quinta-feira , 21 novembro , 2024

Artigo | Escândalos, CANCELAMENTOS e bizarrices: a UcconX se tornou o “Fyre Festival brasileiro”?

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Você já ouviu falar do Fyre Festival?

O luxurioso festival de música foi fundado por Billy McFarland e por Ja Rule, com a intenção de promover talentos do cenário fonográfico em um evento que ficaria marcado para a história. Agendado para ocorrer no final de abril e no começo de maio de 2017, o festival aconteceria na Ilha Bahamian e foi promovido através da ajuda de inúmeros influencers, incluindo as modelos Kendall JennerBella Hadid (que não haviam comentado, a princípio, que tinham sido pagas para fazer isso) . Entretanto, o que foi vendido como sonho logo se transformou em pesadelo.



Após passar por inúmeros problemas de acomodação, infraestrutura e segurança, o evento foi adiado indefinidamente e, eventualmente, cancelado. O público que havia comprado o ingresso não se deparou com o luxo prometido e, na verdade, foram alimentados com sanduíches de queijo e tendas militares para passarem as noites. Os organizadores, que tentaram se justificar, foram processados em vista de não terem pagado os funcionários e de terem dado um golpe em cada um dos participantes e do staff (prometendo reembolsá-los, mas nunca cumprindo com o falado).

Agora, algo similar parece estar acontecendo no Brasil com a edição inaugural da UcconX.

Anunciada oficialmente no ano passado, o evento, que reuniria inúmeras culturas para celebrar o melhor do mundo pop, começou hoje, 27 de julho, no Complexo do Anhembi, na cidade de São Paulo, estendendo-se até o próximo domingo, 31 de julho. Entretanto, um dia antes do festival inaugurar oficialmente, inúmeros funcionários usaram as redes sociais para falar dos escândalos envolvendo a organização.

Karla Tomaz, por exemplo, começa sua postagem no Twitter dizendo que trabalhou “muito tempo na organização do evento e no final levei um golpe de meses sem receber”. No relato, Tomaz diz que apresentou inúmeras ideias, entrou em contato com parceiros e comprou a promessa que os organizadores, formados por Nando Cohen (CEO da empresa BBL, especializada em e-sports), Thomas Felsberg (GC e responsável por parcerias estratégicas da BBL) e Leo De Biase (CRO da BBL), venderam a ela e ao considerável grupo que participou da montagem do evento.

“Foram anos de promessas vazias e pagamento atrasado. Até que os diretores sumiram de vez”, ela escreveu. “A minha carreira e a minha vida foram abaladas de um jeito que ainda não consegui recuperar. Então, pra quem vai pro evento amanhã: saibam que vocês estão financiando uma organização que deu golpe em muita gente”.

Hugo Melo, que também trabalho na construção da UcconX por seis meses, aproveitou o mesmo espaço para contar sua história, compartilhando alguns dos designs que fez ao lado de seus companheiros para transformar o evento em uma experiência inesquecível.

Melo disse que, à época do anúncio da pré-venda dos ingressos (outubro de 2021), “o site não estava apto, o sistema não estava pronto, não tínhamos atrações confirmadas, nada. Não era a hora de anuncia a pré-venda”. Em novembro do mesmo ano, ele diz que os salários começaram a atrasar: “os dias passaram, e as desculpas acumulavam, a solução sempre num horizonte próximo: tudo resolvido até sexta, até segunda, até amanhã”.

O autor da postagem vai mais a fundo e revela que a história mal contada da UcconX datava de 2019, quando “dois amigos resolveram entrar no segmento geek, apesar de não saberem nada sobre o universo geek. Aos trancos e barrancos, foram atraindo pessoas para o projeto, inclusive o outro sócio. Esse sócio ficou responsável pela parte comercial e trouxe para o evento um investidor conhecido de longa data que investiu oito milhões de reais. Com dinheiro no bolso, começaram a gastar adoidados [sic]”.

Ele continua: “nesse período, uma primeira equipe foi contratada, uma empresa terceirizada. Em poucos meses, o dinheiro acabou, o que gerou repercussões graves. O investido, chocado […], processou os sócios criminalmente”.

E isso não é tudo: no dia de abertura do festival, revelou-se que Millie Bobby Brown, de ‘Stranger Things’, e George Takei, de ‘Star Trek’, que haviam sido confirmados em painéis especiais, não poderiam comparecer mais em virtude de terem contraído COVID-19 – e o fato de nenhum dos astros ter comentado sobre a vinda ao Brasil ou sobre o fato de terem testado positivo levantou mais suspeitas.

Segundo um press release oficial do evento, “os ingressos adquiridos para os painéis, VIP PASS, FAN PASS da Millie Bobby Brown e George Takei permanecem válidos e foram transferidos automaticamente para os painéis do Dacre Montgomery e Ian Somerhalder, respectivamente”. E, novamente, mais dúvidas surgiram por um simples fator: Somerhalder, anunciado um dia antes do início do festival, irá comparecer a outro evento em Whippany, Nova Jersey, EUA, nos mesmos dias da UcconX (isto é, entre 29 e 31 de julho, em uma reunião oficial para comemorar a série ‘The Vampire Diaries’).

Como visto nas artes compartilhadas por Melo em suas postagens, o evento prometia ser grandioso e, como reiterado pelos organizadores, seria uma experiência única. “Estamos construindo, montando e criando esses universos. É uma curadoria nossa, construída através da relação com os parceiros que trazemos para a mesa”, disse Cohen em entrevista ao site Meio e Mensagem, em maio.

