quinta-feira , 21 novembro , 2024

Artigo | Como ‘Once Upon a Time’ manteve o frescor narrativo em sua 2ª temporada

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Em 2011, Edward Kitsis e Adam Horowitz se aventuraram no místico e infinito mundo dos contos de fada para nos entregar algo muito interessante e original: Once Upon a Time. Ainda que não tenha insurgido com uma perfeição técnica exímia – incluindo os efeitos especiais que mais parecem ter saído de uma miscelânea cinematográfica crua -, seu maior brilho veio com a narrativa e com os personagens muito bem estruturados, os quais fazem parte do próprio cosmos fabulesco, adentrado no nosso mundo através de uma drástica maldição. Com o final da primeira temporada, o futuro da série tornou-se incerto, visto que o feitiço lançado pela principal antagonista foi quebrado e os habitantes da pacata e misteriosa Storybrooke se relembraram de quem realmente são.

Entretanto, o duo conseguiu manter as expectativas para seu show ao apresentar um lado ainda não visto – como os Reinos mágicos prosseguiram após o lançamento da Maldição das Trevas, introduzindo personagens novos que se fundiram fluidamente àqueles que já conhecíamos. E, como se não bastasse, o arco das personas encontrou um desenvolvimento dramático muito maior, desconstruindo ainda mais as clássicas figuras das narrativas milenares e adicionando camadas bastante interessantes para manter os laços criados entre ficção e realidade – e abraçar o público de forma bem envolvente.



É claro que a segunda temporada de Once Upon a Time não conversa com o brilho e a originalidade da iteração original, mas ainda estrutura os episódios em um crescendo competente que invade subtramas diferenciadas, ainda que respalde em alguns convencionalismos cênicos. Porém, as fórmulas utilizadas se restringem à composição imagética, afastando o roteiro dos clichês: os diálogos são escritos com minúcia e resgatam subnarrativas anteriores para aprofundar as relações inter e intrapessoais – temos, por exemplo, episódios em que a caracterização de Chapeuzinho Vermelho, também conhecida por seu alter-ego Ruby (Meghan Ory), encontra uma busca pelo autoconhecimento, após aceitar o fato de se transformar em lobo em toda lua cheia, partindo em busca de sua alcateia e da mãe num passado distante, enquanto luta contra seus instintos conforme a magia retorna para a pequena cidade portuária.

De qualquer forma, são as conturbações de Regina (Lana Parrilla), a Rainha Má, com todos os outros moradores de Storybrooke que ganha enfoque aqui. Após descobrirmos que ela, ao lado de Rumplestiltskin (Robert Carlyle) eram os únicos a ainda carregarem suas memórias, os moradores da antiga Floresta Encantada partem para uma caçada às bruxas, desejando a cabeça da feiticeira em uma bandeja. Entretanto, eles não contavam que o Senhor das Trevas realizaria um feitiço para recuperar as essências mágicas de todos os habitantes, partindo em busca de sua vingança contra Regina, que manteve Belle (Emilie De Ravin) trancafiada em uma instituição mental durante quase trinta anos, e de seu filho, Bealfire, que veio para o nosso mundo há muito tempo e agora vive sob a máscara de Neal Cassidy (Michael Raymond-James).

Mas são outras duas tramas que roubam o foco da temporada: a primeira leva Snow (Ginnifer Goodwin) e Emma (Jennifer Morrison) através de um portal para o mundo ao qual realmente pertencem – ou ao menos a que Snow pertence. Retornando à forma que outrora perdera nas vestimentas de Mary Margaret, a rainha destronada agora abandona suas inclinações para a timidez e a submissão e transforma-se na guerreira que conhecemos, disposta a salvar cada um de seus súditos e amigos que esteja em perigo. Porém, sua filha ainda luta para compreender o que está acontecendo, recusando-se a recriar os laços perdidos com a mãe, com o pai e com toda sua família que a abandonou vinte e oito anos atrás ao pé de uma árvore encantada.

São esses pequenos conflitos que apimentam os extensos episódios, fornecendo um dinamismo interessante para o prosseguimento da série. E são com essas brechas que outros personagens surgem ou retornam para as telinhas, como Cora (Barbara Hershey), mãe de Regina que manteve-se isolada junto com um Reino inteiro da maldição da filha e agora volta para jogar o mundo ao fogo e ao caos, e Killian Hook (Colin O’Donoghue), uma versão mais charmosa e impiedosa do Capitão Gancho. Ambos se unem para tornarem-se os reais antagonistas, influenciando Regina a reencontrar as raízes da Rainha Má juntamente a pequenos momentos de redenção que são explorados conforme os capítulos se desenrolam.

A primeira metade encontra um trágico fim que coloca em xeque as definições de mocinhos e vilões que conhecemos, desconstruindo os estereótipos em prol de construções ainda mais realistas dos personagens de contos de fada. Snow mostra que não é uma heroína benevolente o tempo todo, chegando até mesmo a persuadir Regina em matar, indiretamente, sua própria mãe. Enquanto isso, a Rainha Má também mostra que não é tão má assim, tornando-se um indivíduo que teve sua vida pautada em perdas e sofrimento, culminando na cruel governante que agora amedronta todos.

A série também encontra terreno fértil para unir o mundo exterior a Storybrooke, baixando as barreiras mágicas implantadas por Regina e abrindo espaço para que pessoas comuns encontrem a cidade e percebam que a magia realmente existe. É aqui que Tamara (Sonequa Martin-Greenn) e Owen (Ethan Embry) ganham um espaço aplaudível para se desenvolverem, representando uma ameaça ainda maior para cada um dos personagens de contos de fada. Na verdade, a concepção mundana na verdade entra em choque à medida que revelam suas verdadeiras identidades em investidas dramáticas chocantes e que também prenunciam uma premissa bastante interessante para a próxima temporada.

