quinta-feira , 26 dezembro , 2024

Artigo | Lana Del Rey e a melancolia cinemática de ‘Born to Die’

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Lana Del Rey, alter-ego artístico de Elizabeth Grant, é uma das artistas mais prolíficas da música contemporânea e, antes de ter encontrado sua maturidade estética e consecutivo aclame crítico com seus últimos três álbuns – Blue Banisters (2021), ‘Chemtrails Over the Country Club’ (2020) e Norman Fucking Rockwell!’ (2019) -, causou um impacto significativo na cultura pop do início da década passada com sua estreia oficial no cenário fonográfico.

É claro que Lana já havia debutado no escopo musical com o lançamento de ‘Lana Del Ray’, em 2010, mas não foi até dois anos mais tarde que se tornaria mundialmente conhecida. Born to Die, como ficou intitulado sua primeira incursão sob a marca da Polydor Records e com Interscope, é um título conhecido por qualquer um que já tenha ouvido alguns minutos da música indie e alternativa – e por quem tenha ao menos prestado atenção na atenção midiática que Del Rey calcou quando sua identidade única começava a dominar o mainstream. Afinal, a performer, considerada por inúmeros consórcios de imprensa como uma das maiores compositoras de todos os tempos, aproveitou o espaço que ganhava para tratar de temáticas que fugiam das fórmulas da indústria e se afastavam consideravelmente das pulsões mercadológicas que dominavam as paradas à época (como ‘21’, de Adele, que passava mais um ano vendendo como água e caindo no gosto popular, ou ‘Red’, de Taylor Swift, que apostava fichas na costumeira sonoridade country-pop e pop que dividia os dois lados de sua carreira).



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Del Rey é um dos exemplos clássicos dos jovens artistas que, quando no início de carreira, exploravam diversos segmentos de uma mesma esfera para ver com quais se identificava melhor – e, em 2011, começou a atrair a atenção do público com o lançamento de “Video Games” e a faixa-titular, dois dos singles que fariam parte do compilado de originais. Bem como as duas canções supracitadas, toda a estrutura do álbum adotou uma imagética sonora bastante específica, que contrastava com a dominância do EDM. Desde a faixa de abertura, percebe-se uma predileção de Lana e de seus colaboradores, como Justin Parker e Emile Haynie, por uma ode à música cinemática, ao acompanhamento dramático das cordas e a uma mistura inesperada de gêneros e subgêneros que, até então, não costumavam ser utilizados com frequência pelos artistas.

Enquanto os ouvintes se recordam da ascensão do indie-pop de Halsey, Troye Sivan e Melanie Martinez a partir de 2014 e 2015, Del Rey já promovia desdobramentos e desconstruções do convencionalismo, adotando uma persona que discorreria sobre a melancolia do amor e da vida, uma análise psicológica da presença do ser humano dentro de uma sociedade ungida pelo individualismo exacerbado e pela compreensão de que a beleza não existe sem a fealdade, e que a bondade não existe sem a maldade. Além disso, a própria performer comentou que não se encaixava em uma comunidade artística, por assim dizer, não se limitando a um rótulo único e não deixando que a necessidade segmentária a definisse (via Billboard).

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A encargo de comparação, Born to Die é uma construção à frente de seu tempo e que viria a influenciar uma geração inteira de artistas – e, como já poderíamos imaginar, foi extremamente subestimada pela crítica especializada em seu lançamento (o renomado site Pitchfork, por exemplo, deu uma medíocre nota 5,5/10 para o álbum, mudando, anos mais tarde, sua classificação para 7,8/10, compreendendo a importância do disco para o século XXI). Assim como ‘ARTPOP’ prenunciaria o boom do hyper-pop e seria repreendido por seu proposital exagero, Born to Die serviria como base para o baroque-pop do final dos anos 2010 e começo dos anos 2020, alimentando uma afeição crescente pelo experimentalismo e pela música conceitual que não era muito bem aceita em 2012.

Não obstante as tentativas de mostrar um lado diferenciado do que apresentara alguns anos atrás, os estudiosos passavam a criticar a presença de Lana como um produto pré-fabricado, sem vida própria e sem personalidade que conseguisse cativar o público – algo que se provou errôneo, considerando as vendas de 7 milhões de cópias ao redor do planeta e o fato de ter sido o quinto álbum mais vendido do ano. A verdade é que o maior legado do álbum tenha sido toda a controvérsia que causou, denotando uma certa represália injustificada por parte da mídia em relação a uma mulher que começava a quebrar padrões engessados na indústria, por seus versos pungentes e uma autoconsciência invejável, apostando em referências clássicas adornadas com o trip-hop e com o sadcore, como visto em “National Anthem” ou “Dark Paradise” (duas das melhores faixas da obra).

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Del Rey voltaria a buscar referências constantes com Born to Die, principalmente em uma correlação significativa com seu mais recente lançamento, o já mencionado Blue Banisters. É notável como a cantora e compositora passou por um longo processo de amadurecimento e que, logo de cara, deixou que sua personalidade de 26 anos aflorasse, tornando-se um receptáculo para uma tendência de expressividade emocional que dominaria o cenário fonográfico pouco depois. E, no final das contas, o que importa é que, para a felicidade de alguns e a infelicidade de outros, a estreia oficial de Lana a catapultaria para uma carreira de extremo sucesso e de revoluções constantes que a colocariam no centro dos holofotes.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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Lana Del Rey, alter-ego artístico de Elizabeth Grant, é uma das artistas mais prolíficas da música contemporânea e, antes de ter encontrado sua maturidade estética e consecutivo aclame crítico com seus últimos três álbuns – Blue Banisters (2021), ‘Chemtrails Over the Country Club’ (2020) e Norman Fucking Rockwell!’ (2019) -, causou um impacto significativo na cultura pop do início da década passada com sua estreia oficial no cenário fonográfico.

