro dark-pop, adornado com expansivas batidas que nunca morrem, mas sim servem de base consecutiva para as outras canções. “There Will Be Blood” marca a primeira entrada vocal de Kim, em uma deliciosa rendição mezzosoprano que convenientemente explode nos refrãos, mas ganha brilho por seus oníricos instrumentais.

“Bloody Valentine”, fazendo menção ao clássico slasher ‘Dia dos Namorados Macabro’, retorna para uma sinestésica descrição do que seria caso nos encontrássemos em um mortal relacionamento: a delineação transbordante de sintetizadores e peças de percussão, todas aliadas com a sutileza de um piano em background, é confusa em diversos níveis – porém me refiro a “confusa” no sentido sensorial do termo; o mérito da música é ser corajosa o suficiente para não se ater a rotulações de gênero, cultivando seu próprio território cujos frutos são percebidos nas múltiplas produções. Aliás, essa perspectiva mais obscura é refletida, dentro do álbum, em construções como “Knives” e a extremamente conceitual “TRANSylvania”.

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Se Petras se vale de elementos eletrônicos para fornecer uma breve explicação do que nos apresenta, ela não pensa duas vezes antes de inverter o que propõe em prol de um minimalismo sonoro encantador, distorcido e narcótico. Vê-se isso no cíclico desenrolar de “<demons>”, na orgânica e quase clássica entrega de “Massacre”, e na performance teatral de “Tell Me It’s a Nightmare”, cuja canalização dark transgrede as concepções maniqueístas que temos acerca de sonhos e pesadelos, criando um bizarro e tentador convite para a tragédia que a cantora nos apresenta.

Eventualmente, o diretor e compositor John Carpenter é quem mais presta inspiração para que a artista costure sua epopeica e complexa jornada: o serial killer Michael Myers volta mais uma vez a vida com a chegada da sugestiva “o m e n”, track na qual Kim usa e abusa das tonais repetições de um teclado eletrônico antes de se deixar levar pelo coro extenuante e aterrorizante que se posta ao fundo. Para além das homenagens, Kim convida a imortal Elvira para acompanhá-la num dança com a escuridão na faixa-titular – valendo-se mais uma vez de uma irreversível comercialidade para nos chamar a atenção.

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É perceptível também a afeição de Petras pela utilização excessiva de autotune e distorções vocais em praticamente todas as canções que compõe a mixtape. Entretanto, diferente de suas conterrâneas, ela faz dessa estética relativamente condenável um mote para permitir que suas arrepiantes estórias se materializem em descomunal força – e é isso que acontece na sexy e dramática rendição de “Close Your Eyes”. Infelizmente, a força da obra se perde nas últimas faixas, tangenciando uma repetição reciclada com a espécie de interlúdio concentrada em “Boo! Bitch!” e a conclusão meia-boca na canônica e destacável “Everybody Dies” (que vale a pena mais pela voz da artista e por sua divertida controvérsia lírica).

TURN OFF THE LIGHT é um incrível álbum cujas duas partes finalmente se uniram em o que podemos apenas chamar de um instantâneo clássico do terror (sonoro, é claro). Assim como tantos filmes que representam o gênero em questão, essa peça fonográfica é envolvente do começo ao fim – e talvez seja o melhor jeito de começar a celebrar o Halloween.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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