O segundo ano de Once Upon a Time inova em diversos aspectos, ainda que não mantenha a mesma originalidade da temporada original. Mas mesmo assim, as tramas e os personagens são convincentes o suficiente para satisfazer os fãs e o crescente público da série, aproveitando as mais diversas brechas para refutar tudo o que conhecemos.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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Entretanto, o duo conseguiu manter as expectativas para seu show ao apresentar um lado ainda não visto – como os Reinos mágicos prosseguiram após o lançamento da Maldição das Trevas, introduzindo personagens novos que se fundiram fluidamente àqueles que já conhecíamos. E, como se não bastasse, o arco das personas encontrou um desenvolvimento dramático muito maior, desconstruindo ainda mais as clássicas figuras das narrativas milenares e adicionando camadas bastante interessantes para manter os laços criados entre ficção e realidade – e abraçar o público de forma bem envolvente.

É claro que a segunda temporada de Once Upon a Time não conversa com o brilho e a originalidade da iteração original, mas ainda estrutura os episódios em um crescendo competente que invade subtramas diferenciadas, ainda que respalde em alguns convencionalismos cênicos. Porém, as fórmulas utilizadas se restringem à composição imagética, afastando o roteiro dos clichês: os diálogos são escritos com minúcia e resgatam subnarrativas anteriores para aprofundar as relações inter e intrapessoais – temos, por exemplo, episódios em que a caracterização de Chapeuzinho Vermelho, também conhecida por seu alter-ego Ruby (Meghan Ory), encontra uma busca pelo autoconhecimento, após aceitar o fato de se transformar em lobo em toda lua cheia, partindo em busca de sua alcateia e da mãe num passado distante, enquanto luta contra seus instintos conforme a magia retorna para a pequena cidade portuária.

De qualquer forma, são as conturbações de Regina (Lana Parrilla), a Rainha Má, com todos os outros moradores de Storybrooke que ganha enfoque aqui. Após descobrirmos que ela, ao lado de Rumplestiltskin (Robert Carlyle) eram os únicos a ainda carregarem suas memórias, os moradores da antiga Floresta Encantada partem para uma caçada às bruxas, desejando a cabeça da feiticeira em uma bandeja. Entretanto, eles não contavam que o Senhor das Trevas realizaria um feitiço para recuperar as essências mágicas de todos os habitantes, partindo em busca de sua vingança contra Regina, que manteve Belle (Emilie De Ravin) trancafiada em uma instituição mental durante quase trinta anos, e de seu filho, Bealfire, que veio para o nosso mundo há muito tempo e agora vive sob a máscara de Neal Cassidy (Michael Raymond-James).

Mas são outras duas tramas que roubam o foco da temporada: a primeira leva Snow (Ginnifer Goodwin) e Emma (Jennifer Morrison) através de um portal para o mundo ao qual realmente pertencem – ou ao menos a que Snow pertence. Retornando à forma que outrora perdera nas vestimentas de Mary Margaret, a rainha destronada agora abandona suas inclinações para a timidez e a submissão e transforma-se na guerreira que conhecemos, disposta a salvar cada um de seus súditos e amigos que esteja em perigo. Porém, sua filha ainda luta para compreender o que está acontecendo, recusando-se a recriar os laços perdidos com a mãe, com o pai e com toda sua família que a abandonou vinte e oito anos atrás ao pé de uma árvore encantada.

São esses pequenos conflitos que apimentam os extensos episódios, fornecendo um dinamismo interessante para o prosseguimento da série. E são com essas brechas que outros personagens surgem ou retornam para as telinhas, como Cora (Barbara Hershey), mãe de Regina que manteve-se isolada junto com um Reino inteiro da maldição da filha e agora volta para jogar o mundo ao fogo e ao caos, e Killian Hook (Colin O’Donoghue), uma versão mais charmosa e impiedosa do Capitão Gancho. Ambos se unem para tornarem-se os reais antagonistas, influenciando Regina a reencontrar as raízes da Rainha Má juntamente a pequenos momentos de redenção que são explorados conforme os capítulos se desenrolam.

A primeira metade encontra um trágico fim que coloca em xeque as definições de mocinhos e vilões que conhecemos, desconstruindo os estereótipos em prol de construções ainda mais realistas dos personagens de contos de fada. Snow mostra que não é uma heroína benevolente o tempo todo, chegando até mesmo a persuadir Regina em matar, indiretamente, sua própria mãe. Enquanto isso, a Rainha Má também mostra que não é tão má assim, tornando-se um indivíduo que teve sua vida pautada em perdas e sofrimento, culminando na cruel governante que agora amedronta todos.

A série também encontra terreno fértil para unir o mundo exterior a Storybrooke, baixando as barreiras mágicas implantadas por Regina e abrindo espaço para que pessoas comuns encontrem a cidade e percebam que a magia realmente existe. É aqui que Tamara (Sonequa Martin-Greenn) e Owen (Ethan Embry) ganham um espaço aplaudível para se desenvolverem, representando uma ameaça ainda maior para cada um dos personagens de contos de fada. Na verdade, a concepção mundana na verdade entra em choque à medida que revelam suas verdadeiras identidades em investidas dramáticas chocantes e que também prenunciam uma premissa bastante interessante para a próxima temporada.

O segundo ano de Once Upon a Time inova em diversos aspectos, ainda que não mantenha a mesma originalidade da temporada original. Mas mesmo assim, as tramas e os personagens são convincentes o suficiente para satisfazer os fãs e o crescente público da série, aproveitando as mais diversas brechas para refutar tudo o que conhecemos.

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