O resultado, entretanto, foi bem diferente: o pavilhão de 144 mil metros quadrados com pouquíssimas atrações para o público, enquanto o Artists Alley, que prometia trazer mais de 100 quadrinistas, jaze vazio e adornado apenas por cadeiras e mesas cinzentas. Como se não bastasse, uma bizarra lista de objetos que não entrariam no evento incluíram câmeras profissionais e até mesmo papel.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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Após passar por inúmeros problemas de acomodação, infraestrutura e segurança, o evento foi adiado indefinidamente e, eventualmente, cancelado. O público que havia comprado o ingresso não se deparou com o luxo prometido e, na verdade, foram alimentados com sanduíches de queijo e tendas militares para passarem as noites. Os organizadores, que tentaram se justificar, foram processados em vista de não terem pagado os funcionários e de terem dado um golpe em cada um dos participantes e do staff (prometendo reembolsá-los, mas nunca cumprindo com o falado).

Agora, algo similar parece estar acontecendo no Brasil com a edição inaugural da UcconX.

Anunciada oficialmente no ano passado, o evento, que reuniria inúmeras culturas para celebrar o melhor do mundo pop, começou hoje, 27 de julho, no Complexo do Anhembi, na cidade de São Paulo, estendendo-se até o próximo domingo, 31 de julho. Entretanto, um dia antes do festival inaugurar oficialmente, inúmeros funcionários usaram as redes sociais para falar dos escândalos envolvendo a organização.

Karla Tomaz, por exemplo, começa sua postagem no Twitter dizendo que trabalhou “muito tempo na organização do evento e no final levei um golpe de meses sem receber”. No relato, Tomaz diz que apresentou inúmeras ideias, entrou em contato com parceiros e comprou a promessa que os organizadores, formados por Nando Cohen (CEO da empresa BBL, especializada em e-sports), Thomas Felsberg (GC e responsável por parcerias estratégicas da BBL) e Leo De Biase (CRO da BBL), venderam a ela e ao considerável grupo que participou da montagem do evento.

“Foram anos de promessas vazias e pagamento atrasado. Até que os diretores sumiram de vez”, ela escreveu. “A minha carreira e a minha vida foram abaladas de um jeito que ainda não consegui recuperar. Então, pra quem vai pro evento amanhã: saibam que vocês estão financiando uma organização que deu golpe em muita gente”.

Hugo Melo, que também trabalho na construção da UcconX por seis meses, aproveitou o mesmo espaço para contar sua história, compartilhando alguns dos designs que fez ao lado de seus companheiros para transformar o evento em uma experiência inesquecível.

Melo disse que, à época do anúncio da pré-venda dos ingressos (outubro de 2021), “o site não estava apto, o sistema não estava pronto, não tínhamos atrações confirmadas, nada. Não era a hora de anuncia a pré-venda”. Em novembro do mesmo ano, ele diz que os salários começaram a atrasar: “os dias passaram, e as desculpas acumulavam, a solução sempre num horizonte próximo: tudo resolvido até sexta, até segunda, até amanhã”.

O autor da postagem vai mais a fundo e revela que a história mal contada da UcconX datava de 2019, quando “dois amigos resolveram entrar no segmento geek, apesar de não saberem nada sobre o universo geek. Aos trancos e barrancos, foram atraindo pessoas para o projeto, inclusive o outro sócio. Esse sócio ficou responsável pela parte comercial e trouxe para o evento um investidor conhecido de longa data que investiu oito milhões de reais. Com dinheiro no bolso, começaram a gastar adoidados [sic]”.

Ele continua: “nesse período, uma primeira equipe foi contratada, uma empresa terceirizada. Em poucos meses, o dinheiro acabou, o que gerou repercussões graves. O investido, chocado […], processou os sócios criminalmente”.

E isso não é tudo: no dia de abertura do festival, revelou-se que Millie Bobby Brown, de ‘Stranger Things’, e George Takei, de ‘Star Trek’, que haviam sido confirmados em painéis especiais, não poderiam comparecer mais em virtude de terem contraído COVID-19 – e o fato de nenhum dos astros ter comentado sobre a vinda ao Brasil ou sobre o fato de terem testado positivo levantou mais suspeitas.

Segundo um press release oficial do evento, “os ingressos adquiridos para os painéis, VIP PASS, FAN PASS da Millie Bobby Brown e George Takei permanecem válidos e foram transferidos automaticamente para os painéis do Dacre Montgomery e Ian Somerhalder, respectivamente”. E, novamente, mais dúvidas surgiram por um simples fator: Somerhalder, anunciado um dia antes do início do festival, irá comparecer a outro evento em Whippany, Nova Jersey, EUA, nos mesmos dias da UcconX (isto é, entre 29 e 31 de julho, em uma reunião oficial para comemorar a série ‘The Vampire Diaries’).

Como visto nas artes compartilhadas por Melo em suas postagens, o evento prometia ser grandioso e, como reiterado pelos organizadores, seria uma experiência única. “Estamos construindo, montando e criando esses universos. É uma curadoria nossa, construída através da relação com os parceiros que trazemos para a mesa”, disse Cohen em entrevista ao site Meio e Mensagem, em maio.

O resultado, entretanto, foi bem diferente: o pavilhão de 144 mil metros quadrados com pouquíssimas atrações para o público, enquanto o Artists Alley, que prometia trazer mais de 100 quadrinistas, jaze vazio e adornado apenas por cadeiras e mesas cinzentas. Como se não bastasse, uma bizarra lista de objetos que não entrariam no evento incluíram câmeras profissionais e até mesmo papel.

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Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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