É claro que Lana já havia debutado no escopo musical com o lançamento de ‘Lana Del Ray’, em 2010, mas não foi até dois anos mais tarde que se tornaria mundialmente conhecida. Born to Die, como ficou intitulado sua primeira incursão sob a marca da Polydor Records e com Interscope, é um título conhecido por qualquer um que já tenha ouvido alguns minutos da música indie e alternativa – e por quem tenha ao menos prestado atenção na atenção midiática que Del Rey calcou quando sua identidade única começava a dominar o mainstream. Afinal, a performer, considerada por inúmeros consórcios de imprensa como uma das maiores compositoras de todos os tempos, aproveitou o espaço que ganhava para tratar de temáticas que fugiam das fórmulas da indústria e se afastavam consideravelmente das pulsões mercadológicas que dominavam as paradas à época (como ‘21’, de Adele, que passava mais um ano vendendo como água e caindo no gosto popular, ou ‘Red’, de Taylor Swift, que apostava fichas na costumeira sonoridade country-pop e pop que dividia os dois lados de sua carreira).

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Del Rey é um dos exemplos clássicos dos jovens artistas que, quando no início de carreira, exploravam diversos segmentos de uma mesma esfera para ver com quais se identificava melhor – e, em 2011, começou a atrair a atenção do público com o lançamento de “Video Games” e a faixa-titular, dois dos singles que fariam parte do compilado de originais. Bem como as duas canções supracitadas, toda a estrutura do álbum adotou uma imagética sonora bastante específica, que contrastava com a dominância do EDM. Desde a faixa de abertura, percebe-se uma predileção de Lana e de seus colaboradores, como Justin Parker e Emile Haynie, por uma ode à música cinemática, ao acompanhamento dramático das cordas e a uma mistura inesperada de gêneros e subgêneros que, até então, não costumavam ser utilizados com frequência pelos artistas.

Enquanto os ouvintes se recordam da ascensão do indie-pop de Halsey, Troye Sivan e Melanie Martinez a partir de 2014 e 2015, Del Rey já promovia desdobramentos e desconstruções do convencionalismo, adotando uma persona que discorreria sobre a melancolia do amor e da vida, uma análise psicológica da presença do ser humano dentro de uma sociedade ungida pelo individualismo exacerbado e pela compreensão de que a beleza não existe sem a fealdade, e que a bondade não existe sem a maldade. Além disso, a própria performer comentou que não se encaixava em uma comunidade artística, por assim dizer, não se limitando a um rótulo único e não deixando que a necessidade segmentária a definisse (via Billboard).

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A encargo de comparação, Born to Die é uma construção à frente de seu tempo e que viria a influenciar uma geração inteira de artistas – e, como já poderíamos imaginar, foi extremamente subestimada pela crítica especializada em seu lançamento (o renomado site Pitchfork, por exemplo, deu uma medíocre nota 5,5/10 para o álbum, mudando, anos mais tarde, sua classificação para 7,8/10, compreendendo a importância do disco para o século XXI). Assim como ‘ARTPOP’ prenunciaria o boom do hyper-pop e seria repreendido por seu proposital exagero, Born to Die serviria como base para o baroque-pop do final dos anos 2010 e começo dos anos 2020, alimentando uma afeição crescente pelo experimentalismo e pela música conceitual que não era muito bem aceita em 2012.

Não obstante as tentativas de mostrar um lado diferenciado do que apresentara alguns anos atrás, os estudiosos passavam a criticar a presença de Lana como um produto pré-fabricado, sem vida própria e sem personalidade que conseguisse cativar o público – algo que se provou errôneo, considerando as vendas de 7 milhões de cópias ao redor do planeta e o fato de ter sido o quinto álbum mais vendido do ano. A verdade é que o maior legado do álbum tenha sido toda a controvérsia que causou, denotando uma certa represália injustificada por parte da mídia em relação a uma mulher que começava a quebrar padrões engessados na indústria, por seus versos pungentes e uma autoconsciência invejável, apostando em referências clássicas adornadas com o trip-hop e com o sadcore, como visto em “National Anthem” ou “Dark Paradise” (duas das melhores faixas da obra).

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Del Rey voltaria a buscar referências constantes com Born to Die, principalmente em uma correlação significativa com seu mais recente lançamento, o já mencionado Blue Banisters. É notável como a cantora e compositora passou por um longo processo de amadurecimento e que, logo de cara, deixou que sua personalidade de 26 anos aflorasse, tornando-se um receptáculo para uma tendência de expressividade emocional que dominaria o cenário fonográfico pouco depois. E, no final das contas, o que importa é que, para a felicidade de alguns e a infelicidade de outros, a estreia oficial de Lana a catapultaria para uma carreira de extremo sucesso e de revoluções constantes que a colocariam no centro dos holofotes.

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